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Ministro dos Negócios Estrangeiros da Rússia deixou bem claro que o país não vai tolerar mais "incidentes e provocações" deste género

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Ministro dos Negócios Estrangeiros da Rússia deixou bem claro que o país não vai tolerar mais "incidentes e provocações" deste género

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Lavrov ameaça Ucrânia e promete "ações concretas" após drones no Kremlin. Qual pode ser a retaliação da Rússia?

MNE russo ameaçou que alegados ataques ao Kremlin não ficarão sem resposta. Mas especialistas ouvidos pelo Observador acreditam numa operação de bandeira falsa da Rússia — com um foco mais interno.

“Um episódio peculiar” que o mais certo é ter sido uma “operação de bandeira falsa”. Os drones que terão sobrevoado o Palácio do Kremlin na passada quarta-feira geraram mais uma situação de tensão entre a Rússia, a Ucrânia e o Ocidente. Por um lado, os dirigentes russos apontam o dedo aos “terroristas de Kiev” e acusam o Ocidente de compactuar com os ucranianos num alegado ataque cuja finalidade seria matar o Presidente russo, Vladimir Putin; por outro, os países ocidentais e as autoridades ucranianas insistem que se terá tratado de uma encenação da Rússia.

Em declarações ao Observador, Pavel Baev, especialista em assuntos militares no Instituto de Estudos de Paz de Oslo com nacionalidade russa e norueguesa, não tem dúvidas de que se terá tratado de uma “operação de bandeira falsa” russa. E recusa que o alegado ataque tenha tido como objetivo matar o Presidente russo. “A carga de explosivos era demasiada pequena e a intenção passava por, definitivamente, criar um espetáculo e não infligir danos materiais”, considera.

Mesmo que tenha sido uma encenação, o ministro dos Negócios Estrangeiros russo, Sergei Lavrov, já veio garantir, esta sexta-feira, que Moscovo vai responder com “ações concretas”, deixando duras críticas ao Ocidente e à Ucrânia. “Posso garantir-vos que se dois drones atingissem a Casa Branca, os responsáveis por isso deixariam de existir. E esse é provavelmente o futuro do governo de Zelensky”, ameaçou durante uma conferência de imprensa. Aliás, a morte do líder ucraniano já tinha sido, de resto, sugerida pelo antigo Chefe de Estado e vice-presidente de Conselho de Segurança da Rússia, Dmitry Medvedev: “Não há outra opção se não eliminar Zelensky fisicamente”.

“Posso garantir-vos que se dois drones atingissem a Casa Branca, os responsáveis por esse drone deixariam de existir. E esse é provavelmente o futuro do governo de Zelensky"
Sergei Lavrov, ministro dos Negócios Estrangeiros da Rússia

Numa altura em que a Ucrânia se prepara para iniciar a contraofensiva que prevê recuperar grande parte do território perdido, aliado ao facto de o grupo de mercenários Wagner ter anunciado que deverá deixar o ponto mais quente da guerra — Bakhmut —, que contornos poderá assumir a alegada retaliação russa? Para já, Sergei Lavrov recusou que se trata de um motivo suficiente para um “casus belli”, ou seja, uma declaração de guerra. Porém, os especialistas ouvidos pelo Observador concordam que pode traduzir-se numa justificação para escalar o conflito. 

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As vantagens de uma operação de bandeira falsa

Os dirigentes russos negam categoricamente que se tenha tratado de uma operação de bandeira falsa. Em vez disso, censuraram o “ato hostil” que dizem ter sido levado a cabo pela Ucrânia. Como consequência pelo alegado ataque, na opinião de Sergei Lavrov, qualquer país “com respeito por si próprio” deveria fechar os canais de comunicação com a presidência ucraniana, deixando de interagir com Volodymyr Zelensky. “Deixámos a nossa atitude clara. Penso que não devemos esperar por mais incidentes e provocações”, sublinhou ainda o ministro russo.

Embora não acreditando que tenha sido a Ucrânia a preparar o alegado ataque, Pavel Baev destaca que isso pode ter “consequências negativas” para a Rússia. “O seu principal símbolo de poder mostrou ser vulnerável”, aponta o especialista, isto apesar de a presidência russa ter assegurado que Vladimir Putin não estaria na sua residência oficial no momento em que os drones sobrevoaram o Palácio do Kremlin.

Pegando neste argumento, Olexiy Haran, professor de Política Comparada na Universidade ucraniana de Kyiv-Mohyla, conjetura, ao Observador, que o alegado ataque também pode ter sido perpetrado pelos serviços de informação russos por conta da “luta interna” que existe entre os diferentes ramos, nomeadamente a que persiste entre o FSB (Serviço Federal de Segurança) e SVR (Serviço de Informações Externo). “O objetivo era demonstrar que Putin não era bem defendido e usar este argumento para gerar caos no Kremlin”, clarifica, não especificando, ainda assim, quais dos dois ramos poderia estar por detrás do ataque tendo por base esta tese.

Os erros dos serviços de informações russos que podem ter causado sucessivas derrotas a Putin na Ucrânia

“Mas, para mim, esta operação de bandeira falsa foi organizada por russos, de forma a mobilizarem a população para estarem ao lado de Putin”, reforça Olexiy Haran. O professor universitário defende que esta pode ter sido uma “campanha” para que a sociedade russa mantenha uma opinião negativa relativamente à Ucrânia e ao Ocidente. Sob o pretexto de que a Rússia estaria a ser atacada naquela que é uma das suas instituições políticas mais importantes, isso pode justificar uma “escalada da ofensiva”, que seria, nestes termos, “aceite pela população”.

Pavel Baev concorda com este ponto de vista, lembrando igualmente a contraofensiva ucraniana e os impactos negativos que esta operação militar, que Kiev diz estar prestes a começar, pode ter no seio da sociedade civil e das tropas russas. Caso a Ucrânia seja bem-sucedida, os dirigentes russos podem recorrer a este episódio para ajudar a justificar a aplicação de “medidas desesperadas” e drásticas. 

Para além disso, o especialista em assuntos militares no Instituto de Estudos de Paz de Oslo salienta o timing do alegado ataque, que ocorreu uma semana antes do Dia da Vitória, a 9 de maio, um dos mais importantes feriados na Rússia que celebra a vitória da União Soviética relativamente à Alemanha nazi. “Se Putin for à Praça Vermelha na parada do 9 de maio pode, assim, mostrar coragem e determinação”, vinca Pavel Baev, acrescentando que isso poderá ser benéfico para a imagem pública do Chefe de Estado.

Victory Day military parade in Moscow

Putin na Praça Vermelha a 9 de maio de 2022

Anadolu Agency via Getty Images

O relatório do think tank norte-americano Instituto para a Guerra de 3 de maio também sinaliza que o alegado ataque poderá estar relacionado com 9 de maio. “O Kremlin pode utilizá-lo para justificar ou limitar as celebrações de 9 de maio, ações que servem como argumento para que ganhe preponderância a narrativa de que a Ucrânia está diretamente a ameaçar a Rússia e os seus eventos históricos.”

Como é que Moscovo pode reagir?

O ministro dos Negócios Estrangeiros da Rússia deixou bem claro que o país não vai tolerar mais “incidentes e provocações” deste género. Ainda assim, durante a conferência de imprensa, Sergei Lavrov não deu detalhes sobre quais seriam as “ações concretas”.

Para Pavel Baev, a Rússia deverá intensificar os ataques aéreos (sejam eles com drones ou não) em território ucraniano como “forma de retaliação”. O especialista não estranha que, eventualmente, possa mesmo haver um ataque direcionado “a regiões mais populosas”, tais como a capital Kiev ou às cidades de Lviv e Kharkiv.

Em relação ao possível assassínio do Presidente ucraniano, como o sugerido por Dmitry Medvedev e Sergei Lavrov, Pavel Baev tem dúvidas de que Moscovo tenha “capacidades ofensivas” para isso, atualmente. Para além disso, esta ação “poderia afastar de vez os seus aliados”, principalmente a China, tornando a Rússia cada vez num pária no seio da comunidade internacional.

Adicionalmente, o especialista do Instituto de Estudos de Paz de Oslo considera que estas operações de bandeira falsa vão continuar no futuro, com o objetivo de semear a discórdia entre Kiev e os seus aliados. “Os altos dirigentes russos estão à espera que os Estados Unidos e outros aliados coloquem pressão na Ucrânia para terminar com estas alegadas provocações de alto risco cometidas pela Ucrânia.”

"Os altos dirigentes russos estão à espera que os Estados Unidos e outros aliados coloquem pressão na Ucrânia para terminar provocações de alto risco"
Pavel Baev, especialista em assuntos militares no Instituto de Estudos de Paz de Oslo

No fundo, prossegue o especialista russo naturalizado norueguês, o objetivo da Rússia poderá passar por instar o Ocidente a tomar uma posição relativamente aos ataques em território russo, que se têm intensificado nos últimos meses. Moscovo quer “o fim aos ataques ucranianos a infraestruturas em solo russo”. Pavel Baev exemplifica com os “drones ucranianos que atingem refinarias de petróleo” na Crimeia e na Rússia, que “causam danos” significativos. 

Como a guerra na Ucrânia já invadiu o território russo

Até agora, o Ocidente não tem reagido aos ataques ucranianos em solo russo, uma vez que à luz do Direito Internacional são legítimos, dado o conflito que existe entre a Rússia e a Ucrânia. Ainda que imponham a linha vermelha a Kiev de não poder utilizar armamento ocidental nas ofensivas em solo russo, os países do Ocidente não as censuram, algo que tem irritado Moscovo.

Contudo, mais do que provocar uma reação do Ocidente ou uma escalada, Pavel Baev acredita que o alegado ataque tem uma componente mais interna. O Instituto para a Guerra partilha desse ponto de vista: “Provavelmente, a Rússia encenou este ataque numa tentativa de criar as condições para uma mobilização social mais ampla”.

“Este tipo de manobras consiste numa tática normal na Rússia”, constata Olexiy Haran, lembrando que isso já aconteceu no passado (e não só neste conflito). Qual será o fim a atingir ainda não é bem claro, mas Pavel Baev arrisca dizer que “a escala e a natureza da resposta russa vão dar uma resposta”.

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