12 de junho de 2021. Minuto 43′ do Dinamarca-Finlândia. Sem que nada o fizesse prever, Christen Eriksen, então com 29 anos, cai inanimado do chão. Teve uma paragem cardíaca e, segundo revelariam mais tarde os médicos da seleção dinamarquesa, chegou a estar “morto” durante breves momentos. A intervenção da equipa médica permitiu evitar o pior e Eriksen conseguiu a proeza de retomar a carreira ao mais alto nível. Este sábado, na antecâmara do Mundial 2022, os médicos da Federação Portuguesa de Futebol (FPF) apresentaram-se ao serviço para perceberem o que podem e devem fazer em situações semelhantes.
Na Cidade do Futebol, em Oeiras, decorreu uma ação de formação para as equipas médicas das seleções, uma iniciativa que resultou da parceria entre a CUF e a Federação Portuguesa de Futebol. Com atores ou com manequins, mas também com desfibriladores e medidores de pulsação, foram recriados cenários que podem ocorrer dentro de campo, como casos de paragem cardiorespiratória de jogadores. Desta forma, os profissionais ficaram a perceber como têm de agir em casos de emergência.
Situações em que jogadores ficam com falta de ar, ou caem inanimados, não são frequentes no futebol. Ainda assim — ou por isso mesmo — estas ações de formação são consideradas ainda mais importantes. “As situações raras são as que têm de ser treinadas com mais frequência, são as situações que colocam mais em perigo o jogador”, sublinha Pedro Garcia, diretor clínico do Centro de Simulação CUF.
Com o Mundial 2022 no horizonte, o mesmo especialista prefere não arriscar nomes para a convocatória dos 26 que vão ao Qatar, mas deixa uma garantia: “Para essa convocatória não tenho capacidade, mas para a das equipas médicas sim. E posso dizer que as equipas médicas da Federação estão bem preparadas”.
As equipas médicas da Federação Portuguesa de Futebol consideram fundamental a participação nestas ações de formação “qualquer profissional tem de estar preparado para atuar em situações de campo, e em diversos contextos, quer dentro de jogo, quer fora”, salienta Paulo Beckert, Coordenador da Unidade de Saúde e Performance da FPF e médico da seleção A.
O Curso de Simulação Avançada em Medicina Desportiva, organizado pelo CUF Academic Center é dividido em vários módulos, que vão desde as aprendizagens de como utilizar a mala de um médico, até regras de suporte básico de vida, que devem ser postas em prática em situações de grande risco e que afetam os atletas dentro dos relvados.
Na ação que decorreu este sábado, grupos de médicos, enfermeiros e fisioterapeutas foram confrontados com cenários realistas “para que tenham a oportunidade de atuar como se estivessem com os jogadores em campo”, explicou o médico Pedro Garcia.
Apesar de não se esgotar na preparação do Mundial de 2022, o curso serve naturalmente de preparação dos profissionais da seleção para a prova, sendo que este trabalho está a ser desenvolvido ao longo dos últimos anos. “Estamos plenamente preparados para o Mundial”, garante Paulo Beckert.
Contudo, a prova masculina não é o único foco de interesse da seleção nacional para os próximos meses. No início de 2023 a equipa feminina vai jogar o play-off de apuramento para o Mundial feminino, o que poderá resultar numa qualificação inédita para a equipa portuguesa.
A médica da seleção, Rita Tomás, também presente nesta ação de formação, reconheceu tipo de iniciativas é bastante importante para responder a “situações como estes traumatismos mais complexos, do tórax ou da coluna, ou até mesmo paragens cardiorespiratórias”.
Neste último caso, por serem situações relativamente raras, “o treino, a simulação e a constante reciclagem de conhecimentos mais importantes ainda”, diz a especialista. Se tudo correr bem, no entanto, é de esperar que as equipas médicas da Federação passem mais tempo no banco do que no relvado.