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ANDRÉ DIAS NOBRE / OBSERVADOR

ANDRÉ DIAS NOBRE / OBSERVADOR

João Ferreira, um candidato "litoral", deu "ânimo" ao PCP

João Ferreira subiu em Lisboa o suficiente para cobrir todos os votos perdidos em Portalegre, Setúbal, Évora e Beja. Faixa litoral e áreas metropolitanas ajudam o PCP a acreditar que é possível.

Mesmo depois do segundo pior resultado em termos percentuais desde as eleições presidenciais de 1976, os comunistas recusaram entrar em estados depressivos e esforçam-se agora por encontrar sinais positivos nas eleições de 24 de janeiro.

A perda efetiva de votos face às últimas presidenciais não assusta o PCP. A perda de influência no Alentejo também não — é, aliás, desvalorizada. O tombo do Bloco de Esquerda acalenta e a capacidade de João Ferreira em crescer em territórios de alta densidade, como a região de Lisboa, dá “ânimo” a um PCP que vinha somando sucessivas derrotas eleitorais.

“A subida de percentagem [face à de Edgar Silva] é um elemento animador”, diz ao Observador António Filipe, deputado e histórico do partido. “Está longe de ser um mau resultado, é um resultado honroso, não é dececionante, muito longe disso. João Ferreira foi uma escolha que se revelou acertada e fez uma grande campanha”, defende.

Para os comunistas, uma leitura fina dos resultados permite olhar de forma positiva para este resultado. Primeiro sinal: face às últimas presidenciais, votaram menos 500 mil pessoas. Ou seja, manter um resultado em linha com o que o aconteceu em 2016 (João Ferreira teve menos 2 mil votos do que Edgar Silva) já é encarado como um grande feito.

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Segundo sinal: ainda que em números absolutos o candidato deste ano tenha perdido cerca de 2 mil votos, o resultado em termos percentuais foi superior: 4,32% para João Ferreira e 3,95% para Edgar Silva. São 0,37% de “ânimo” que invertem aquilo que se verificava desde 2015, em todas as eleições, com o PCP a descer constantemente em percentagem de votos dos portugueses.

Terceiro sinal: sim, João Ferreira teve menos 2 mil votos do que Edgar Silva; mas o madeirense tinha conseguido 22 mil votos na Região Autónoma da Madeira — João Ferreira nem sequer chegou aos 2 mil votos na Madeira. Ou seja, o eurodeputado comunista teve necessariamente de recuperar muitos votos por todo o país para se aproximar da votação de Edgar Silva.

A força de João Ferreira

Excluída a Madeira, João Ferreira apenas tem resultados inferiores a Edgar Silva em Portalegre, Setúbal, Évora e Beja. Todos somados são 7.437 perdidos em comparação com o que aconteceu em 2016.

Estas perdas foram compensadas em vários pontos do país, em particular no distrito de Lisboa:  João Ferreira conquistou mais 8.802 votos que Edgar Silva. O comunista conseguiu subir também no Porto com mais 3.639 votos, em Braga com mais 2.516 votos, em Coimbra (mais 1.836) e em Leiria com mais 1.592.

O maior crescimento de João Ferreira foi em Coimbra onde conseguiu mais 1.62 pontos percentuais que Edgar Silva, seguindo-se Viana do Castelo (com mais 1.61 pp.), Castelo Branco (1.24 pp.), Leiria e Vila Real (com mais 1.18 pp. cada) e Lisboa, Bragança e Guarda todas com mais 1.06 pontos percentuais que Edgar Silva em 2016. Variações baixas, mas o suficiente para compensar as descidas de 17.98 pp na Madeira, 0.72 em Évora e 0.56 pp em Setúbal e Beja.

Ora, o resultado final de Ferreira contraria a tendência das eleições desde 2015, e conseguiu colocar a seta do partido em sentido ascendente. Mais importante: o candidato comunista conseguiu crescer em distritos que elegem mais deputados. Vale o que vale, mas pode ser encarado como um sinal animador para futuras legislativas.

Pior que Francisco Lopes

Apesar do esforço para ver o copo meio cheio, há um facto indesmentível: João Ferreira teve um pior resultado do que Francisco Lopes, dirigente comunista e um peso pesado do PCP, que já tinha tido, em 2011, um resultado muito aquém das expectativas.

E aqui, ao contrário do que acontece em relação a 2016, João Ferreira não tem sequer a desculpa do número de votantes. Há 10 anos, votaram menos 229.646 portugueses que este ano, e o resultado de Francisco Lopes foi bem mais expressivo do que o de João Ferreira. Com mais de 300 mil votos, Francisco Lopes reuniu a preferência de 7,14% dos votantes bem longe muito longe do resultado de João Ferreira no dia 24, de 4,32%.

O partido, no entanto, prefere proteger aquele que é, há muito, apontado como o sucessor de Jerónimo de Sousa. “A campanha não pôde ser igual e bem longe dos moldes comuns do PCP, assentes no contacto direto”, queixa-se ao Observador António Filipe. Além disso, a “cultura do medo” que se criou em relação ao ato eleitoral também pode ter prejudicado os comunistas, admite.

Mais: o eleitorado com idade mais avançada costuma ser tradicionalmente mais fiel ao PCP. As restrições impostas e os receios naturais podem ajudar a explicar o resultado de João Ferreira, concede o deputado comunista. Ao Observador, ainda durante a campanha eleitoral o próprio João Ferreira admitia que essa era uma das preocupações que tinha, que os mais velhos deixassem de sair de casa para votar com medo de serem infetados com a Covid-19.

E depois há o tombo alheio para animar as hostes comunistas. Se o resultado de João Ferreira não foi brilhante, o que dizer da candidata do Bloco de Esquerda? “Marisa Matias perdeu dois terços dos votos”, sugere António Filipe. Para os lados do PCP poderia ter sido muito pior — e não foi. Mérito de João Ferreira.

“O Alentejo vermelho é um mito que reaparece sem fundamento”

O PCP tem desvalorizado as perdas eleitorais no Alentejo. Apesar de João Ferreira ter perdido quase 7.500 votos face à eleição anterior nessa região, os comunistas preferem apontar para uma tendência que há muito se vem consolidando: o Alentejo já não é, há muito tempo, maioritariamente PCP.

“A história do Alentejo vermelho é um mito que reaparece sem fundamento. Há 36 anos que a CDU não é a força maioritária em Portalegre, e em Évora e Beja discute o segundo e o terceiro lugar com o PS ou PSD desde 1987 e 1991, respetivamente”, aponta António Filipe. “Foi o PSD de Cavaco Silva que ganhou no Alentejo.”

Em entrevista ao jornal “Avante!”, Jerónimo de Sousa tinha considerado as afirmações de Rui Rio na noite eleitoral como um “grito de alma” por ter visto algum do eleitorado votar em André Ventura. Os comunistas entendem que a  força de André Ventura no Alentejo se justifica pela transferência de votos de um eleitorado tradicionalmente do PSD (e CDS) para o líder do Chega. “A verdadeira razão da votação de Ventura se deveu à deslocação de votos claros do PSD. Ventura tem mais expressão eleitoral nessas regiões [do Alentejo] é onde Marcelo Rebelo de Sousa tem menos votação”, disse Jerónimo na mesma entrevista.

Para sustentar a tese de que a maior transferência de votos foi de PSD para Ventura e não de PCP para Ventura, António Filipe dá outro exemplo ao Observador: “André Ventura conseguiu 17%, o PCP não tem 17% dos votos em Bragança. Não há fundamento pensar que quem anteriormente votava no PCP agora vota em André Ventura. Os votos vieram de uma faixa de eleitores da extrema-direita que sempre houve e que votavam CDS ou PSD”. De facto, nas últimas eleições presidenciais Edgar Silva conquistou apenas 701 votos em Bragança. Nestas eleições, João Ferreira até conseguiu subir em votos absolutos para os 1.019.

João Ferreira numa ação de campanha no Vouguinha.

LUSA

“Marcelo é o grande vencedor, ganha em todos os tabuleiros”

Depois houve o efeito Marcelo. “Ninguém pode dizer que não perdeu nada para Marcelo”, diz António Filipe, frisando a vitória “inédita” em todos os concelhos que Marcelo Rebelo de Sousa conseguiu conquistar e o reforço que conseguiu, mesmo com menos meio milhão de portugueses a irem às urnas. Já na noite eleitoral Jerónimo de Sousa tinha apontado o voto em Marcelo como uma das dificuldades para um resultado “mais que merecido” de João Ferreira, que podia ter sido superior.

Ao desafio do voto útil em Ana Gomes, o candidato apoiado pelo PCP e PEV teve ainda nos últimos dias de campanha a narrativa construída pelo candidato Marcelo Rebelo de Sousa que apelou ao voto para evitar uma segunda volta nas presidenciais. Algo que Jerónimo de Sousa fez questão de frisar na noite eleitoral.

“A reeleição de Marcelo Rebelo de Sousa à primeira volta traduz o resultado expectável de uma elaborada promoção deste candidato que, para lá da vantagem ímpar decorrente do exercício das funções presidenciais, beneficiou da fabricação de um unanimismo ensaiado suportado num posicionamento promovido e propagandeado metódica e continuadamente”, denunciou Jerónimo de Sousa na primeira reação depois de conhecidos os resultados. Nas próximas eleições, as autárquicas, Marcelo não poderá servir de desculpa.

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