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2017 French Open - Day Fifteen
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Juntos, tio e sobrinho conquistaram mais de 70 títulos

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Juntos, tio e sobrinho conquistaram mais de 70 títulos

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"Não treino mal educados. Hoje em dia, os miúdos frustram-se demasiado rápido". Como pensa Toni, o cérebro que criou Nadal

Dedicou-se ao ténis depois de ver uma vitória de Năstase, diz que não treina "mal educados" e que "só o trabalho é determinante, não o talento". Como pensa Toni Nadal, o cérebro que criou Rafael.

Em 1972, Ilie Năstase venceu Stan Smith na final do Masters de Barcelona, no Palau Blaugrana. Para o tenista romeno, que pouco depois acabaria por vencer também no US Open e em Roland Garros, a partida foi mais uma no meio de uma carreira longa que até o levou ao topo do ranking ATP. Para Toni Nadal, que tinha 12 anos e estava nas bancadas, foi o início de uma paixão pelo ténis. 

O tio de Rafael Nadal, treinador do tenista durante praticamente toda a carreira e até 2017, decidiu nesse dia que o ténis seria a prioridade entre o futebol, o ténis de mesa e a natação que também praticava. O que ninguém sabia naquela altura era que a decisão de Toni Nadal ia originar um dos melhores tenistas de todos os tempos. Ao lado do sobrinho, Toni conquistou 20 Grand Slams incluindo 13 Roland Garros, dois Wimbledon, quatro US Open e um Open da Austrália, um Golden Slam, uma medalha de ouro nos Jogos Olímpicos, quatro Davis Cup e 30 títulos ATP. Ao lado do sobrinho, Toni foi até 2020 o treinador mais bem sucedido da história do ténis, tendo sido ultrapassado apenas por Marián Vajda, que trabalha com Novak Djokovic. E ao lado do sobrinho, Toni tornou-se uma figura maior das últimas duas décadas do desporto internacional.

2017 Australian Open - Previews

Toni foi o treinador do sobrinho, Rafael, até 2017

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Esta sexta-feira, o espanhol de 60 anos passou por Lisboa para dar uma conferência no Hotel Intercontinental, junto ao Parque Eduardo VII, no âmbito do Masters 2021 da Vanguard Stars que decorre este fim de semana. Com a premissa “Tudo pode ser treinado”, Toni Nadal lembrou o crescimento de Rafael, os momentos mais importantes da carreira do sobrinho e a forma como o acompanhou ao longo de praticamente três décadas. “Fui treinador dele por duas razões: porque sou o tio dele e é mais difícil substituir um familiar do que outra pessoa qualquer e porque, durante muitos anos, fui o treinador mais barato do circuito. Ele dizia: ‘Pelo que ele custa, que fique’. Foi por isto que estive 27 anos a acompanhar o Rafael”, começou por brincar o técnico.

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Atualmente, Toni Nadal é ainda diretor da Academia Rafa Nadal, uma escola que acolhe centenas de jovens tenistas e que pretende fazê-los crescer com o mesmo método que construiu o atleta natural de Maiorca. Toni deixou de ser treinador do sobrinho em 2017, mantendo a decisão em segredo até Rafael descobrir pela comunicação social — algo de que já disse arrepender-se –, mas continua a transmitir os ensinamentos que desenhou com regra e esquadro através da Academia. Ensinamentos que, segundo o próprio, só ele pode partilhar.

"Fui treinador dele por duas razões: porque sou o tio dele e é mais difícil substituir um familiar do que outra pessoa qualquer e porque, durante muitos anos, fui o treinador mais barato do circuito". 
Toni Nadal sobre o sobrinho, Rafael

“Sempre fui um treinador que tenta fazer as coisas da forma mais fácil possível, nunca compliquei a vida. Hoje em dia, vivemos num mundo em que complicamos demasiado as coisas, vivemos num mundo demasiado rápido. Queremos que os nossos filhos, os nossos jogadores, atuem como profissionais, que tenham todo o material em perfeitas condições, que tenham todas as necessidades cobertas. No final, acho que não é isso que desenvolve o jogo. Isto não deixa de ser mesmo um jogo e, às vezes, quando complicamos em vez de facilitarmos, o que fazemos é dificultar o progresso”, explicou o treinador, recordando os primeiros tempos a liderar a carreira do sobrinho.

“Durante muitos anos, treinámos num pequeno clube onde existiam cinco campos. Não tínhamos muitas coisas, tínhamos umas raquetes, umas bolas e pouco mais. E funcionávamos. Hoje em dia, se alguém quiser ser um grande jogador profissional, precisa e estudos estatísticos, estudos biomecânicos, nutricionistas, vídeoanálise, que às vezes até é melhor não ver. E depois há algo curioso: quando perdem quatro ou cinco jogos, o que é que fazem? Vão para o psicólogo para ele lhes dizer o que fazer. Toda a vida, sempre que perdemos, o que fizemos? Fomos para a parede ou para o campo e treinámos um pouco mais. Não fizemos mais do que isso. Tentei sempre não complicar. O meu sobrinho cresceu com três regras, basicamente. Dizia-lhe: ‘Rafael, bate na bola com a maior força possível. Rafael, se for possível, atira a bola para onde não está o adversário. Rafael, se for possível, atira a bola para dentro de campo, que fora não conta’. Com estas três regras, tornou-se um bom profissional. Havia uma quarta regra essencial, que o levou ao topo, que era ‘Rafael, bate na bola cada vez melhor’. E ele não fez mais nada na vida”, acrescentou Toni Nadal, numa opinião polémica que vai contra a lógica atualmente praticada no desporto.

2017 Australian Open - Previews

O espanhol de 60 anos reconhece que os momentos mais difíceis da carreira de Nadal têm sido as lesões que o tenista tem sofrido

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Uma lógica que tem sido propagada, por exemplo, por Patrick Mouratoglou. O treinador de Serena Williams, que é também o técnico de novos talentos como Stefanos Tsitsipas ou Coco Gauff, tem uma ideia para o futuro do ténis — que é quase a antítese de tudo aquilo em que Toni Nadal acredita. O francês pretende criar um novo circuito que não choca com o ATP ou com o WTA, que reduza a média de idades dos adeptos da modalidade e que permita aos tenistas e ao público terem reações mais espontâneas aos acontecimentos da partida.

Mouratoglou construiu a tenista mais dominadora de sempre, criou um império e quer agora mudar toda uma modalidade

“Os jogadores e o público podem exprimir-se como quiserem. Nós não queremos que eles sejam role models, queremos que sejam eles próprios. Tenho cinco filhos e não me importo com isso porque, se um jogador partir uma raquete, eu posso explicar que aquilo não se pode fazer. Há quem tenha um comportamento, há quem tenha outro comportamento. Não conseguimos envolver os novos fãs se os jogadores não tiverem a possibilidade de demonstrar também os sentimentos. Nos anos 80 era assim, por exemplo. Não tínhamos personalidades melhores ou piores do que nessa altura, a diferença é que agora não se podem expressar. É preciso fazer uma ligação emocional porque o desporto passa por trazer emoções às pessoas, assim como o público deve expressar-se como faz noutros desportos. Vejam o que acontece no Open da Austrália com os fãs gregos, os suecos… Amo o ténis como ele é mas sei ver o que é necessário”, disse Mouratoglou recentemente, na Web Summit, em Lisboa.

"Há algo curioso: quando perdem quatro ou cinco jogos, o que é que fazem? Vão para o psicólogo para ele lhes dizer o que fazer. Toda a vida, sempre que perdemos, o que fizemos? Fomos para a parede ou para o campo e treinámos um pouco mais. Não fizemos mais do que isso".
Toni Nadal

Para Toni Nadal, está ótica nada mais é do que uma evolução negativa. “O problema é que se hoje em dia perguntares a um pai se prefere um filho bem educado ou um vencedor de Roland Garros, ele diz-te que prefere um vencedor de Roland Garros. Isso não é correto. É muito mais fácil ganhar Roland Garros ou Wimbledon sendo uma pessoa bem educada. Claro que já ganharam muitos que são mal educados mas acho mesmo que a vida é muito mais fácil com educação. Por tudo isso, não treino mal educados. Não me satisfaz. Treino pessoas educadas”, garante o espanhol, acrescentando ainda que prefere treinar jovens raparigas a jovens rapazes porque as primeiras são “mais disciplinadas”.

“Os miúdos de hoje em dia têm um problema: frustram-se demasiado rápido quando as coisas não correm bem. Quando te frustras, quando perdes a atenção depois de uma série de repetições ou perdes o ânimo de fazer as coisas bem, no final tens um problema grave porque só tens uma série pequena de oportunidades para aprender. Se eu estou a treinar alguma coisa e tento uma vez, duas, três e à quarta já estou desesperado porque as coisas não saem, quer dizer que tenho três oportunidades para melhorar. Isso não é suficiente. A imensa maioria das pessoas que triunfaram na vida deram mais oportunidades a elas mesmas. O Rafael sempre teve muitas oportunidades. Quando estás disposto a fazer isso, a probabilidade de êxito aumenta consideravelmente”, diz Toni Nadal.

Rolex Paris Masters - Day Two

Já em 2021, Toni Nadal começou a orientar Félix Auger-Aliassime, jovem canadiano que já entrou no top 10 do ranking ATP

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Já em 2021, depois de quatro anos sem manter uma parceria com nenhum tenista, o espanhol aceitou orientar Félix Auger-Aliassime, canadiano de apenas 21 anos que chegou às meias-finais do US Open, caindo com o eventual vencedor Daniil Medvedev. Aliassime tem vindo a realizar uma evolução assinalável, tendo chegado aos quartos de final de Wimbledon e entrado no top 10 do ranking ATP, e parte disso passa pela exigência de Toni Nadal. “A única coisa que depende de nós é marcar a diferença. Não é o talento, o talento poucas vezes é determinante. Só o trabalho é determinante. Temos o exemplo de Cristiano Ronaldo, que toda a gente sabe que é o primeiro a chegar e o primeiro a sair do treino. Está sempre disposto a trabalhar e é humilde, porque sabe que trabalha mais do que os outros. E é isso que marca a diferença”, explica.

Tenista Rafael Nadal dá por concluída a temporada 2021 para recuperar de lesão num pé, que o impedirá de participar no US Open

Confiante de que Rafa Nadal vai estar “a 100%” no Open da Austrália, depois de o tenista ter decidido não jogar mais até ao fim do ano para recuperar de uma lesão no pé direito, Toni ainda teve tempo para comentar o momento que João Sousa atravessa. “Era um jogador de alta intensidade e às vezes os nervos tomavam conta dele, ficava frustrado em momentos-chave. Era um tipo capaz de fazer coisas muito boas mas no ténis o difícil é fazê-las durante muito tempo. Foi um grande jogador e pode voltar a ser, evidentemente. Tinha de competir com Djokovic, Murray, Ferrer e não é fácil ser melhor do que eles. No final, as diferenças são poucas mas um pouco aqui e um pouco ali faz uma diferença maior”, terminou.

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