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Ilustração de Tiago Albuquerque
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Ilustração de Tiago Albuquerque

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No último debate antes das eleições, Trump e Biden desceram o tom e subiram o nível

O que tem de saber sobre a campanha dos EUA. O botão de "mute" permitiu que o último debate Trump-Biden antes das eleições fosse mais civilizado: baixou o tom, subiu o nível, mas não faltaram ataques.

Todos os dias fazemos-lhe um resumo do que se está a passar na campanha eleitoral nos Estados Unidos: as principais histórias do dia, as frases descodificadas, fact checks e recomendações de leitura para estar sempre bem informado até à eleição do próximo Presidente.

O que se passa na campanha

A 12 dias da data marcada para as eleições, Donald Trump e Joe Biden confrontaram-se no debate que até agora não tinham tido e, a julgar pela reação negativa ao primeiro confronto entre os dois, pelo qual os eleitores norte-americanos tanto ansiavam: combativo mas organizado, onde cada um deu ao outro espaço para defender uma visão dos EUA completamente diferente à sua.

Foi, pois, relativamente ao encontro de 29 de setembro, um debate onde ambos baixaram o tom e subiram o nível — mas onde, ainda assim, houve espaço para trocas de acusações de parte a parte, com destaque para os rumores de negócios ilegítimos ou duvidosos no estrangeiro, nomeadamente na China.

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Ainda antes do debate, um dos convidados de Donald Trump para o evento desta quinta-feira, Tony Bobulinski, disse ter emails e mensagens que provavam que Joe Biden não só sabia dos negócios do seu filho Hunter na China como lucrava com eles de forma encoberta. E, logo na fase inicial do debate, quando o tema eram os méritos e deméritos de um novo confinamento, Trump meteu a pontapé a seguinte expressão: “Ele fez muito dinheiro no estrangeiro”.

Estava bom de ver que Donald Trump tinha todo o interesse em falar naquele tema — e assim foi, durante uma boa porção do debate. Biden, por sua vez, respondeu com a notícia de que Trump tem uma conta bancária na China.

Cada um à sua maneira desenvencilhou-se dessas acusações. Donald Trump respondeu que “a conta a que se está a referir foi aberta em 2013 e fechada e 2015”, apesar de a notícia do The New York Times dizer que ela continua aberta. Joe Biden, do seu lado, garantiu: “Nunca na minha vida recebi um tostão de qualquer sítio do estrangeiro”.

Foi esta a tensão que marcou o debate na sua fase inicial, mas que, mais à frente, foi dissipada por vários fatores. Primeiro, o facto de os microfones de cada candidato terem sido desligados quando o outro falava nos dois minutos introdutórios de cada tema. Depois, porque a moderadora, a jornalista da NBC Kristen Welker, preocupou-se em dar direito de réplica a cada candidato, mas não deixou de lhes cortar a palavra. Finalmente, e talvez o mais importante de tudo, cada um dos candidatos demonstrou vontade de falar de política.

À semelhança do que aconteceu com os restantes dois debates (o primeiro, entre Donald Trump e Joe Biden; o segundo, entre Mike Pence e Kamala Harris) desta campanha, o primeiro tema foi a pandemia da Covid-19.

Logo ao arranque, Donald Trump fez uma afirmação que pouco depois retiraria. Primeiro, disse que a vacina para a Covid-19 “está a chegar, está pronta, será anunciada dentro de semanas”. Depois, perante a insistência da moderadora, disse que aquela afirmação anterior “não é uma garantia, mas será até ao final do ano”.

Joe Biden foi amplamente crítico da gestão da pandemia por parte da atual administração, criticando uma das ideias que o Presidente mais tem repetido em busca de uma normalização da vida em pandemia: “Ele diz que estamos a aprender a viver com isto. As pessoas estão a aprender a morrer com isto”.

Do seu lado, Trump disse que assume “a total responsabilidade” pela gestão, mas logo de seguida rejeitou culpas: “A culpa de o vírus ter vindo não foi minha, foi da China”. E voltou a sublinhar que foi por sua decisão, então criticada por democratas, que no final de janeiro impediu os voos de cidadãos chineses para os EUA.

Outro tema que recebeu grande atenção durante o debate foi o sistema de saúde, recorrentemente um dos temas que mais preocupações geram entres os eleitores.

O Presidente sublinhou que o seu objetivo era “acabar com o Obamacare”, mas ainda assim admitiu a possibilidade de isso não vir a ser necessário uma vez que durante a sua administração conseguiu abolir o “mandato individual” (isto é, a regra que obrigava todos os cidadãos dos EUA a terem um seguro de saúde), que diz ser “a pior parte do Obamacare”. Sem dar detalhes daquilo que seria a sua alternativa ao Obamacare (que, por ordem executiva de 2017 mais tarde desautorizada pelo Senado, tentou abolir), Donald Trump garantiu ainda assim que no seu plano continuará a haver proteção para as pessoas com doenças pré-existentes — uma característica do Obamacare.

Enquanto isso, Trump tornou a acusar Joe Biden de querer acabar com os seguros de saúde privados e de querer criar um sistema de saúde “socialista”. O democrata rejeitou novamente esta acusação recorrente: “A razão pela qual eu tive tanta luta contra 20 candidatos democratas [nas primárias] foi porque eu apoiei os seguros privados”.

Sobre a possibilidade de o Supremo Tribunal vir a declarar a inconstitucionalidade do Obamacare, Joe Biden disse que nesse cenário iria criar um “Obamacare com uma opção pública”, a partir da qual qualquer pessoa que não tivesse seguro privado teria acesso “automático” a um seguro público. Joe Biden avançou mesmo um nome para esse plano: “Bidencare”.

Outro tema quente do debate foi o das alterações climáticas, onde cada candidato tem posições diametralmente opostas. Trump acusou Biden de querer “destruir a indústria do petróleo” e acusou-o de querer acabar com o fracking, isto é, com o método de extração hidráulico de gás natural.

Joe Biden rejeitou categoricamente esta última acusação e desafiou Donald Trump a provar o contrário: “Mostre a gravação, ponha-a no seu site”. Donald Trump fê-lo mais tarde (“Tal como pediu, Joe…”), mas naqueles vídeos fica por explicar a nuance na posição de Joe Biden, que defende não um fim abrupto do fracking (que gera dezenas de milhares de empregos em estados como a Pensilvânia, Ohio e Texas) mas antes uma fase transitória para a neutralidade carbónica que levaria a uma aposta decrescente naquela fonte de energia.

“Sou a pessoa menos racista nesta sala”

Também se falou de racismo, com a moderadora a perguntar a Donald Trump o que diria aos cidadãos que o acusam de criar um “clima de tensão racial” no país. O Presidente dos EUA sublinhou: “Eu tenho boas relações com todas as pessoas, sou a pessoa menos racista nesta sala”. Sobre os seus quatro anos na Casa Branca, apontou: “Tratei da reforma do sistema de justiça, das prisões, criei as zonas de oportunidades, ajudei universidades negras. Não sei o que dizer. Eles podem dizer o que quiserem. Isso deixa-me triste, porque eu sou a pessoa menos racista [nesta sala]”.

Neste segmento, Joe Biden foi confrontado pelo facto de, enquanto senador, ter aprovado leis que levaram a um agravamento das penas de prisão para quem fosse apanhado com droga, incluindo doses individuais. Essas políticas, em vigor desde os anos 80 e intensificadas na década de 90, tiveram um impacto desproporcional da comunidade afro-americana.

Joe Biden começou por dizer que essa medida foi então aprovada por “100%, todos os senadores”, mas rapidamente assumiu: “Foi um erro. Tenho tentado mudar isso desde então, sobretudo a parte sobre a cocaína. Por isso é que defendo que não devemos mandar ninguém para a prisão por uma contraordenação por drogas puras, devem receber tratamento”.

Perante esta resposta, Donald Trump perguntou-lhe “porque é que não fez isso nos oito anos em que lá esteve”, em referência aos dois mandatos em que foi vice-Presidente de Barack Obama. Joe Biden respondeu-lhe: “Porque havia um Congresso republicano”.

No final, a moderadora Kristen Welker pediu a cada um que imaginasse o que estava na sua tomada de posse. “O que é que diz aos americanos que não votaram em si?”, perguntou.

Donald Trump alinhou por momentos no desafio. “O sucesso vai unir-nos e nós estamos a caminho do sucesso”, disse. Mas não resistiu a aproveitar aquele momento para sair de uma hipotética tomada de posse e para regressar ao presente. Apontando para Joe Biden, garantiu: “Se ele ganhar, vão ter uma depressão [económica] como nunca, os vossos planos de poupança-reforma vão para o diabo e será um dia muito, muito triste para este país”.

Joe Biden também começou por cumprir o desafio. Era isto o que diria aos que não o elegeram no dia da sua tomada de posse: “Sou um Presidente americano, represento-vos a todos, quer tenham votado a favor de mim ou contra mim. Vou garantir que são representados, vou dar-vos esperança. Vamos avançar. Vamos escolher a ciência no lugar da ficção, esperança no lugar do medo”. Mas também ele não resistiu em focar-se no presente ao dizer que “o que vai a votos é o caráter deste país”.

Nas entrelinhas

Aqui o Abraham Lincoln é um dos presidentes mais racistas da História Moderna. Ele deita gasolina para cima de qualquer fogo racista. Qualquer um”
Joe Biden

Quando o tema em discussão era o racismo, Donald Trump foi o primeiro a falar e disse várias vezes que era “a pessoa menos racista na sala”. Em resposta, Joe Biden disse: “Aqui o Abraham Lincoln é um dos presidentes mais racistas da História Moderna”.

A tirada de Joe Biden parte de uma ideia várias vezes repetida por Donald Trump (incluindo neste debate): a de que foi um bom Presidente para a comunidade afro-americana. Uma das vezes em que o fez foi, por exemplo, no discurso de encerramento da Convenção do Partido Republicano. “Digo, com muita modéstia, que fiz mais pela comunidade afro-americana do que qualquer Presidente desde Abraham Lincoln”, disse à altura, referindo-se ao Presidente republicano que pôs um fim à escravatura no país.

Foi, pois, uma afirmação sarcástica da parte de Joe Biden, evidenciada pelo uso da expressão “aqui o Abraham Lincoln”. Donald Trump, porém, parece ter passado ao lado daquele tom e agiu como se Joe Biden tivesse, por deslize, trocado o seu nome pelo de Abraham Lincoln. “Fez uma referência a Abraham Lincoln, de onde é que isso veio? Eu disse que ‘desde Abraham Lincoln ninguém fez o que eu fiz pela comunidade negra’. Eu não disse que era o Abraham Lincoln”, atirou o Presidente, procurando explorar a tendência para gaffes e deslizes verbais de Joe Biden. Desta vez, porém, foi apenas um caso de elementar sarcasmo.

A foto

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Donald Trump levantou várias vezes o dedo para apontá-lo a Joe Biden, que em troca preferiu olhar diretamente para a câmara e dirigir-se aos espectadores (BRENDAN SMIALOWSKI/AFP via Getty Images)

BRENDAN SMIALOWSKI/AFP via Getty Images

A opinião

No The Wall Street Journal, Peggy Noonan elogia a forma como decorreu o debate. Para a colunista, ambos os candidatos estiveram significativamente melhor do que no primeiro debate. Trump controlou-se e não interrompeu Biden dezenas de vezes (como havia feito no primeiro confronto), Biden foi habilidoso tanto na defesa como no ataque, a moderadora foi “fabulosa”. Resta saber de que forma este debate se vai refletir numa eleição na qual quase 50 milhões de eleitores já votaram — e muitos já tem a escolha feita.

It was a good debate. The candidates argued big things. Both had some good moves. Mr. Trump was smart to dwell, early on, on opening up economically. He hung a “Closed” sign around Mr. Biden’s neck. Mr. Biden deftly turned accusations of familial venality into reminders of the president’s refusal, after five years of demands, to show his tax returns.

No The Washington Post, a jornalista Robin Givhan faz uma análise de um dos grandes vencedores da noite: o botão de “mute” dos microfones. Pela primeira vez, o debate presidencial norte-americano incluiu momentos em que os microfones dos candidatos foram desligados para evitar o atropelo do discurso entre Trump e Biden. Givhan lamenta que tenha sido preciso chegar ao ponto de desligar o microfone ao Presidente para que, finalmente, possa ter havido um debate civilizado com Trump.

It came down to muting the president. That’s what it took to stage a reasonably civil debate between President Trump and former vice president Joe Biden. That’s not normal and that’s nothing to be pleased about. But at least it worked.

Trump was so rude and boorish during the first debate, constantly interrupting Biden, that the Commission on Presidential Debates sought to muzzle the president like a constantly barking dog. The Trump family was too stubborn to wear face masks during the previous debate so this time the commission threatened to forcibly remove anyone who refused to wear one from Belmont University’s Curb Event Center arena. People behaved.

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