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KIMMY SIMÕES/OBSERVADOR

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João Magalhães: "Comecei a jogar golfe aos 4 anos. No primeiro torneio o meu pai teve de me levar às cavalitas"

João Magalhães, de 23 anos, foi 8 vezes campeão nacional de golfe. Em entrevista a Laurinda Alves, lembra como começou a jogar aos 4 anos, os tempos nos EUA e a paragem de 3 meses quando perdeu.

João Magalhães começou a jogar golfe logo depois de aprender a andar. A seguir aos treinos, ia a dormir no carro, como qualquer criança. Aos quatro anos participou no seu primeiro torneio, mas para chegar ao último buraco teve de ir às cavalitas do pai. Acabaria por ser campeão nacional oito vezes, sete delas consecutivas, a primeira delas como sub-10.

Algumas desilusões fizeram com que parasse por três meses para pensar em recomeçar a sério. Há quatro anos foi treinar e estudar economia para os Estados Unidos, viu jogar os melhores 30 golfistas do mundo e esteve a 10 centímetros de Tiger Woods, que admira. Aos 23 anos, acabou por ser eleito o jogador do ano da sua confederação antes de regressar a Portugal, onde vai treinar para se tornar profissional.

Foi ele o entrevistado desta semana de Laurinda Alves, no programa Imperdíveis da Rádio Observador.

João Magalhães, 23 anos, campeão nacional de golfe oito vezes seguidas. Ou quase seguidas: tenho ideia que houve um ano em que não foi…
… sim, sete seguidas, depois um ano em segundo e depois voltei a ser campeão.

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Foi eleito também o jogador de golfe do ano da sua confederação. Queria começar por perceber o que é ser o jogador do ano nos Estados Unidos?
É ótimo. É sentir que os resultados realmente dão frutos. Estive na faculdade quatro anos e só consegui atingir isso no meu último ano. Na confederação somos 12 equipas, cada equipa tem cinco jogadores, por isso são 60 jogadores. Não é a dimensão que as pessoas acha que é, os Estados Unidos inteiro. Mas a nível nacional acabei como número seis da minha liga, que é a organização NAIA. Depois há as conferências, que são as confederações em que estávamos, e dentro dessas confederações, na minha, fui jogador do ano.

Mas isso é estar num high, high level.
Sim, de certa forma sim. (Risos)

Consegue definir-se a si próprio, com os traços de carácter que são dominantes, ou pelos sonhos… Não tem que dizer tudo aquilo que é, e muito menos devassar-se.
Não é uma pergunta muito fácil…

Sobretudo para um rapaz com 22 anos…
Acho que sou uma pessoa que não desiste, o meu treinador dos Estados Unidos estava sempre a dizer-me isso. Independentemente do resultado que tinha ou se ia ao fim de nove buracos (o jogo tem dezoito), sempre fui um jogador que nunca desistiu e considero-me uma pessoa, não só no golfe mas na vida, que não desiste e vai atrás das coisas até ao fim.

Ou seja, é extraordinariamente resiliente, porque a inclinação para desistir, a frustração, é muito grande. É preciso ter muita cabeça e uma estratégia muito afinada?
Sim, é fácil desistir quando estamos na mó de baixo. Mas acho que aí é que se vê quem são os verdadeiros campeões — porque lidar com o sucesso não é assim tão difícil. O problema é quando estamos lá em baixo e aí é que temos que ser persistentes e acreditar naquilo que estamos a fazer.

Como é que trabalha nas alturas em que está em baixo?
Tive duas ou três maneiras diferentes de lidar com o fracasso. O meu primeiro fracasso foi aos 16 anos, quando acabei em segundo lugar no campeonato nacional. Depois fui para o campeonato da Europa como jogador supostamente para ganhar e acabei por ficar nos três últimos.

E vinha de ser sete vezes campeão nacional seguidas?
Sim, exatamente, e toda a gente esperava que eu fosse muito bom. A maneira como lidei com o fracasso dessa vez foi desistir de jogar durante três meses. Não desisti, porque sabia ia voltar, mas senti que o melhor para mim…

… era parar.
Era parar durante três meses.

Portanto, não foi uma desistência, foi só criar um tempo.
Exatamente, criar um tempo porque sentia que tinha de voltar a ter o gosto de jogar e de trabalhar.

Mas é duro uma pessoa ir para ganhar e ficar perto dos últimos.
Sim, foi duro. Lembro-me de o treinador nacional querer que fosse a um estágio a seguir e falasse com eles, mas disse que não, que tinha que ter um tempo para mim e que queria resolver primeiro as coisas comigo próprio e depois voltar ao trabalho.

E quando voltou ao trabalho, voltou num patamar de auto-conhecimento certamente diferente?
Sim, acho que passar por esse fracasso ajudou-me bastante. No treino sou mais atencioso, estou mais atento a pontos pequenos a que, se calhar, jogadores que não passaram por isto não estão atentos. Eu estou porque sinto que à mínima coisa isto pode voltar a acontecer. Por isso, de certa forma, como jogador isto ajudou-me bastante.

Fortaleceu o caráter?
Exatamente.

Como viveu muito tempo fora, nos Estados Unidos, disse “sou mais atencioso” e depois percebi que queria dizer atento. Mas, ao mesmo tempo, também é atencioso com os seus rivais?
Sim, de certa forma sim.

Na medida em que é possível (risos). A competição é brutal.
É, é enorme.

Mas a esse nível de alta competição há fair play?
Há, claro que sim. Ainda hoje falo com o jogador que acabou em número dois da conferência. Ele é americano e foi para a Guatemala. Está sempre a mandar-me mensagens a perguntar como é que está a correr a minha vida de profissional agora, porque ele ainda tem mais um ano de faculdade.

Para ver se ainda consegue chegar ao seu lugar, à sua posição.
(Risos) Não.

Não?
Ele tem mais um ano de faculdade e depois creio que se vai tornar profissional tal como eu e mantemos contacto. Estava sempre a jogar contra ele, era o meu rival no último ano, mas somos muito amigos.

É preciso realmente muito nervo, muito sangue frio e muita cabeça para jogar golfe, para não perder a cabeça, para não dar o passe errado, dar a tacada errada, não é? 
Sim, no golfe pode perder-se um torneio com um mau shot. Comparo muito o golfe ao ténis porque estamos ali sozinhos no court [campo], mas no ténis uma má pancada não determina o jogo. Enquanto no golfe, na maior parte das vezes, acaba por determinar.

"Sim, no golfe pode perder-se um torneio com um mau shot. Comparo muito o golfe ao ténis porque estamos ali sozinhos no court [campo], mas no ténis uma má pancada não determina o jogo. Enquanto no golfe, na maior parte das vezes, acaba por determinar".

Olhando para trás — e ainda só tem 23 anos —, tudo isto começou muito cedo. Há fotografias suas com quatro, cinco, seis anos já com os ferros e a fazer um hole in one. Como é que começou?
Comecei a jogar há dezanove anos, no verão.

Portanto, tinha quatro anos.
Tinha quatro anos, exatamente.

E conseguia segurar nos ferros?
Conseguia. Lembro-me que fui a um estágio de verão em que não era permitido começar antes dos seis anos, mas as minhas irmãs começaram e o meu pai perguntou se eu também podia pelo menos experimentar e a treinadora Patrícia Brito e Cunha, que ainda adoro, deixou. Já não trabalho com ela, mas é uma pessoa que…

… a quem sente que deve muito?
Sim, sem dúvida alguma. E lembro-me, na altura, de ter uma coordenação…

… fina.
Sim, vamos dizer fina…

Finíssima.
E fora do normal na altura. E, então, deixaram-me continuar no estágio.

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Li que jogava muito bem com cinco, seis anos, e chegava ao carro e adormecia. Uma criança.
Sim, vinha sempre dos treinos a dormir. (Risos)

Mas no campo estava super desperto.
Sim, lembro-me do meu primeiro torneio, foi no golfe de Amarante, que é a subir e a descer montanhas atrás de montanhas. Joguei nove buracos no verão, com 38 graus. No último buraco disse ao meu pai que queria desistir, que não aguentava mais, e o meu pai disse-me: “Nem pensar, eu levo-te às cavalitas”. Levou-me às cavalitas, o último buraco todo, que é a subir. Tenho essa memória e só tinha quatro anos na altura.

E levar às cavalitas é um grande apoio, é um grande pai e é alguém que diz: “Não desistas porque não estás sozinho, eu estou aqui contigo e faço o que for preciso por ti”.
Sim, sem dúvida.

Esse apoio dos pais foi sempre importante?
Foi, claro. Ajudaram-me a ir para os Estados Unidos, sempre me apoiaram, sempre estiveram do meu lado, nunca me forçaram jogar — e, infelizmente, há muitos pais, não só no golfe mas em qualquer desporto, a fazer isso. Sempre estiveram do meu lado e me apoiaram fosse qual fosse a decisão. O que me pediram sempre foi para encarar as responsabilidades, e para não andar a brincar. Tinha que…

… fazer opções e ser coerente com elas.
Exatamente. Levar o golfe a sério e os estudos também.

E isso foi fácil?
Não. Não foi nada fácil.

Os seus estudos são em que área?
Gestão, economia. Até à faculdade foi mais difícil, porque quando fui para os Estados Unidos o programa já está feito de maneira a conseguirmos conciliar as duas coisas. Aulas de manhãs, treinos à tarde. Quando íamos para fora jogar torneios não tínhamos testes ou exames logo no dia a seguir, falávamos com o professor e arranjávamos a melhor data para, de certa forma, termos a mesma oportunidade que outro aluno que não praticasse uma modalidade.

Em que zona dos Estados Unidos é que esteve?
Na Geórgia, perto de Atlanta.

Sempre?
Sim, os quatro anos.

E quem é que conheceu dos grandes nomes do golfe, como Tiger Woods? Lembrei-me dele mas há muitos outros e, se calhar, muito mais interessantes.
Mais interessantes que Tiger Woods, duvido…

"Lembro-me do meu primeiro torneio, foi no golfe de Amarante, que é a subir e a descer montanhas atrás de montanhas. Joguei nove buracos no verão, com 38 graus. No último buraco disse ao meu pai que queria desistir, que não aguentava mais, e o meu pai disse-me: "Nem pensar, eu levo-te às cavalitas". Levou-me às cavalitas, o último buraco todo, que é a subir".

Pois, em campo. Esquecendo tudo o resto.
Esquecendo tudo o resto, claro. Todos os anos íamos ver o “The Tour Championship”, em Atlanta, que acontecia a 45 minutos da nossa faculdade. E estão lá os jogadores do top 30 desse ano.

Os melhores entre os melhores…
Os melhores do mundo estão lá a jogar. E num desses anos deu-se a primeira vitória do Tiger Woods depois de ter passado pelo que passou. Não assistimos à vitória dele, mas estivemos no torneio e estivemos a vê-lo. Lembro-me de estar a 10 centímetros dele — eu com 23 anos, mesmo um miúdo, a querer tocar-lhe.

Porque é que ele é o melhor do mundo?
Primeiro, acredito que ele treine mais que os outros, não basta só a mentalidade.

Uma espécie de Ronaldo.
Não acredito que a mentalidade chegue, porque depois, quando estamos sob pressão, a mentalidade acaba por não interessar. Interessa mais o treino todo que fizemos para nos preparar para aquele momento.

E, portanto, há o lado mental e há o lado físico.
Exatamente, os dois.

E depois há um outro lado, que não é mágico mas é um dom.
Sim.

Qual é o dom dele?
Assim que ele apanha a liderança de um torneio…

… esqueçam os outros.
Esqueçam os outros, não têm hipótese. Ele sempre disse que o objetivo não era apenas ganhar, mas sim ganhar pela máxima vantagem possível. Isso demonstra, realmente, o que ele é.

A fibra.
Quando ele chega a ter vantagem por uma, ele não está contente, ele quer chegar às vinte, e quer bater recordes, não quer só ganhar.

Como é que vocês fazem o treino mental? Quais são as vossas balizas?
O golfe é muito mental, é verdade. Acho que temos de saber encarar bem os erros. Quando temos um mau buraco é como se não tivéssemos um mau buraco — nós falamos em poker face porque, independentemente de irmos em primeiro ou em último, temos de estar sempre estáveis a nível mental. A linguagem corporal também interessa muito porque acaba por interferir.

Nos outros e também no próprio?
Também no próprio.

Mas isso treina-se ou são traços de carácter?
São traços de carácter, mas pode-se treinar também.

Que treino é que faz?
Acho que é com a experiência, porque pedir a um miúdo de dez anos para fazer isso é quase impossível. Claro que há uns que têm mais talento que os outros para fazer isso. Mas acho que é com a experiência. Hoje, com 23 anos e 19 de golfe, não me chateia jogar. Tento sempre estar muito forte psicologicamente, que é super importante. Acho que 90% da vantagem é estar forte psicologicamente. Não desistir.

E essa força psicológica vem de um equilíbrio de vida. Dormir melhor, prescindir de noitadas, boas leituras, boa reflexão, boas conversas com os seus mentores ou treinadores.
Sim, tenho dois mentores. Um é de Gales, o David Llewellyn, antigo campeão do mundo, e o outro é o meu treinador.

Que idade tem ele?
67/68, por aí.

Portanto, é um homem maduro e com experiência.
Sim, sim. Normalmente estou com ele uma vez por mês, ele vem cá a Portugal. Depois também tenho o meu treinador, o Steve Pain. Ele esteve comigo quatro anos em que também tive fases difíceis no Estados Unidos e ele sempre disse: “Tu és o melhor, sei o que tens dentro de ti, não vamos desistir, vamos lutar sempre até ao fim”. E, realmente, o que aconteceu no último ano da faculdade, devo muito a mim, claro — pelo meu trabalho todo –, mas também a ele, porque esteve sempre ao meu lado. Ainda hoje em dia. Acabei a faculdade há dois meses e meio e falo com ele três a quatro vezes por semana, todas as semanas. E quando vou para torneios falo com ele.

É absolutamente decisivo ter estas pessoas que tiram o melhor de nós.
Claro, se temos alguém ao nosso lado sempre a dizer “tu consegues” é muito mais fácil.

Quantos anos tinha quando começou a ser campeão nacional?
Fui campeão nacional pela primeira vez aos nove anos, depois aos dez, onze, doze, treze, catorze e quinze, isto sempre sub-10, sub-12, sub-14, sub-16. Depois fiquei em segundo nos sub-17 e a seguir voltei a ganhar nos sub-18.

E o que é que acontece a um campeão de nove anos, de dez anos, de onze anos que continua a ser o melhor da sua categoria?
Isso foi há muitos anos, mas aquilo de que me lembro é que era fácil. Não era fácil ganhar, mas… Eu nem tinha idade para pensar nas coisas, as coisas aconteciam e ia treinar, ia jogar e era campeão. Hoje em dia existe muito mais responsabilidades, na altura era tudo ótimo. Era uma maravilha, quando somos crianças.

Mas quando se percebe que se é uma pessoa que está talhada para ser um campeão, há pressão. Lembro-me de o ter entrevistado quando tinha para aí dezasseis anos e havia já muita pressão nessa altura.
Sim, lembro-me quando fui penta, foi uma marca e disse: “Não quero parar, quero ganhar até não conseguir mais, até aos dezoito anos, segundo ano, dezoito anos, sub-18 do segundo ano. Quero ganhar todos, não quero perder nem um”.

Isso daria quantos anos? 
Dois, quatro…

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Conseguiu oito.
Consegui oito.

Daria… 
Daria… perdi o nove, depois um não joguei, daria os dez. Daria dez. Queria fazer os dez de seguida e não queria perder, queria que fosse uma marca. Pensava sempre: “Daqui a 300 anos quero que alguém esteja a tentar bater a minha marca”. (Risos).

Quem são as suas influências mais diretas? Já falámos do seu pai, da sua mãe — mas há pessoas no círculo familiar que sejam atletas?
Não, guio-me muito pelos meus pais e pelos valores que me passam e sinto que isso aí também dentro de campo, para mim, é uma característica muito importante.

Ou seja, há humildade?
Sim.

Na vitória, na derrota e sempre.
Tento. Não sei se o consigo, mas pelo menos tento.

"Tenho dois mentores. Um é de Gales, o David Llewellyn, antigo campeão do mundo, e o outro é o meu treinador. Normalmente estou com ele uma vez por mês, ele vem cá a Portugal. Depois também tenho o meu treinador, o Steve Pain".

A poker face ajuda mas a humildade é, no fundo, aquela que gostaria que fosse a sua marca.
Sim, sem dúvida.

E o que é que faz para isso? Quando sente que o que está a sentir é tudo menos humildade, a que é que se obriga? Obriga a que outras pessoas lhe dêem feedback, reage bem ao feedback, ou é uma auto-análise permanente?
Reajo bem ao feedback, sem dúvida, mas humildade não é só o facto de não nos gabarmos — é também sabermos em que ponto estamos. Por exemplo, sei que agora estou num ponto em que tenho de evoluir imenso para chegar à primeira liga europeia a nível profissional.

Portanto, ser campeão mas não ter a mania que é campeão.
Exatamente. Porque acho que acabamos por perder e a vida não é ser só campeão. É bom que as pessoas gostem de nós. Vejo os miúdos e espero que eles olhem para mim também como um ídolo.

Como um exemplo a seguir?
Exato, tal como agora um grande amigo meu, que é o Pedro Figueiredo, está a jogar na primeira liga europeia e eu sempre olhei para ele. É tão humilde e tão simples. Adoro-o não só como amigo mas também como jogador. Acho que é fantástica a maneira como ele lida com as coisas e tem uma carreira fora de série.

Estamos sempre a falar dos homens mas há imensas mulheres extraordinárias no golfe. Qual é a mulher que mais admira no golfe?
Ela já não joga, mas admirava a Joana Silva Pinto em miúdo. Infelizmente, ela acabou por sofrer um acidente e teve de deixar de jogar.

O que é que despertava essa admiração?
Ela tinha uma garra e uma força que nenhuma das outras tinha, era impressionante. E depois era campeã e acho que tinha muito a ver com isso. Lembro-me de no acidente o médico dizer-lhe: “Vais ficar sem perna” e ela “Não vou”. E a garra dela foi o que fez com que hoje tenha uma vida normalíssima.

E não ficou sem perna?
Não, tem uma vida normalíssima e tem a ver com a garra e a força dela.

O que é que admira nas pessoas, fora do campo?
A bondade, o ser amigo. E o ser honesto.

A integridade, a verticalidade.
Sim, sem dúvida.

É muito interessante vê-lo sempre a referir os valores que herdou, os valores que, no fundo, tem em casa. E isso também lhe dá a si uma ternura, uma doçura que também são invulgares. O João — posso dizer que podia ser meu filho — é um homem muito bonito e de certeza absoluta que tem imensas pessoas a admirá-lo e também a achá-lo não só um ídolo do desporto mas também uma pessoa com quem apetece estar. Como é que lida com isso?
Apenas tento ser uma pessoa simples e igual a todos os outros.

Mas sabe que é giro?
A minha mãe é gira, por isso acho que sim, acho que saí a ela. O meu pai também.

E as suas irmãs também…
Também.

Quantos é que são?
São os meus pais, depois tenho três irmãs — duas mais velhas, uma mais nova.

E são todas giras?
São todas umas brasas, eu sou o mais feio, sem dúvida. (Risos).

Lida bem com ser bonito e ser uma pessoa de sucesso?
Tento não pensar nisso sequer, não é uma coisa…

Não lhe sobra muito tempo para grandes conquistas?
Não. A verdade é que tenho pouco tempo para ter uma vida social hoje em dia, sem dúvida.

É muito exigente, não é? 
Sim, treino todos os dias. Acaba por ser um trabalho, só que depois temos a parte em que temos de estar sempre fora. Quando estou cá tenho trabalho das nove às cinco da tarde, como as outras pessoas. Só que depois ao fim de semana também trabalho — treino.

Pensa continuar a ser jogador mas depois investir numa carreira profissional ou a sua carreira vai passar sempre por aqui?
A minha carreira, até poder, vai passar por ser jogador.

E isso pode acontecer até que idade? 
Até aos 55, 60. A partir dos 50 é mais difícil manter o nível e a maior parte dos jogadores passa para o senior tour, mas continua-se com um nível top.

KIMMY SIMÕES/OBSERVADOR

É preciso ter pernas, é preciso ter mão e é preciso ter cabeça.
Claro, sem dúvida,

O que é que gosta de fazer quando não está a jogar ou a treinar?
Adoro estar com os meus amigos, sinto essa necessidade. Não gosto de estar sozinho. Sou uma pessoa muito sociável. À noite gosto sempre de sair um bocadinho de casa e ir tomar um café, nem que seja só meia-hora. Adoro estar com a minha família. É uma família divertida, especialmente o meu pai, que é assim meio maluco. (Risos).

Quando é que foi para o Estados Unidos?
Há quatro anos.

Sentiu falta dos seus amigos, da sua família? Qual foi o choque cultural com que teve mais dificuldades em lidar?
Foi sem dúvida alguma estar sem a minha família. Foi muito difícil, especialmente nos primeiros tempos. Dizer adeus é muito difícil, mas era sempre um “até já”. Porque depois voltava. O facto de ir para lá para uma equipa de golfe obriga-nos a fazer amigos, porque vamos ter uma equipa de dez ou doze jogadores em que vamos estar com eles de manhã à noite.

Quer gostem, quer não.
Exatamente.

Portanto, o melhor é gostar.
É fácil fazer amigos, é muito fácil e tive a sorte de o meu treinador, como já disse, também ser um grande amigo.

"Adoro estar com os meus amigos, sinto essa necessidade. Não gosto de estar sozinho. Sou uma pessoa muito sociável. À noite gosto sempre de sair um bocadinho de casa e ir tomar um café, nem que seja só meia-hora. Adoro estar com a minha família. É uma família divertida, especialmente o meu pai, que é assim meio maluco".

E a língua era fácil para si?
Não, não era nada fácil. Falava, mas não estava habituado a ter aulas em inglês o tempo inteiro.

Sobretudo numa área de especialidade que tem um jargão próprio, não é? O “economês”.
Sim, nesse sentido foi difícil, sem dúvida alguma. Mas ao fim de três meses já estava a falar bastante melhor inglês.

E os americanos são acolhedores?
São, fiz amigos americanos para uma vida inteira. Não tenho razão de queixa dos americanos. Até estava a comentar com os meus pais no outro dia que foi mais difícil voltar dos Estados Unidos para Portugal do que sair de Portugal para ir para os Estados Unidos.

Porquê?
Porque isto foi um período em que sabia que ia voltar e agora não estou ao lado dos meus amigos da minha equipa.

De repente, toda a gente foi para os seus países ou para outros pontos do mundo e é uma dispersão… 
África do Sul, Argentina…

E aquele tempo acabou, não volta.
Sim.

E agora que voltou cá, qual é o ponto da situação, o que é que se vai passar? Apostam tanto em si aqui como apostavam lá fora? 
Sim, sem dúvida. Tenho um agente, que é o Pedro Lima Pinto, que me está a ajudar bastante, e tenho três patrocínios.

Onde é que gostaria de estar aos 30 anos?
Gostaria de estar a jogar no circuito americano, no “PGA Tour”. Gostava de voltar a Atlanta e jogar aquele torneio, o top 30. Se um dia os meus amigos americanos me pudessem ver a jogar aquele torneio era fantástico.

Estando em Portugal, é possível evoluir e fazer caminho para chegar a esse top 30? 
Sim, sem dúvida. Portugal tem condições espetaculares para golfe.

KIMMY SIMÕES/OBSERVADOR

Também tem sonhos de vida familiar? Está nos seus objetivos mais ou menos remotos, casar e ter filhos, gostava? 
Claro que sim, sem dúvida.

Gostava de ter muitos filhos?
Gostava pelo menos de ter uns três ou quatro. Uma casa cheia é sempre diferente.

Se tivesse um lema de vida, qual seria?
Um lema de vida? Vamos voltar um bocadinho ao início da conversa: é não desistir.

Se pudesse trazer aqui uma pessoa neste minuto, alguém morto ou vivo, quem traria?
Agora?

Sim, alguém que lhe apetecesse ver.
Traria os meus dois avôs. Voltar a vê-los seria ótimo.

Para lhes dizer o quê?
Nada. Para passar um bocadinho mais tempo com eles. Acho que era o suficiente.

Para um abraço literal ou metafórico.
Sim, um abraço. Acho que seria bom.

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