Ao décimo dia de campanha, Marisa Matias transformou-se numa treinadora de bancada (neste caso de púlpito) para construir um Portugal com base na seleção nacional. Da defesa ao ataque, com todos dentro de campo – independentemente da cor, raça ou país de origem. De Ricardo Quaresma (que já se pegou publicamente com Ventura) a Eusébio, de Coluna e Éder. Marisa Matias gostava de saber como jogava Portugal se imigrantes, descendentes de imigrantes e jogadores de várias raças e etnias não fizessem parte da equipa nacional. Aliás, lembrou, “quando Éder marcou golo, os racistas calaram-se bem caladinhos“, atirou a candidata que ainda criticou quem tentou usar o futebol “como uma rampa de lançamento de carreira”, numa alusão indireta a André Ventura, que foi comentador desportivo.

Fora do discurso ficou o episódio de André Ventura e da carrinha do Bloco que, segundo o líder do Chega, anda atrás da sua comitiva a fazer espionagem. A resposta do Bloco não tardou e acusa o adversário de tecer acusações “mentirosas e absurdas”. A carrinha faz parte da equipa de produção de Marisa Matias e seguiu para Viseu depois de um comício em São João da Madeira, garante a organização da campanha. Quanto a Guarda, onde Ventura diz ter sido vista a carrinha, mas neste caso sem mostrar imagens. Já o Bloco de Esquerda assegura que nunca esteve nesse distrito.

Mais cedo, quando a hora de almoço estava a chegar, a candidata do Bloco de Esquerda entra n’A Casa do Peixe, o restaurante do senhor Luís Rebelo. É o dono do estabelecimento que toma conta da conversa, Marisa quase nem precisa de falar porque vai concordando com tudo. O tema dos apoios, uma das bandeiras que mais vezes a candidata levantou na campanha, surge sem precisar de dizer nada. O senhor Luís está em concordância com Marisa: os apoios têm de ser diretos. A este restaurante chegaram “zero” até agora.

É entre as metáforas do proprietário e as paredes cheias de azulejos pintados com frases e recados que Marisa Matias vai conhecendo os cantos à casa, que mais se pode chamar santuário de animais. A candidata quer saber porquê e a resposta está na ponta da língua. Há coelhos, porquinhos da índia, tartarugas e pássaros, mas a maioria dos animais foi acolhida. Há clientes que “não sabem que os animais vão crescer” e Luís não deixa nenhum animal sem casa. Ao contrário da visita ao Hospital Veterinário SOS Animal, desta vez os animais não tiveram direito ao colo de Marisa, até porque, pelo menos o coelho Zé, esteve sempre bem escondido.

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Marisa como treinadora de futebol teria sido o momento Vichyssoise deste dia se o adversário André Ventura não tivesse marcado declarações para acusar o Bloco de Esquerda de espionagem. O partido prontamente desmentiu, acusou o líder do Chega de acusações “mentirosas” e “absurdas” e assegurou que a carrinha segue com a comitiva para todo o lado. A presença do veículo em Viseu, garante, deve-se ao comício de Marisa naquela cidade no dia seguinte e não a espiar Ventura.

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Se Ventura chegou a ser um tema evitável no início da campanha, nos últimos dias as suas ideias têm marcado a agenda. Depois de um comício sobre violência doméstica em que o candidato do Chega foi fortemente criticado pela forma como se referiu a Marisa Matias e ao seu batom vermelho, desta vez a candidata focou-se no racismo e na imigração, deixando uma promessa: “Sempre que alguém disser vai para a tua terra [como Ventura fez à deputada Joacine Katar Moreira], eu repetirei, bem-vindo, esta é a tua terra.”