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Ricardo Castelo/Observador

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O campeão dos festivais voltou e tem tudo para continuar. Assim a política o permita

Vilar de Mouros renasceu como uma fénix, e quer reconquistar os melómanos após sete anos de ausência por guerras políticas e uma edição falhada. O primeiro dia foi um bom prenúncio.

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A certa altura, toda a gente dizia a Miguel Alves para não se meter nisso. Para desistir. Até a própria família. “Quando até as pessoas mais próximas nos dizem isso, faz-nos pensar”, admitiu o presidente da Câmara Municipal de Caminha. Era demasiado arriscado testar a teoria da fénix de que tanto gosta: “O Vilar de Mouros renasce das cinzas”. Miguel Alves disse-o esta quinta-feira, à entrada do recinto daquele que foi o primeiro grande festival português. Não desistiu e, após o primeiro dia, com concertos de Peter Murphy, Peter Hook e Happy Mondays, não estará nada arrependido. Depois de um percurso sinuoso, autarcas e organização garantem que, desta vez, é a sério. E tanto moradores como festivaleiros acreditam que o fiasco a que se assistiu em 2014 não se vai repetir.

Nem a organização, nem o presidente da Câmara, queriam dizer quantas pessoas esperam receber entre quinta-feira e sábado. Mas, no dia anterior ao início do festival, Miguel Alves lá acabou por dar um número. “Temos boas expectativas porque a venda está a correr bastante bem. Estamos a contar com cinco a sete mil pessoas por dia, isso já torna o festival sustentável.

O primeiro concerto da noite — Manuel Fúria e Os Náufragos — estava marcado para as 19h00 e, por volta das 17h00, ainda estava tudo mais ou menos pacato. No palco principal, António Zambujo fazia os ensaios para o espetáculo que havia de dar às duas da manhã. Na aldeia, bebiam-se umas cervejas no Café Central, ao som de Rolling Stones, a um volume considerável. Ao todo estão recenseados cerca de 700 habitantes na freguesia de Vilar de Mouros. Os correios já não funcionam, não há onde comprar um único jornal e a Praia Fluvial das Azenhas é o único entretenimento. Os campistas montavam a tenda, depois de terem percorrido um longo caminho por um campo de milho. Os que chegaram mais cedo, aproveitavam o bom tempo para se banhar nas águas do rio Coura.

A Praia Fluvial das Azenhas é o melhor passatempo para as horas diurnas. © Ricardo Castelo / Observador

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A apreciar a falta de perícia de dois jovens que tentavam montar a tenda junto ao rio, numa zona desnivelada, estava Arnaldo Porto, de 73 anos. Tal como muitos dos locais, recorda-se bem de ali ter visto Elton John e Amália Rodrigues, na mítica edição de 1971, na direção do atual palco histórico. Também se lembra de ter feito parte do cartaz do evento com a Tuna de Reis, um grupo local que cantava as janeiras. “Acho que foi em 1982. Saímos do palco debaixo de uma chuva de ovos. O público não gostava daquilo”, conta, divertido. De 1971 lembra-se ainda da falta de infraestruturas, de comida e de espaços de higiene para receber tanta gente.

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Considera que este cartaz está “simpático”, pelo que, mais à noite, promete ir espreitar. Uma vontade comum a todos os habitantes com quem o Observador meteu conversa. O passe de três dias não é caro, custa 50 euros com campismo gratuito (o diário custa 25), mas o presidente da Câmara resolveu o mistério de tanta adesão local: foram dados 1000 bilhetes à Junta de Freguesia, porque todos os habitantes têm direito a entrada livre. Um mimo pelos transtornos de barulho e confusão que sofrem ao longo de pelo menos três dias — os bombeiros do concelho de Caminha, que, infelizmente, têm tido muito trabalho com os incêndios, também foram presenteados.

Ninguém parece transtornado. Pelo contrário. “O festival pôs a aldeia no mapa. Acredito que é para continuar. Se o S. Pedro ajudar e a organização fizer bem…”, sublinha Arnaldo Porto, elogiando a decisão de se ter diminuído o recinto. Quem atravessa a ponte de pedra sobre o rio Coura vindo da aldeia vê, do lado direito, as bilheteiras, algumas barraquinhas de comes e bebes e o Palco Histórico, uma espécie de palco secundário. A entrada para este espaço é gratuita, porque o controlo de bilhetes só se faz para quem quer ir para o lado esquerdo, onde fica o Palco Principal. Uma vez passada a segurança, o espaço é amplo, com as comidas e bebidas encostadas aos extremos. Quem não gosta do artista que está a tocar no momento tem à disposição um único entretenimento extra: oito mesas de matrecos. É no Palco Principal que se devem concentrar todas as atenções.

Com ou sem bilhete oferecido, Francisco Ramalhosa, dono do After Eight Galeria Bar, não ia perder o regresso do seu festival. Começou cedo a entrar no espírito e montou uma exposição de fotografias do evento naquele que é o bar mais antigo de Caminha. No início da semana, Peter Murphy, o cabeça de cartaz do primeiro dia do festival, passou a ensaiar ali perto com os músicos e todos passaram pelo bar, para ver a exposição e matar a sede. “Ele gostou e disse-me que já tinha tocado três vezes em Caminha, uma delas com os Bauhaus”, relata.

francisco ramalhosa peter murphy

Francisco Ramalhosa (terceiro a contar da esquerda), com alguns dos músicos de Peter Murphy no seu bar, em Caminha

Quando em 1971 o país descobriu que havia um lugar chamado Vilar de Mouros, graças ao festival que atraiu à aldeia Elton John, Manfred Mann, Quarteto 1111, Amália Rodrigues e uma multidão de cabeludos vestidos de hippies ou de roupas negras, Amélia Guerreiro tinha 11 anos. Hoje, toma conta do Bar das Azenhas, o único espaço onde os festivaleiros sempre puderam ir trincar qualquer coisa perto da praia fluvial — está ali desde 1964, fundado pelos pais da vilar mourense. “Aquilo foi uma revolução, numa altura em que nem reuniões se podiam fazer”, recorda. “Lembro-me das pessoas nuas a tomar banho no rio, nunca tal se tinha visto.” Os pais de Amélia não a fecharam em casa, com medo, por gostarem “de ver a juventude” e “por serem revolucionários”, mas só em 1982, no regresso do festival, é que Amélia pôde viver a experiência a sério.

Para o negócio, não só o dela mas o de toda a vila de Caminha, “é fantástico”, diz a também ex-tesoureira da Junta de Freguesia. Em 1996, as filas para o Bar das Azenhas eram longas, porque os telemóveis eram uma miragem e ali ficava o único telefone de onde os festivaleiros podiam ligar à família. “Os hotéis e turismo de habitação do concelho estão cheios e os restaurantes têm várias marcações, sobretudo ao almoço. O PIB do concelho deve duplicar e isso é uma boa notícia”, corrobora o presidente da Câmara. Mas para Amélia Guerreiro, muito importante também é a marca Vilar de Mouros, que pôs a aldeia no mapa “mais até do que Caminha ou mesmo Viana do Castelo”.

"Nunca acreditei naquela edição, não vi da parte da AMA a experiência necessária (...). Aquilo foi um jogo político”, explica Amélia Guerreiro, ex-tesoureira da Junta.

Nessa altura, Francisco Ramalheira tinha 16 anos e morava temporariamente em Lisboa. Aproveitou, por isso, para distribuir cartazes do evento pela capital. “As pessoas diziam-me: ‘Onde é que fica isso? No meio de casas de Pedra?’ A verdade é que muita gente apareceu no Woodstock Português”, diz, orgulhoso. Os pais acharam piada. Talvez não soubessem na altura que ofereceram à filha, irmã de Francisco, “uma passa”. “Nem sabíamos o que era isso! A polícia andava lá de cavalo e as pessoas mandavam vir, estávamos na altura do fascismo, era um ambiente hippie muito bom.”

A paragem a partir de 2006 “foi péssima”, mas o regresso falhado em 2014 também. “Nunca acreditei naquela edição, não vi da parte da AMA a experiência necessária, para além de que gastaram muito dinheiro na logística, era tudo de último grito. Aquilo foi um jogo político”, explica Amélia. Nem Francisco Ramalhosa, que nunca perdia uma edição do festival que acarinhou desde o início, meteu os pés no recinto há dois anos.

Estes festivaleiros são jovens, são quarentões, são idosos da aldeia

Em comparação com a edição de 2014, a dona do Bar das Azenhas já tinha visto bem mais gente. E ainda nem tinha chegado a hora do primeiro concerto. “Fui dar uma vista de olhos pelo parque de campismo e vi muitas tendas montadas. Desta vez, acredito que voltou a sério. E que é o começo de algo que vai ter mais êxito.” Jose e Iria são duas das mil pessoas — número da organização — que têm a tenda montada em Vilar de Mouros, menos de uma semana depois de a terem desmontado em Paredes de Coura. É a primeira vez que os galegos ali estão e Peter Hook e os Happy Mondays são os culpados. “Aqui é muito tranquilo e acolhedor. Em Paredes de Coura estava muita gente no campismo e no rio, aqui sentimos que estamos em férias.”

Sérgio estava sentado em frente à sua tenda, a tocar guitarra. Veio por Peter Murphy e pela experiência de acampar num festival, embora a mulher, Susana, ao lado, tenha confessado que os dois preferem o conforto de um hotel. Mas eram os 50 anos de um evento de música mítico e quiseram estar presentes. Estavam a gostar, mas tinham algumas queixas. “São um bocadinho desorganizados”, diz Susana, sobre os responsáveis do recinto. “Os voluntários não sabem responder a nada. Falta sinalização para o parque… Foi uma confusão”, diz. A última queixa foi para a cerveja: “Está muito cara, dois euros! Fora do recinto é a 0,85€.

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Apesar de ser o festival mais antigo do país, havia bastantes estreantes. Duarte e Rodrigo também ali estavam pela primeira vez. Com apenas 18 anos, viajaram de Benavente por causa do cartaz — Milky Chance e David Fonseca estão entre os nomes favoritos — e do preço “acessível” do passe. Vão aproveitar para ficar cinco dias a acampar e a dar uns mergulhos. Nuno e Sandra, ambos de 42, fazem uma observação que nenhum dos mais jovens fez: “Falta um after hours para a noite! Nos outros há sempre uma tenda eletrónica”, lamentaram. No fundo, sentem falta de um espaço alternativo, já que tudo roda em volta do palco principal, à exceção da sessão de cinema à meia-noite, em frente ao palco histórico, fora do recinto pago. “Durante o dia e de madrugada não há nada para fazer, falta animação. Que não são atividades radicais nem patrocinadores, isso não faz falta nenhuma. As pessoas devem vir pelos concertos e pelo convívio, ao contrário do Rock in Rio”, compara Sandra.

O ambiente que se viveu no recinto foi mesmo esse. As pessoas da terra cumprimentavam-se umas às outras, os presidentes da Junta de Vilar de Mouros e da Câmara Municipal de Caminha circulavam pelo recinto como um qualquer membro da organização, pais dançavam com as crianças, muitas pessoas assistiam sentadas nas mesas de refeições. Não havia empurrões, apertos nem gente a tentar passar para a frente. Parecia uma multidão de amigos.

Há público de todas as idades. A geração que descobriu os grandes nomes da música nos anos 80 está em maioria e muitos trazem os filhos. Mas, tal como Duarte e Rodrigo, há muitos jovens de 22, 23 anos, em grupo, como qualquer outro festival. Num desses ajuntamentos encontrámos o vimaranense João, que admitiu ter comprado o bilhete “sem sequer saber qual era o cartaz”. O motivo? Ser um festival “emblemático”. Um dos amigos, Diogo, concorda que o peso histórico do evento contou na hora de escolher Vilar de Mouros e não outro dos muitos festivais que há no país. Mas deixa elogios ao cartaz. E à localização. “Se isto crescer muito [em termos de público], as condições terão de evoluir”, conclui, referindo-se aos balneários. “Mas temos sombra, estamos à beira-rio, isso é muito bom.”

Não havia empurrões, apertos nem gente a tentar passar para a frente. Parecia uma multidão de amigos. © Ricardo Castelo / Observador

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Sofia é mais velha e tem nas suas memórias a última edição a sério, em 2006, por onde passaram as sonoridades mais pesadas dos Soulfly, Sepultura, Moonspell e Cradle of Filth, bem como Iggy Pop e Tricky. Desta vez, veio por Peter Murphy — resposta quase comum a toda a gente — e Orchestral Manoeuvres In The Dark. Mas também “pelo ambiente, pelo espírito revivalista e porque a sua cidade, o Porto, não fica assim tão longe. Espera poder voltar mais vezes. “Gostava que isto fosse para continuar e, do que eu tenho visto da organização, acredito que sim”, diz.

“O que rebentou isto tudo foi a política”

Depois da edição de 1982, a terceira edição do festival só se realizou em 1996, sob organização da promotora Música no Coração. A partir de 1999, o evento parecia ter ganho a periodicidade esperada numa altura em que a moda dos festivais tinha pegado de vez e a concorrência tinha aumentado. Olha-se para o cartaz de 2004 e apetece ter uma máquina de teletransporte para poder ir ver The Cure, Peter Gabriel, Bob Dylan e PJ Harvey, entre muitos outros. Até 2006, foi certinho. A partir daí, um vazio.

O que aconteceu tem muitas versões”, começa por dizer Miguel Alves. “Há quem diga que os organizadores se queixaram que a Câmara Municipal de Caminha não tinha interesse em organizar e não os apoiou, a Câmara dizia que os patrocinadores apenas queiram aproveitar-se do momento, não valorizando o festival… Houve dessintonia entre as partes”, resume.

Miguel Alves foi eleito em 2013 e herdou o protocolo do festival assinado pelo executivo anterior. © Ricardo Castelo / Observador

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O vilar mourense Arnaldo Porto explica o problema de forma mais coloquial. “O que rebentou isto tudo foi a política. A Junta e a Câmara eram de cores diferentes. Agora também são, mas entendem-se melhor. Olhe, é como no Governo! E acho que assim vão continuar.” Traduzindo: Caminha, presidida pelo PSD, e a junta de Vilar de Mouros, sob comando de Carlos Alves, da CDU, ter-se-ão incompatibilizado há 10 anos. Um habitante que não quis ser identificado acusou mesmo a Câmara de, nessa altura, ter deixado a aldeia esquecida no que toca a financiamentos e projetos. Fernando Zamith, professor universitário e autor do livro Vilar de Mouros — 35 anos de Festivais, confirma ao Observador que, pelo menos no que toca ao festival, a Câmara negou financiamento. A este nível, sem a ajuda das autarquias, é muito difícil erguer um evento desta dimensão.

Nas eleições autárquicas de 2013, Miguel Alves apresentou-se como candidato à Câmara de Caminha pelo PS e uma das suas promessas era o renascimento do festival. Atenta, a presidente Júlia Paula Costa, pelo PSD, não se ficou pela promessa e anunciou mesmo, em conferência de imprensa, um protocolo com a Associação dos Amigos dos Autistas (AMA), uma Instituição Particular de Solidariedade Social sem qualquer experiência na organização de eventos. Miguel Alves acabou por vencer as eleições. “Herdei um modelo no qual não acreditava, foi organizado de uma forma que nunca teve a minha concordância, e era impossível correr bem face à inexperiência da instituição”, recorda o atual presidente. Mas era muito caro quebrar o acordo.

O grande regresso foi anunciado em 2014, mas foi "um fracasso". © Ricardo Castelo / Observador

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O festival fez-se, entre 31 de julho e 2 de agosto de 2014, com o cartaz a ser anunciado tardiamente, com muitas bandas portuguesas e três nomes internacionais em destaque: alguns membros dos UB40, Tricky e os alemães Guano Apes. Faltou público. Foi a própria AMA a resumir o evento como “um fracasso”. O protocolo foi quebrado em 2015 e o regresso anunciado, afinal, fora de pouca dura.

“Agora sim, assumo todas as responsabilidades do que possa acontecer”, promete Miguel Alves. Juntou-se a “empresas que conhecem o meio”, como a Metrónomo e a Probability Makers. A Música no Coração chegou a ser anunciada como fazendo parte do consórcio de empresas que iriam reerguer o festival, mas o nome acabou por cair. “Já tinham o seu próprio mercado e a disponibilidade para trabalharem connosco com o mesmo empenho não era a mesma”, justifica o presidente.

“Destruir é fácil, construir é muito difícil e reconstruir ainda mais”, sublinha Fernando Zamith. Enquanto os Happy Mondays atuam no Palco Principal, diz que o regresso de 2016 está “a correr bem, claramente muito melhor do que há dois anos”. Só assim se restituirá a confiança nas pessoas e nas marcas patrocinadoras, para que voltem em peso daqui em diante. Acredita que, desta vez, o regresso é para valer. Primeiro porque “estão reunidas as condições institucionais para que isso aconteça”, ou seja, as boas relações do socialista Miguel Alves com o comunista Carlos Alves, da junta de freguesia local. Problema: “As eleições têm estado demasiado agarradas ao festival, quando não tinham nada que estar. E, apesar do protocolo de seis anos assinado pela organização, de que a Câmara e a Junta fazem parte, em 2017 há eleições autárquicas e os presidentes podem mudar.”

"Isto tem de ser superior a guerrinhas políticas, tem de haver um compromisso por parte do concelho nesse sentido", defendeu Fernando Zamith.

“De um momento para o outro isto pode mudar se mudarem as cores”, admite. “Isto tem de ser superior a guerrinhas políticas, tem de haver um compromisso por parte do concelho nesse sentido”. Se o evento tivesse tido continuidade, Zamith teria lançado, no ano passado, um livro sobre os 50 anos de Vilar de Mouros. Pondera lançá-lo na mesma, em 2021, quando passam 50 anos sobre a primeira grande edição. Por agora, tem um jogo de tabuleiro com base na história do Woodstock Português que deverá lançar em breve. A importância da marca Vilar de Mouros justifica-o.

E o público apareceu

Às 20h00, o sexagenário Peter Hook trouxe as músicas dos Joy Division e dos New Order para o Alto Minho, num concerto competente, mas ainda com pouco público. A moldura humana foi crescendo e, no fim, quando se ouviu “Love Will Tear Us Apart”, já eram muitos a cantar o clássico. Foi após o concerto do histórico baixista que reencontrámos Francisco Ramalhosa. “Está uma maravilha”, comentou, sobre o ambiente. “E o concerto foi muito bom. Em termos de pessoas no recinto, mais ou menos. Está bom para começar.” O filho, de 23 anos, festivaleiro desde os 10 pela mão do pai, acredita que podia estar mais gente se tivesse havido mais divulgação. “Você viu algum cartaz colado no Porto?”, perguntou. Já não se fazem homens como o pai, que em 1971 percorreu Lisboa a divulgar o evento.

Peter Murphy teve a maior enchente da noite. © Ricardo Castelo / Observador

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“Temos uma moldura humana muito bonita, em que as pessoas estão comodamente a usufruir do cartaz que fizemos para todas as gerações”, explica Diogo Marques, responsável da Probability Makers, que ajudou na contratação das bandas. Quando perguntámos a Paulo Ventura como decidiram desenhar o cartaz e se o orçamento teve grande influência, o ex-jurado do Ídolos e do Factor X interrompeu: “Por questões de orçamento? O nosso cartaz custa o triplo de Paredes de Coura”, disse, sério. Após incredulidade e insistência do Observador, lá se desfez numa gargalhada e admitiu que o orçamento para o Vilar de Mouros 2016 foi de um milhão de euros (Paredes de Coura teve 3,3 milhões). Entre apoio direto e de logística, a Câmara Municipal de Caminha apoia com 100 mil euros.

“Pensámos num público maduro e nos amantes de Vilar de Mouros”, resume Diogo Marques. Se a onda anos 80 é para manter, não se sabe com certeza. “Para o ano vai ser assim mas melhor”, prometendo anunciar muito em breve alguns nomes que vão pisar o palco em 2017, ao contrário desta edição. Em abril, Paulo Ventura não punha de lado a hipótese de o festival voltar a não se realizar este ano. “O cartaz foi feito em tempo recorde, dois meses”, admite. Enquanto Paulo Furtado dava um banho de rock’n’roll como Legendary Tigerman, o também produtor de palco olhava para a multidão e admitia: “Não esperava tanta gente.”

A paixão foi o que nos fez deixar de lado todos os medos, todas as críticas. Todas as pessoas diziam que este festival já não tinha lugar, e toda esta saudade mas também paixão pela nossa terra disse-nos para avançar. Queremos que esta seja a primeira edição de todas, não podíamos arriscar um cartaz que fosse financeiramente insustentável, daí a aposta em bandas míticas dos anos 80 da british pop e música portuguesa atual. Mas queremos continuar a crescer, com outros meios e cartazes cada vez mais ambiciosos.” Miguel Alves, presidente da Câmara de Caminha

Em resposta ao casal Nuno e Sandra, que lamentaram a falta de uma tenda after hours, mais animação fora do palco principal não faz, por enquanto, parte dos planos. “É um festival de famílias, chega uma altura em que querem ir descansar. E amanhã têm as praias fluviais”, esclarece Paulo Ventura. Isto se não chover. O crescimento é um desejo que depende da consolidação e das provas dadas durante estes três dias, com um posicionamento “de boas bandas para um público diferente do de Paredes de Coura ou do Marés Vivas”, compara Miguel Alves, pegando em dois dos maiores festivais a norte.

Peter Murphy, o senhor Bauhaus, subiu ao palco com 15 minutos de atraso, às 00h45, e nele se concentraram todas as atenções. Esta sexta-feira, a partir das 19:00, a música continua com os Neev, Linda Martini, Milky Chance, Echo & the Bunnymen, David Fonseca e Orchestral Manoeuvres In The Dark. No sábado, 27 agosto, o último dia, há concertos de Samuel Úria, Bombino, Tiago Bettencourt, The Waterboys, Tindersticks e Blasted Mechanism.

Durante a madrugada, a organização anunciou que foram vendidos 5100 bilhetes no primeiro dia. Um número que fica dentro do intervalo que o presidente da Câmara considera sustentável. Alheio a contas de somar estava António Malheiro, T-shirt preta de Joy Division e sorriso fácil, quando questionado sobre se o regresso de Vilar de Mouros valeu a pena. “Então não? Estive o dia na praia, conheci gente, bebi umas cervejas, vi Peter Murphy e Peter Hook na mesma noite… Já não me divertia tanto há muito tempo.”

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