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O mítico boxeur Mohammad Ali a esmurrar o adversário. Muitos escritores e poetas desejaram fazer o mesmo uns aos outros
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O mítico boxeur Mohammad Ali a esmurrar o adversário. Muitos escritores e poetas desejaram fazer o mesmo uns aos outros

O mítico boxeur Mohammad Ali a esmurrar o adversário. Muitos escritores e poetas desejaram fazer o mesmo uns aos outros

Literatura? Este ringue não é p'ra meninos

Polémicas nos jornais, murros, bengaladas, poemas satíricos e duelos de espada. Nunca há palavras que cheguem quando os escritores fazem da literatura uma arena pessoal

Durante anos, uma suposta rivalidade entre José Saramago e António Lobo Antunes galvanizou paixões entre os leitores portugueses que gostam de fazer de tudo uma espécie de Benfica-Sporting. Era obrigatório amar um e detestar o outro, mesmo que os seus livros fossem, como são, incomparáveis. Ninguém sabe onde nasceu essa rivalidade, mas a verdade é que os próprios escritores nutriam um certo desagrado um pelo outro, que vinha a público de vez em quando e servia para alimentar a lenda.

Hoje, em tempos tão politicamente corretos e literariamente aborrecidos, não há escritor ou poeta que venha a público insultar outro. Ou sequer que assuma, nas suas crónicas semanais, uma posição crítica face ao trabalho de alguém. Quando o faz é mal visto, rotulado de “invejoso” ou “ressabiado” (aquele sentimento que por cá serve para resumir e atacar qualquer posição crítica).

O próprio meio literário encarrega-se de matar as paixões. Por isso, há muito que não temos uma boa e suculenta polémica para nos deliciar com nacos de boa prosa, como aqueles textos que Camilo Castelo Branco (que se zangou com toda a gente) nos deixou, e que escorrem requintados adjetivos, benfazejas maldades e elevadíssimas ironias.

No mundo pré-Facebook, quando não éramos obrigados a fazer "like" a tudo, houve zangas históricas que marcaram indelevelmente a literatura e a vida e obra de inúmeros escritores.

Depois da morte de Saramago, em 2010, ficámos sem uma rivalidade apaixonante. A última vez que a terra tremeu foi na internet, claro, onde hoje acontece tudo: o poeta Diogo Vaz Pinto disse numa entrevista ao DN que “o meio da poesia portuguesa era um asco”. A peça jornalística teve milhares de visualizações e partilhas, escreveram-se lençóis de insultos na caixa de comentários do jornal, e nem Ricardo Araújo Pereira, entrevistado no mesmo dia, conseguiu ter tanta audiência quanto este quase desconhecido poeta.

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No mundo pré-Facebook, quando não éramos obrigados a fazer “like” a tudo, e o mundo não vivia numa pseudo-alegria “friendly”, houve zangas históricas que marcaram indelevelmente a vida e a obra dos escritores, como o caso de Bocage e do padre José Agostinho de Macedo (uma guerrilha poética muito bem contada aqui), dos poetas franceses Rimbaud e Paul Verlaine, de Jean-Paul Sartre e Albert Camus, de Mário Cesariny e António Pedro…

Mas comecemos pelo Portugal da segunda metade do século XIX, num tempo em que os duelos não eram apenas metafóricos.

Antero de Quental  e Ramalho Ortigão: numa mão a pena, na outra a espada

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Em 1886, na belicosa cidade do Porto, defrontaram-se de espada nua dois escritores portugueses de muitas excelências literárias e grande pundonor. Correu algum sangue. Deu-se por entretida a curiosidade pública e satisfeita a honra convencional dos combatentes.

É assim que o escritor Camilo Castelo Branco descreve a polémica entre Antero e Ortigão nesses anos em que o realismo se opunha ao romantismo e os artistas não temiam ruturas, nem inimigos. Pelo contrário. E até faziam saber pelos jornais que se propunham dar umas bofetadas noutro. Esta polémica ficou conhecida como A Questão Coimbrã ou Questão do Bom Senso e Bom Gosto.

Em 1865, o poeta ultra-romântico António Feliciano de Castilho escreve ao editor António Maria Pereira uma carta, que será publicada como posfácio do Poema da Mocidade, de Pinheiro Chagas. Nela, o velho poeta discute sobre os poemas de Antero de Quental, Teófilo Braga e Vieira de Castro, ironizando particularmente sobre as Odes Modernas e sobre dois poemas de Epopeia da Humanidade, de Teófilo Braga.

Antero resolve descer à liça e contestar esta crítica; faz publicar uma carta aberta a Castilho intitulada Bom-senso e Bom-gosto, onde, exaltadamente, se insurge contra o desdém de Castilho relativamente à nova geração de poetas. 

Ramalho Ortigão sai em defesa de Castilho e, no folheto A Literatura de Hoje, acusa Antero de cobardia, pois este invocara como argumentos a velhice e a cegueira, real, do poeta António Feliciano de Castilho. Face a isto Antero empreende uma viagem ao Porto para “se entender” com Ortigão, e escreve:

O caso era cómico e não trágico. Ramalho Ortigão escreveu insolências bastante indignas a meu respeito num folheto a propósito da sempiterna questão Castilho. Eu vim ao Porto para lhe dar porrada. Encontrei, porém, o Camilo, o qual me disse que adivinhava o motivo da viagem e que antes das vias de facto, ele iria falar com o homem para ele dar satisfação. Aceitei. A explicação, porém, do dito homem pareceu-me insuficiente e dispunha-me a correr as eventualidades da bofetada quando me veio dizer o Camilo que o homem se louvava em C.J.Vieira e Antero Albano com plenos poderes de decidir a coisa e que fizesse eu o mesmo em dois amigos meus; na certeza de que uns e outros seriam considerados padrinhos de um duelo (!) no caso de se não entenderem a bem… Que can-can!”

Desafiado para um duelo de espada, Antero não se fica e, no dia 4 de Fevereiro de 1886, lá se encontram de espada na mão. Logo ao primeiro ataque, Antero feriu Ortigão num braço e deu-se por vencedor. Mais tarde, ambos viriam a reconciliar-se e até a fazer parte do mesmo parte grupo literário, Os Vencidos da Vida.

Eça de Queirós e Bulhão Pato: qualquer coincidência com a semelhança é pura realidade

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Nem sempre a eternidade de um nome significa a glória de um poeta, e o caso de Raimundo Bulhão Pato é um exemplo disso. É que, para além de hoje em dia ser bem mais popular nas artes culinárias do que nas literárias, viu a personagem de Tomás de Alencar d’Os Maias tornar-se muito mais conhecido do que ele próprio, que a inspirou.

O poeta, autor de poemas ultra-românticos como “Paquita”, representava para Eça a mesma literatura ultrapassada e cheia de formalismos que Feliciano Castilho representava para Antero de Quental.

Praticando essa coisa que continua a ser tão grata ao meio literário português — o elogio fácil que alimenta inverosímeis sonhos de glória –, Alexandre Herculano louva “Paquita” neste modos: “Que amphiteatro, ó Deus! que paraizo! / Pomares entre as hortas regadias; / Chapadas, que saudam, num sorriso, / Os abismos do mar!”. Nem Gustavo Rubim, ao apelidar Matilde Campilho de “meteorito” na poesia portuguesa, se cobriu de tanto ridículo.

Obviamente, este establishment literário punha em franja os nervos de Eça. Mas ele, ao invés de se tomar em duelos de espada como fez Antero, preferiu usar o seu talento com as palavras para se bater contra Bulhão Pato. Criou, então, uma personagem literária inesquecível, em que retrata e satiriza o poeta romântico: Tomás de Alencar, moralista, piegas, devoto de academismos e salões literários, descrito como “muito alto, e com uma face encaveirada, olhos encovados, e sob o nariz aquilino, longos, espessos, românticos bigodes grisalhos”.

Ora, Bulhão Pato sentiu-se ali retratado e faz publicar, em 1889, a obra Lázaro Cônsul (Eça tinha sido cônsul em Cuba e em Inglaterra), onde escreve: “Lázaro Cônsul/ fraldiqueiro e saltão,/ tu dizes lá às inglesas o que dizes cá às nossas portuguesas?/ Honrado consular,/ a pátria te agradece a honra que dás à fama de teu lar.

Numa carta aberta, Eça replicará as acusações dizendo com ironia: “Não foi a personagem que imitou a pessoa, foi esta que, afinal, se permitiu entrar abusivamente na personagem.”

Afinal, o duvidoso Bulhão Pato acabou na história por causa… de uma receita de amêijoas. Eça teria adorado saber disto.

Almada Negreiros e Júlio Dantas: cada um merece os inimigos que tem

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Almada era um louco genial. Júlio Dantas era um génio convencional. Cruzaram-se na terrível segunda década do século XX. O primeiro era um jovem disposto a imolar-se pela causa da arte futurista e o segundo era a vítima perfeita por reunir tudo o que a nova geração detestava: o establishment, a normalidade burguesa, e todas as honrarias de quem está perto do poder.

Júlio Dantas foi, como lembra Fernando Dacosta neste texto muito pertinente, também ele, um homem de um talento multifacetado e um grande escritor. Porém, o que a história guarda dele é o texto iconoclasta de Negreiros: o famoso Manifesto Anti-Dantas . MORRA DANTAS MORRA! PIM!

Publicado em 1915, o texto, todo escrito em gritantes maiúsculas, insulta Dantas de tudo e é, antes de mais, um gesto libertário de uma geração contra a outra. O próprio Dantas há-de tentar minimizar o ato de Almada dizendo que na sua juventude fez “coisas idênticas”, embora conste que comprou o máximo de exemplares possíveis do manifesto para ver se o apagava da história. Não conseguiu. Nos anos 50, ainda terá que levar com os telefonemas noturnos dos jovens artistas do Café Gelo, que lhe gritavam: “Morra Dantas, morra! Pim!”

Face ao silêncio de Dantas, Almada vai-lhe fazer esperas à porta de casa para lhe fazer manguitos e gritar: “às armas!, às armas!”, com a mesma atitude provocatória que usaria nas suas performances artísticas. Esta guerra há-de durar pelo menos até aos anos 20 quando o próprio Almada encontra o seu lugar no sistema. Diz-se que passou por Júlio Dantas no Chiado e lhe fez uma ambígua vénia.

Nos anos 30, já eram ambos pessoas do regime. Dantas foi convidado por Salazar para comissariar a Exposição do Mundo Português de 1940 e, de seguida, foi ele próprio quem convidou Almada para trabalhar consigo. De resto, Almada já tinha feito outras obras para o Estado Novo, inclusive o cartaz de propaganda à Constituição de 1933.

Nos anos 60, o escritor Vitórino Nemésio viu-o numa estreia teatral a cumprimentar reverencialmente o senhor Presidente do Conselho, e terá dito em surdina:

“– O Dantas está vingado!”

Aquilino Ribeiro e Alfredo Pimenta: à bengalada tudo se resolve

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Meio esquecidos da literatura estão Aquilino e Alfredo Pimenta, não obstante o primeiro ter sido um dos fenómenos literários da primeira metade do século XX e de se fazerem filas à porta da Bertrand do Chiado para comprar os seus romances. Já o que resta da perenidade de Alfredo Pimenta dever-se-á ao fato de ter levado uma bengalada na cabeça, apesar de ter deixado quase 30 obras publicadas entre poesia, ensaios e artigos de jornal.

Republicano, mais tarde convertido ao catolicismo, Alfredo Pimenta não ia nos elogios e encómios que a crítica literária fazia a Aquilino. A querela terá começado no dia em que Pimenta decidiu pôr a coisa em pratos limpos e escreveu um artigo pouco abonatório a uma peça de Aquilino que tinha estreado do Teatro  Nacional D. Maria II. O texto intitulava-se “Notas a um diletante” e afirmava que Aquilino era “uma mistificação literária”, “uma ilusão cronista dos regicidas”, aludindo ao facto de o autor de Quando os Lobos Uivam ter estado envolvido no assassinato do rei D. Carlos.

Aquilino, ofendido no seu orgulho, ao ver Pimenta descer o Chiado não se contém e dá-lhe uma bengalada que lhe abre um golpe na testa. Ao que parece, Pimenta, carregado de livros e sem o monóculo nem a bengala, não viu sequer de onde lhe veio a pancada. Teve que ser assistido num posto médico.

A cena haveria de alimentar as páginas de vários jornais, nesse tempo mais adeptos das coisas literárias, que acusaram Aquilino de “não saber lidar com a liberdade de expressão”. O autor de O Romance da Raposa viu-se obrigado a dar explicações, e fê-lo no jornal Diário de Lisboa, num texto em que procurava mais justificar a sua indignação do que desculpar-se do seu ato, alegando que “casualmente” se tinha excedido no uso da força física.

Não consta que algum dia os dois homens tenham mudado de ideias em relação ao acontecido, nem que Pimenta tenha voltado a andar na rua sem monóculo e bengala.

Mário Cesariny, António Pedro, Luiz Pacheco e Jorge de Sena

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Mário Cesariny, um dos poetas mais amados da poesia portuguesa, a quem insistem em chamar de “maldito”, deixou atrás de si não só grandes poemas mas também grandes ódios. A suas aventuras sexuais e literárias com o editor e escritor Luiz Pacheco, que ficaram para a posteridade no Jornal do Gato, são bastante conhecidas. Menos conhecida é a sua rutura com o poeta António Pedro, hoje quase esquecido, ou o ódio de estimação que nutria por Jorge de Sena e vice-versa. Este ódio, alimentado durante décadas por ambos os lados, legou-nos um poema de Jorge de Sena que faria corar de vergonha o próprio Bocage.

António Pedro foi um dos pioneiros do surrealismo em Portugal e o que mais fama internacional teve. Conheceu André Breton, participou em exposições internacionais com Picasso e Miró, foi locutor da BBC. Mário Cesariny e António Pedro fizeram parte daquele que ficou conhecido como o primeiro grupo de surrealistas.

Ao contrário do mito, Cesariny tinha uma vida sexual discreta e que não era matéria de discussão, até ao momento em que foi detido por atentado ao pudor. Como era necessário pagar uma caução para sair da cadeia, mandou recado a um fiel amigo, António Pedro, que teria o dinheiro que ele não tinha e presumia ser um homem de espírito aberto por vivências culturais cosmopolitas.

Ora, apesar do surrealismo e da vida internacional, o poeta portuense foi socorrer o amigo, pagou o que era necessário, mas depois foi contar o sucedido a quem o quisesse ouvir. Durante anos, Cesariny foi obrigado a apresentações periódicas na polícia que supostamente garantiam que ele não voltaria a andar “por maus caminhos”. Esta questão terá estado na origem da dissolução do grupo surrealista.

Cesariny juntou-se então aos jovens poetas que se reuniam no Café Gelo, dando origem a outro grupo literário, com mais abertura sobre a vida sexual dos outros.

Data destes anos 50 o estreitamento de relações com o escritor e editor Luiz Pacheco que, em 1953,  publicou o manifesto dos surrealistas “A Afixação Proibida”. Nesta década sairão ainda na Contraponto de Pacheco algumas das obras  mais importantes da poética de Cesariny, como A Pena Capital ou Manual de Prestidigitação.

Luiz Pacheco e Mário Cesariny faziam da crítica e do esmagamento público do outro uma espécie de acto poético contra o aburguesamento e a convencionalidade.

Apesar da conturbada vida de cada um, tudo parecia correr bem até que, em 1959, Cesariny troca a Contraponto pela Guimarães editores. Sentindo-se traído, Pacheco aproveita uma exposição de pintura para escrever o texto “Cesariny ou do Picto-Abjeccionismo”, onde expõe as três razões para se detestar “as tinturas” do poeta… Pacheco há-de contar que esta zanga começou quando ele publicou o primeiro livro de Herberto Helder (O Amor em Visita, de 1958) porque “Cesariny queria ter um editor só para ele e para os livros dele.”

Certo, certo é que aqui se iniciaram décadas de ataques e contra-ataques, cartas, panfletos, artigos de jornal, tudo serviu para os rapazes fazerem a vida negra um ao outro. Nenhum deles se importava de mostrar publicamente as suas fracturas e quezílias (bem pelo contrário), faziam da crítica e do esmagamento público do outro uma espécie de acto poético contra o aburguesamento e a convencionalidade. Esta luta alimentou conversas e mitos num meio literário dominado por uma (pseudo?) paz neo-realista.

Em 1974, Pacheco recolherá parte desde espólio de guerra e publicará no livro Pacheco versus Cesariny. Aqui incluem-se textos satíricos, cartas pessoais, trocadas entre ambos, cartas de amigos, restos de intrigas… tudo sem o consentimento dos visados. Mário responderá fazendo um volume com as suas próprias munições e eis que surge o Jornal do Gato — Resposta a um Cão que dá conta, entre outras coisas, do teor sexual da relação de ambos.

Depois disto, o poeta retirar-se-á da briga mas nunca se reconcilia com Pacheco. Já este, até ao fim da vida, há-de dar-nos prodigiosas entrevistas sem nunca se esquecer de voltar a destilar algum veneno sobre Cesariny.

Hoje, quando urge voltar a ter escritores com o epítetos de “malditos”, a geração de leitores do século XXI procura neles um fulgor de liberdade que já ninguém parece ter e reúnem na mesma adoração Cesariny e Pacheco.

Cesariny chamava a Jorge de Sena "rato de Wisconsin", aludindo ao facto de Sena ter dado aulas nessa universidade norte-americana.

Já a razão que levou Mário a embirrar com Sena ou Sena com Mário não é conhecida. Mas, como os poetas bem sabem, nem tudo o que existe precisa de explicação. O certo é que Cesariny lhe chamava “rato de Wisconsin”, aludindo ao facto de Sena ter dado aulas nessa universidade norte-americana. E a ele voltaria no poema “Aviso de porta de livraria” onde escreve: “Que a ralé… não se atreva a encher de ratos este espaço livre…!”

Mas se Cesariny e Luiz Pacheco eram saudáveis cultores da crítica e da polémica, Sena era mais discreto, dir-se-ia que era mais português: falava mal apenas pelas costas. Embora os mais próximos soubessem que não nutria especial admiração pelo poeta surrealista, só depois da sua morte ficámos a saber até onde ia este ódio. O poema surge na obra póstuma de Sena, Dedicácias, e reza assim:

Ó Maria Cesarina,
Ó Botta surrealista,
quantas piças esquentadas
te tem rendido essa alpista?

Quanta água de cu lavado
foi que tu deste de beber
a tantos que nem teu cu
pensaram nunca foder?

Os vasconcelos encantos
que a todos fazem calar
são versos mal traduzidos
e fáceis de copiar

A mais de tua maldade
com que os tens por tua prol
– Que a tua língua maligna
onde toca… cancro mol

Que a sífilis surrealista
de que és supra-sumo esgoto
só não se pega à distância
Ó Breton de merda e escroto.

Perto disto, o duelo Saramago-Lobo Antunes é coisa de meninos.

José Saramago e António Lobo Antunes: “Eu é que sou o Nobel!”

Assim à primeira vista parece que o desbocado António Lobo Antunes seria mais mais dado a cultivar inimizades do que o distante Saramago, mas na realidade as coisas não são bem assim. Há pelo menos a contabilizar a zanga do Nobel com José Cardoso Pires e com António Tabucchi, embora estas tenham ficado na sombra, talvez por não arregimentarem tantos fiéis de um lado e de outro.

Luiz Pacheco dizia com muita graça que de cada vez que Saramago publicava um livro Cardoso Pires “emborcava três garrafas de whisky”. Talvez Lobo Antunes fizesse o mesmo. É que, apesar de terem 20 anos de diferença, ambos tiveram o seu apogeu literário nos anos 80 e talvez se tenham posto a olhar um para o outro com desconfiança.

Nesta guerra em surdina, Saramago há-de dar o flanco em 1998 (ano em que recebe o Nobel) quando o jornal Tal & Qual decide oferecer presentes de Natal provocatórios a figuras públicas e vai oferecer a Saramago um livro… de Lobo Antunes.

O jornal fará depois um título parodiando um livro de Saramago, tendo chamado à história “Atirado ao chão”. Saramago, efetivamente, não atirou o livro ao chão como reza a lenda, mas recusou-o com tal veemência que foi como se tivesse, de facto, atirado. O episódio serviu para fazer soar as claques respectivas e promover mal entendidos. A história vem contada aqui.

Já Lobo Antunes há-de mostrar toda a sua mágoa, e toda a sua falta de cultura televisiva, ao deixar-se apanhar desta forma pelo comediante Jel.

Não conto o resto da história para não estragar o prazer de ver este vídeo até ao fim:

Mas nem só os escritores e poetas portugueses têm zangas e polémicas. É bem conhecida a cena de pancada que acabou com a amizade de Vargas Llosa e Gabriel García Márquez, alegadamente por causa da mulher de Llosa. Mas a mais saborosa de todas é mesmo a de Norman Mailer e Gore Vidal, também ele um cultor de inimigos… mas estes episódios ficam para a próxima semana.

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