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Toronto Star via Getty Images

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Kawhi Leonard deixou os Raptors – e de repente a NBA tornou-se imprevisível

Era suposto que os Warriors criassem uma das mais extraordinárias dinastias da NBA mas a mais louca semana de free agency criou um novo equilíbrio de forças – e a NBA tornou-se ainda mais divertida.

Eis uma cena que nunca mais se repetirá: a um segundo de acabar o sexto jogo das Finais da NBA deste ano a câmara segue a bola, que vai para as mãos de Steph Curry, o base dos Golden State Warriors e campeão em título, pelo menos durante mais um segundo; este lança-a de muito longe, ouve-se o buzzer que assinala o fim do jogo e a câmara, de imediato, concentra-se em Kawhi Leonard, que acabara de alcançar o improvável feito de guiar os Toronto Raptors ao seu primeiro título da NBA.

Se esta cena nunca mais se vai repetir isso não significa que os Raptors nunca mais venham a ganhar a competição – mas que a consegui-lo não será com Leonard, que um ano depois de chegar decidiu abandonar a equipa canadiana e “criar” uma nova super-equipa em Los Angeles, tornando-se o primeiro MVP a não defender o anel de campeão com a equipa com que venceu. E com isto deu cabo de todas as hierarquias da NBA.

Ninguém esperava o que aconteceu nas finais deste ano e ninguém esperava o que aconteceu no período de free agency este mês mas o resultado foi que em apenas meia dúzia de dias o desequilíbrio de forças em que a NBA assentava desapareceu – os Golden State Warriors já não parecem uma equipa imbatível e de repente ficou tudo mais divertido.

Free agency, já agora, é o período em que jogadores sob contrato podem rescindir esses contratos e assinar por uma nova equipa, mediantes as complicadíssimas regras da NBA.

Kawhi Leonard e Paul George causaram a grande surpresa ao saírem de Toronto e Oklahoma para se juntarem nos Clipper

Getty Images

Um dos free agents era Leonard, que optou pelos LA Clippers. Kevin Durant, super-estrela dos Warriors, também estava com esse estatuto de free agent e optou pelos Nets, levando consigo Kyrie Irving, o base dos Celtics – e de repente os Nets são “contenders”, candidatos, tal como os Clippers, que receberam Leonard e também Paul George, e tal como os Lakers, que adicionaram Anthony Davis a Lebron.

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Isto estava tudo muito certinho: os Warriors iam ganhar títulos em barda, talvez mesmo bater os seis campeonatos dos Bulls de Jordan – e agora de repente a NBA tornou-se imprevisível. Se calhar precisamos de mais do que um parágrafo para explicar o que se passou aqui. Vamos lá tentar dar contexto – e para isso precisamos de voltar atrás, ao momento em que os Warriors começaram uma dinastia que parecia impossível de romper.

A dinastia dos Warriors

Se olharem para as últimas cinco Finais da NBA um nome repete-se, o dos Golden State Warriors, que saíram vencedores por três vezes – e ainda podem argumentar que este ano estiveram sem o seu melhor jogador, Kevin Durant, por lesão, e ainda perderam, no jogo 5, o seu terceiro melhor jogador, Klay Thompson, também por lesão.

Durant saiu no final da época e Klay estará lesionado por nove meses – de repente as chances dos Warriors de recuperarem o título, mesmo após a aquisição de D’Angelo Russel (um rapaz cheio de talento, mas cujo estilo frenético não cai assim tão bem nos Warriors), raiam a improbabilidade.

Os Warriors mudaram a NBA, graças a um estilo de jogo que foi contra as regras. Até aos Splash Brothers (Curry e Klay) ascenderem o base assistia o poste ou criavam jogadas de isolamento para as estrelas penetrarem. Era assim nos Bulls de Jordan, nos Lakers de Kobe (primeiro com Shaq, depois com Pau Gasol).

Um par de equipas fugiam a isto: os Spurs rodavam a bola o mais que podiam, sempre a gerir o tempo; e os Suns tinham uma regra: “7 seconds or less”, que significava que tentavam lançar o mais depressa possível.

Curry e Klay sintetizaram os ensinamentos dos Spurs e dos Suns e o jogo nunca mais foi o mesmo: lançam muito de três como os Suns, sim, mas se os adversários estão a conseguir defender o perímetro, rodam a bola como os Spurs. Tudo isto é estatística: se uma equipa tiver dois grandes lançadores de três fica muito difícil aos adversários defender, porque abre-se imenso espaço; se tem três então é quase impossível defender.

Quando Durant se juntou aos Warriors estes já tinham duas finais, uma vencida e outra perdida, ambas contra os Cavaliers de LeBron James. Nos dois anos seguintes derrotariam os Cavaliers e LeBron outras tantas vezes – com Durant os Warriors revelaram-se imbatíveis: era impossível defender três homens com marcas magistrais de três pontos, mais ainda tendo em conta que Durant marca de qualquer sítio e, com 2m10 mas um drible digno de base, é praticamente impossível de defender.

Durant, Green, Curry, Thompson, Cousins: a última equipa dos Warriors que entretanto já perdeu dois elementos

Getty Images

Nas finais deste ano Durant estava lesionado – e os Warriors tinham apenas duas super-estrelas para uma de Toronto. Durant regressou no jogo 5, lesionou-se, Klay idem e de repente o impossível aconteceu: Toronto, que se apurara para as finais com um triplo de Kawhi no último segundo, foi campeão. Durant pareceu não ter perdoado o facto de o terem forçado a regressar mais cedo – a sua lesão, uma rutura do tendão de Aquiles, destrói carreiras: só um jogador da NBA (Dominique Wilkins) ultrapassou uma lesão assim com números ao mesmo nível.

Acresce que Durant sentia que o amor dos adeptos ia para Curry e Klay, não para si. Durant era uma joia, um casaco de peles, um carro desportivo, era o luxo que garantia a vitória – mas não era um “deles”.

E nisto chegamos ao ponto mais importante da NBA de hoje: quem manda são os jogadores, no estranho socialismo que é a National Basketball Association. Os Warriors fizeram tudo certo – mas no coração dos adeptos não havia amor suficiente para três estrelas. De modo que o melhor de todos foi embora, começando uma onda sísmica de trocas que abalou a estrutura de poder da NBA.

A free agency e o socialismo da NBA

Ao contrário do que acontece no futebol, as equipas da NBA não formam jogadores – quem faz isso são as universidades e os liceus e os jogadores aí formados são escolhidos pelas equipas através de um sistema chamado draft.

O draft assenta em princípios “socialistas”: as equipas que não se qualificaram para os play-offs têm prioridade a escolher os primeiros jogadores – há uma espécie de lotaria entre essas equipas, em que a pior equipa tem mais chances de ser a primeira a escolher, enquanto a equipa menos má tem menos chances.

Isto permite que uma equipa que teve uma má época tenha uma chance de adquirir uma potencial futura estrela, uma daquelas que muda o destino de uma equipa – como Steph Curry, em 2009, quando foi escolhido pelos Warriors.

A ideia é simples: que não seja sempre a mesma equipa a vencer. A vontade de equilíbrio explica a existência de um “salary cap”, um limite salarial que cada equipa pode pagar. Os limites não são idênticos e têm em conta especificidades como o mercado de cada equipa e podem sempre ser batidos – mas isso implica o pagamento de multas pesadíssimas, que (em parte) são redistribuídas pelas restantes equipas.

O salary cap é importante porque limita o número de super-estrelas que uma equipa pode ter sem perder dinheiro. Quando começou a free agency, a 30 de Junho deste ano, uma boa parte das equipas despacharam jogadores de modo a conseguir espaço salarial para o elevado e incomum número de estrelas que, este ano, estavam em situação de free agency e podiam assinar por quem quisessem.

E é aqui que entra o tal socialismo, agora num sentido mais factual: os jogadores da NBA têm um sindicato e um sindicato fortíssimo que já parou a competição, sempre com o mesmo fito: dar liberdade (e dinheiro) aos jogadores. A free agency, por exemplo, foi definida pelos patrões da NBA em diálogo com o sindicato dos jogadores.

LeBron James vai passar a contar com Anthony Davis do seu lado – mas para isso os Lakers dispensaram vários jogadores

Getty Images

Antes um jogador assinava por uma equipa e, mesmo que fosse uma estrela, era-lhe muito difícil sair, se a vontade dos donos fosse que ele ficasse. Agora não: os contratos têm limites temporais (e valores mínimos por época, consoante o número de anos de carreira do jogador) que permitem que qualquer jogador fique livre – o mais tardar – ao fim de quatro anos.

É muito mais complicado que isto mas, na prática, entre os limites salariais das equipas e a free agency este verão tinha um número absurdo de free agents (jogadores livres) de qualidade – o suficiente para andar toda a gente a tentar arranjar espaço salarial para contratar uma estrela. O que, no caso dos Lakers, significou mandar metade da equipa embora por troca com o ingresso de Anthony Davis e mandar a outra metade da equipa embora para ter espaço para o salário de Kawhi.

A lista de free agents era inacreditável: Kevin Durant, Kawhi, Kyrie Irving, Kemba Walker, Klay Thompson, Jimmy Butler, DeMarcus Cousins, D’Angelo Russel, Marc Gasol – o suficiente para ser campeão. 24 horas depois da free agency começar já haviam sido gastos três mil milhões de dólares em salários.

E agora sim, é momento de tentarmos perceber qual a nova hierarquia de forças da NBA, quem é que no final da época estará nas ansiadas finais.

Vencedores e derrotados da free agency

Quando em 2018 Kawhi Leonard saiu dos Spurs e foi para os Raptors, o que se pensava era que a vontade de Leonard era seguir para os Lakers e que os Raptors não eram mais que a saída possível naquele momento.

Depois Kwahi marcou um triplo no último segundo, contra Filadélfia, e colocou os Raptors nas finais; Durant lesionou-se – e os Raptors eram campeões. E isto levou a que muita gente acreditasse que Kawhi ficasse. Por via das dúvidas os Lakers adicionaram Anthony Davis e libertaram quase todo o espaço possível.

Era dia 6 de Julho quando Leonard se decidiu pelos Clippers, mais conhecidos por serem a “outra” equipa de LA – a equipa que não é os Lakers, a equipa que nunca ganhou nada, o patinho feio. Kawhi queria outra estrela a seu lado – tentou convencer Durant, mas este já tinha acordado com Kyrie Irving que ambos se deslocariam para os Brooklyn Nets. A manobra seguinte de Kawhi foi convencer Paul George a forçar a sua saída de Oklahoma – e desta vez teve o que quis.

Percebe-se o raciocínio de Kawhi: se fosse para os Lakers ia ser a segunda estrela da equipa, atrás de LeBron; nos Clippers continua a ter acesso ao mercado de LA mas é a principal estrela e do dia para a noite tem uma equipa para competir por títulos.

Os Clippers são candidatos e, como é óbvio, os Raptors são dos grandes derrotados – apesar disso, o trio Kyle Lowry, Pascal Siakam, Marc Gasol permite-lhes ir aos play offs e agora têm espaço para adicionar uma estrela (se houver alguém interessado em ir para lá).

Toronto Raptors, que se sagraram pela primeira vez campeões, acabaram por ser os grandes derrotados no período de free agency

Getty Images

Os Nets são, igualmente, óbvios vencedores: juntar Kyrie Irving e Kevin Durant na mesma equipa equivale a, do dia para a noite, tornar-se candidato. Mas não este ano: Durant demorará uma época a recuperar da sua lesão – uma lesão dura e que, possivelmente o tornará um jogador mais lento e menos explosivo. Mas Durant é tão bom lançador e tão alto e técnico que se compreende o risco dos Nets: dentro de dois ano poderão estar a lutar pelo prémio máximo.

Isto implica que os Warriors sejam dos grandes derrotados desta free agency: não só perdem Durant como Klay estará nove meses lesionado. D’Angelo Russel foi adicionado à equipa – é um extraordinário jogador mas não é Durant.

Os Lakers têm de ser vistos como derrotados – desembaraçaram-se de uma equipa inteira, incluindo alguma juventude com valor, para ter três estrelas. Acabaram com duas – e tudo vai depender da qualidade dos jogadores que irão rodear LeBron e Anthony Davis (uma dupla que, reconheça-se, tem imenso valor).

Tudo isto significa que os Knicks voltarão a ser a pior equipa da NBA e que, muito discretamente, os 76ers (de Filadélfia) mantiveram Tobias Harris, juntaram Al Horford  e Josh Richardson e de repente têm um cinco inicial composto por Ben Simmons, Richardson, Harris, Horford e Joel Embiid. E também têm de ser vistos como candidatos.

Warriors, 76ers, Nets (mas não este ano), Lakers, Clippers, Houston: para o ano o vencedor da NBA é caso de aposta múltipla.

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