A vice-presidente do PSD, Isaura Morais, disse no programa Vichyssoise, da Rádio Observador que, por princípio, é favorável a uma coligação pré-eleitoral com o CDS, até pela experiência autárquica que conhece em Rio Maior. A dirigente nacional critica o ato de desresponsabilização do ministro Eduardo Cabrita ao ter dito esta manhã que era um mero “passageiro” do carro do ministério, que seguia a 163km/hora e que atropelou um trabalhador.

[Oiça aqui o programa Vichyssoise:]

O passageiro Cabrita que é “ativo tóxico” do PS

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Em maio, Rui Rio disse que se fosse primeiro-ministro, Eduardo Cabrita não teria condições para continuar, agora sabendo-se que o carro em que seguia ia em excesso de velocidade mantém-se essa ideia de que devia sair do Governo?
Quer com Eduardo Cabrita, quer com outros governantes, Rui Rio sempre disse que não pedia a demissão de ninguém, ou seja, entendia que isso deveria ser uma decisão sempre do primeiro-ministro. É verdade que disse que achava que o ministro não tinha condições para continuar, assim com a maioria dos portugueses também acha. Não só por este caso mas por uma sucessão de situações que foram acontecendo nos últimos tempos. Devem ser retiradas consequências das notícias de hoje. Dizer ‘só sou um passageiro’, é uma desresponsabilização das suas funções como governante.

Tirar consequências é o quê? Demitir Eduardo Cabrita já?
Não digo demitir, acho que o primeiro-ministro tem de vir dizer algo desta questão e tirar consequências para o presente e para o futuro.

Passando para as diretas do PSD, Rui Rio disse que, em alguns momentos, acreditou que podia perder. Também teve essa ideia? Em que momento é que percebeu que podia ganhar?
Percebia que no meu distrito Rui Rio poderia ganhar, mas nunca fiz grandes cenários sobre o que poderia vir a acontecer. não tinha informação sobre as concelhias mais a norte e também não sabia qual o entendimento que os militantes tinham no voto livre, fora da orientação das estruturas distritais e de algumas concelhias.

Não conseguiu medir esse voto livre, foi isso?
Sim, nos contactos que ia tendo, de militantes e não militantes, fui ouvindo que Rui Rio deveria levar o voto de confiança dos militantes.

Quando perceberam que havia possibilidade de ganhar?
Confesso que foi à medida que fui avançando no caminho, no sábado, e que ia ouvindo alguns resultados das maiores concelhias. Achava que havia favoritismo, mas não tive a sensibilidade para perceber em que se traduzia em termos de votos. Não tinha feito um cenário de vitória à partida.

Após umas eleições diretas é sempre tempo de unir o partido. Rui Rio devia aceitar todas as indicações das distritais, ou devia vetar quem foi desleal com ele?
Eu acho que os que não se reveem na estratégia programática de Rui Rio nem sequer deviam propor-se nestas legislativas. É claro que o partido tem de estar unido, todos somos poucos, mas na constituição das listas de deputados as eleições diretas têm de ter reflexo em quem é indicado pelas estruturas distritais. Já tivemos algumas manifestações de alguns deputados que já disseram que não se reveem na estratégia de Rui Rio e não querem incluir este projeto.

O caso da antiga líder da JSD, Margarida Balseiro Lopes, por exemplo. Mas há outro caso que não se retirou, o do deputado Duarte Marques. O presidente da distrital de Santarém disse até que uma indicação da direção nacional para que ele não integrasse as listas. É verdade?
Não tenho informação nenhuma sobre isso. Estive como cabeça de lista por Santarém, mas não tenho informação nem certeza se houve alguma indicação ao presidente da distrital em relação a Duarte Marques. A verdade é que há dois anos ele já não tinha sido uma indicação da distrital.

Foi salvo por um colega vice-presidente, Nuno Morais Sarmento.
Mas já à época não foi indicado. Acredito mais que a distrital nesta altura, não tendo um lugar de eleição para Duarte Marques, não o propôs. Não acredito que tenha sido uma indicação da nacional porque ainda não deu indicações.

Na Assembleia Distrital, quando isso foi referido, o presidente João Moura deu a entender que foi Salvador Malheiro a dar essa indicação.
Esse assunto foi tratado na Comissão Política Distrital alargada aos presidentes de concelhia. Não tenho informação sobre se foi dada essa indicação.

Pode haver aqui uma tendência para os dirigentes locais estarem a ser mais papistas que o Papa, sendo que o Papa aqui seria o dr. Rui Rio…
Acredito que quer os presidentes das distritais quer os das concelhias queiram rodear-se dos que foram sempre leais e se identificam com a sua estratégias. É legítimos que Rui Rio possa pedir o mesmo, com base na lealdade e da competência.

É mais importante a lealdade que a capacidade política para dar resposta aos problemas do país para este PSD de Rui Rio?
Não. É preciso é alinhar por uma estratégia de Rui Rio.

Que é a da lealdade, é isso?
É da competência e é de todo um projeto para Portugal. Até pelo calendário que tivemos — e Rui Rio sempre o referiu dessa forma, que o pensamento estava nas legislativas sabendo que são daqui a dois meses — sabendo que as eleições internas talvez tivessem sido as mais importantes que tivemos nos últimos tempos a nível nacional de um partido, pela proximidade às eleições legislativas. De acordo com projetos apresentados as pessoas identificam-se ora com um, ora com outro, que é mais que legítimo dentro dos partidos à exceção dos de esquerda que não o fazem dessa forma. Num partido como o PSD é normal que exista mais que um candidato a apresentar-se, com a respetiva estratégia, que manifestem aos militantes e aos portugueses ao que vêm e que as pessoas se possam identificar ou não sabendo que procurará ter todos com ele e unir o partido. Procurará ter em lugares, neste caso nas listas para as legislativas, aqueles que se identificam com a sua estratégia.

Rui Rio bipolarizou a ideia que de um lado estava o voto livre e do outro os caciques. A própria Isaura Morais já referiu que não conseguiu medir bem a questão do voto livre. Isto significa que nestas eleições não houve cacicagem de votos?
As coisas têm-se transformado ao longo dos tempos e que os militantes, assim como a nossa democracia, à medida que tem amadurecido também os partidos o têm feitio e têm evoluído no pensamento, forma de ser e estar. A ideia de que um conjunto de decisões estavam única e exclusivamente na competência das estruturas vai-se esbatendo a partir do momento que o cidadão militante também quer intervir de forma ativa nas decisões. Foi isto que acabou por acontecer, o militante base — se assim podemos chamar — achou quem poderia estar melhor preparado para ir a legislativas.

Em Rio Maior houve particularmente uma subida interessante e foi a concelhia que se tornou a maior em termos de votantes do distrito. Como convenceu essas pessoas?
Não convenci as pessoas. Como sabe o militante ativo é aquele que tem as quotas pagas nos últimos anos, não deixou de as pagar, há um ano houve uma eleição disputada na concelhia de Rio Maior e inscritos cerca de 400, em Rio Maior há cerca de 20 mil habitantes, chegámos a ter muito mais militantes, mas ativos tínhamos cerca de 400. Como há um ano votaram mais de 300 pessoas.

É isso que justifica o aumento.
Sim. Saiu uma notícia no Expresso incorreta a dizer que tínhamos subido para 300%, depois 200%, não foi correto. Não é verdade. Os militantes por si estavam mobilizados e quando temos concelhias, seguidas de distrital e depois nacional as pessoas estão mobilizadas, as pessoas voluntariamente querem votar e preocupam-se.

Creio que a notícia do Expresso tinha por base quotas ao segundo, da responsabilidade da própria secretaria-geral do PSD e creio que utilizaram os números que estavam 3 dias antes e como ficou. Era essa a base da notícia. Mas avançando para um plano mais nacional: membros da direção de Rui Rio disseram que Marcelo Rebelo de Sousa foi um dos derrotados destas diretas. O Presidente da República portou-se mal com a direção do PSD?
Houve situações que poderiam ter sido evitadas e que poderiam não ter dado todo este ruído que acabou por acontecer em relação ao Presidente da República. Sabemos que o Presidente da República recebe quem quer e quando quer, mas no dia em que o Orçamento estava a ser votado e que o presidente do partido foi surpreendido até com a notícia que Marcelo Rebelo de Sousa tinha recebido Paulo Rangel foi mais uma surpresa de momento do que propriamente uma manifestação de desagrado em relação à mesma. Acredito que Marcelo Rebelo de Sousa queira principalmente que os partidos, na data em que marcou as eleições legislativas, estivessem em condições, com a casa arrumada, e preparados para ir a eleições no país.

O líder do PSD já disse que se perdesse as eleições legislativas não voltaria a candidatar-se à liderança do PSD. Se o resultado for bom Rui Rio devia ponderar e daqui a dois anos voltar a candidatar-se?
Rui Rio está no terceiro e último mandato ao partido. Acho que é uma questão que ele terá de ponderar e ele a responder.

Se for primeiro-ministro não vai sair da liderança do PSD a meio do mandato, tem que fazer sempre mais um. Está a hesitar porquê? Acha que sai?
Estava a pensar. Não estou enganada. Os mandatos tal como nas distritais e concelhias são de dois anos e o limite máximo são três mandatos. Rui Rio está no terceiro mandato.

Enquanto membro da direção do PSD e olhando para as legislativas de 30 de janeiro parece-lhe útil uma coligação com o CDS, é favorável a essa solução?
Essa questão já foi abordada de uma forma espontânea numa reunião da Comissão Política Nacional. Foi colocado à consideração dos presentes para quem se quisesse manifestar. É verdade que houve um número muito significativo de membros da CPN que se manifestaram não favoráveis a coligação. Esse tema irá ser discutido no dia 7 no Conselho Nacional.

A Isaura Morais é favorável ou desfavorável?
Eu por princípio sou favorável a coligação. No meu município existe uma coligação, devidamente negociada. Gostava também de ouvir os demais conselheiros para me poder pronunciar, tenho pena que sendo o CDS com um eleitorado próprio e história não gostaria que pudesse ficar mais reduzido que aquilo que está.

Rui Rio admitiu também numa entrevista à Antena 1 que poderia negociar um acordo parlamentar com o PS para meia legislatura. Esta é uma hipótese que se mantém?
Como lhe digo, depois das eleições ainda não tivemos oportunidade para reunir e poder aprofundar um conjunto de matérias tão importantes como essa que me coloca.

Mas esta era uma posição que ele já tinha tomado.
Rui Rio sempre afirmou um entendimento à esquerda e à direita do PSD. À direita fala com o CDS, à esquerda fala com o PS. Um entendimento a bem do superior interesse do país, admite entendimentos onde não se refere a um bloco central. Vamos para eleições legislativas, trabalhar para ter o melhor resultado numa lógica de vitória e se necessário for entendimentos para podermos governar, sim. Acredito que Rui Rio está disponível para poder fazer esses entendimentos.

Se Rui Rio ficar na posição de António Costa em 2015, e este é um momento de cenários, se ficar nessa posição deve procurar o Chega para formar uma maioria e governar?
Não. Sempre fomos dizendo que se o Chega não se moderasse que não haveria hipótese nenhuma de entendimentos nem de conversas e o Chega não se tem moderado. Não iremos fazer o que António Costa fez de dizer que entendimentos que o PSD nunca.

Mas só para esclarecer, não fará esse discurso relativamente ao PS, mas em relação ao Chega.
Sim. Não haverá entendimentos com o Chega. Esta sempre foi a postura que o PSD e o seu presidente tiveram no sentido de que, se o Chega não se moderasse, que era impossível haver qualquer tipo de entendimento.

E neste momento não está moderado ainda.
Não.

Avançamos para o segmento Carne ou Peixe, em que tem de escolher uma de duas opções. 

Preferia ser ministra do desenvolvimento regional de Luís Montenegro ou Paulo Rangel?
Paulo Rangel.

Quem levaria a ver um jogo do Rio Maior: Salvador Malheiro ou Miguel Relvas?
Miguel Relvas é do distrito de Santarém, pela proximidade. Mas Salvador Malheiro hoje é um homem da minha confiança e um homem que eu gosto imenso de trabalhar. Se tiver a possibilidade de ter a minha e mais duas cadeiras, levava os dois.

Preferia jantar na Feira da Cebola com Duarte Marques ou João Moura?
João Moura.

Se Costa perder as legislativas e abandonar o PS, prefere negociar com Pedro Nuno Santos ou Ana Catarina Mendes?
Pedro Nuno Santos.