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Manuel de Almeida/LUSA

Manuel de Almeida/LUSA

Marcos Perestrello: "António Costa evita fazer remodelações"

O deputado do PS Marcos Perestrello diz que o PS deve negociar com PCP e BE o OE, mas também procurar compromissos com o PSD, como aconteceu na lei das FA. Defende Cabrita no caso do acidente na A6

Chegou a ser chefe de gabinete num Governo e número dois de António Costa na câmara de Lisboa, mas foi-se afastando nos últimos anos do atual primeiro-ministro. Apesar disso, Marcos Perestrello ainda foi secretário de Estado da Defesa no primeiro Governo de Costa, manteve-se no órgão de cúpula do partido (o Secretariado Nacional) e preside à comissão de Defesa. Em entrevista no programa Vichyssoise, defende Cabrita no caso do acidente na A6 e diz que uma remodelação, a existir, só pode estar na cabeça de uma pessoa: António Costa.

Marcos Perestrello disse ainda que “não é desejável” que existam tensões como a que existiu há algumas semanas entre a sua líder parlamentar, Ana Catarina Mendes, e o ministro Pedro Nuno Santos, a propósito do conflito Governo-Ryanair. Diz que ainda não é altura de discutir a sucessão no PS, pois só quando António Costa anunciar a saída é que a questão se coloca: “Aí é que vamos saber quem está”.

Marcos Perestrello, que foi um dos que no início não se entusiasmou com a gerigonça, diz que o Bloco de Esquerda “não tem, não tinha e não continua a não ter provas dadas no campo do compromisso político”. É, por isso, “um parceiro menos confiável” que o PCP. Ainda assim, no Orçamento do Estado, o deputado do PS defende que o partido deve continuar a tentar negociar com o PCP e com o BE, mas, ao mesmo tempo, não deixar de tentar compromissos com o PSD.

[Oiça aqui o programa Vichyssoise na íntegra:]

Querido, ainda não mudei o Governo

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Há uma grande pressão pública sobre Eduardo Cabrita. O ministro devia demitir-se, como pede a oposição, ou isso seria uma irresponsabilidade neste momento?
O ministro Eduardo Cabrita, como qualquer ministro da Administração Interna tem uma tarefa bastante complexa e difícil. Não há memória de um ministro da Administração Interna que não tenha passado por dificuldades porque, no fundo, é naquela área de governação que se concentram os problemas mais visíveis do dia a dia da nossa sociedade. É àquela área de governação que se pedem as respostas. O ministro Eduardo Cabrita teve o infortúnio de lhe ter acontecido uma tragédia terrível, sobretudo para a pessoa que morreu no acidente de viação, mas também para ele que ia dentro do carro. Isso com certeza é muito traumatizante para qualquer pessoa com o mínimo de sensibilidade. Compreendo a pressão mediática para se perceber como é que as coisas aconteceram e porquê. Já tenho uma certa dificuldade em aceitar o aproveitamento político feito sobretudo pelo CDS, mas também agora pelo PSD em particular por Rui Rio, de uma tragédia desta dimensão que envolveu a perda de uma vida, de um homem na plenitude da sua juventude, da sua força, responsável por uma família, com mulher, filhos, uma tragédia em todos os planos. O aproveitamento político de uma tragédia dessa dimensão devia causar algum cuidado a quem o promove. Neste caso foi sobretudo o CDS e o PSD.

Este pedido de demissão não surge só à boleia deste caso. Pela boca do CDS, por exemplo, já tinha surgido noutras situações como a final da Liga dos Campeões ou na questão do SEF.
Vivemos num país onde os partidos da oposição o que sabem fazer é pedir a demissão de ministros. Com exceção, talvez, do PCP, que é o partido mais cuidadoso nessa matéria. Perante qualquer problema aquilo que aparece é um pedido de demissão e isso tem sido muito amplificado com a nova liderança do CDS e que decorre sobretudo das necessidades de afirmação dessa liderança. Aquilo a que os partidos da oposição gostam de se dedicar, particularmente este, é que perante qualquer problema o ministro tem que se demitir.

Mas ele tem condições políticas favoráveis para se manter no cargo?
Não sou eu que vou dizer isso. Quem faz a avaliação das condições políticas para o exercício de funções por parte de qualquer membro do governo é o primeiro-ministro.

"A experiência tem-nos ensinado a todos que nenhum primeiro-ministro gosta de fazer remodelações."

Que disse ainda há pouco tempo que ele era um excelente ministro. Concorda?
E é da cabeça do primeiro-ministro que têm de sair essas decisões. Podemos estar aqui a imaginar cenários variados de remodelações. Ouve-se falar de remodelações quase a partir do momento em que o novo governo tomou posse. Primeiro era no fim da Presidência Portuguesa, depois era antes das autárquicas, ou depois. As remodelações estavam sempre iminentes. A experiência tem-nos ensinado a todos que nenhum primeiro-ministro gosta de fazer remodelações.

Mas não era útil fazer uma remodelação agora?
Evita fazê-las e fá-las quando entende que é necessário fazer. Essa avaliação compete em exclusivo ao primeiro-ministro e nós estarmos aqui a adivinhar o que é que um primeiro-ministro, ainda por cima um primeiro-ministro com as características próprias de António Costa, vai fazer é um exercício muito atrevido.

Sem querer adivinhar, é útil e saudável que a meio de um mandato de um executivo haja uma remodelação?
Isso não é um princípio geral. Há situações em que pode ser útil fazer uma remodelação por desgaste político particular de um conjunto de membros do governo, haverá outras situações em que não. Como lhe digo é uma avaliação que o primeiro-ministro tem que fazer, mas sobretudo depende muito da forma como os próprios membros do governo e o próprio primeiro-ministro entende que estão ou não reunidas as condições para o exercício dessas funções. Remodelar não significa só mandar alguém embora, significa também por alguém novo. É preciso ter a garantia que esse alguém novo é capaz de ultrapassar os problemas que quem está não foi capaz de resolver.

Hoje um dos ministros, Augusto Santos Silva, diz ao Expresso que espera que o PS o deixe voltar a dar aulas. Isto já é um sinal de desgaste ministerial ou foi uma declaração de circunstância?
Não foi uma declaração de circunstância. Augusto Santos Silva é na democracia portuguesa a pessoa que mais anos exerceu funções de ministro. Teve mais anos de governação que qualquer outro cidadão português, fez inúmeras pastas e é professor universitário. Imagino que nos esteja a dizer que gostaria de deixar de ser ministro ainda a tempo de, pelo menos, dar algumas aulas ou seja, antes de fazer a idade que o obriga a passar à reforma. Não sei se isso tem algum significado no imediato. O ministro Santos Silva é dos ministros de quem a generalidade das pessoas faz uma avaliação positiva.

Não sente o Governo desgastado?
O Governo já está em funções há alguns anos. Noto muito mais desgaste do lado da oposição do que do lado do Governo. O desgaste é a incapacidade de encontrar soluções para os problemas. Aquilo que constatamos quando analisamos a situação política, eu admito ter uma visão um pouco condicionada pelo facto de ser deputado do PS e a minha primeira missão ser encontrar os mecanismos que me ajudem a suportar e a sustentar e a apoiar o Governo. Admito que a minha visão esteja condicionada por isso, mas penso que a maioria das pessoas ainda olha para o Governo do PS como uma força capaz de introduzir algumas alterações na sociedade portuguesa e resolver os problemas. Olha para o Parlamento e para os partidos da oposição e não vê em ninguém, nem à esquerda nem à direita do partido socialista, soluções para os problemas que o país ainda continua a ter.

Vou aproveitar o que dizia sobre a bancada parlamentar e o Governo.Tem havido algumas confusões, a líder parlamentar já criticou um membro do governo num programa de comentário. Como está esta relação entre a bancada e o governo?
Não estou na direção da bancada, não consigo avaliar o dia a dia dessa relação. A ideia que tenho é que em geral é boa. Tem tensões normais que decorrem de opiniões por vezes diferentes sobre determinada legislação que o grupo parlamentar ou um conjunto de deputados acha que deve ter um determinado sentido. O governo, em particular o ministério das Finanças sempre muito preocupado com qualquer medida capaz de gerar algum descontrolo das contas públicas, tem outra opinião, mas isso diria que é a dialética normal de uma relação política. Mesmo dentro do grupo parlamentar entre si os deputados não estão sempre todos de acordo.

É desejável para si que a líder parlamentar critique publicamente um ministro como aconteceu com Ana Catarina e Pedro Nuno Santos quando falou na reação dele com a Ryanair?
Desejável não será, mas às vezes acontece. Todos somos políticos, todos temos espaços de intervenção, todos emitimos opinião sobre os mais diferentes assuntos. Muitas vezes essas opiniões são divergentes e, por vezes, emitem-se juízos depreciativos sobre determinada ação. Agora, também não transformo isso caso político.

Depreciativos e injustos?
Não sei se injusto, não conheço o pormenor da coisa. Havia ali uma relação de tensão entre o ministro Pedro Nuno Santos e um dos agentes importantes de um dos setores tutelado por ele. Essa relação de tensão eventualmente assumiu contornos a um nível não desejável, mas daí até emitir um juízo sobre isso talvez não fosse tão longe.

Na Câmara de Lisboa foi vice de António Costa, que foi seu chefe de gabinete no MAI, e antes já tinha sido adjunto dele nos Assuntos Parlamentares, foi tido como seu braço direito muitos anos, mas desde que Costa é primeiro-ministro tem tido menos relevância ao lado dele. Desentenderam-se politicamente?
Não há nenhum desentendimento político. Houve caminhos diferentes. Não tenho hesitação nenhuma no apoio ao Governo e a António Costa. Sou membro do Secretariado Nacional do Partido Socialista e as coisas foram como foram. Não há nenhum desentendimento.

Isso começou com a “geringonça”. Não era um dos adeptos iniciais da “geringonça.
Não tem nada a ver com isso, nem começou com nada. Depois dessa opção política eu ainda integrei o primeiro Governo de António Costa.

Mas é estranho: era o número dois na câmara e entretanto deixa de ter esse papel de relevo.
Era na câmara, naquelas circunstâncias. Houve ali uma opção minha de sair da câmara e depois seguir um caminho diferente, mas isso não significa nenhuma complexidade no nosso relacionamento.

E já sabe se vai manter-se na direção do partido. É que o Congresso era para a semana, já deve ter isso mais ou menos certo.
Como sou do Secretariado Nacional e este órgão não é decidido no Congresso, é mais tarde.

Mas o secretário-geral normalmente faz esses convites antes.
Ainda não discutimos esse assunto. Mas por acaso ele costuma fazer nas vésperas das reuniões em que a eleição é feita e o Secretáriado não é eleito no Congresso.

Mas está disponível para continuar?
Se o convite ainda nem foi feito, eu não vou estar aqui a pôr o carro à frente dos bois. Tem de se ver na altura própria.

António Costa na moção que leva ao Congresso faz planos até para lá de 2023. É importante que continue para um terceiro mandato?
Se for ver os documentos que António Costa foi aprovando ao longo dos anos para sustentação dos seus projetos políticos, foram sempre documentos prospetivos, teve sempre essa preocupação de dar uma visão estratégica à sua intervenção política evitando não se concentrar exclusivamente nos problemas de hoje. E tentar traçar objetivos de longo prazo para a sua ação política.

Eu ia mais longe no sentido da própria sucessão no partido. Se isso é porque não encontra um sucessor à altura. Não sei se já tem um preferido entre os nomes que se alinham para o pós-costismo.
Os líderes que tentam condicionar a sua sucessão no partido, normalmente não têm êxito nesse objetivo.

António Costa está a fazê-lo?
Não sei se está. Penso que o António Costa criou condições para um conjunto de dirigentes mais jovens do PS que tenham essas ambições se colocarem na pole position para essa corrida. Ele procurou, pelo menos, não cortar as pernas a ninguém. Mas na altura que a questão se colocar, aí é que vamos saber quem está. Isto era como uma ementa de um restaurante que tem muitos pratos e uns com umas cruzinhas à frente a dizer que já acabaram. Aqui as cruzinhas estão do outro lado, ainda não começou. É uma discussão um pouco prematura. Diria apenas que a tentativa de qualquer líder de condicionar o futuro, normalmente não tem êxito. Porque a partir do momento em que se percebe que vai sair, as coisas ganham uma dinâmica própria.

Mesmo assim Pedro Nuno Santos, Ana Catarina Mendes, Fernando Medina, também Mariana Vieira da Silva são nomes que circulam. Algum destes nomes lhe enche as medidas?
É como lhe digo: a corrida ainda não começou. Tirando o Pedro Nuno Santos, que de facto não esconde a ninguém esse seu objetivo, essa sua ambição e essa sua vontade, nenhum dos outros até hoje manifestou claramente esse objetivo, essa ambição ou essa vontade. Penso que seriam decisões prematuras.

O PCP e o BE surpreenderam-no pela positiva nestes anos em que têm apoiado a governação?
Sinceramente, não. Não me surpreenderam. Comportaram-se como era expectável.

O que é que isso quer dizer? O que esperava?
O PCP sempre foi, ao longo dos anos, um partido político fiável nos seus compromissos e que assume compromissos a longo prazo, não faz depender umas coisas das outras e foi assim que se comportou ao longo deste tempo. O Bloco de Esquerda pelo contrário é um partido que não tem, não tinha e não continua a não ter provas dadas no campo do compromisso político. Desse ponto de vista, é politicamente menos fiável.

Mas o PS faz bem em continuar a procurar o aval de um partido que não é tão fiável?
O BE condiciona as suas opções estratégicas à conjuntura do dia-a-dia e o PCP não faz isso. Faz opções estratégicas e segue-as. O PS foi eleito sem maioria absoluta, tem uma maioria relativa na AR e para poder governar tem que de ser capaz de encontrar compromissos. Em primeiro lugar, compromissos com alguém capaz de respeitar o seu quadro essencial de princípios, de valores e de objetivos. E em segundo lugar, compromissos com alguém que esteja disponível para esse compromisso.

E deve continuar a procurar esse compromisso com alguém que lhe chumbou o último Orçamento do Estado?
Acho que deve continuar a procurar esse compromisso. Como deve ser capaz também de procurar compromissos com o PSD. Como foi capaz agora de fazer um compromisso com o PSD para fazer reestruturação da estrutura das Forças Armadas (FA).

Estamos mesmo sem tempo e para não trazê-lo aqui, presidente da Comissão de Defesa, e não fazer nenhuma pergunta de Defesa. Essa mudança da Lei orgânica tem sido muito criticada pelas chefias militares. Foi bem gerida pelo Governo?
É uma questão muito difícil porque as Forças Armadas, sem conotações no plano político, estruturas conservadoras. E estão dentro de um determinado quadro conceptual que era preciso mudar. Portanto, era natural que houvesse reações. Eventualmente podia ter havido mais diálogo e mais tentativa de compromisso. No Parlamento caminhou-se nesse sentido, fazendo algumas correções que eram pretendidas pelos chefes militares.

Faz então uma avaliação positiva do trabalho do ministro da Defesa?
Faço. Globalmente positivo.

Está obrigado a alguma neutralidade como presidente da comissão de Defesa?
Sim. Estou obrigado a alguma neutralidade, mas dentro de um quadro de neutralidade posso fazer esse juízo e essa avaliação. Penso que o ministro tem feito globalmente esse trabalho positivo, quer no âmbito da inserção das nossas Forças Armadas em missões internas no âmbito da Proteção Civil, quer na projeção externa das forças, onde a nossa presença se tem reforçado no estrangeiro.

Vamos avançar na nossa refeição para o segmento Carne ou Peixe em que tem de escolher uma de duas opções.

Preferia ver o PS coligado a Isaltino Morais, em Oeiras, ou a Bernardino Soares, em Loures?
Apesar de tudo, acho que escolha Bernardino Soares.

Preferia ser ministro da Defesa de um governo liderado por Fernando Medina ou Pedro Nuno Santos?
Essas perguntas são muito engraçadas. Primeiro era preciso um deles ser primeiro-ministro, que ainda não é o caso. Segundo, era preciso convidarem-me. Portanto, não há resposta.

Quem levaria a uma visita a Tancos numa visita da comissão a que preside: Azeredo Lopes ou Marcelo Rebelo de Sousa?
Já lá estive com os dois, mas não foi muito divertido.

Preferia ver o Sporting bicampeão ou um terceiro mandato de António Costa?
Uma coisa não é impeditiva da outra. Eu gostava das duas.

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