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Eduardo Hilário, aqui com a filha Luísa, recebeu no primeiro confinamento de 2020 a visita de uma comitiva leonina com Coates, Luís Neto
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Eduardo Hilário, aqui com a filha Luísa, recebeu no primeiro confinamento de 2020 a visita de uma comitiva leonina com Coates, Luís Neto

Eduardo Hilário, aqui com a filha Luísa, recebeu no primeiro confinamento de 2020 a visita de uma comitiva leonina com Coates, Luís Neto

Moniz Pereira, as boleias com ginjinha, os jogos do rival e um clip aos 96 anos: a história de Eduardo Hilário, o sócio número 1 do Sporting

Há 95 anos houve o primeiro dia Benfica-Sporting. Meteu futebol, hóquei, râguebi. Foi aí que Eduardo Hilário foi filiado. Esta é a história do sócio número 1 do campeão – que ia ver jogos das águias.

Nasceu a 27 de março de 1924. Um pouco depois da grande organização da primeira edição dos Jogos Olímpicos de Inverno nos Alpes Suíços e do reconhecimento da União Soviética por parte do Reino Unido, um pouco antes do primeiro dia dos Jogos Olímpicos de Paris e da sentença de Adolf Hitler a cinco anos de prisão no seguimento de uma tentativa de golpe de Estado falhado na Baviera. Foi inscrito como sócio do Sporting a 9 de março de 1926, numa altura em que o mundo era marcado pela chegada de Franco a general em Espanha, pelo grande incêndio no Shakespeare Memorial Theatre em Stratford-upon-Avon e pelo primeiro voo comercial feito entre o Reino Unido e a África do Sul. Eduardo Hilário viveu todas as grandes mudanças no mundo no último século e viu também todos os 19 Campeonatos dos leões, o último num ano de 2021 que conseguiu quebrar o maior jejum de sempre do conjunto de Alvalade no Campeonato. Para muitos, foi o primeiro; para ele, apenas mais um.

Estava escrito. Está feito. Estará na história (a crónica do Sporting-Boavista)

Mas o que era o Sporting em 1926, quando Eduardo Hilário tinha apenas dois anos? Um clube que já tinha cinco Campeonatos de Lisboa, que conquistara por uma vez o Campeonato de Portugal, que além das provas regionais fazia dos particulares com equipas estrangeiras um ponto alto, que tinha como presidente um dos líderes mais marcantes da história do clube (José Salazar Carreira), que jogava no Estádio do Campo Grande – que ganhou nesse mesmo ano a rua António Stromp, num gesto de homenagem da Câmara de Lisboa, antigo jogador da equipa de futebol leonina que se estreou com 15 anos e que foi aos Jogos Olímpicos de 1912… nos 100 metros.

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Foi também nesse ano, que confirmou um Belenenses e um V. Setúbal mais competitivos no Campeonato de Lisboa do que os dois grandes rivais da cidade, que se organizou um grande evento denominado como “Primeiro dia de Benfica-Sporting”. Deu empate no final, com as águias a ganharem no futebol (1-0), os leões a vencerem no hóquei em campo (5-0) e o dérbi do râguebi a não sair de um empate sem pontos, sendo que foi neste último que se foram começando a experimentar as primeiras camisolas listadas de verde e branco por inspiração noutros equipamentos que existiam lá fora. 95 anos depois, a rivalidade mudou no contexto mas continua intacta.

É aqui que chegamos à história de Eduardo Hilário, o sócio número 1 de um Sporting que voltou a ser campeão e que vai à Luz sem direito a guarda de honra do rival Benfica num contexto completamente diferente no futebol sem público, sem emoção nas bancadas, provavelmente sem adeptos sequer na chegada das equipas. E com uma história que mostra bem como os dérbis podem (ou podiam) ser vividos de uma forma bem diferente.

“Eu não sou o sócio número 1. Eu sou Sporting e mais nada” (e como ser “ator” aos 96 anos)

Depois da morte de João Salvador Marques, uma figura muito querida no universo verde e branco que foi por alguns anos atleta do clube na ginástica, no voleibol e no ténis antes de se focar no curso de medicina e que esteve em várias posições dos órgãos sociais de diferentes elencos diretivos, Eduardo Hilário tornou-se o sócio número 1 de forma “oficial” com o final da renumeração de julho de 2020 (feita de cinco em cinco anos, como se encontra previsto) mas já antes era considerado como tal, tendo por isso recebido de Sebastian Coates, Luís Neto, a vice Maria João Serrano e o diretor de comunicação Miguel Braga numa homenagem feita durante o primeiro período de confinamento, em abril de 2020, a todos os associados com mais de 75 anos de filiação.

Além da oferta de uma camisola personalizada dos leões, do mais recente livro da História do Sporting e de um kit higiénico, os responsáveis verde e brancos quiseram saber mais de Eduardo Hilário, que esteve a maior parte do tempo à conversa com a vice-presidente do clube. “Sinto-me muito feliz por ter conseguido esta idade. Ser o sócio número 1 do Sporting é uma coisa espantosa”, comentou então ao canal do clube. “Para mim foi uma honra enorme conhecer o senhor Eduardo, que como sócio número 1 demonstra a grandeza do clube ao qual todos pertencemos. Ouvi-lo dizer que, num clube centenário, nunca se envergonhou do clube que escolheu é uma enorme prova da grandeza do Sporting. Espero que fique connosco durante muito mais tempo”, disse Neto.

“Para mim foi uma honra enorme conhecer o senhor Eduardo, que como sócio número 1 demonstra a grandeza do clube ao qual todos pertencemos. Ouvi-lo dizer que, num clube centenário, nunca se envergonhou do clube que escolheu é uma enorme prova da grandeza do Sporting. Espero que fique connosco durante muito mais tempo”, disse Neto, após uma visita no primeiro período de confinamento em abril de 2020

Essa visita serviria mais tarde para um convite fora do vulgar mas que deixou Eduardo Hilário especialmente satisfeito por poder fazer algo que nunca fizera e ainda para mais pelos leões: ser “ator” por um dia, numa das últimas campanhas publicitárias feitas pelo clube (“Eu Sou Esforço, Eu Sou Dedicação, Eu Sou Devoção, Eu Sou Sporting”) e que conta também com nomes como Coates, capitão da equipa campeã nacional de futebol; Nuno Dias, treinador da formação campeã europeia de futsal; ou Patrícia Mamona, que recentemente se sagrou campeã europeia em Pista Coberta no triplo salto. “Eu não sou o sócio número 1. Eu sou Sporting e mais nada”, atira Eduardo Hilário no final: “O mais importante é sempre colocar o Sporting acima de tudo e todos”.

“Nesta altura ele está num lar, quando lá vamos e dizíamos que o Sporting estava à frente com quatro, com seis, com oito pontos ele dizia ‘Ai que engraçado’ mas às vezes não sabemos se ele interioriza bem isso. Houve sempre uma coisa que ele disse, agora e antes: ‘Eu sou Sporting e ponto, sou Sporting. Não interessa se o Sporting é ou não campeão, sou Sporting’. Sempre foi Sporting de coração, independentemente de ter mais ou menos títulos”, conta ao Observador a filha, Luísa. “Ele está vacinado, levou já as duas tomas mas tem vindo a piorar de um problema auditivo. Por isso às vezes, para termos mesmo a certeza de que percebe, passamos informações por escrito. Foi estando sempre informado sobre como estavam as coisas”, acrescenta o genro, António Pedro.

O arquiteto que vê o futebol como espectáculo e os Cinco Violinos como espectaculares

“Cá em casa passou o sportinguismo à filha, à neta, a todos, mas não que sejamos todas sócias. O meu pai é sócio do Sporting desde 9 de março de 1926. Era uma família de quatro irmãos. O meu tio mais velho, portanto irmão do meu pai, já era sócio do Sporting e esse irmão é que inscreveu o pai com dois anos.”, destaca Luísa. “A família Hilário é praticamente toda do Sporting e toda influenciada por ele. Praticamente todos os sobrinhos, alguns já falecidos, e os filhos dos sobrinhos, todos por ele”, completa António Pedro. Mas como é possível ao longo de quase um século manter uma filiação ininterrupta com tanta coisa a mudar no país e no mundo?

“O pai nasceu na Parede e já tem 97, já passaram 95 anos de ligação como sócio ao Sporting. Ele nunca saiu de Portugal tirando uma altura em que fomos sete ou oito meses para o Brasil com uma bolsa de estudo. O pai é arquiteto e toda a vida trabalhou na Direção Geral dos Hospitais e também na Gulbenkian. Na altura, quando era pequena, vivemos esse período fora, teria três ou quatro anos na altura. De resto viveu sempre cá”, conta Luísa. “Quando era mais novo chegou a ser atleta de voleibol do Sporting, não foi federado mas jogou no Campeonato Nacional”, continua, numa fase próxima daquela que foi a primeira vez em que os leões foram campeões da modalidade tendo um nome bem conhecido do universo desportivo na equipa: Moniz Pereira.

"Sempre se fartou de falar dos Cinco Violinos e fartava-se de falar das histórias com o irmão nessa altura, em que iam buscar jogadores que vinham da Margem Sul de barco para depois transportá-los até ao estádio para os jogos e que paravam na Ginjinha para beber uma ginjinha. Há 80 anos era assim, era uma história que o tinha marcado. Tudo isto era normalíssimo. Ele destacava sempre com muito ênfase o facto de ser do Sporting mas de ir ver jogos internacionais do Benfica como de outro clube qualquer. Iam pelo desporto, iam pelo fair play."

“Ele conhecia o professor Moniz Pereira. Era amigo, conheciam-se muito bem nessa época de jovens. O pai nasceu na Parede e penso que Moniz Pereira também era ali daquele lado. Eram conhecidos de miúdos porque são mais ou menos da mesma época”, explica. No entanto, o futebol sempre foi a grande paixão de Eduardo, que recordou por várias ocasiões em família os tempos dos Cinco Violinos com Jesus Correia, Vasques, Travassos, Albano e Peyroteo que conseguiu ganhar sete Campeonatos em oito anos naquele que foi o período de maior sucesso do Sporting no panorama nacional entre os anos 40 e 50 que deu ao clube a alcunha de “Crónico”.

“Sempre se fartou de falar dos Cinco Violinos e fartava-se de falar das histórias com o irmão nessa altura em que iam buscar jogadores que vinham da Margem Sul de barco para depois transportá-los até ao estádio para os jogos e que paravam na Ginjinha para beber uma ginjinha. Há 80 anos era assim, era uma história que o tinha marcado. Tudo isto era normalíssimo. Ele destacava sempre com muito ênfase o facto de ser do Sporting mas de ir ver jogos internacionais do Benfica como de outro clube qualquer. Iam pelo desporto, iam pelo fair play. Não havia aquela rivalidade que há hoje”, diz António Pedro, explicando a decisão que Eduardo Hilário tomou de deixar de ir ver jogos de futebol ao estádio pelas mudanças a que foi assistindo ao longo dos anos.

Quem eram os Cinco Violinos, a famosa linha avançada que marcou mais de 1.200 golos?

“Ele ficou incomodado e deixou de ir ao futebol principalmente com a milha filha, portanto a neta, porque começou a ficar incomodado com o comportamento das claques em Alvalade. E não era por ser do Sporting, era com as claques em geral. Para ele o futebol é um desporto que dava gozo assistir e não entendia toda aquela disputa, a má criação que se vivia em Portugal. Deixou de ir há uns 15 ou 20 anos. Chegou a ir a este estádio novo, até comigo e com a neta uma ou duas vezes ou só com a neta, umas cinco ou seis vezes. Depois começou a ficar incomodado com aquele comportamento. Ir ao futebol era uma festa, não para as pessoas se insultarem mas para gozarem do espectáculo”, salienta António Pedro sobre essa opção, explicando também que, nesta altura, não segue tanto as modalidades de pavilhão como o hóquei em patins, o basquetebol ou o andebol.

A terminar, uma dúvida: enquanto arquiteto, qual é a opinião que tem sobre o atual Estádio José Alvalade? “Acho que ele nunca gostou muito, para lhe ser muito franca acho que nunca gostou…”, diz Luísa. “É difícil dizermos o que ele pode pensar mas no que exteriorizava, não gostava, não é do estilo dele. Ele é uma pessoa mais clássica e não apreciou muito”, completa António Pedro. E é dentro desse estilo clássico que Eduardo Hilário tinha como hobbies, além da paixão pela arquitetura, a fotografia e a música. “Ele vivia naquela época dos concertos da Gulbenkian e no São Carlos e fez várias exposições de fotografia a convite da Câmara e do Turismo aqui em Sintra. Neste aspeto era mais dedicado à vida normal, vida rural, ao modus vivendi das pessoas, às tradições, alguma paisagem também. Tirou várias fotografias e foi visitar a Rosa Ramalho, quando ela começou a ser mais conhecida. Mas era muito sobre Sintra e Aveiro, as rias e os moliceiros, porque tinha lá família”.

Depois, e acima de tudo, o Sporting. Para ele, para a família, para tudo o que esteja a sua volta. Com mais títulos, com menos conquistas. Sempre, claro, respeitando o adversário e fazendo do futebol um espectáculo. E essa é a uma das grandes diferenças em relação aos 19 Campeonatos que Eduardo Hilário viu o clube ganhar.

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