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Antes da fotografia, confirmámos que Inês Lopes Gonçalves é fã dos Beatles
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Antes da fotografia, confirmámos que Inês Lopes Gonçalves é fã dos Beatles

FILIPE AMORIM/OBSERVADOR

Antes da fotografia, confirmámos que Inês Lopes Gonçalves é fã dos Beatles

FILIPE AMORIM/OBSERVADOR

Inês Lopes Gonçalves: "Se olham para mim na rua, ainda acho que é porque me vêm pedir um isqueiro"

Não se acha uma pessoa famosa e diz que só faz aquilo que gosta. Em entrevista, a apresentadora do "5 para a Meia-Noite" garante: "Não quero trabalhar em televisão a todo o custo."

O ponto de encontro à porta da padaria Isco, em Alvalade, foi por acaso, mas não podia ter vindo mais a calhar: Inês Lopes Gonçalves, apresentadora, locutora e humorista de profissão, precisava de comprar pão e, aqueles dois minutos antes do arranque da entrevista, foram a janela de oportunidade num dia cheio de afazeres. “Isto costuma ser o meu escritório”, diz, saindo porta fora depois da encomenda feita. “Foi uma coisa muito fixe que apareceu aqui no bairro. Antes passava aqui as tardes, já sei quais são os lugares das fichas!”

Alvalade, em Lisboa, serve de pano de fundo à conversa com Inês Lopes Gonçalves. É aqui que vive há vários anos e é pelas suas ruas e avenidas que guia o Observador durante mais de uma hora de entrevista, concedida no rescaldo da final do Festival da Canção e no dia em que se celebra a mulher, 8 de março. A visita ao bairro — com passagem pela loja “A Mariazinha”, pela charcutaria “Riviera” ou pela Biblioteca dos Coruchéus, em obras — é também uma viagem ao passado. O bairro representa duas transições, da juventude para a vida adulta e da estabilidade profissional para o risco que se provou certeiro.

Da infância passada na casa dos avós em Braga à apresentação a solo, desde o final de 2020, do “5 Para a Meia-Noite”, Inês reflete sobre o que mudou e como, diz, ainda não é uma pessoa famosa. Como a indústria do entretenimento a tem tratado bem e como tem saudades de fazer rádio (a última participação no programa “Manhã das 3” foi em outubro).

A entrevista aconteceu no passado dia 8 e consistiu numa vista ao bairro de Alvalade

FILIPE AMORIM/OBSERVADOR

Mora no bairro de Alvalade há quantos anos?
Há mais de 10 anos. Na verdade, comecei por morar do outro lado [na Avenida de Roma], o que, no fundo, acaba por ser um bairro completamente diferente. Cresci até aos quatro anos na zona da Fonte Luminosa e vim viver para aqui porque apareceu uma casa que, na altura, tinha um preço porreiro e assim foi. Depois fui viver para a Avenida de Madrid, ali perto também, agora é que me mudei para a Rio de Janeiro. Este bairro é ótimo, tem tudo.

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O que é que mudou na sua vida desde que veio para o bairro?
Boa questão… Quem é que eu era e quem sou hoje? Há uma mudança óbvia [“Por aqui!”, interrompe a conversa para sinalizar o caminho], que é um bocado aquela ideia antes e depois dos filhos. A vinda para aqui correspondeu um bocadinho à entrada na vida adulta com tudo o que isso tem de promissor e de entusiasmante. Foi o início de viver com o meu namorado e ter 20 e tal anos — na verdade, já estava mais para os 30 do que para os 20. Toda aquela altura em que tu e os teus amigos estão muito disponíveis para muita coisa. Havia festas lá em casa, era tudo muito fixe. De repente, tens de pagar impostos, tens de te preocupar com as tuas coisas…

Até foi uma transição grande…
Sim, de certa forma sim. Não que não o fizesse já, porque já trabalhava antes de vir para aqui, comecei a trabalhar com 22 anos na Renascença. Na verdade, já trabalhava antes disso, mas pequenas coisas. Sempre tive trabalhinhos, não sei bem porquê. Não precisava propriamente, há pessoas que têm trabalhos porque precisam de pagar os estudos, não era o caso. Acho que era para ter aquele pocket money

Que tipo de “trabalhinhos”?
Fiz babysitting, trabalhei no Teatro Nacional D. Maria II… Vi o “Frei Luís de Sousa” durante um mês seguido: já sabia aquilo tudo de cor porque trabalhava na sala. Isso tem um nome… No fundo, era como se fosse uma hospedeira, tinha de dar a folha de sala e tinha uma farda…Uma sainha assim pelo joelho, tenho ideia. Uma camisa e um casaco. Acho que era mais ou menos isso.

"A vinda para aqui [Alvalade] correspondeu um bocadinho à entrada na vida adulta com tudo o que isso tem de promissor e de entusiasmante. Foi o início de viver com o meu namorado e ter 20 e tal anos — na verdade, já estava mais para os 30 do que para os 20. Toda aquela altura em que tu e os teus amigos estão muito disponíveis para muita coisa. Havia festas lá em casa, era tudo muito fixe." 
Inês Lopes Gonçalves

Isso é outra coisa sobre mim: a minha memória é uma porcaria. Às vezes até tenho pena porque há histórias boas que se varrem completamente da minha cabeça. Depois há amigos que perguntam “Lembras-te quando fizeste isto e aquilo?” e eu digo que não, é pena. Por exemplo, no outro dia, uma amiga da faculdade mandou uma fotografia e perguntou “Lembras-te quando me fizeste isto?” e eu disse que não… Imagina, costumava gozar com ela porque ela tinha a carteira sempre cheia de papéis. Há dois tipos de pessoas, as que têm a carteira arrumada e as que não têm, que andam sempre com um tombo de [papéis]. Eu gozava muito com ela por ter a carteira assim, estava sempre a arrumar-lhe os papéis. Houve um dia que lhe fiz um livro, uma história com os talões que encontrei na carteira dela. Tinha muita paciência para fazer estas coisas, também tinha muito mais tempo livre. Mas sou péssima para estas histórias…

Talvez sejam histórias que saem em conversa. Mas estávamos a falar da mudança para o bairro…
Isso coincide também com uma mudança profissional grande, porque, até então, era jornalista na Renascença. A mudança para aqui coincide com aquilo que viria a ser o início de uma fase completamente diferente, venho para aqui justamente na transição da Renascença para a Sport TV — é a ida para a Sport TV que despoleta uma série de acontecimentos profissionais que mudaram um bocadinho a minha vida. Acaba por ser essa a transição, de passar do que era ser jornalista, e trabalhar na informação pura e dura, e esta viragem para o entretenimento.

Estive na Sport TV, depois saio e entro para a Antena 3 em 2010. Na altura, colaboro com a Time Out ainda durante muito tempo. Depois fui para a Tentações, que era o encarte da Sábado que agora é a GPS. Ainda fiz umas crónicas no Expresso e trabalhei no Canal Q. Ou seja, estava nos quadros da Renascença e saí para os quadros da Sport TV. O que vem a seguir marca o início da minha vida na precariedade, no fundo. Estava um bocado assustada na altura, claro, porque estava a trabalhar nos quadros e já havia aquela ideia, sobretudo na área da informação, que ninguém conseguia coisa nenhuma. Mas correu bastante bem, muito bem.

Inês Lopes Gonçalves encontrou uma das lojas de eleição de portas fechadas

FILIPE AMORIM/OBSERVADOR

É nessa transição para a Sport TV que começa a criar a sua “persona televisiva”?
Não sei se essa “persona” existe ainda, na verdade [risos]. Ah, não me digas que está fechado! [para à frente da loja “A Mariazinha”, onde queria levar o Observador] Gosto tanto da “Mariazinha”, acho esta loja adorável, é mesmo à antiga, tem café, tem chá, e venho aqui comprar bolachas para os miúdos e café para a máquina italiana. [Inês encosta a cara à porta fechada e grita: “O senhor Paulo está?”] Eles têm aquelas coisas em boiões antigos, de como quando eu era miúda.

Há uma coisa que falta neste bairro, eu adoro revistas, sou um pouco junky de revistas e depois gasto muito dinheiro e não as leio. Ando aqui na mochila com a Vanity Fair inglesa, não é fácil de encontrar. Faltava aqui uma boa papelaria. A Barata era um bocado isso, mas agora fica um pouco longe. Adoro papelarias, adoro lápis.

É das pessoas que prefere ler em papel?
Sim, gosto muito de ler em papel. Das coisas de que mais tenho saudades antes de ser mãe é de poder ler o jornal ao sábado de manhã. Agora já não consigo.

Não dorme desde que os gémeos nasceram [há cinco anos]?
Agora já durmo, agora já sou outra pessoa. Está muito melhor nesse aspeto. Não só porque eles já dormem a noite toda — graças a Deus! —, como também já não acordo de madrugada para fazer rádio. Mas, sim, a tua pergunta acaba por fazer todo o sentido: esta vinda para cá [Alvalade] acaba por ser essa viragem, essa transição da informação para um lado [entretenimento] que é necessariamente diferente…

"Aquelas coisas que vimos no sábado passado [6 de março, final do Festival da Canção] foram gravadas a seguir à primeira semifinal, logo a seguir. Ou seja, tive de me vestir três vezes de forma exatamente igual logo a seguir à primeira semifinal, gravámos aquilo numa noitada tremenda na RTP." 
Inês Lopes Gonçalves

Por falar em entretenimento, estamos a fazer a entrevista no rescaldo do Festival da Canção…
Sim, ainda estou na ressaca da coisa.

Foi muito tempo de preparação para fazer uma edição que acaba por ser diferente das outras pelos motivos óbvios?
Foi bastante tempo. Aquelas coisas que vimos no sábado passado [6 de março] foram gravadas a seguir à primeira semifinal, logo a seguir. Ou seja, tive de me vestir três vezes de forma exatamente igual logo a seguir à primeira semifinal, gravámos aquilo numa noitada tremenda na RTP com uma equipa que é fora de série, que é o centro de inovação da RTP, a mesma que faz o programa da Fátima Campos Ferreira, “Primeira Pessoa”. Fizemos aquilo num tempo recorde porque tínhamos de apanhar a RTP vazia e depois conciliar a minha disponibilidade com a do Vasco e a da Filomena, não era fácil. Fizemos assim uma noitada daquelas…

Estamos a falar de madrugada adentro?
Estamos a falar de termos acabado às 06h. Foi ao ponto de, quando acabámos e estávamos a trocar de roupa, o despertador do Vasco tocou. Foi neste nível. No dia a seguir voltámos lá porque havia partes que eram em estúdio. Não havia o estúdio montado porque aquilo foi feito na RTP este ano, excecionalmente. Costuma ser sempre fora, mas como este foi um ano de pandemia, foi feito na RTP. Foi preciso voltar lá para fazer isso novamente. Sim, há muita preparação e, depois, é preciso escrever letras de canções. Aquela canção foi feita de raiz, só para se ter noção, dá trabalho, claro. Há aqui uma pessoa muito importante no processo que é o guionista que habitualmente trabalha connosco, o Pedro Ribeiro. Porque é um bocadinho aquela ideia “O que é que vamos fazer desta vez de maneira a não ser chato, a não ser repetitivo, a não ser um lugar comum?”.

Sabiam desde o início que queriam cantar?
Não, isso foi uma ideia que surgiu, já não sei ao certo quando. Nós cantamos sempre um bocado, ou é na abertura ou é aqui ou ali. Este ano acabámos por usar o facto de estarmos ali sozinhos, foi uma maneira de assumir que estávamos na RTP e não num palco de enormes dimensões como já estivemos em Elvas, em Portimão ou em Guimarães — não temos público, portanto, de que forma é que vamos jogar com isto a nosso favor? Decidimos pegar nesta dificuldade e usá-la como um trunfo. Foi um bocadinho isso, foi a ideia do sozinho em casa. E brincámos com as palmas…

As palmas eram mesmo daquela edição muito antiga do Festival da Canção?
Não, não, foi uma brincadeira.

Quão diferente foi esta edição?
Se calhar para a Mena e para o Vasco, que estão em estúdio, acaba por ser mais evidente a diferença porque, de facto, eles não estão a ver pessoas à volta. Para mim é diferente também porque as pessoas estão de máscara. Pode parece mentira, mas é mesmo verdade: o convívio que existe ali entre os artistas é real. Vejo pessoas super improváveis a criarem ali amizades muito fixes. Mas [a pandemia] limita-nos muito: houve ideias que tiveram de cair, no sentido de não entrarem, por causa desta porcaria toda, por causa das distâncias, por causa da máscara…

Já perdeu conta a quantos testes PCR já fez?
[Risos] Comecei a fazer agora mais recentemente todas as semanas por causa do “5 Para a Meia-Noite”. Tem de ser, é o que é.

Mas não deixa de ser desconfortável…
É um bocadinho, mas não sei se tenho apanhado pessoas meiguinhas, se foi coincidência ou se sou eu que já estou habituada, já não me faz muita confusão… Gosto muito da Riviera [aponta para a charcutaria em frente]. Como estão abertos até tarde, é mesmo aquela hora boa para safar assim um jantar de última hora.

– Olá, menina Luísa. Está boa? Tem cerejas, são boas? Não? [pergunta à funcionária da Riviera]

Conhece as pessoas pelo nome?
Sim, gosto disso, acho que é fixe.

Elas também sabem quem é a Inês?
Algumas sim, outras se calhar não.

"A melhor história dessas foi numa loja de roupa para crianças. Uma senhora vira-se e diz 'Ai, eu estou a conhecê-la'. 'Ah, claro que sim, eu trabalho na televisão', ninguém responde isso! Ela insistiu que me conhecia. Às tantas, paguei e tal, e ela assim no fim, com um ar super triunfante, diz: 'Já sei! Você costuma ir ao Pingo Doce de Odivelas!'. Adoro essa história. 'Você sabe quem eu sou? Uma grande diva da televisão!', não, nunca diria isso [especula]."
Inês Lopes Gonçalves

Nunca ficaram a olhar para si na rua numa altura em que ainda não se usava máscara?
Talvez, sim. A melhor história dessas foi numa loja de roupa para crianças. Uma senhora vira-se e diz “Ai, eu estou a conhecê-la”. “Ah, claro que sim, eu trabalho na televisão”, ninguém responde isso! Ela insistiu que me conhecia. Às tantas, paguei e tal, e ela assim no fim, com um ar super triunfante, diz: “Já sei! Você costuma ir ao Pingo Doce de Odivelas!”. Adoro essa história. “Você sabe quem eu sou? Uma grande diva da televisão!”, não, nunca diria isso [especula].

Inês Lopes Gonçalves apresenta a solo o "5 para a Meia-Noite" desde o dia 15 de outubro

FILIPE AMORIM/OBSERVADOR

Houve uma altura em que ficou duas semanas em casa. Ficou incomodada com as notícias que puxaram para título “Inês Lopes Gonçalves afastada do ‘5 para a Meia-Noite’”?
Não me incomodam mais como outras tantas que vemos todos os dias. Eu própria dou por mim a clicar e penso “Que estúpida, porque é que estás a fazer isto?”. De repente, o Instagram e outras coisas passaram a ser fontes de notícia, é um clickbait puro e durou. “Afastada do ‘5 para a Meia-Noite’” ou “Fulano tem novo amor” e, depois, vai-se a ver é uma alface que lhe nasceu na horta.

Já trabalhou na informação “pura e dura”, como é que encara isto?
Acho patético, basicamente, porque, em primeiro lugar, revela uma falta de criatividade tremenda. É muito fácil ficar sentado e fazer isso. Conseguir alimentar quase um dia inteiro de notícias à conta do que é um Instagram… não acho fixe.

Voltando ao “5 para a Meia-Noite”, quando é que soube que ia apresentá-lo? Quando é que foi feito esse convite?
Esse convite foi feito ainda em junho, alguns programas antes da Filomena sair. Isso foi falado com toda a gente, a própria Filomena e tudo. Ela sabia, claro.

Era uma coisa da qual já estava à espera?
Não, não estava à espera que a Filomena saísse. Não estava à espera, ou seja, não foi uma coisa do dia para o outro, a saída era uma coisa que ela já ia falando e tudo o mais. Mas, de repente, tornou-se real. Em televisão uma pessoa nunca sabe muito bem. Não posso dizer que estava à espera porque era preciso, primeiro, que ela quisesse sair e, segundo, que o programa continuasse depois disso, havia uma série de imponderáveis. Não pensava muito nisso, honestamente. Não era uma coisa que ocupasse muito a cabeça.

Perguntas de alta pressão a Inês Lopes Gonçalves

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Já alguma vez se zangou em direto? Quando?
Não… Já me zanguei sim, na rádio, claro! Imagina, em festivais quando já está tudo para lá de Bagdá com os copos e tu estás a tentar trabalhar, a fazer uma entrevista, e agarram-te o microfone. [risos] Já me zanguei em direto, sim.

O que faria se surgisse uma proposta de outro canal televisivo?
O que é que eu faria? Dependeria muito: para fazer o quê e em que circunstâncias, mas… eu gosto muito de trabalhar na RTP, é onde faço rádio, aquilo é uma espécie de casa para mim. Teria de ver.

Se só pudesse escolher uma coisa: rádio ou televisão?
Ai, essa pergunta… Acho que a rádio é um bocado aquele sítio onde vou voltar sempre porque, lá está, ao dizer que não faço televisão a todo o custo ou só porque sim, a rádio seria o sítio para onde iria voltar e investir esse tempo que tiraria da televisão. Nesse sentido, seria a rádio.

Com quem gostaria e não gostaria de ficar confinada em casa?
Adorava estar confinada em casa com a Inês Aires Pereira porque ela é muito divertida. Com quem é que não gostaria? Hmm… Não sei, é uma boa pergunta. Não há assim ninguém… sei lá eu!

Quem é que não gostaria de ter no “5”?
Uma vez disse que provavelmente seria alguém com quem não me apetecesse conversar noutro sofá qualquer desta vida. Mantenho a resposta.

Andorinhas nas orelhas ou borboletas na cabeça?
Se me dissessem que ia usar uma borboleta na cabeça [na final do Festival da Canção 2021], dizia que não, nunca na vida. Ainda por cima, não tenho especial predileção por borboletas. Vou responder: andorinhas na cabeça, metaforicamente.

Qual foi o pior momento na televisão?
[risos] Houve uma emissão muito má, foi quando organizámos a Eurovisão cá, e fiz uma emissão a seguir à final, no Terreiro do Paço, em que não estava a acontecer grande coisa — fui ali atirada aos leões e não sabia muito bem o que estava a acontecer. Lembro-me de sentir algum pânico… Houve uma vez, não foi o pior momento, eu é que não me consegui segurar, foi com a Judite Sousa. Dizíamos uma coisa e ela tinha de comentar com uma palavra só. Então, uma das expressões era “e-toupeira” e ela responde “não”. E eu comecei a rir-me muito, foi cómico. Não me ri na cara porque ela estava de costas. Mas lembro-me de não me conseguir conter.

E o pior comentário que leu nas redes sociais?
Ainda ontem vi uma pessoa que se deu ao trabalho de ir ao meu Instagram dizer que só estava ali no festival, só a perder tempo, uma coisa assim do género. Acho piada porque aquela pessoa perdeu do seu tempo para ir ali comentar. As pessoas têm coisinhas para dizer.

Quem escolheria para cantar em dueto no festival da canção?
Epa, tanta gente. Há vozes tão incríveis. Ando entusiasmada com uma cantora incrível portuguesa que é a Maro, foi ao “5” esta semana. Ela tem uma voz incrível.

Ocupou mais a cabeça nesse verão quando foi de férias já a saber?
Completamente. Estava sempre a pensar e a rever como é que as coisas poderiam ser feitas e como é que poderia dar ali a volta à coisa. É tramado. No fundo, é dar continuidade a um programa e tentar que ele seja diferente. As pessoas também lhe dão um cunho bastante pessoal. Aquilo é um talk-show, não dá para transformar aquilo, de repente, num programa de culinária. É o que é.

Mas, como disse, é preciso imprimir um cunho pessoal…
Sim, mas é curioso que isso não vem logo. Ou seja, é preciso lá estar e começar a fazer. Aquilo que trazia de lá estar podia dar-me alguma vantagem, mas …. é um bocadinho aquela ideia: já cá estou há 5 anos, mas, ao mesmo tempo, só cá estou desde outubro. É um início como todos os inícios.

"Não, não estava à espera que a Filomena saísse. Não estava à espera, ou seja, não foi uma coisa do dia para o outro, a saída era uma coisa que ela já ia falando e tudo o mais. Mas, de repente, tornou-se real. Em televisão uma pessoa nunca sabe muito bem." 
Inês Lopes Gonçalves

Por falar em inícios, concorreu duas vezes aos casting do “5 para a Meia-Noite”…
Pois é, o que parece um pouco contraditório quando digo que nunca tinha pensado muito nisso e, depois, de repente… Isso foi numa altura em que estava ali sem saber muito bem o que me ia acontecer, estava na Antena 3, queria experimentar fazer coisas. Tenho muito má memória, só me lembro de um deles. Epa, mas não fiquei.

Não se lembra o que correu mal na altura?
Não, acho que aquilo até correu bem… Sei lá, se calhar escolheram outra pessoa que fazia mais sentido naquela altura e se calhar ainda melhor porque seria completamente diferente fazer o “5” agora do que tê-lo feito com aquela idade. Não penso muito nisso.

Agora já passaram alguns meses desde que apresenta a solo o “5” (desde outubro), já consegue perceber o que não funciona e o que funciona?
Bem, quando estava a falar do que funciona e não funciona, às vezes são pequenas coisas. Há muitas variáveis que podes ter em conta nesse sentido. Há aqui outra coisa: depende de como estás a medir. Vais pelas audiências? Que conclusões é que podes tirar daqui? É completamente diferente fazer um programa numa noite em que há um jogo de futebol ou não fazer. Há tantos imponderáveis e, semana a semana, ainda vamos percebendo um bocado as coisas que funcionam e que não funcionam. Às vezes é difícil, em televisão tens de estar quase permanentemente a trabalhar a atenção da pessoa, a conquistá-la. Por tendência própria, vou um bocadinho no inverso disso porque gosto muito de conversar com pessoas e gosto muito de ter tempo para conversar — tipicamente, isso não é uma coisa que corra bem em televisão, no sentido de dar grandes audiências. Se vires bem, não tens ninguém a conversar durante muito tempo. O mais normal era eu ter chegado ao pé de ti e ter começado a fazer-te perguntas, tenho um bocado essa tendência, tento interessar-me pelas pessoas.

Gosta mais de entrevistar do que ser entrevistada?
Muito mais, muito mais!

É mais fácil?
É muito mais fácil entrevistar do que ser entrevistada, completamente. Tenho mesmo curiosidade genuína. E, tipicamente, quanto mais desconhecidas são as pessoas, melhor. Há pessoas com características muito particulares ou um emprego super interessante… Ser entrevistado, parece que as coisas ficam meio escritas em pedra. Às vezes leio entrevistas de outras pessoas e penso “Cá está, uma pessoa que sabe ser entrevistada, que tem coisas para dizer”.

Por já ter feito tantas entrevistas, tende a editar o que diz?
Não tenho tido assim más experiências nesse sentido, depende muito com quem se está a falar. Se estivermos muito habituados a fazer muitas entrevistas para revistas cor-de-rosa, o que não é propriamente o caso, já sabemos que o que eles vão tirar dali é tipo “Estou disponível para amar”, aquelas frases ótimas [risos].

Já algum convidado lhe deu imensa vontade de continuar a conversa fora do estúdio?
Ainda há duas semanas convidámos por Zoom, porque ela vive em Los Angeles, a Mariana Vanzeller, jornalista portuguesa que neste momento está a fazer um documentário para a National Geographic. No fim da conversa, ela teve de ir à sua vida — foi uma entrevista por Zoom, era ingrato ficar a fazer muito tempo de entrevista na televisão com uma pessoa a falar para um ecrã. Mas ficava a falar com ela: é uma pessoa que entrevista gajos de cartéis de droga, que falou com aqueles tipos do Tiger King. Aquilo [o documentário] é sobre mercados negros, então ela… caramba, não é? Acabei aquela entrevista a sentir duas coisas: primeiro que ficava a falar com ela mais duas horas, a segunda, que a minha vida é muito pouco interessante. Se voltasse atrás, teria feito uma coisa dessas. Tenho esse lado assim aventureiro, gosto muito de ir à maluca e ao desconhecido, não tenho medo no geral.

Ao longo da entrevista, Inês Lopes Gonçalves posa para a câmara fotográfica

FILIPE AMORIM/OBSERVADOR

No fim deste segundo confinamento, para que aventura partiria sem hesitar?
Podendo fazer, sei lá… Passava assim uns meses fora, para aí na Costa Rica ou no Panamá. Nunca fui à Ásia, adorava fazer isso, assim uma coisa de mochila às costas e vamos embora. Volta e meia, tenho uns dias assim um bocado nostálgicos, de “Porque é que não fiz assim? Porque é que não fiz assado?”. É muito fácil uma pessoa agora arrepender-se, mas, na altura, se calhar estava a trabalhar ou não tinha dinheiro. Acho que agora já começa a acontecer eles [os filhos] poderem ir [em viagens], portanto, este ano já ensaiámos uma mini aventura, fomos para a Galiza durante 10 dias numa auto-caravana e quero começar a levá-los…

Falando ainda em aventuras, fez parte de uma banda, a Soulbizness…
É um facto da minha vida que as pessoas gostam muito. Aconteceu assim como quase tudo, foi uma coincidência. Aconteceu porque conheci o vocalista da banda, o Rodrigo Gomes, ele entrou como estagiário na Renascença, conhecemo-nos lá e percipitou-se tudo. Ele mandou uma maqueta para um concurso de bandas (ainda era a TMN e não MEO) e ganhámos, só que não havia banda para ir ao concurso, então, teve de se fazer uma banda assim de repente. Eu fazia coros, era muito divertido.

Ajudou a escrever letras?
Não, não.

Estes vídeos estão no Youtube, um deles é sobre…
O do banho?

Da vizinha da frente, sim.
Essa história é real. Ele via efetivamente a vizinha da frente a tomar banho, então, decidiu escrever sobre isso. Letras escrevo agora para o “5 para a Meia-Noite” e essas coisas, adoro fazer isso.

Tem veia de artista?
Eu acho que sim. Costumo dizer que há uma data de coisas que faço só mais ou menos bem. Às vezes isso frustava-me um bocado mas, depois, comecei a aprender a viver com isso e a tentar aproveitar e usar isso a meu favor. Eu canto só mais ou menos bem, não é muito bem. Desenho só mais ou menos bem. Faço uma série de coisas que são só mais ou menos bem. Não é num nível de “Sim, senhor!”.

Tem família no Porto e em Coimbra. É de uma família grande?
A minha família é grande, mas está muito espalhada por todo o lado. Sou filha de uma família que sempre esteve um bocadinho em trânsito, no sentido em que o meu pai nasceu em Angola porque os meus avós foram para lá (depois ele veio para Lisboa). Mas foi sobretudo a família da minha mãe que esteve em muitos lados: o meu avó é do Porto, mas também foi para África — digo África porque ele esteve em muitos sítios. Cresci em Lisboa, mas sempre com uma infância passada em casa dos meus avós em Braga (verões e férias no geral). Hoje estão no Porto, a minha avó, porque esse avô já morreu.

– Olha a minha amiga Maria! Ó Maria! [acena energeticamente para uma senhora que passeia um cão no outro lado da rua] Ai, não é, que vergonha! Muito bom… Desculpe… Mas é igual e mora aqui e o cabelo é igual, qual era a probabilidade?!

"Costumo dizer que há uma data de coisas que faço só mais ou menos bem. Às vezes isso frustava-me um bocado mas, depois, comecei a aprender a viver com isso e a tentar aproveitar e usar isso a meu favor. Eu canto só mais ou menos bem, não é muito bem. Desenho só mais ou menos bem. Faço uma série de coisas que são só mais ou menos bem. Não é num nível de 'Sim, senhor!'."
Inês Lopes Gonçalves

Mas… estava a dizer que a minha outra avó, que morreu mais ou menos há um mês, era espetacular. Costumo dizer que ela morreu porque já não havia mais atualizações para o software dela. Tinha 101 anos.

Morreu de Covid-19?
Não, não. Morreu porque… era velhota, lá está. Era uma mulher incrível. Vinha agora a pensar nisso por causa do Dia da Mulher [a entrevista aconteceu a 8 de março].

As suas avós foram e são uma grande influência?
De uma maneira que eu nunca percebi assim às claras. É uma coisa que só me apercebi há relativamente pouco tempo em relação às mulheres da minha família: estou cheia de pessoas à minha volta, de mulheres em particular, que sempre fizeram um bocadinho o que queriam. Muito independentes. Quando nasci, essa minha avó já era divorciada. Era professora de português e francês, era poetiza… Nunca foi uma coisa que eu analisasse. Inconscientemente, tinha pessoas à volta que me incutiam a ideia de não haver grandes barreiras.

Sente que viveu a vida até agora sem grandes caixinhas?
Sim… Não, não posso dizer que vivi sem grandes caixinhas, porque fui estudar para um colégio com quatro anos, saí de lá com 14. Era uma escola muito fixe, muito pouco cagona — às vezes, os colégios são uma espécie de redomas de gente snob —, mas isso é inevitavelmente uma caixinha. Eu acho que vivemos todos, de certa forma, em caixinhas. Agora se estamos mais ou menos dispostos a ir ver o que se passa na caixa do lado… Acho que já estive em muitas caixinhas diferentes porque já fiz tantas coisas, já conheci tantas pessoas…

O círculo de amizades vai-se renovando dado o meio em que está?
Acho que sim. O que fica acho que só o tempo o diz… Mas há pessoas que, de repente, aparecem na tua vida e fazem sentido, com quem crias afinidades de trabalho e a nível pessoal… acho que nunca devemos trancar essa porta.

Desse meio, quem foi a última pessoa que se tornou um grande amigo?
Vem-me logo à cabeça o atual diretor de produção do “5 para a Meia-Noite”, que é o Ricardo Santos, uma pessoa com quem passo muito tempo por força das circunstâncias do trabalho. Tenho a certeza que é uma pessoa que, quando isto passar, não vai ficar para trás.

A apresentadora vive no bairro de Alvalade há mais de 10 anos

FILIPE AMORIM/OBSERVADOR

Quais foram os principais desafios que enfrentou na transição entre informação e entretenimento?
Tenho tido muita sorte nesse aspeto. Nessa altura tive medo porque, de repente, ninguém quer passar do conforto de ter um contrato e uma coisa certa ao fim do mês para uma situação de recibos. Tive medo, mas não tinha filhos, não havia assim nada de muito mau que pudesse acontecer. Depois as coisas começaram a correr bem, ainda bem que o fiz.

Foi uma escolha que também acabou por lhe dar muito mais visibilidade…
Sim… É uma consequência inevitavelmente de apareceres na televisão. Mas eu não faço muito por isso, devia alimentar mais as minhas redes.

Sente que é uma pessoa famosa?
[risos] Há uma escritora inglesa muito engraçada que é a Caitlin Moran, que tem vários livros muito bons e feministas. Há uma crónica em que ela diz que conseguiu encontrar a sua percentagem de fama: ela diz que é 33% famosa…

E qual é a sua percentagem?
Não sei, não faço ideia. Se me sinto famosa… não sei bem. Há algumas pessoas que ficam a olhar na rua e tal, mas há uma parte de mim que ainda acha muito que, se olham para mim na rua, é porque me vêm pedir um isqueiro. Mas acho que há ali uma fronteira: se fores o Nuno Markl ou o Vasco Palmeirim, sobretudo no humor, há um bocado aquela coisa de “Eles são uns bacanos”, então, as pessoas rapidamente ultrapassam aquela fronteira e pedem para tirar uma fotografia —  isso, às vezes, pode ser um bocado chato, sobretudo quando estás com a tua família e tudo o mais. Já aconteceu alguém pedir-me para tirar uma fotografia, mas também não me aconteceu assim tantas vezes. Sou uma pessoa muito normal, a minha vida tem tanto interesse como a de toda a gente. Ao fim de semana ando por aí com os miúdos e pronto. Eu não ponho a minha vida na internet, há pessoas que ainda não sabem que tenho filhos.

"Eu não quero trabalhar em televisão a todo o custo. Isto foi uma coisa que aconteceu na minha vida e, de repente, surgiram dois convites que faziam sentido."
Inês Lopes Gonçalves

O que é ainda gostava de fazer?
Eu não quero trabalhar em televisão a todo o custo. Isto foi uma coisa que aconteceu na minha vida e, de repente, surgiram dois convites que faziam sentido. Para não parecer arrogante… eu faço dois programas neste momento que são incríveis, tenho um talk show como o “5” em que posso ser mais palhaça e conversar com pessoas fixes e fazer ali uma coisa porreira e, depois, tenho um programa no RTP Memória em que, aí sim, estou uma hora inteira a conversar. São coisas que, às vezes, as pessoas só fazem depois de andarem aqui há muitos anos. Tenho uma sorte bestial nesse sentido. Agora, há uma coisa que gostava muito de fazer: adoro concursos e adoro jogos. Epa, convidem-me para jogos de tabuleiro, adoro isso. Adorava experimentar fazer um concurso tipo “O elo mais fraco” ou uma coisa assim, acho que deve ser mesmo muito giro. Parece que esta resposta é pouco ambiciosa ou que não sonho assim com coisas planetárias… Amanhã dizem-me assim “Tens de fazer um reality show em que as pessoas andam todas nuas a bater umas nas outras com um pão” — ok, é um exemplo estúpido —, mas não quero fazer isso. Nesse dia se calhar vou fazer outra coisa qualquer.

Não apresentava um Big Brother?
Não sei, acho que não. Não faz sentido. Até agora tenho tido a sorte e o luxo, que é uma coisa que se calhar muita gente não pode dizer, de só fazer coisas que gosto. Pode parecer uma frase feita, mas é super importante. Não há nada que eu faça ali que não goste. Adoro fazer o “5”, o “Traz prá Frente” e o “Festival da Canção”, acho que se nota, vivo muito aquilo por dentro. Só há uma coisa que gosto muito e, que neste momento não posso fazer tanto quanto gostava, que é rádio. É uma coisa que espero nunca deixar de fazer, ainda que seja em doses mais pequenas.

Gostava de voltar a fazer mais rádio?
Sim, sem dúvida.

A indústria do entretenimento tem a tratado bem?
[risos] Eu não me sinto muito uma pessoa do meio. Sou sempre um pouco outsider. Talvez por não ter começado aí, não me sinto propriamente uma nativa da indústria, digamos assim. Sinto-me um bocado imigrante nesse sentido.

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