João Ferreira continua a focar grande parte das ações de campanha na área da cultura, mas parece ter pouca esperança que as coisas possam melhorar no setor, pelo menos foi a isso que soou quando, na noite desta quinta-feira, acabou com a ideia de que “vai ficar tudo bem”. O slogan que começou em Itália, durante a primeira vaga da pandemia, rapidamente se espalhou por vários países, com um arco-íris a compor a mensagem, mas o candidato comunista não parece ter integrado a corrente que colou imagens nas janelas de casa. “Já estava tudo longe de estar tudo bem”, disse João Ferreira duvidando “daqueles que diziam que ‘vai ficar tudo bem'”.

A poucas horas de ver o país enfrentar o novo confinamento, o candidato apoiado pela CDU referia-se ao setor da cultura, mas as preocupações alargam-se a vários setores da sociedade conforme tem demonstrado ao longo da campanha. E se a ideia é que o país estará todo confinado dentro de pouco tempo, João Ferreira apostará em demonstrar que isso não é verdade. Há setores que não podem confinar e a campanha será feita, a partir de agora, ao lado destes.

No último dia antes dessa restrição adicional João Ferreira conseguiu ainda mostrar publicamente mais dois socialistas que votarão em si no dia 24. Os ex-vereadores José Bastos e César Machado (da cultura e da fiscalização) na Câmara Municipal de Guimarães são também agentes associativos e tomaram da palavra na última sessão do dia de forma simbólica. Se por um lado têm alguma coisa a acrescentar, com conhecimento de causa, sobre os impactos da Covid-19 na cultura, por outro tinham o fato de socialista vestido e estavam ali a apoiar João Ferreira.

João Ferreira continua a dizer que a candidatura é “de convergência” e numa das paragens do dia havia quem concordasse e deixasse no ar a questão retórica de “apresentar a esquerda toda unida na pessoa de João Ferreira” a estas eleições. O candidato contornou a questão, escusando-se a apelar a que as duas candidatas de esquerda possam convergir na sua candidatura e continuou a ação com o foco inicial: mostrar que não visita os locais apenas em tempos de campanha eleitoral e que conhece de perto (e há muito tempo) a luta dos trabalhadores.

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A distância percorrida também não é um pormenor, mesmo longe, João Ferreira faz questão de marcar presença. Tenha sido na luta dos trabalhadores dos estaleiros navais de Viana do Castelo ou na fábrica da Continental em Famalicão. As caras não são novas, os agradecimentos vão envelhecendo. Embora em Viana do Castelo tenha sido uma sessão para ouvir lamentos e queixas de políticas e decisões de governos, em Famalicão até panfletos já impressos havia para deixar claro o apoio ao candidato. Ainda em Viana do Castelo, João Ferreira deixou o recado a quem queria mais tempo para conversar com o candidato: “As lutas são para levar até ao voto. Dia 24 é dia para ajustar contas”.

Teste de memória visual

Quando chegou à fábrica da Continental, em Famalicão, João Ferreira tinha à sua espera uma pequena comitiva de trabalhadores que queriam agradecer o apoio dado durante o ano passado. Confrontados, durante a primeira vaga da pandemia, com a intenção da fábrica diminuir os ordenados e alterar horários de trabalho, os trabalhadores “foram à luta” e conseguiram que a intenção não passasse disso mesmo. Para materializar esse apoio havia um panfleto (que seria distribuído depois dentro da fábrica também). E é aqui que entra a memória visual. Pelo menos uma das caras não é desconhecida de João Ferreira, ou de qualquer outro comunista atento. Trata-se de Joaquim Daniel Rodrigues que integra, com o candidato presidencial, o Comité Central do PCP.

Joaquim Daniel Rodrigues, em cima à esquerda no panfleto

All in na hora da crítica

No primeiro dia em que as críticas a Marcelo Rebelo de Sousa não foram tão diretas ou frequentes, João Ferreira não deixou de colocar “todos” os Presidentes da República que Portugal já conheceu, “sem exceção”, no mesmo saco por não terem defendido, cumprido e feito cumprir aquilo que a Constituição da República Portuguesa consagra. Diz João Ferreira que só sendo fiel à Constituição seria possível “cumprir Portugal”. O caminho não é difícil, foi pensado e tem ‘guidelines’ definidas há muitos anos e João Ferreira diz que é o único que seguiria esse caminho.