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Six Injured In Knife Attack By Suspected Extremist In New Zealand
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Jacinda Ardern anunciou, esta terça-feira, que pretende deixar as suas funções até 7 de fevereiro

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Jacinda Ardern anunciou, esta terça-feira, que pretende deixar as suas funções até 7 de fevereiro

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Jacinda Ardern. Uma filha, ataques terroristas, vulcões e a pandemia. "Chegou o momento" de virar a página para a líder da Nova Zelândia

Aos 42 anos, sai da liderança do governo da Nova Zelândia e deixa muitas marcas: foi a mulher mais nova a assumir este cargo e foi a primeira a levar a filha bebé para a Assembleia das Nações Unidas.

Entre governar um país e cuidar da filha de três meses durante um voo de 17 horas, qual será a tarefa mais difícil? Para Jacinda Ardern, “é praticamente a mesma coisa”. A resposta, em tom de brincadeira, foi dada à NBC a 24 de setembro de 2018, dia em que a primeira-ministra da Nova Zelândia fez, mais uma vez, história. Naquele dia, entrou na reunião da Assembleia Geral das Nações Unidas, em Nova Iorque, com a sua filha, Neve, que nascera apenas três meses antes e que ainda amamentava. Foi a primeira mulher a fazê-lo. No entanto, a resposta parece ter mudado ao longo dos últimos seis anos: Jacinda Ardern está cansada e disse, esta quarta-feira, que “chegou o momento” de abandonar o cargo.

Durante a reunião, a bebé esteve sempre ao colo do pai, Clarke Gayford, o homem com quem Jacinda Ardern pretende agora casar — o anúncio dos planos para o futuro foi, aliás, feito logo depois de ter anunciado a demissão do cargo de primeira-ministra,  esta quarta-feira à noite. Nessa estreia de Neve numa Assembleia-Geral da ONU, há cinco anos, foi até preparado um cartão especial para a criança, que o pai partilhou nas redes sociais. “Gostava de ter apanhado o olhar assustado da delegação japonesa dentro da ONU ontem, que entrou numa sala de reuniões a meio de uma troca de fralda“, escreveu Clarke Gayford.

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Seis semanas depois do nascimento de Neve, Jacinda Ardern regressou ao trabalho. Tinha assumido o cargo de primeira-ministra da Nova Zelândia cerca de um ano antes, em 2017, e estava num período em que os elogios eram muitos, sobretudo pela sua postura em relação à maternidade. Aliás, fez mais uma vez história como a mulher mais nova — aos 37 anos — a chegar à liderança do país e a liderar um partido.

Ainda antes de estar sequer grávida, e durante a sua campanha política, “a esperança política do Partido Trabalhista”, como lhe chamou o jornal The Guardian em 2017, somou logo pontos, precisamente, pelas suas respostas sobre a maternidade. Num programa de rádio da Nova Zelândia, Jacinda Ardern foi questionada sobre a sua vontade de ser mãe durante o mandato. “Para outras mulheres, é totalmente inaceitável que em 2017 seja dito a uma mulher que tem de responder a este tipo de questões no local de trabalho.” A Comissão dos Direitos Humanos apoiou estas palavras e Jacinda Ardern conseguiu muitos votos do eleitorado mais jovem.

New Zealand Prime Minister Ardern Visits Berlin

Ao lado de Angela Merkel, durante a gravidez. Jacinda Ardern regressou ao trabalho seis semanas após o parto

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A sua popularidade cresceu assim que assumiu a liderança do Partido Trabalhista, apenas sete meses antes da sua eleição. E o partido que a escolheu por unanimidade só ganhou com isso. Em apenas um mês, subiu 19 pontos percentuais nas sondagens, colocando assim os trabalhistas na corrida à vitória. “Não há dúvida de que Jacinda Ardern é a melhor coisa que aconteceu ao partido”, escrevi o Guardian no mesmo artigo.

O lenço preto e o discurso contra a discriminação depois do ataque de Christchurch

Cerca de um ano depois de viajar até Nova Iorque com a filha de apenas três meses, começaram os momentos mais negros que marcaram o percurso de Jacinda Ardern como primeira-ministra. O ataque em Christchurch, onde morreram 51 pessoas — a maioria com origem na Índia, Paquistão, Egito, Jordânia e Somália. Mas mesmo nesse momento os neozelandeses mantiveram-se fiéis à sua líder, pela forma como Ardern geriu um trauma nacional que rapidamente alcançou uma dimensão global.

Assim que a tragédia ganhou proporções mundiais, Jacinda Ardern fez questão de ir ao local. Esteve com as famílias das vítimas, esteve com as pessoas que viram o homem que disparou indiscriminadamente dentro da mesquita e que sobreviveram ao ataque e não teve dúvidas quando falou com os jornalistas: “É evidente que isto só pode ser classificado como um ato terrorista.” Usou estas palavras ainda antes de as autoridades avançarem se estariam perante um ataque terrorista, ou não, e isso valeu-lhe o carimbo de pessoa consciente da discriminação que aquelas vítimas sofreram.

Prime Minister Ardern Lays Wreath And Visits With Islamic Community Leaders At Kilbirnie Mosque

Jacinda Ardern visitou a mesquita que foi alvo de um ataque terrorista, em março de 2019

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E há ainda outros pontos: nesse dia, a primeira-ministra da Nova Zelândia não entrou naquela mesquita com a cabeça destapada. Colocou um lenço preto sobre o cabelo, nunca divulgou o nome do homem que disparou, preferindo destacar “os nomes daqueles que partiram, em vez do nome do homem que os levou” e, dias depois, no parlamento, abriu o seu discurso com a saudação islâmica “As-Salaam Alaikum.” Horas depois do ataque, anunciou que a lei que permitia a compra de armas naquele país iria ser alterada. “A Nova Zelândia é a casa deles. Eles somos nós”, escreveu no Twitter, a propósito da discriminação.

Sushil Aaron, do New York Times, descreveu este momento como “um ponto de viragem para Ardern e para a Nova Zelândia”, num texto de opinião em que classificou Jacinda Ardern como “exemplar” na resposta ao massacre na mesquita. E Sana Saeed, da Al Jazeera, fez uma lista dos políticos que se deslocaram aos locais alvos de ataques terroristas e não conseguiu encontrar nenhum nome. “Não consigo lembrar-me de Trudeau mostrar esta profunda humanidade em relação às vítimas do massacre na mesquita de Quebec. Obama nem visitou o templo de Oak Creek. A liderança em momentos de tragédia é importante. E foi isso que Ardern mostrou.”

Um vulcão e uma pandemia pelo meio

Quando a memória sobre o ataque terrorista parecia desvanecer, a Nova Zelândia foi palco de uma nova tragédia. Desta vez, em dezembro do mesmo ano e fruto da força da natureza, o vulcão de White Island entrou em erupção e morreram 17 pessoas — quase todos turistas australianos e norte-americanos. Mais uma vez, Jacinda Ardern esteve com as autoridades, falou ao país e acompanhou sempre todos os detalhes das operações.

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Apesar da presença constante nos momentos mais trágicos para a comunidade neozelandesa, por essa altura, no final de 2019, o cenário político já começava a complicar-se para Ardern, sobretudo porque já tinham passado mais de dois anos desde a sua eleição e muitas promessas continuavam por cumprir. Uma delas era, aliás, a sua principal bandeira: diminuir a pobreza infantil. Na Nova Zelândia, uma em cada oito crianças vivia em privação material, descreveu a BBC.

No entanto, a vitória eleitoral de 2020, considerada esmagadora, funcionou como uma espécie de balão de oxigénio para os meses que se aproximavam: a pandemia. Jacinda Ardern não perdeu tempo no combate à Covid-19 e a Nova Zelândia adotou rapidamente uma política de tolerância zero. Foi dos primeiros países a tornar obrigatório o isolamento para quem chegava aos aeroportos e foi dos primeiros a fechar as fronteiras aéreas. Só em maio de 2022 é que as fronteiras foram reabertas.

“Uma coisa é liderar um país em tempos de paz, outra é guiá-lo através de uma crise”

Agora, aos 42 anos, Jacinda Ardern decidiu que estava na hora de sair, por não ter força para continuar. E vai deixar o cargo, no limite, dia 7 de fevereiro. “Chegou o momento”, disse esta quarta-feira. Todos os momentos — desde o ataque na mesquita à gestão da pandemia, passando pela erupção do vulcão — foram mencionados pela (ainda) primeira-ministra da Nova Zelândia. “Esses acontecimentos têm sido desgastantes. Nunca houve um momento em que sentisse como se estivéssemos apenas a governar“, explicou.

Uma coisa é liderar um país em tempos de paz, outra é guiá-lo através de uma crise”

Jacinda Ardern ainda deu uma oportunidade, durante as suas férias, para encontrar a força necessária para continuar no cargo, mas isso não aconteceu. “Tinha a esperança de encontrar o que precisava para continuar durante esse período, mas infelizmente não encontrei. Estaria a prejudicar a Nova Zelândia se continuasse“. E vários jornais internacionais, como a CNN, associam esta saída a um período em que Jacinda Ardern passa por um burnout.

Labour Holds Away Caucus In Napier

Momento em que anunciou a sua saída, seis anos depois de assumir o cargo de primeira-ministra

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Ainda assim, mesmo com a sua popularidade a descer nas sondagens nos últimos meses e criticada por não ter conseguido implementar medidas capazes de combater a pobreza infantil, a primeira-ministra da Nova Zelândia abandona o cargo no meio de elogios. Como escreveu a jornalista do Guardian Gaby Hinsliff, “Jacinda Ardern soube quando desistir”.

Jacinda Ardern resigna ao cargo de primeira-ministra da Nova Zelândia. Saída acontece até 7 de fevereiro

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