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"Viabilização do Orçamento está excluída neste momento"
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"Viabilização do Orçamento está excluída neste momento"

DIOGO VENTURA/OBSERVADOR

"Viabilização do Orçamento está excluída neste momento"

DIOGO VENTURA/OBSERVADOR

"Não temos medo de perder deputados. Não havendo Orçamento tem de ser dada a palavra ao povo"

Em entrevista, líder parlamentar do Chega esclarece que o partido jamais aprovará OE negociado com o PS. Para Pedro Pinto, em caso de chumbo do Orçamento, Marcelo está obrigado a convocar eleições.

Do “irrevogável” de André Ventura aos cenários hipotéticos que vão trazendo mais dúvidas do que certezas sobre a posição do Chega em relação ao próximo Orçamento do Estado. Apesar de tudo, as coisas podem ser resumidas nestes termos: se continuar tudo como está, Ventura chumba o documento de Luís Montenegro; se o PSD cortar com o PS e voltar a falar com o Chega, é muito difícil, mas logo se vê.

Em entrevista ao Observador, no programa Vichyssoise, Pedro Pinto, líder parlamentar do Chega, diz que negociar com o Governo está “fora de questão”, garante que só irá às próximas reuniões para receber informações — nunca para apresentar propostas — e assegura que, “neste momento”, está “excluída” a hipótese de o Chega viabilizar o Orçamento do Estado. Por outras palavras, “se há um acordo do Governo com o PS, o Chega vai chumbar o Orçamento”.

Para Pedro Pinto, aliás, não havendo Orçamento do Estado, “tem de ser dada a palavra ao povo”. O líder parlamentar do Chega diz que o partido está disposto a pagar o eventual preço de ser percecionado como corresponsável pela crise política e ser penalizado nas urnas. No entanto, contrapõe, pior seria ceder em toda a linha a Luís Montenegro e claudicar. “O Chega não se vende”, garante.

“Viabilização do Orçamento está excluída neste momento”

Tem havido alguma confusão em relação à posição do Chega sobre o Orçamento. André Ventura utilizou a expressão “irrevogável” sobre o voto contra o Orçamento do Estado. Nas mesmas declarações, disse que para regressar às negociações era preciso o Governo parar de falar com o PS. Em termos práticos, o Chega ainda pode voltar a negociar o Orçamento de Estado?
Em termos práticos o Chega está sempre disponível… Este processo teve várias fases. Uma fase em que o Governo queria falar com todos os partidos e marcou uma primeira reunião com todos os partidos, foi a fase onde disseram que Luís Montenegro ia estar presente nessa reunião. Luís Montenegro supostamente adoeceu e não foi a essa reunião. Depois, existe uma segunda fase, que foi durante o mês de agosto, onde houve variadíssimas declarações de protagonistas ligados ao PSD e ao CDS, que disseram que preferiam um acordo com o PS em vez do Chega. Houve também, e ninguém desmentiu até ao dia de ontem [quarta-feira], muitas conversas com o PS. Isto foi uma traição feita por Luís Montenegro ao Chega. Foi por isso André Ventura disse que era irrevogável.

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Mas o que mudou?
Na manhã de ontem [quarta-feira], houve uma reunião onde foi dito pelo ministro Leitão Amaro que não há nenhuma conversa com o PS.

Conversa preferencial.
Disseram que não houve nenhuma conversa com o PS. Ao não haver nenhuma conversa com o PS, a minha resposta foi clara: o Governo terá que vir a público dizer isso. Não é numa conversa privada, não é numa reunião informal. Como o Chega saiu das negociações do Orçamento de Estado já não levámos propostas. Na primeira reunião, levámos variadíssimas propostas que tínhamos no programa eleitoral. Na quarta-feira já não levámos. Leitão Amaro diz que [o Governo] não está a negociar nada com o PS às escondidas. Então, o Governo tem de vir a público e dizer “não queremos nada com o PS e queremos fazer um acordo com o Chega para viabilizar o Orçamento”. O Chega não deu nenhum passo atrás.

Então, não está excluída a hipótese de o Chega viabilizar o Orçamento do Estado?
Neste momento, está excluída essa hipótese. Ainda na quarta-feira, Luís Montenegro veio dizer que preferia um acordo com o PS. Portanto, se Luís Montenegro prefere um acordo com o PS, nunca pode ter o voto favorável do Chega. Nunca.

Quando é Luís Montenegro disse isso?
Quando lhe fizeram uma pergunta em relação à suposta mudança de posição do Chega, Luís Montenegro disse que, com o Chega, não há acordo nenhum e que o alvo preferencial — não sei utilizou estas palavras — é o PS. Portanto foi Luís Montenegro que fez a escolha e não venham agora pedir ao Chega. Nem venham nunca culpar o Chega se não tivermos um Orçamento do Estado em Portugal. Nunca aprovaremos um Orçamento do Estado onde estejam as medidas do PS, as medidas de esquerda que têm empobrecido o país durante estes anos todos.

Mas o Chega tem aprovado no Parlamento medidas do PS com impacto orçamental.
Não. O Chega tem aprovado medidas que são do Chega, que estavam no programa eleitoral do Chega. Como é que olharíamos para o nosso eleitorado e dizíamos que chumbámos a proposta de abolição das portagens porque veio do PS? Isto não é ser sério com os portugueses. Se calhar por isso é que a abstenção está quase nos 50%. Os políticos vão a eleições com um programa eleitoral e quando chegam à Assembleia da República esquecem-se do programa eleitoral com que foram eleições.

"O Chega vai chumbar o Orçamento. Se há um acordo com o PS… O Chega não aprovará um Orçamento negociado entre o PSD e o PS. E vou dizer isto um milhão de vezes até as pessoas perceberem"

“Não vamos fazer negócio, não há negociação”

Voltando ao Orçamento. Portanto, para o Chega, o Governo tem de fazer exatamente o quê? Dar uma conferência de imprensa a dizer que não está mais a negociar com o PS? Aí o Chega retomaria as negociações?
Não há mais nenhumas negociações porque Luís Montenegro que disse que não havia. Falta menos de um mês para a entrega do Orçamento de Estado. Um Orçamento não se faz em 15 dias, nem em três semanas. Se houvesse vontade do PSD em fazer um Orçamento do Estado com o Chega, isso já tinha que ter andado, já tinha que ter sido feito. Nunca houve vontade e não há culpa nenhuma do Chega. Desde o dia 10 de março que o Chega se mostrou disponível para negociar. Os portugueses foram às urnas e disseram que queriam um governo de direita em Portugal. E o Chega abdicou, passados dois ou três dias da noite eleitoral, de duas ou três propostas que eram mais fraturantes para a sociedade, como o caso da castração química e da prisão perpétua. Abdicámos dessas propostas e o que é que o PSD fez? “Não é não, não é não, não é não”. “Não é não” e agora vamos votar favor de um Orçamento?

Parafraseando-o, já percebeu que Luís Montenegro se vai manter irredutível e vai continuar a negociar com o PS até ao limite.
Tudo bem, faça um acordo com o PS, negoceie com o PS, dê a mão ao PS e casem os dois.

Logo, podemos assumir que o Chega, perante a certeza que está a deixar aqui, vai chumbar o Orçamento?
Vai chumbar o Orçamento. Se há um acordo com o PS… O Chega não aprovará um Orçamento negociado entre o PSD e o PS. E vou dizer isto um milhão de vezes até as pessoas perceberem.

Se o Governo voltasse atrás com a palavra e pedisse ao Chega para regressar às negociações, esse regresso era ou não possível?
É tudo possível, mas temos de ser sérios. Na quarta-feira, houve mais uma tentativa de três ministros do Governo de branquear e dizer que não estão a fazer nenhum acordo com o PS. Falei na conferência de imprensa e disse precisamente isso: se o PSD abdicar, vier a público dizer que não queremos nada com o PS e que quer um acordo com o Chega para o Orçamento, estamos disponíveis. Agora, sabemos que isso é tudo um cenário hipotético e irrealista. Não é em menos de um mês que se vai tratar de um Orçamento do Estado. É a vida dos portugueses que está em jogo. Um Orçamento que está a ser negociado entre o PSD e o PS nunca poderá ser um orçamento do Chega. Portanto, nunca poderá ter a aprovação do Chega. Até podem aprovar duas ou três propostas do Chega; no final não poderá ter o nosso voto favorável.

O Chega vai continuar a marcar presença nas reuniões com o Governo?
Se o Governo disser que é uma reunião para apresentar mais pontos do Orçamento e disser que quer apresentar esta medida assim e assim, lá estaremos. Mas não levaremos medidas, não vamos fazer negócio, não há negociação.

Vão para ouvir dados, mas negociar está fora de questão?
Está fora de questão.

Hugo Soares veio esta semana acusar o Chega de se comportar de forma errática, lembrando que nem nos Orçamentos de António Costa o Chega anunciava com tanta convicção o voto contra, mesmo antes de saber qual era o documento. O Chega tinha prometido ser responsável neste processo. É o conceito de partido responsável de fazer aquilo que está a ser feito?
O partido mais responsável tem sido o Chega. Sempre estivemos disponíveis, sempre quisermos falar com este Governo. André Ventura abdicava de ser ministro. Se isto não é responsabilidade, então digam o que é. Hugo Soares está num momento em que tem algumas dificuldades em saber o que dizer, porque não sabe o que há-de dizer. O Chega votou sempre contra os Orçamentos de António Costa, anunciou sempre esse voto contra com antecedência e apresentou duas moções de censura em que o PSD se absteve. Acusar o Chega de estar ao lado do PS, acho que é perder um pouco os papéis. É aquele desespero de tentar fazer-se de coitadinho. Não fomos nós que criámos a situação.

"Se Pedro Passos Coelho decidisse ser candidato, via como uma normalidade ter o apoio do Chega. Seria uma situação perfeitamente normal"

“Não temos medo de perder deputados”

André Ventura alertou já para a possibilidade de o Chega poder perder deputados caso existam eleições antecipadas neste contexto. Contribuir para uma crise política não pode ser também um tiro no pé?
Não. O Chega não está cá por lugares, está cá para mudar a vida dos portugueses. Se sentirmos que não conseguimos mudar a vida dos portugueses porque o PSD não quis mudar a vida dos portugueses, vamos à luta outra vez. O Chega pode perder deputados, mas não tem medo de ir a eleições.

Mas não tem medo que os eleitores fiquem com a ideia de que o Chega foi um obstáculo a um Governo de direita?
Errado, o Chega não foi um obstáculo. O Chega era a solução para um governo de direita. O obstáculo a um Governo de direita foi este PSD. Foi a maior traição ao eleitorado de direita em Portugal. E essa traição foi feita por Luís Montenegro.

O Chega nunca poderá ficar mal na fotografia?
O Chega não ficará mal porque 1 milhão 200 mil pessoas que votaram no Chega no dia 10 de março sabem que o Chega não se vende. Não estamos aqui por lugares, nem nos vendemos por lugares. O Chega está aqui para mudar a vida do nosso povo. O PSD tem que pensar se vai perder ou não deputados. Não estamos muito preocupados nem temos medo de perder deputados. Deixem os portugueses avaliar.

E deveria haver eleições em caso de chumbo orçamental?
Acho que ninguém em Portugal quer eleições. Queremos estabilidade e queremos um Orçamento.

Mas se o Orçamento chumbar deve haver eleições?
Não pode haver um Orçamento só por haver. O Orçamento tem de mudar para melhor a vida das pessoas.

E não havendo Orçamento – só para ficar claro – deve haver eleições?
Claro. Acho que não havendo Orçamento tem de ser dada a palavra ao povo. Foi assim que Marcelo Rebelo Sousa fez desde que é Presidente República. Terá de ser assim. Não nos podemos vender a um Orçamento,  que seria negociado com o PS, que governou Portugal quase nove anos e que o deixou na miséria. Já não chega o PSD ter andado a governar nestes seis meses com um Orçamento que chumbou do PS e agora ainda vamos governar outra vez com o Orçamento do PS? Pelo amor de Deus!

"Não é em menos de um mês que se vai tratar de um Orçamento do Estado. É a vida dos portugueses que está em jogo. Um Orçamento que está a ser negociado entre o PSD e o PS nunca poderá ser um orçamento do Chega. Portanto, nunca poderá ter a aprovação do Chega. Até podem aprovar duas ou três propostas do Chega; no final não poderá ter o nosso voto favorável"

“Se Passos for candidato a Presidente, via com normalidade ter apoio do Chega”

Apontando para as presidenciais de 2026, André Ventura já elogiou Pedro Passos Coelho e também já elogiou o almirante Gouveia Melo. No limite, qualquer um deles poderia contar com o apoio do Chega. O partido vai abdicar de ter um candidato próprio nessas eleições?
É muito cedo para estarmos a falar já de eleições presidenciais. Tudo será feito a seu tempo. São eleições muito importantes. Até às presidenciais muita água vai correr. No PSD, já apareceram sete ou oito candidatos, ou dez, ou doze, mais altas ou mais baixas. Sabe-se da proximidade entre André Ventura e Pedro Passos Coelho. É pública, não escondemos nada. Se Pedro Passos Coelho decidisse ser candidato, via como uma normalidade ter o apoio do Chega. Seria uma situação perfeitamente normal.

Vamos avançar com o segundo segmento desta entrevista, o bloco Carne ou Peixe, em que só pode escolher uma de duas opções. Preferia votar a favor do Orçamento do Estado de Luís Montenegro durante os próximos quatro anos ou ver o PS a ganhar umas próximas eleições antecipadas?
Isso é uma pergunta horrível. Obviamente que teria que engolir um sapo, mas votaria no Orçamento de Luís Montenegro.

Por quem preferia ser recebido numa audiência em Belém em 2026, Paulo Portas ou Luís Marques Mendes?
Paulo Portas. Estive no CDS e foi o líder do partido que eu representava.

Da outra vez que esteve na Vichyssoise preferiu António Costa a Pedro Nuno Santos para ir a uma corrida de touros. Agora, quem é que levava a uma largada? Margarida Balseiro Lopes ou Mariana Mortágua?
Mariana Mortágua.

Quem preferia como candidato a Lisboa nas autárquicas: Rita Matias ou Bruno Nunes?
É complicado estar a falar de dois deputados do meu partido e duas pessoas que eu considero muito. Por ser mais jovem talvez a Rita Matias.

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