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Portugal v Serbia - Group H - FIFA Women's World Cup 2023 Qualifier
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Aos 19 anos, a avançada já foi campeã nacional com o Benfica e já leva duas Taças da Liga no palmarés

Getty Images

Aos 19 anos, a avançada já foi campeã nacional com o Benfica e já leva duas Taças da Liga no palmarés

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"João Félix é uma referência mundial. Há sempre o lado da pressão mas, se me comparam a ele, tenho de corresponder"

Kika Nazareth é o rosto da nova geração da Seleção feminina que está na luta pelo Mundial – e acredita "genuinamente" que vai acontecer. Em entrevista, a avançada revela segredos da evolução nacional.

Francisca Nazareth não está propriamente habituada a voos rasos. Chegou ao Benfica com 16 anos, estreou-se a titular na equipa principal com um hat-trick, foi semifinalista do Europeu Sub-17 com a Seleção Nacional e é cada vez mais a grande figura da próxima geração de jogadoras que quer não só levar os clubes portugueses à glória europeia como também empurrar Portugal para as principais competições. Dentro desse objetivo, a inédita qualificação para o Mundial 2023 é algo vital.

Em entrevista ao programa “Nem Tudo o Que Vai à Rede é Bola” da Rádio Observador, a avançada encarnada recordou os primeiros tempos da carreira, ainda no futsal e ainda em equipas mistas, comentou as recorrentes comparações com João Félix e garantiu que acredita “genuinamente” que Portugal vai chegar a um Mundial pela primeira vez. A Seleção Nacional está atualmente no segundo lugar do Grupo H e defronta Israel esta quinta-feira (18h), um jogo que tem de vencer para decidir o apuramento direto com a Alemanha na última jornada (terça-feira, dia 30, também às 18h).

[Ouça aqui a entrevista completa a Francisca Nazareth]

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Portugal está atualmente no segundo lugar do Grupo H da qualificação, apenas atrás da Alemanha e bem dentro da repescagem dos segundos classificados. O sonho de chegar a um Mundial começa a parecer cada vez menos um sonho e cada vez mais uma realidade ou ainda não pensam nisso?
Acho que sonho tem de ser sempre até à última, independentemente do que aconteça. Estamos mais do que dentro deste sonho, estamos no segundo lugar na luta pelo primeiro. Vai ser até à última, vão ter de levar connosco. A Alemanha, que teoricamente é o tubarão deste grupo. vem à nossa casa e nós seguramente temos trabalhado para defrontá-la e dar o nosso melhor. Mas antes disso temos o jogo contra Israel, que acaba por ser o jogo mais importante porque temos de ganhar e ponto final, temos de fazer por isso. Assim que o fizermos, e espero que o façamos, vamos para o jogo contra a Alemanha sem qualquer pressão, a pressão acaba por estar do lado delas porque elas é que estão no Pote 1. Acho que este sonho tem de estar mais do que definido nas nossas cabeças, esta vontade de ganhar. E eu acredito genuinamente que vamos chegar ao Mundial.

Aquele empate surpreendente com a Turquia, logo na primeira jornada da qualificação, ajudou a pôr os pés na terra e alinhar as ideias que permitiram conquistar três vitórias consecutivas nos três jogos seguintes? 
Acho que sim. Não diria pés assentes na terra… Nem sempre as coisas correm como nós queremos, não fomos para o jogo nem entrámos para o jogo a saber que o jogo estava ganho. Pelo contrário, até porque era fora, vimos os vídeos e vimo-las jogar e não eram de todo uma equipa fácil. Só que escorregámos, a verdade é essa, e agora não há margem de erro, não há mais oportunidades. Após esse empate, esse deslize, tivemos as nossas três vitórias consecutivas e bem, foi fruto do nosso trabalho. É continuar neste registo. Não podemos mesmo falhar, agora temos a Alemanha e sabemos que é equipa de Pote 1 e temos de entrar para o jogo sem pressão. Quanto aos outros jogos, não podemos entrar a saber que estão ganhos – pelo contrário, temos uma pressão em cima de nós porque não podemos falhar. Temos de ter os pés bem assentes na terra e saber que por um lado não está nada ganho mas que por outro temos de acreditar que temos possibilidades para chegarmos ao Mundial.

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A avançada foi titular em todos os jogos do Benfica na atual edição da Liga dos Campeões

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Portugal joga agora com Israel depois da goleada fora por 4-0 e recebe de seguida a Alemanha. É esse o jogo-chave do possível apuramento direto? O empate do Benfica contra o Bayern, na Liga dos Campeões, mostrou que é possível sonhar cada vez mais alto e que as diferenças de realidades têm vindo a ser esbatidas com o tempo e com a evolução nacional?
Claro que acaba por ser o jogo chave relativamente ao primeiro e ao segundo lugar, ainda há a possibilidade de qualquer equipa passar em primeiro lugar. Mas sim, tive essa possibilidade de jogar contra uma das maiores equipas do mundo de futebol feminino e contra jogadoras nomeadas para melhores do mundo e há cada vez menos discrepância, menos diferenciação entre o futebol português e o futebol alemão, que é um dos melhores do mundo. Isso não só está visível a nível clubístico como também e cada vez mais a nível da Seleção. Não só entre Portugal e Alemanha mas também como vimos com Israel, ganhámos 4-0 mas não foi um jogo fácil. Com a Turquia empatámos, a própria Alemanha foi a Israel ganhar apenas por 1-0. Acho que está a existir cada vez mais uma evolução e isso é muito importante para o futebol, porque antes – e antes não é assim tão antes, é há muito pouco tempo – as equipas que chegavam ao Mundial já eram as mais esperadas, já sabíamos quem eram os tubarões, já sabíamos quem ia passar, que é que não ia passar. As equipas surpreendem cada vez mais. É um jogo chave, sim, é um jogo em que temos de entrar com o máximo respeito pelo adversário mas é um jogo em que também sabemos que o adversário irá ter respeito por nós.

Portugal tem como grande feito a chegada ao Europeu de 2017, onde não passou da fase de grupos mas até conseguiu uma vitória, contra a Escócia. A chegada a um Mundial seria também alcançar um patamar no crescimento que o futebol feminino tem tido por cá nos últimos anos?
Sem dúvida. Não é só um sonho, é muito mais do que um sonho, é um passo para o nível a seguir. Claro que existem as grandes potências do futebol feminino, Estados Unidos, Alemanha, que estão noutro patamar. E eu como jogadora portuguesa, jogadora de Portugal, consigo ver isso e está mais do que visível aos olhos do mundo. Mas acho que este passo seria importantíssimo não só para nós a nível pessoal, para as nossas conquistas, para os nossos sonhos, mas também para um nível mais profissional, da Federação, para as seleções futuras que aí vêm. Chegar a um Mundial não pode ser só para mim, que acabo por ser das mais jovens da Seleção, não só para as restantes jogadoras que já se apresentam na Seleção A, mas também para as gerações que aí vêm, porque é o mais alto nível no que toca às seleções. Temos a Liga dos Campeões a nível de clubes mas, a nível de seleções, o Mundial tem de ser o sonho e temos de querer chegar ao Mundial. Temos de ir por partes e querer isto primeiro. Depois, querer ir o mais longe possível. E depois, porque não ganhar um Mundial?

"Nem sempre as coisas correm como nós queremos, não fomos para o jogo nem entrámos para o jogo a saber que o jogo estava ganho. Pelo contrário, até porque era fora, vimos os vídeos e vimo-las jogar e não eram de todo uma equipa fácil. Só que escorregámos, a verdade é essa, e agora não há margem de erro, não há mais oportunidades"
Francisca Nazareth, sobre o empate contra a Turquia na primeira jornada da qualificação

A Kika tem 19 anos e é um produto de uma geração que já não se cruzou com nomes históricos como Carla Couto ou Edite mas ainda joga com jogadoras que partilharam o relvado com elas, como a Dolores e a Ana Borges. Essa mistura de juventude e experiência tem sido o segredo para o crescimento sustentado da Seleção feminina?
Sem dúvida. Acho que é misturar um bocado a experiência e o talento que as mais experientes têm com a juventude. Eu e as gerações que aí vêm já temos muito mais visibilidade, o futebol feminino tem cada vez mais visibilidade e as jogadoras já vêm com outro estilo de jogo, já reconhecem mais as táticas. E eu passei pela fase anterior, sou mais nova mas ainda passei por essa fase, de ser muito futebol de rua. Hoje em dia, desde miúdas que as jogadoras treinam numa equipa de futebol feminino. Acaba por ser um misturar da experiência da Ana Borges e da Dolores e de muitas mais com a nossa rebeldia, é a experiência com a irreverência das mais jovens. Temos várias jogadoras que foram semifinalistas no último Europeu Sub-17, que é o meu caso, que acabo por ter essa experiência, mas nunca pode ser comparada à experiência destas jogadoras que já estão noutro patamar.

Durante a Web Summit, a Cloé Lacasse falou muitas vezes da Kika como um exemplo de uma nova geração que não só ajudou o Benfica a chegar à Liga dos Campeões mas que também poderá levar Portugal a outros patamares. É assim que se sente, como esse símbolo?
Essa é sempre uma pergunta matreira… É bom, claro que é bom ouvir isso das outras pessoas, porque gosto de ouvir e seguir o que os outros dizem. E ouvir isso vindo, neste caso, da Cloé, que é a jogadora que é, faz-me sentir… Posso dizer especial mas é especial para mim, não nesta equipa, não no Benfica. Faz-me sentir especial para mim. Não quero necessariamente ser eu o novo símbolo. Acho que tenho os pés assentes na terra mas também tenho noção do que jogo e quero ao máximo tentar ser um bocadinho desse símbolo, não ser o símbolo em si. Quero ajudar esta Seleção a chegar a um Mundial e ajudar também o Benfica. É muito importante e agradeço desde já saber que estas jogadoras com outra experiência sentem isso e veem-me como mais uma ajuda que pode chegar no futuro.

United States v Portugal - 2021 WNT Summer Series

Com apenas 19 anos, Francisca Nazareth já defrontou os Estados Unidos pela Seleção Nacional

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Um dos grandes fatores denominadores deste crescimento tem sido o Francisco Neto, que é o selecionador nacional desde 2014, que lançou a Kika e que ao todo já lançou 66 jogadoras. Qual é a importância desta aposta nos talentos mais jovens?
Claro que existem sempre as jogadoras mais experientes mas acho que têm de existir cada vez mais jogadoras, cada vez mais novas, a entrar na Seleção. Mesmo nos estágios, cada vez mais vemos caras novas. É sempre bom ver coisas novas, é sempre bom aprender coisas novas. Tanto para o professor [Francisco Neto] como para nós, ele também pode experimentar coisas novas, tentar juntar-me a mim ou às mais novas com as mais velhas. Se houver novas convocatórias com novas caras há sempre coisas para ver e coisas para aprender. É pegar um bocadinho na experiência de umas e juntar com a experiência de outras, na irreverência de umas com a irreverência de outras, no talento. É pegar nestes pedacinhos todos de jogadoras novas, de jogadoras mais velhas, jogadoras pouco experientes, jogadoras mais experientes, e tornar isso num só.

A Kika foi há tempos comparada com João Félix do futebol feminino, numa comparação que a deixou muito lisonjeada. Como é que vê essa ligação? E como é que o facto de ter sido a primeira jogadora a ser representada por Jorge Mendes lhe deu um boost de confiança adicional?
O João Félix é uma grande referência no futebol masculino, gosto muito de o ver jogar. É como costumo dizer, há sempre o lado bom e o lado mau das coisas: claro que é bom ser comparada ao João, porque há o bom de ser comparada a um dos melhores do mundo, que é das melhores coisas que se pode ouvir enquanto jogadora, mas também há o mau de ter sempre essa pressão em cima. E isto também falando da parte do Jorge Mendes, há sempre o bom e o mau. Os elogios são bons e sinto-me muito lisonjeada com isso mas sou exigente comigo mesma e trabalho muito para evoluir e ser cada vez mais forte. Mas há sempre aquela pressão de corresponder às expectativas. Se me comparam ao João Félix, eu tenho de corresponder. Há sempre esse lado da pressão, não só pelas pessoas mas também por mim mesma, porque quero sempre corresponder às expectativas que eu também tenho e ser sempre melhor e melhor e melhor.

"Hoje em dia, desde miúdas que as jogadoras treinam numa equipa de futebol feminino. Acaba por ser um misturar da experiência da Ana Borges e da Dolores e de muitas mais com a nossa rebeldia, é a experiência com a irreverência das mais jovens"
Francisca Nazareth, sobre a emergente nova geração da Seleção feminina

Começaste no futsal, jogaste nos Torpedos mas depois passaste para o futebol. Nessa altura jogavas em equipas mistas? Esse pormenor de muitas jogadoras de futebol terem começado no futsal justifica a evolução a nível técnico a que temos assistido?
Na altura, joguei só com uma equipa de rapazes, na minha idade as equipas eram todas mistas. É uma coisa de que eu vou sempre ser apologista, embora possa estar a contradizer-me um bocado. Apesar de achar que o futebol feminino tem de evoluir, como é óbvio, acho que é fundamental passar nem que seja um, dois anos, com rapazes. Foi muito importante na minha carreira, acho que me ajudou bastante. Não posso mentir. Eu respeito imenso o futebol feminino e faço tudo para que evolua cada vez mais e logo a partir das camadas mais jovens mas acho que vai sempre haver diferença entre o futebol masculino e feminino. Não digo a níveis técnicos, porque aí as mulheres podem ser melhores do que os homens, mas a níveis físicos é outra realidade. São mais rápidos, mais fortes e acho que jogar com eles ajudou-me bastante a perceber que é diferente. E acho que as raparigas que hoje em dia já começam – e bem, eu estou aqui a contradizer-me, porque acho muito bem que as raparigas partam já do início só com raparigas – só com raparigas perdem essa parte fundamental de jogar com rapazes.

É habitual, nos estágios da Seleção Nacional e mesmo nas deslocações dos clubes, ver a maioria das jogadoras agarradas a livros ou apontamentos, a estudar para testes ou exames. Essa é uma das principais diferenças entre o futebol masculino e o feminino, o facto de as jogadoras terem uma grande consciência de que é necessário um plano B e de que esse plano B passa pelos estudos?
Claro que sim. Mas eu digo já que sou apologista de que toda a gente, seja no masculino ou no feminino, devia ter um plano B, nem que seja só porque sim. Há uma grande disparidade, uma grande diferença, nos salários, por isso, para nós mulheres ainda não nos é possível viver só do futebol, até porque a carreira acaba cedo. Acho que temos de ter sempre um plano B. No entanto, acho que isso é importante para toda a gente porque pode acontecer alguma coisa, pode haver algum imprevisto, tem de haver sempre um plano B. Não sou o maior exemplo, apesar de estar a tirar o curso, mas faço o que posso. Tenho noção de que é fundamental haver um plano B e a maioria das jogadoras da Seleção tem um curso e acho que isso não se devia perder, até para as camadas mais jovens. O futebol feminino vai evoluir cada vez mais e, espero eu, as jogadoras mais novas que aí vêm vão ter outras condições, vão ser melhor remuneradas, mas esse plano B tem de continuar a existir. Nem que seja mesmo só porque sim. Espero que não se perca essa vontade, essa inteligência, esse objetivo.

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