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DIOGO VENTURA/OBSERVADOR

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Nuno Melo: "Não aceito tratar o Chega de forma diferente do PCP"

Em entrevista ao Observador, candidato à liderança do CDS diz que não aceitaria que o partido votasse contra um vice-presidente do Chega na AR e equipara o extremismo do partido de Ventura ao do PCP.

Nuno Melo surge com ar descontraído e confiante de que vai conseguir vencer o partido no Congresso do CDS que se realiza já no próximo fim-de-semana. Em entrevista ao programa Sob Escuta, da Rádio Observador, o candidato à liderança dos centristas diz que a formação de jovens delinquentes nas Forças Armadas seria obrigatória para esses jovens.

Relativamente às Forças Armadas, Nuno Melo defende o Serviço Militar Facultativa e só admite o Serviço Militar Obrigatório num caso: o país estar em guerra. Diz ainda que — se fosse preciso defender a “pátria” de uma “invasão externa” seria dos “que estaria lá certamente” na linha da frente.

Nuno Melo tenta evitar falar do Chega, mas quando questionado sobre o partido, lembrou que o mesmo foi legitimado pelos votos dos portugueses. Logo, só pode ser discriminado — na ocupação de cargos, por exemplo — se se colocar o Chega no mesmo patamar do PCP. Por isso, se fosse líder do CDS e o partido tivesse deputados, Nuno Melo “não aceitaria” que o nome do vice-presidente da AR proposto pelo Chega fosse chumbado. O nome de Diogo Pacheco Amorim vai a votos dentro de dois dias e a maioria de esquerda já antecipou que o irá chumbar.

Sobre apoios públicos de antigos líderes, Nuno Melo limita-se a dizer que “gostava muito que todos os ex-líderes do CDS pudessem estar presentes no Congresso”. E revela: “Falo muitas vezes com Paulo Portas, com Manuel Monteiro, com Assunção Cristas e outros.”

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[Veja aqui a entrevista a Nuno Melo em vídeo na íntegra:]

DIOGO VENTURA/OBSERVADOR

“Delinquentes nas forças armadas? Também não têm o direito de declinar casas de internamento”

Defende a existência de protocolos com as Forças Armadas para a formação de jovens em regime de internato. As Forças Armadas são um corpo militar profissional. Quer transformá-las em casas de correção?
Não. Sou do tempo do serviço militar obrigatório, cumpri o meu na Escola Prática de Cavalaria em Santarém. Se há realidade que posso testemunhar é que as Forças Armadas são uma escola de valores que nos dá sentido de hierarquia. Recordo-me quando era deputado de visitar alguns centros de internamento e de ter ouvido das pessoas que todos os dias têm de trabalhar com jovens difíceis de lidar. O que defendo não é propriamente o cumprimento de um serviço militar pelos jovens em caso de internamento, é a possibilidade de se protocolar com as Forças Armadas na perspetiva dessa transmissão de valores, de lógica de hierarquia. De conferir uma ferramenta que lhes possibilitará uma maior possibilidade de ressocialização.

Numa altura como esta, as Forças Armadas não deviam estar mais preocupadas com assuntos de Defesa?
O que propomos para a Defesa em alguns casos tem uma perspetiva disruptiva, mas não é para conclusão imediata. É uma projeção programática do que achamos que poderia ser a Defesa em Portugal.

Estes jovens em regime de internamento precisam apenas de disciplina?
Não. Precisam de valores, para começar.

Não são só as Forças Armadas que transmitem valores.
Muitas das instituições encarregadas hoje em dia de tratar do percurso de internamento destes jovens não têm realmente condições, meios técnicos nem humanos. A ação formativa das Forças Armadas, que eu testemunhei, pode ser em determinados termos, vantajosa. A ideia parece-me realmente boa. Isto passa também pela atribuição de meios, é evidente, mas é uma ideia que não é de curtíssimo prazo. É uma ideia que deixo para reflexão. As Forças Armadas são uma instituição altamente preparada, motivada e no que tem que ver com a formação de pessoas — que eu acho que é a base para uma verdadeira ressocialização –, com um tremendo potencial.

"Suponho que estes jovens não vão para a tropa para serem militares. Também não têm o direito de declinar a sua inclusão numa casa de internamento."

Mas estes jovens teriam o direito de declinar esta via das Forças Armadas. Ou não?
Suponho que estes jovens não vão para a tropa para serem militares. Também não têm o direito de declinar a sua inclusão numa casa de internamento.

Portanto seriam obrigados a seguir essa via como forma de ressocialização.
A ação é formativa e ressocializadora, numa perspetiva de formação nas Forças Armadas que tem uma componente militar. Se, nesse percurso, alguns desses jovens pudessem ter uma nova perspetiva quando saíssem do período de internamento, a aposta já estava ganha.

E resolvia o problema dos efetivos também por aí?
Não necessariamente. O problema dos efetivos tinha que ver também com o sistema normal de contratação e, eventualmente, a utilização de um serviço militar facultativo.

“Se tivéssemos de defender a pátria, estaria lá certamente”

Já lá vamos. O atual presidente do CDS destacou várias vezes o facto de ter formação militar como aspeto definidor da sua personalidade pessoal e política. Francisco Rodrigues dos Santos é um exemplo de sucesso nessa formação militar?
O Francisco Rodrigues dos Santos não teve propriamente uma formação militar, passou pelo Colégio Militar que é uma coisa completamente diferente.

"Não me espanta [que Francisco Rodrigues dos Santos diga que não tem medo de mim]. Ainda bem que não tem medo de mim."

Francisco Rodrigues dos Santos é o exemplo de uma formação semi-militar de sucesso e de alguém que tem os valores que preconiza?
É o exemplo de alguém que estudou no Colégio Militar e que está preparado para a vida, como é evidente. O facto de eu ser candidato à sua sucessão e de ter sido e de ser crítico de alguns aspetos da sua liderança não significa que não veja nele valores. Se está à espera que venha aqui dizer mal do Francisco Rodrigues dos Santos e mais ainda a propósito da sua passagem pelo Colégio Militar não o vou fazer, como é evidente. Acho muito bem que Francisco Rodrigues dos Santos tenha muito orgulho da sua passagem pelo Colégio Militar como eu tenho muito orgulho da minha passagem pelo Instituto Nun’Álvares ou Colégio das Caldinhas.

Aliás, no passado, numa entrevista ao Observador, Francisco Rodrigues dos Santos utilizou essa formação militar como garantia de que não tinha medo de si.
Não me espanta. Ainda bem que não tem medo de mim.

Voltando ao serviço militar facultativo. Isto duraria quanto tempo? Quem é que pagaria? Não seria um desperdício de recursos aplicar a formação militar a pessoas que podiam seguir outros percursos?
Desperdício não é. Reparará que defendemos um aumento da dotação financeira das Forças Armadas para 2% do PIB. É evidente que isto também não podia ser feito de um dia para o outro. Tudo o que traga vantagens no processo formativo é bom, não é um desperdício. Se conseguirmos formar melhores cidadãos, será bom para o país inteiro. Insisto: as Forças Armadas são uma escola de valores com um sentido de hierarquia que pode ser de grande vantagem.

Admite o serviço militar obrigatório em alguma circunstância? Se piorasse o contexto geopolítico, se tivéssemos numa guerra?
Se estivéssemos numa guerra, naturalmente. Se tivéssemos de defender a pátria em tempos de invasão externa parece-me que uma obrigação de todos. Eu seria dos que estaria lá certamente.

Só nesse cenário?
Sim. Por agora, sim. Todo o sistema foi alterado no sentido de uma profissionalização que valoriza muito o papel das Forças Armadas e está bem pensado para os novos tempos. Não invalida que possa ser repensado conjunturalmente em relação a aspetos que têm a ver com o país e com uma melhor utilização das Forças Armadas.

“Se são refugiados, devem ser acolhidos como refugiados”

Falou da guerra da Ucrânia, que tem levado a um grande fluxo migratório de refugiados. No passado, chegou a dizer, quando estávamos noutra crise migratória em virtude dos conflitos no Norte de África e Médio Oriente o seguinte: “Precisamos de pessoas, mas não de quaisquer pessoas; têm obrigação de respeitar as nossas leis, tradições e cultura”. Os refugiados da guerra ucranianos encaixam melhor nos valores europeus do que os refugiados das vagas migratórias dos últimos anos que fugiam da guerra da Síria e da Líbia?
Do ponto de vista daquela que seria uma matriz identitária judaico-cristã parece-me evidente. Mas o que eu disse tem que ver com uma separação conceptual que não tem acontecido por razões políticas entre o que é um refugiado e o que é um migrante. Os refugiados têm um tratamento que resulta de tratados. Sendo confirmada a situação de refugiado, o acolhimento tem de ser feito porque os países subscrevem estes tratados. Coisa diferente são os migrantes. Aqui acredito que a política migratória deve ficar ao abrigo da subsidariedade porque as necessidades de migrantes não são iguais em Portugal, Espanha, Alemanha, Inglaterra, Polónia ou onde seja ou fora da Unisão Europeia.

Se estes quatro milhões de ucranianos fossem quatro milhões de refugiados sírios comprovadamente vindos da guerra deviam ser igualmente integrados na União Europeia? Ou as diferenças culturais deviam ser um entrave para que não fosse tão facilitada a entrada?
À chegada consegue determinar-se se quem vem chega numa situação de migração ou com estatuto de refugiado. É essa verificação que define o tratamento a dar à pessoa, seja sírio, libanês ou ucraniano. Se são refugiados, devem ser acolhidos como refugiados. Se forem migrantes, devem ser tratados como migrantes.

“Temos forças de segurança altamente desmotivadas”

Na sua moção diz que rejeita “os extremismos daqueles que procuram criar uma realidade alternativa de um país que, apesar de tudo, ainda é um dos mais seguros do mundo”. Mas também diz que “há territórios no país onde só a polícia entra ou onde não se pode circular em segurança a partir de determinadas horas”. Em que ficamos: somos um dos países mais seguros do mundo ou somos um país onde há um problema com territórios onde não se circula em segurança?
Somos um país com uma coisa e outra.

Não é contraditório?
Nada contraditório porque o país convive com as várias realidades. As leis são gerais e abstratas, o que significa que devem ser iguais e aplicáveis a toda a gente da mesma forma. A soberania de um Estado é real quando a polícia pode exercer a autoridade ou quando as pessoas podem desfrutar da utilização do território onde estejam. É óbvio que há casos onde isso não acontece.

Nas grandes áreas metropolitanas?
Principalmente, mas não só. Quando vejo o que aconteceu a um polícia a sair de uma discoteca e a forma como é morto, ou os profissionais de saúde que são atacados em Vila Nova de Famalicão, ou até os professores que muitas vezes são agredidos pela simples função de ensinar… O que leio são reflexos de uma crise de autoridade do Estado nas suas diferentes manifestações.

Então, temos um problema de segurança em Portugal?
Qualquer país tem sempre um problema de segurança na medida que, menor ou maior, tem de lhe dar resposta.

Mas os partidos têm de tomar opções. O Chega, por exemplo, valoriza tanto os problemas de segurança que está sempre a falar dessa questão e tem várias medidas nesse sentido. O seu CDS, caso venha a ser eleito, vai dar prioridade à segurança porque entende que há um problema a resolver?
O CDS fala das questões de Segurança muito antes do aparecimento de novos partidos. Não estamos a nascer agora para a Segurança. O CDS tem de resgatar temas que sempre foram tratados por si, como ideias que eram identitárias e que se não forem nítidas num partido com as nossas características são tratadas apenas por outros e muitos dos eleitores não verão no CDS a sua utilidade.

A questão é que, na sua moção, parece demarcar-se do Chega, não o nomeando, mas ao mesmo tempo assume que existe um problema de segurança.
Na moção digo que não vou passar o tempo a falar da Iniciativa Liberal e do Chega. Não me interessa nada. Estou a valorizá-los enquanto partidos e não estou a centrar o foco onde deve estar o foco, que é no CDS e no que o CDS propõe.

Mas escreveu e criticou “os extremismos daqueles que procuram criar uma realidade alternativa”. Quem são?
Quero tratar casos onde a polícia não pode entrar, onde as agressões gratuitas se manifestam com maior frequência. São casos que justificam uma intervenção decisiva do Estado, nomeadamente através das forças de segurança, mas também da ação eficaz dos tribunais para que, de forma dissuasora e ressocializadora, o caminho seja melhor no futuro. A não-verificação nítida da ação do Estado permite o aparecimento de outros fenómenos que tratam a realidade pela pura especulação, exacerbando o lado mais negativo da natureza humana.

Está a falar do Chega? Já pode responder à pergunta.
Não. Estou a falar de “outros”.

Outros quem?
Não importa quem. Não lhe quero falar nem do Chega, nem da Iniciativa Liberal. Estou a falar de outros.

Mas foi o Nuno Melo que escreveu isto na sua moção.
Claro que escrevi.

E estava a referir-se a quem? Não quer responder?
Não se trata de não querer responder. Se tenho uma estratégia muito nítida de não passar a vida a falar dos outros, o facto de verificar que há partidos que conseguem votos a exacerbar aspetos reativos da natureza humana, é uma constatação de facto.

Diz que o nosso modelo de execução de penas está excessivamente centrado na ressocialização e quer repensar as “saídas precárias e a liberdade condicional”. O que quer mudar nas saídas precárias e na liberdade condicional?
Um dos maiores problemas quando trata as questões da segurança está na ligação necessária à componente da Justiça. Um tribunal deve refletir um sentimento geral de uma sociedade. Um tribunal não pode ter decisões que possam ser lidas como anormais ou absurdas pela sociedade.

Está a falar de quê? De crimes violentos?
Principalmente. Saber que há pessoas que são presentes a tribunal e não lhes é aplicada a prisão preventiva depois de cometerem crimes violentos; ou saber que passam anos entre a morosidade do julgamento e a execução de penas. Quando temos forças de segurança altamente desmotivadas por razões salariais, por dificuldades no terreno, por essa incompreensão judicial pela sua própria ação, então temos de refletir sobre isso. Muitas vezes pensam: “Não vale a pena. Detemos as pessoas e, no fim, estão cá fora a cometer crimes e muitas vezes nós é que somos maltratada do sistema”.

Tem alguma proposta concreta para a diminuição das saídas precárias ou para apertar mais as condições para liberdade condicional?
Verificará que isto é uma moção de estratégia global. Estou a apresentar as grandes linhas programáticas.

Poderia ter uma ideia mais concreta.
Está aí a teoria geral. Por exemplo: diminuir o tempo que medeia o cometimento do crime, a administração da justiça e aplicação das penas. Obviamente que isto depois tem de ser densificado pela via legislativa.

“O Ministério da Saúde vende maravilhas de um serviço que vive dos sacrifícios dos profissionais”

Em relação à Saúde, a sua moção diz que quer “rever as carreiras dos profissionais de saúde e o sistema remuneratório, tendo como objetivo valorizar o desempenho e diferenciação científica”. Vai propor o aumento do salário de médicos e enfermeiros?
O que eu quis nesta moção foi aproveitar o contributo de pessoas independentes e com os melhores do CDS. É bom que as pessoas saibam que estas propostas não são da minha criação apenas no sentido de tentar ganhar um congresso de forma estapafúrdia sem, de alguma forma, contextualizar custos. São propostas de quem todos os dias é obrigado a resolver problemas. É evidente que hoje em dia a carreira dos profissionais de saúde está longe de ser gratificante. São mal remunerados, trabalham muitas horas, são poucos em número e muitas vezes são forçados a emigrar.

Portanto, a sua proposta é contratar mais profissionais de saúde e aumentar os salários de médicos e enfermeiros?
As coisas não são assim. Cada Governo faz escolhas e as escolhas resultam de uma realidade orçamental que pode distribuir de acordo com prioridades. E a Saúde é talvez das primeiras prioridades. E eu sei o que é para estes profissionais de saúde trabalharem nestas circunstâncias. Sei o que é terem de enfrentar o início de uma crise de Covid-19, quando o ministro [Augusto] Santos Silva dizia que estávamos preparadíssimos, e não terem desinfetantes em cima das mesas. Terem que comprar máscaras nos hipermercados. Faltava-lhes tudo. Um Sistema de Saúde complementar precisa de muito mais — mais médicos, técnicos de saúde, enfermeiros e, sobretudo, pessoas muito mais motivadas. Porque dão tudo de si e só têm uma certa propaganda de um Ministério que vende as maravilhas de um serviço que vive dos sacrifícios dos profissionais sem que os recompense ou reconheça.

DIOGO VENTURA/OBSERVADOR

“Viabilizar um vice-presidente da AR do Chega? Não aceito tratar o Chega de forma diferente do PCP”

Há dias disse numa entrevista que não ia “demonizar” o Chega. No passado disse que aquele partido era “a realidade de uma pessoa que explora o pior da natureza humana”. Em que ficamos?
Se há um problema com o Chega, tem de se perceber se é um partido legal ou não. O que não aceito são as tais linhas vermelhas em relação ao Chega mas depois negarem-se a tratar de forma equivalente o PCP, que não se opõe à invasão da Ucrânia. A partir do momento em que se chega à conclusão que pode existir, que vai a votos e elege deputados à Assembleia da República, eu pergunto-lhe: porque há-de estar a tratar da proibição da eleição de um vice-presidente do Chega quando não tem nenhum problema com a eleição de um vice-presidente do PCP?

O seu CDS votaria a favor de um vice-presidente do Chega?
Eu sou claríssimo em relação a isso: não aceito tratar a possibilidade de votar contra um vice-presidente do Chega, sem que se considere, pelos mesmos pressupostos, a eleição de um vice-presidente do PCP. E eu acho que todos fazem parte do universo parlamentar. Veja: tem festas do Avante! com delegações das FARC, uma organização terrorista colombiana, com convidados da Coreia do Norte, um partido que não condena a invasão da Ucrânia, que nega a ajuda ao povo ucraniano no Parlamento Europeu, mas não há problema nenhum. Porquê? Porque vivemos num sistema em que, se se é de esquerda mais extrema, não tem problema nenhum; se as coisas se passam à direita, demoniza-se estabelecendo-se linhas vermelhas. Se alguém tem algum problema com o Chega, então que aja no plano institucional.

Portanto, o CDS viabilizaria um vice-presidente apresentado pelo Chega?
Qual é a dúvida em relação ao que eu respondi? O que é que quer? Um título para dizer: “O CDS viabilizava um vice-presidente do Chega?” Já lhe disse: não aceito tratar o Chega de forma diferente do PCP. O que facto de criticar a invasão da Ucrânia não é condenável? Acha que a Coreia do Norte é uma democracia?

Daqui a dois dias, vários partidos preparam-se para inviabilizar um vice-presidente do Chega. Se houvesse bancada parlamentar do CDS, o seu princípio seria de viabilizar esse vice-presidente?
O meu princípio é muito simples: se, na base da sua discussão, do ponto de vista dialético, estivesse a condenação de potenciais extremismos e estabelecessem linhas vermelhas para o Chega equivalentes às da CDU, era uma conversa. Se me disserem assim: “É só para o Chega”. Não aceitaria, é simples. Se o Chega está no Parlamento, está porque foi a votos e elegeu deputados. Logo, o problema não é com o Chega inteiro, é com o povo português. Que vota. Que elege esses deputados. Não gosto do Chega, não tenho particular simpatia pela IL. Gosto muito do CDS. Uma coisa são os partidos, outra são os eleitores. Não vou demonizar os partidos, sabendo que na sua base estão eleitores que o CDS também tem de ser capaz de seduzir.

"Eu sou claríssimo em relação a isso: não aceito tratar a possibilidade de votar contra um vice-presidente do Chega, sem que se considere, pelos mesmos pressupostos, a eleição de um vice-presidente do PCP."

Se o CDS for um dia confrontado com a necessidade de decidir se faz parte de um Governo com o Chega ou não, o que fará?
Em primeiro lugar, o CDS vai ter de ter um bom resultado em eleições europeias, que são uma prova de vida. Vai ter de eleger deputados para a Assembleia da República, e depois fará em concreto as análises que tiver de fazer sobre quaisquer situações de governação ou outras. Não faz nenhum sentido estar aqui a especular sobre elas. Não me interessa nada se o Chega vai para o Governo ou não. O que me interessa é que o CDS tenha votos, tenha um bom grupo parlamentar — porque é um património da democracia portuguesa — e valha por si muito mais do que aquilo que tenha de passar a vida a falar dos outros.

DIOGO VENTURA/OBSERVADOR

“Não terei nenhuma visão traumática sobre oposições internas”

Vamos falar do Congresso que se aproxima. Já convidou Paulo Portas e Assunção Cristas para o Congresso? Deu-lhes uma palavra?
Gostava muito que todos os ex-líderes do CDS pudessem estar presentes no Congresso. Falo muitas vezes com Paulo Portas, com Manuel Monteiro, com Assunção Cristas e outros. Mas não me compete a mim fazer os convites para o Congresso, sou apenas um candidato a líder.

Numa altura tão difícil para o partido, esperava uma declaração pública de apoio de Paulo Portas, de Assunção Cristas ou mesmo de Manuel Monteiro?
A minha candidatura parte de uma constatação de facto: o CDS teve o pior resultado da sua história. Tem uma oportunidade para ser devolvido ao regime que ajudou a fundar e há pessoas que podem estar em melhores ou piores condições para serem líderes. Eu nunca quis ser líder no passado, nunca tive essa vontade. Mas, no presente, olhando para as minhas circunstâncias, percebo que tenho hoje ferramentas que outros não têm para a liderança do partido.

Não respondeu à pergunta.
Essa é a razão pela qual sou candidato. Isso não depende de quem vai ou não ao Congresso. O que lhe digo é que gostava muito de poder ter lá o dr. Manuel Monteiro, gostava muito de poder ter lá o dr. Paulo portas, gostava muito de poder ter lá a dra. Assunção Cristas e até o José Ribeiro e Castro com quem tive muitos distanciamentos do ponto de vista político e partidário ao longo dos anos. Ter os ex-presidentes dos partidos nos congressos é uma coisa boa. Os apoios são atos individuais. Se eu gostava que me apoiassem? Claro que gostava. Mas é decisivo ter esse apoio? Não.

Diz que quer unir o partido. Presumindo que nesse esforço de união se inclua a anterior liderança: consegue dizer uma coisa que Francisco Rodrigues dos Santos tenha feito bem enquanto presidente do CDS?
Houve… Eu conseguiria dizer talvez várias coisas que o Francisco tenha feito bem, mas o que me interessa é falar do futuro, não é falar do passado. Isso vale para o bem e para o mal. Prefiro dizer-lhe outra coisa: este meu esforço de unir é de união sem exclusão. Quero poder juntar alguns dos melhores que estão, desde o velho ciclo do portismo, passando pela atual liderança e a outros novos.

Na moção coordenada por Miguel Barbosa, que reúne vários elementos da direção de Francisco Rodrigues dos Santos e vários líderes distritais, está escrito que Nuno Melo entra no lote dos que de “forma permanente, profissional e em regime de dedicação exclusiva” criaram um “clima de instabilidade”. Ao Observador, o mesmo Miguel Barbosa acusou-o de ser quase um “profissional” em dividir o partido. Se ganhar, tem garantias de que o partido vai estar consigo depois de dois anos em que, dizem os seus adversários, fez de tudo para destruir o CDS?
O que eu queria dizer há pouco é que esse esforço de união pressupõe três coisas: disponibilidade — não quero ganhar o partido e no dia seguinte olhar para o lado e não ter ninguém que queira ajudar; competência — quero escolher as pessoas mais competentes; e boa fé. As oposições existem nos partidos. Se eu vencer exercerei o meu ciclo de liderança e não terei nenhuma visão traumática sobre a possibilidade de oposições internas. O que lhe posso garantir é que vou tentar integrar as pessoas todas.

Se o chamarem “fanfarrão”, se lhe disserem que tem uma “pulsão manifestamente totalitária”, se lhe disserem que tem um discurso de autocomiseração “ridículo”, não vai levar a mal? É que disse tudo isto a Francisco Rodrigues dos Santos.
São manifestações muito naturais num processo pós-traumático.

Mas estas declarações não foram num processo pós-traumáticos. Foram as suas críticas a Francisco Rodrigues dos Santos entre outubro e novembro do ano passado.
Críticas minhas ao Francisco Rodrigues dos Santos — a propósito do adiamento do Congresso, suponho?

Sim.
Ah, sim. “Fanfarrão” nunca usei, há aí expressões que nunca usei.

Disse: “Lembra-me um fanfarrão que diz que bate em toda a gente, mas que tem medo de eleições”. Foi a expressão que usou.
Sim, mas contextualizando não é ser um “fanfarrão”. Estamos a falar da circunstância dom adiamento de um congresso que acontece a 24 horas da eleição dos delegados. É uma figura de estilo.

DIOGO VENTURA/OBSERVADOR

“Se me candidato é porque acredito que vamos eleger eurodeputados”

Já enumerou vários nomes que o ajudaram a fazer esta moção, e acabou de dizer que queria ter pessoas consigo. Consegue dar-nos um ou dois nomes de pessoas que, caso vença, estarão consigo na direção do CDS?
Não fiz um único convite ainda, por isso, como calculará, não é aqui que vou adiantar nada sobre isso. Mas tenho na minha cabeça muito bem desenhado algumas das pessoas que, para já, gostaria de ter comigo.

Tem falado da importância das próximas eleições europeias — é o próximo ato eleitoral e é um dos locais onde o partido tem representação. Vai ser cabeça de lista?
Provavelmente até teremos outro congresso do partido antes dessas eleições. Para já, deixe-me relançar o CDS, inverter um ciclo, unir o partido. Em relação a candidatos, dois anos em política é uma eternidade.

Caso nessas eleições europeias o CDS perca o eurodeputado que tem continua na liderança do partido?
Também podemos imaginar que o CDS mantém o seu eurodeputado ou que até conquista outro. Sabe qual é a diferença entre nós? É que a sua perspetiva é a de um jornalista, que eu tenho de compreender. A minha é outra: eu olho para os problemas e animo-me com as oportunidades, não me deprimo com as circunstâncias.

Não se compromete com uma meta eleitoral?
Cada um escolhe a sua perspetiva. A minha é: nós temos o problema de o CDS ter sido varrido da Assembleia da República e batido no chão. Aqui chegados, ou eu me deprimo e vou à minha vida, ou acredito que é possível fazer muito melhor e candidato-me. Se me candidato é porque acredito que vamos eleger eurodeputados. O CDS tem de ir a votos e mostrar que tem valor. As sondagens valem o que valem, mas há empresas que têm acertado. Uma sondagem da Pitagórica feita 15 dias depois das legislativas, com uma amostra recolhida entre os dias 15 e 20 de fevereiro, à pergunta “Se o Nuno Melo for o presidente do CDS o que aconteceria?”. E o que aconteceria era que o CDS teria, com distribuição de indecisos numa amostra de 600 pessoas, 15 dias depois das legislativas, comigo a presidente, um resultado de 5,3%. Ficava à frente do Chega, da CDU, do BE, do PAN e do Livre. É evidente que isso para mim é bom. Nessa sondagem, o resultado do CDS com outros candidatos era de 1,4%.

O que se conclui é que foi por causa de Francisco Rodrigues dos Santos que o CDS teve aquele resultado?
Suponho que a resposta é óbvia. A liderança há de ter alguma coisa a ver com o resultado. Mas o que me importa é falar do futuro: segundo este estudo de opinião, comigo o CDS teria, 15 dias depois das eleições, um grupo parlamentar maior do que aquele que perdemos e com esse resultado conseguiria eleger um eurodeputado.

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