Um dia de reflexão antecipado, mas com direito a campanha. Este domingo 200 mil portugueses vão cumprir o direito de voto graças à possibilidade de voto antecipado que foi estendido a todos os cidadãos e Marisa Matias não se esqueceu desse pormenor. No comício de Viseu, contou com um amigo de “há várias vidas”, um apoio de peso, para ajudar no combate contra a extrema-direita e para apontar críticas ao “candidato do fascismo” (que nunca referiu o nome) e ao atual Presidente da República.

Marisa Matias quer capitalizar o momento que se vive na campanha eleitoral impulsionado pelo movimento espontâneo que se solidarizou com a candidata após as críticas de Ventura. E o Bloco não deixa cair o simbolismo dos lábios vermelhos. O escritor José Luís Peixoto — que procurou por toda a casa e não encontrou um batom vermelho — veio dar uma ajuda e fez questão de se dirigir “ao outro”, leia-se André Ventura, que também chamou de  “ídolo” de Trump, para criticar os que “enchem a boca com a palavra segurança” e se esquecem que “segurança é chegar ao fim do confinamento com dinheiro para pagar a água e a luz e saber que não vão perder o emprego”. Até ao fim do comício não houve lábios pintados para José Luís Peixoto, mas o apoiante de Marisa Matias ainda tem esperança de poder “comprar um batom vermelho” antes das eleições — o que pode ser difícil em tempos de confinamento.

Pelo contrário, José Manuel Pureza chegou preparado ao comício. Fez um discurso avassalador contra a extrema-direita, afastou os “medos da intimidação buçal e rasca” que diz serem “farronca que esconde o medo quase infantil que o candidato do fascismo tem das mulheres, da sua liberdade e da sua autonomia”. Aliás, o dirigente bloquista afirma mesmo que “Marisa amedronta o candidato do fascismo”. As críticas ainda se estenderam a Marcelo Rebelo de Sousa com que, assegura, “o país não conta para nenhuma das mudanças de fundo no trabalho, na saúde e ou na regulação do sistema financeiro”.

O olhar de Marisa Matias mostrava emoção, o conforto que as palavras do dirigente bloquista e amigo significavam nesta altura e uma certeza de que o movimento #vermelhoembelem pode fazer diferença para a campanha e para o resultado da candidata apoiada pelo Bloco de Esquerda. No discurso, Marisa pediu “coragem” e que se faça do voto o “abraço que falta nesta pandemia”.

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A campanha em plena pandemia não permite grandes aventuras nas ações de campanha, há pouca gente nas ruas, as iniciativas são à distância e torna-se difícil haver momentos ‘fora da caixa’. Contudo, o dia de Marisa Matias e da campanha fica marcada pela atitude de José Manuel Pureza que chegou sem batom, não se referiu ao movimento #vermelhoembelem que tem agitado as redes sociais e resolveu surpreender tudo e todos no final do discurso.

Pureza cumpriu o plano e começou por lançar várias críticas à direita, fez rasgados elogios a Marisa Matias, mas guardou a surpresa para o fim. O bloquista levou a mão ao bolso, tirou de lá um batom vermelho, pintou os lábios e garantiu: “Nós não temos medo!”

O ataque de hoje é à extrema-direita, que vê representada no adversário André Ventura. Marisa Matias pediu “coragem” e “cabeça erguida” para que na altura de irem às urnas os portugueses deem uma “lição”. Aliás, a candidata diz mesmo que se o batom vermelho foi uma “primeira lição aos insultos de extrema-direita”, falta agora uma segunda lição no dia 24 de janeiro. Essa seria, diz, uma forma de demonstrar o “orgulho na liberdade, na democracia e na igualdade”.