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Lídia Pereira foi eleita eurodeputada em 2019. É presidente da juventude do Partido Popular Europeu, 'família' que inclui PSD e CDS
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Lídia Pereira foi eleita eurodeputada em 2019. É presidente da juventude do Partido Popular Europeu, 'família' que inclui PSD e CDS

Lídia Pereira foi eleita eurodeputada em 2019. É presidente da juventude do Partido Popular Europeu, 'família' que inclui PSD e CDS

Lídia Pereira: "O PS tem dado muitas facadinhas na democracia"

A eurodeputada e líder da Juventude Popular Europeia considera a interferência do PS na Justiça "preocupante". Sobre o futuro do PSD, Lídia Pereira reserva qualquer discussão para o pós-autárquicas.

Lídia Pereira entende que a Presidência Portuguesa da União Europeia, que agora terminou, começou mal e acabou ainda pior e que se pode resumir a uma ideia: a “pouca ambição” do Governo português conduziu a “fracos resultados”.

Em entrevista ao Observador, numa Vichyssoise especial gravada a partir do Parlamento Europeu, em Estrasburgo, a eurodeputada e líder da Juventude Popular Europeia acusa o PS de estar interferir cada vez mais em setores-chave para a democracia portuguesa, em particular na Justiça, que remetem para outros tempos recentes — os de José Sócrates, leia-se.

Quanto ao futuro do PSD, Lídia Pereira reserva qualquer avaliação do mandato de Rui Rio para o pós-autárquicas, mas não esconde a admiração por Paulo Rangel. Ser novamente eurodeputada a convite de Rio ou ministra num Governo de Rangel? “As duas são opções extremamente interessantes. Só poderia responder consoante a fase da minha vida em que estivesse”, deixou escapar.

Foi recentemente reeleita líder da Juventude Popular Europeia. Como sabe, na Vichyssoise gostamos de oferecer refeições com algum picante. Diga-nos: estar no Parlamento Europeu, onde a delegação portuguesa é bastante considerada, é um alívio face ao que está acontecer ao PSD em Portugal? Longe da vista, longe do coração…
Acho que todos temos de trabalhar por um objetivo comum e neste caso não passa apenas pelo partido, é Portugal e, portanto, o nosso compromisso sai melhor na fotografia. Nós temos esta dimensão e, apesar de sermos um país médio/pequeno, conseguimos ter aqui uma relevância significativa.

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Já percebi que o Parlamento Europeu está a dar uma boa escola para fugir a perguntas, se calhar avanço e não faço mais perguntas sobre o PSD nacional.
Não, acho que estamos todos alinhados nos objetivos que queremos atingir e em particular creio que o PSD no Parlamento Europeu tem estado ao serviço dos portugueses, próximo dos portugueses. Estamos em sintonia com aquilo que o PSD nacional também quer, que é oferecer uma alternativa a Portugal.

Por falar em sintonia. Rui Rio disse há dias que a presidência portuguesa da União Europeia não foi “marcante”. Que palavra escolheria para descrever estes meses e o que é que faltou para Portugal conseguir ser ‘marcante’?
As palavras talvez sejam pouca ambição, que se foi manifestando ao longo dos vários meses da presidência portuguesa. A presidência não começou bem, desde logo pelo caso do procurador europeu, o que acho que acabou por, de certa forma, conduzir a presidência aos fracos resultados que apresenta.

A jovem número dois da lista do PSD às europeias, Lídia Pereira, invoca a máxima “uma vez escuteira, sempre escuteira” para assegurar estar na política “para servir” e não fecha portas a outros cargos no partido no futuro, no âmbito da campanha eleitoral para as Eleições Europeias 2019, Guimarães, 19 de maio de 2019. (ACOMPANHA TEXTO DA LUSA) TIAGO PETINGA/LUSA

Lídia Pereira fez campanha ao lado de Paulo Rangel em 2019. Foi a escolhida de Rui Rio para o segundo lugar das listas europeias

TIAGO PETINGA/LUSA

A esse propósito, Pedro Marques acusou numa entrevista ao Observador o PSD e CDS de terem feito um aproveitamento político desse caso para prejudicar a presidência portuguesa da UE.
O PSD está na oposição e está a fazer o seu trabalho. É natural que crie algum desconforto ao PS, mas está a fazer aquilo que lhe compete e no caso em particular está a alertar sobre uma série de vícios que têm de ser falados sem tibiezas e sem medos. De resto, o posicionamento do deputado Pedro Marques é sempre bastante consistente e não há aí nenhuma novidade.

Estava a fazer uma avaliação da presidente portuguesa da UE. Não a considera positiva? Tem sido reconhecida quase unanimemente como uma presidência regular, para dizer o mínimo.
Para responder a essa pergunta temos de fazer outra pergunta: o que é que fica desta presidência?

Foi conduzida em circunstâncias excecionais.
É verdade, mas já a presidência anterior foi em circunstâncias excecionais e já sabíamos o que esperar quando a presidência começou. Sabemos que conseguimos um acordo no certificado digital europeu, mas de resto houve a cimeira social do Porto que falava em muita ambição, mas depois olhamos para aquilo que Portugal faz em matéria social nos últimos cinco anos e vemos que há uma certa discrepância se olharmos para os números da pobreza, da igualdade de género. Portanto, chega a ser curioso que Portugal queira impor ou imprimir uma determinada agenda e depois não seja consequente com ela própria. Se olharmos para a própria Lei Europeia do Clima, que era um dos grandes desígnios da agenda política europeia, o acordo que acabou por sair no Conselho é pouco, de certa forma desolador.

"A decisão sobre a Hungria é uma mancha que também revela um padrão. Há um ano António Costa disse que não se deveria misturar matéria de Estado de direito com as negociações do fundo de recuperação. Voltámos a ver a mesma história com uma matéria diferente e com a argumentação absolutamente discutível do dever de neutralidade. Sai mal na fotografia"

Uma das grandes questões dos últimos meses é o processo de vacinação, com a descoordenação e as diferenças de ritmo que houve. Considera que isso foi uma falha da presidência portuguesa? E se sim, qual era a solução? Os países que decidiram comprar vacinas por fora dos contratos europeus tomaram a decisão certa?
Em matéria de coordenação da vacinação houve uma falha clara. Recordo que estávamos em março quando finalmente se começou a fazer um mapeamento das unidades de produção de vacinas, portanto este era todo um trabalho que devia ter sido antecipado e previsto. Chega a ser engraçado ouvir o primeiro-ministro a criticar outra descoordenação na aplicação de vacinas — isto é, há países a aplicarem uma dose e outros duas doses consoante a natureza da vacina — mas depois também não tenha acautelado as mesmas regras a aplicar numa união que devia ser uma união de facto, uma vez que temos liberdade de pessoas, bens e serviços. Mais uma vez o Governo mostrou uma desatenção e que não é positiva. Uma outra matéria que tem estado na agenda política é, por exemplo, a cimeira entre a UE e África, que acabou por não acontecer. Aconteceu UE – Índia, que é positivo do ponto de vista geopolítico, mas ficamos sempre aquém daquilo que era o potencial português e, deixem-me voltar atrás, creio que a pandemia não pode justificar tudo e tínhamos  uma responsabilidade acrescida que falhámos. Se olharmos para as presidências anteriores sabemos que houve sempre uma consequência muito concreta desses seis meses e neste caso o que fica é pouca ambição.

Quando diz que Portugal ficou aquém, é também essa a sua opinião sobre a posição portuguesa em relação à Hungria? Esse episódio é uma mancha para a presidência portuguesa?
É uma mancha que também ela revela um padrão. Há um ano António Costa disse que não se deveria misturar matéria de Estado de direito com as negociações do fundo de recuperação. Voltámos a ver a mesma história com uma matéria diferente, direitos fundamentais, direitos civis e com a argumentação absolutamente discutível do dever de neutralidade, porque se por um lado o Palácio de São Bento pode hastear a bandeira LGBT, depois não pode assinar a carta que todos os outros governos assinaram. É bastante discutível e acho que sai mal da fotografia.

Mas quando fala dessa clareza temos de ter em conta que o partido de Viktor Orbán esteve até há meses no PPE e a juventude desse partido também esteve na organização que lidera. O Fidesz saiu pelo próprio pé. O PPE não devia ter sido firme e promovido a expulsão do Fidesz?
O PPE tinha os seus mecanismos internos que estavam a decorrer, que levaram a várias discussões e que, no fundo, acabaram por se materializar na saída pelo próprio pé do partido. Não se revê na matriz pró-europeísta do PPE, mas o PPE estava numa sequência de processos internos.

Não peca por tardia esta decisão?
Sim, peca por tardia, mas é preciso vermos que esta questão é complexa porque há aqui algumas matérias de identidade que muitas vezes se perdem no ruído nas discussões, na espuma dos dias. O que é de salientar é que o PSD e eu própria temos sido bastante claros; na juventude do PPE várias vezes aprovámos resoluções a condenar a juventude do Fidesz. Sempre tivemos uma posição bastante assertiva, mas creio que o resultado positivo é a saída do Fidesz. A verdade é que um regime que se tornou progressivamente autoritário muitas vezes não tem tem sucessão nas lideranças e deve haver algum cuidado no futuro, porque não basta apenas os países aderirem à UE, é também necessário cumprirem com aquilo a que aderiram.

A saída da Hungria da União Europeia é desejável? Augusto Santos Silva dizia na semana passada que os direitos humanos devem ser valores não só de entrada, mas também de permanência na UE, como a Lídia Pereira acaba de dizer.
Acho que é muito cedo para estarmos a falar em cenários desses, acabámos de vir de um processo bastante difícil, do Brexit, e creio que o respeito pelos valores, esse sim, tem de ser assegurado. Os mecanismos para assegurar que esses valores são respeitados não existiam até agora e isso abriu uma outra discussão. Também é preciso vermos que do ponto de vista da discussão política há uma polarização que alimenta determinado tipo de tomadas de posição por partidos como o PiS na Polónia ou como o Fidesz. Eventualmente mereceria aqui uma reflexão diferente a forma como se lida com estas matérias porque, de facto, não estamos a conseguir dialogar, o que pode de facto conduzir a situações mais extremas como a saída da Hungria, mas é demasiado cedo para pensarmos num cenário desses. A presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, foi muito clara ao dizer que vai usar todos os mecanismos à sua disposição para assegurar que os direitos fundamentais e os valores europeus são respeitados na Hungria, portanto vamos avaliar e esperar. É preciso alguma cautela agora.

"Cada vez estamos mais próximos dos países mais pobres; no fim da década, se não invertermos as políticas aplicadas em particular nos últimos cinco anos, fruto de um Governo completamente desgastado -- arriscava até dizer acabado --, podemos estar depois a competir com a Roménia ou a Bulgária"

Decisões como a da Alemanha de colocar e retirar Portugal da sua lista vermelha em poucos dias descredibilizam o certificado digital? Essa falta de acordos entre países nas regras para as fronteiras é também responsabilidade da presidência portuguesa?
Sim, aqui voltamos à questão da descoordenação, que põe em causa o próprio espaço Schengen. Se andámos todos estes meses a tentar chegar a um acordo para que pudéssemos restabelecer o mais possível a liberdade de circulação e depois vemos aqui decisões unilaterais… Hoje em dia temos vacinas, um conhecimento totalmente diferente sobre a transmissão do vírus, e acho que houve aqui uma certa irresponsabilidade.

Mas responsabiliza por isso diretamente a presidência portuguesa?
Bom, houve um Conselho Europeu ainda a fechar a presidência portuguesa e portanto eventualmente houve aí alguma falha de comunicação. Há alguma responsabilidade porque o que seria normal era nesta fase estarmos a aplicar as mesmas regras.

Criticou o Governo por falta de clareza e transparência na construção do PRR. Que riscos é que Portugal corre na aplicação dos fundos? Há aqui um grande risco de corrupção?
Tenho sobretudo receio pelo desenho do PRR, que aloca os fundos, cerca de 70% para o setor público e 30% para o privado — as várias confederações industriais portuguesas já vieram a público questionar este enquadramento — e a mim preocupa-me porque podemos estar a entrar numa oportunidade perdida. Cada vez estamos mais próximos dos países mais pobres; no fim da década, se não invertermos as políticas aplicadas em particular nos últimos cinco anos, fruto de um Governo completamente desgastado — arriscava até dizer acabado –, podemos estar depois a competir com a Roménia ou a Bulgária, quando a ambição devia ser estarmos no pelotão da frente.

Apesar desse desgaste tão claro que vê, as sondagens indicam que o PS e a esquerda continuam em maioria, mesmo tendo pelo meio uma pandemia e uma crise económica. São justas as críticas que dizem que Rui Rio não está a conseguir afirmar o PSD como alternativa? Em que é que o PSD e a direita estão a falhar?
Temos apresentado propostas ao longo destes últimos doze meses…

Mas concorda pelo menos que o PSD está com dificuldades em afirmar-se ou em passar a sua mensagem?
Se quiserem um exemplo concreto: tem-se falado da reforma da Justiça e ela é absolutamente prioritária e necessária. Aliás, temos visto facadinhas na democracia ao longos destes últimos anos, que são preocupantes. Mas eventualmente falta aqui uma afirmação mais clara sobre a necessidade de darmos respostas aos 60% de portugueses que vivem, em média, com 800 euros por mês…

"Temos visto facadinhas na democracia que são preocupantes. Há uma interferência do Governo em alguns setores, em particular da Justiça, que revela esse desgaste e essa falta de ânimo, muito semelhante ao que verificámos em 2009 e 2011"

Considera que o PS tem sido o responsável por essas facadinhas na democracia?
Totalmente. Ainda há bocado falámos na procuradoria europeia, no presidente do Tribunal de Contas, a estratégia nacional para o combate à corrupção — mais ninguém ouviu falar nessa estratégia — e agora estamos a falar da aplicação dos fundos europeus… A saída do ministro Centeno e a sua conversão como governador do Banco de Portugal, agora a procuradora-geral que, aparentemente, contornou a lei para nomear um procurador regional… Acho que há uma interferência do Governo em alguns setores, em particular da Justiça, que começa a ser preocupante e revela esse desgaste e essa falta de ânimo, muito semelhante ao que verificámos em 2009 e 2011.

Mesmo com essas facadinhas e esse desgaste porque é que o PSD não consegue crescer? Ou não acredita nas sondagens?
Eu sou muito cautelosa com as sondagens. Levam a determinadas conclusões e são instrumentos para afinar políticas e posicionamentos. Creio é que faltará aqui algum passo, e essa é uma gestão política do PSD nacional que o presidente saberá gerir nos seus timings. Não é justo dizer que não há uma alternativa quando têm apresentadas várias sugestões.

Ainda assim, olhando para as muitas sondagens ao longo do tempo, Rui Rio tem tido dificuldades em descolar. Ainda acredita que é o homem certo para liderar o PSD ou já está a olhar, por exemplo, para Paulo Rangel?
Haverá um tempo para fazer essa avaliação. Temos agora um processo autárquico, o presidente do partido é extremamente exigente consigo próprio, mesmo, e creio que essa pergunta poderá fazer sentido mais para a frente.

Seguimos para o segmento Carne ou Peixe, em que o entrevistado tem de escolher uma de duas opções. Preferia voltar a ser convidada por Rui Rio para eurodeputada ou ser ministra num Governo de Paulo Rangel?
Essa é difícil… (pausa). As duas são opções extremamente interessantes. Só poderia responder consoante a fase da minha vida em que estivesse.

Sabemos que gosta de viajar e deve estar cheia de saudades, por isso sugerimos-lhe dois companheiros para fazer um interrail: prefere António Costa ou Pedro Nuno Santos?
Nem um nem outro. Better alone… Aí vou sozinha.

É uma apaixonada por cozinhar… a quem servia uma sopa que está no frigorífico há já alguns dias: João Ferreira ou Pedro Marques?
Pedro Marques.

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