Minutos depois de ter perdido, como já se previa, a segunda volta das presidenciais do Brasil — para o candidato da extrema-direita, Jair Bolsonaro — Fernando Haddad, do PT, fez um discurso que ficou longe de assumir a derrota. Disse que os 45 milhões de eleitores que votaram nele “merecem respeito”, sublinhou que vai “defender a democracia” contra “aqueles que a querem usurpar” — naquela que poderá ter sido a única referência a Bolsonaro — e lançou um apelo para quatro anos de luta, já a pensar nas presidenciais de 2022. E voltou a lembrar Lula e Dilma, nomes que — por questões táticas — estiveram afastados da boca do candidato durante toda a segunda volta.
O discurso de Fernando Haddad está a itálico e a interpretação e o comentário estão a amarelo:
“Quero agradecer aos partidos que estiveram connosco pela sua militância aguerrida, primeiro porque nos levou à segunda volta e depois porque nos levou até aos mais de 45 milhões de votos no dia de hoje. É uma parte expressiva do povo brasileiro que tem de ser respeitada neste momento. Diverge da maioria, tem outro projeto de Brasil na cabeça e merece respeito no dia de hoje.”
“Sei que entre os 45 milhões que nos acompanharam até aqui muita gente não é de partido político, não é de associação. Sobretudo o que assistimos, na última semana, foi a festa da democracia nas ruas do Brasil. Gente que saiu à rua com o colega, com a esposa, com o marido, com os filhos, e passou a panfletar o país inteiro, a colocar um banco numa praça, colocou um cartaz ao pescoço e passou a dialogar, a reverter o quadro que se anunciava na primeira semana do segundo turno. E houve uma reversão muito importante devido à consciencialização de uma boa parte dos brasileiros acerca do que estava em jogo. E era muita coisa que estava em jogo.”
“Vivemos um período já longo em que as instituições foram colocadas à prova, a todo o instante. A começar por 2016, quando tivemos o afastamento da presidente Dilma, depois com a prisão injusta do presidente Lula, a cassação do registo da sua candidatura, desrespeitando uma recomendação das Nações Unidas. Mas nós seguimos, de cabeça erguida, com coragem e determinação para levar a nossa mensagem aos rincões do pais, ao campo e à cidade, às periferias e aos centros, aos estudantes e aos idosos, aos LGBT, aos homens e mulheres, brancos e negros, católicos, evangélicos, às religiões de matriz afro, a todos os brasileiros.”
“De forma determinada fomos levar a mensagem que vale a pena levar: que a soberania nacional e a democracia, como nós a entendemos, é um valor que está acima de todos nós. Nós vamos defendê-la daqueles que, de uma forma desrespeitosa, pretendem usurpar o nosso património, o património do povo brasileiro. (…) É preciso recordar isso no Brasil de hoje. São os direitos civis, os direitos políticos, os direitos trabalhistas e os direitos sociais que estão em jogo neste momento.”
“Não vamos deixar este país para trás, vamos defender os nosso pontos de vista, respeitando a democracia e as instituições, mas sem deixar de colocar o nosso ponto de vista sobre tudo o que está em jogo no Brasil. E tem muita coisa em jogo. Temos de fazer uma profissão de fé, de que vamos continuar a nossa caminhada, conversando com as pessoas, reconectando com as bases, reconectando com os pobres deste país para enriquecer um plano, um programa de nação que há-de sensibilizar as mentes e os corações deste país. Daqui a quatro anos teremos uma nova eleição, temos de garantir as instituições, não vamos sair dos nossos ofícios, mas não vamos deixar de exercer a nossa cidadania. (…) Não tenham medo, nós estaremos aqui. Estamos juntos. Abraçaremos a causa de vocês. Contem connosco. Coragem, a vida é feita de coragem.”
[Veja o vídeo: #EleConseguiu. A noite em que o Brasil virou]