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“Super Natural” é uma abordagem ao cinema que é rara de se ver, talvez única, mas está longe de ser tornar inacessível
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“Super Natural” é uma abordagem ao cinema que é rara de se ver, talvez única, mas está longe de ser tornar inacessível

“Super Natural” é uma abordagem ao cinema que é rara de se ver, talvez única, mas está longe de ser tornar inacessível

O cinema "Super Natural" de Jorge Jácome: "E se quem fosse à sala se tornasse protagonista do filme?"

O espectador torna-se protagonista numa meditação guiada em que as imagens partem de um texto escrito a seis mãos. O realizador explica como esta aparente "complexidade" é, na verdade, simples.

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No início, o Teatro Praga tinha em mãos um projeto com a companhia madeirense de dança inclusiva Dançando com a Diferença. As primeiras semanas da pandemia esclareceram que seria impossível levar o projeto a palco, mas confirmaram que tinha de existir. André e. Teodósio liga a Jorge Jácome e convida-o para o transformar num objeto filmado. Jácome não consegue dizer que não a Teodósio. Não há uma ideia concreta, não há um objetivo final, há duas semanas de rodagem na Madeira e um filme que começa a ser escrito, pensado e feito a seis mãos, com Jorge Jácome, André e. Teodósio e José Maria Vieira Mendes.

Esta é a origem de “Super Natural”, primeira longa-metragem de Jorge Jácome, que ganhou o Prémio FIPRESCI na edição de 2022 da Berlinale e que esta semana chegou aos cinemas portuguesas. Entra-se no filme e em pouco tempo percebe-se que será algo de diferente. Por diferente, não se assuma como experimental, inacessível, meta. “Super Natural” é uma abordagem ao cinema que é rara de se ver, talvez única, mas está longe de ser tornar inacessível. O filme comunica com o espectador, o espectador sente-se guiado, questionado, confrontado e, por vezes, esmagado pela experiência. Trata-se de uma meditação guiada pelo três autores, que escreveram um texto depois ilustrado por um caminho audiovisual desenhado pelo realizador. Talvez não se saia diferente depois de “Super Natural” – o que será duvidoso –, mas durante aqueles 85 minutos sentimo-nos diferentes. Até porque, de alguma forma, estamos a ser protagonistas do filme. Um protagonista que não está no ecrã e um espectador que não reconhece as personagens.

Nascido em Viana do Castelo em 1988, Jorge Jácome estudou na Escola Superior de Teatro e Cinema e no instituto francês Le Fresnoy. Em 2019 ganhou o Grande Prémio de Curta-Metragem no IndieLisboa (“Past Perfect”) e em 2021 foi um dos nomes de destaque no Curtas Vila do Conde. “Super Natural” é um filme consciente de alguém que aprendeu a ver cinema de “que não existe uma forma de ver e de fazer cinema, existem infinitas.” Por isso, na sua primeira longa-metragem cabem muitas linguagens, muitas formas de ver e fazer cinema. Mas também muitas formas de comunicar. As imagens estimulam o espectador a pensar, a situar-se, a sentir, o texto encaminha-nos para o lugar onde nem sabíamos que queríamos estar. O espectador tem de ler o texto nas legendas, uma vez que é dito por uma voz robótica, misteriosa, que torna tudo impercetível. A música de Raw Forest embala-nos para outro lugar.

Por vezes, o texto soa demasiado real, parece uma voz ativa a falar connosco, a ouvir-nos, daí que exista uma sensação de que se está a ser controlado. Não há nada de perverso nisso, bem pelo contrário: quando nos deixamos ir, sentimos que estamos a ter uma conversa com o filme, e que só o filme – a nossa cabeça – ouve as nossas respostas. Há uma intimidade única na experiência de ver “Super Natural”, que tanto pode resvalar para a melancolia, solidão, como para a catarse. Ou para tudo isso ao mesmo tempo. Falámos com o realizador a dias da estreia do filme em Portugal. Tentámos perceber como se chega a uma obra singular, que desde os instantes iniciais comunica as suas características únicas enquanto garante ao espectador que este pode estar tranquilo, tudo aquilo vai resultar e sentir-se especial. Contudo, o espectador, esse protagonista que está no lado errado do ecrã – ou no lado oposto, pela definição do cinema –, nunca se sente especial. Bem, pelo contrário. Mas talvez saia de lá com um significado para super natural.

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[o trailer de “Super Natural”:]

O que é ser “super natural”?
Essa é a logline que a distribuidora decidiu usar para o filme.

Fiz a pergunta sem saber disso…
O que estamos a fazer é a perguntar a algumas pessoas amigas, que não estão relacionadas com o filme, o que é isto de ser super natural. As pessoas têm respondido as mais variadas coisas, desde super natural é estar em casa de pantufas, é um sumo processado, vestirem-se ou o pássaro delas. Gosto muito desta ideia, que “Super Natural”, o filme, possa ser uma junção de todos estes elementos. Todos os elementos que compõem o mundo visível e invisível. Uma coisa que está presente no filme, é pensarmos neste universo do “Super Natural”, que o natural também está presente nos sonhos, na imaginação, naquilo que desejamos, naquilo que queremos ser, mas que também está presente nas folhas que tocamos, no mar raivoso do Funchal, num parque desportivo debaixo de um aeroporto na Madeira. “Super Natural” para mim é a junção e a expansão de todas as coisas. O filme, apesar de ter um lado simples e que dialoga connosco, tem questões muito complexas, filosóficas. Quando estou a falar do filme é sempre um balanço entre aquilo que é visível e está lá e todas as coisas em que penso, pensámos, quando estávamos a fazer o próprio filme. É uma explosão de contradições muitas vezes.

Visualmente pode-se dizer que o filme é experimental. Mas depois o texto torna-o muito narrativo e torna-se surpreendentemente num “filme normal”.
Há uma palavra de que gosto mais: inclusivo. O Dançando com a Diferença é um projeto de dança com inclusão e, por isso, queríamos que fosse um filme inclusivo. É inclusivo para o espectador, apesar de ser um filme experimental, que brinca com muitos formatos, muitos estilos cinematográficos, até brinca muito com a própria forma. Houve sempre o desejo de que o espectador não ficasse à parte da experiência que seria o filme. Por isso é que o texto é inclusivo, porque o espectador faz tanto parte do filme como todos os intérpretes do próprio filme. Queríamos que a sala de cinema e os espectadores estivessem integrados. Ao estar-se na sala de cinema, também se faz parte do próprio filme.

Ao contrário de outros filmes do género, com “Super Natural” não é preciso esperar para saber se vai funcionar. Funciona logo, arrisco dizer que logo a partir da primeira linha de diálogo. Foi difícil chegar aí?
O texto surge a partir de vídeos de meditação guiada e há toda uma estrutura para esses géneros de vídeos. Esses vídeos ficaram muito populares durante a pandemia. Foi um projeto que nasceu na pandemia, apesar de não se relacionar com isso. Na altura, o André e. Teodósio via muitos vídeos de meditação guiada e, então, o filme tem do princípio ao fim toda a estrutura desse tipo de áudio.

"Quando me convidaram ninguém tinha ideia de nada. Ninguém fazia ideia do que ia resultar, muito menos eu. Aceitei porque o André ligou-me a convidar e eu não saberia dizer-lhe que não. Aceitei, quando dei por ela estava a terminar um filme de hora e meia."

Precisou de aprender meditação guiada?
Não sei se aprendi, o texto foi construído a seis mãos [Jorge Jácome, André e. Teodósio e José Maria Vieira Mendes]. Quando comecei a montar, começámos uma partilha de elementos: às vezes era eu que enviava imagens já montadas para eles e eles escreviam; às vezes eram eles que me enviavam textos e eu remontava as imagens que tinha e dava novos sentidos. Texto, imagem e som foram construídos lado a lado, era sempre um elemento que complementava o outro. A delicadeza do texto nasce por causa desta troca e arranjos constantes entre todos, um ping pong de ideias onde íamos depurando imagem, som e texto. Simplificação e complexificação em simultâneo.

Se não fosse a pandemia, o filme seria o mesmo? Há certas imagens, logo no início, que dão uma sensação de que está sempre em casa, a trabalhar nessas imagens, mas que quer sair.
Isso sou eu com ou sem pandemia, é o meu dia-a-dia. Monto muitos filmes, sou eu que monto os meus filmes, e faço-o em casa. Esses jogos e brincadeiras que vou desenvolvendo durante a montagem é o que mais gosto em todo o processo cinematográfico. Se não existisse pandemia, estaria na mesma em casa a trabalhar materiais, texto. O meu filme anterior a este, uma curta-metragem chamada “Past Perfect”, também já é uma brincadeira de imagens, som e texto, em forma de legendas. Nesse filme não tinha uma voz como neste, mas é uma primeira abordagem a esta forma de trabalhar. Além disso, esse filme une-se a este, porque também foi uma colaboração com o Teatro Praga, era uma adaptação de um texto do Pedro Penim chamado “Antes”.

Estava a pensar em concreto nos momentos em que mostra as imagens da cidade de noite, há uma sensação de solidão muito forte.
Não sei se pensei na pandemia nessa sequência, mas pensei em intimidade e como conseguiria construir intimidade a partir de imagens de baixa resolução, são imagens a preto e branco, cheias de grão, de mini DV e câmaras de vigilância. Queria construir intimidade e solidão a partir dessas imagens, passando uma ideia de universo. Quando a câmara de vigilância muda, faz a panorâmica para outro sítio, o grão das imagens faz com que se pareçam com estrelas cadentes ou a explosão do Big Bang. Essa ligação do íntimo, de alguém a dormir, essa dimensão, é o que dá essa melancolia ou esse espírito mais de solidão, como dizes, de estarmos sozinhos no mundo, de sermos muito pequenos.

Quando começou a colaborar com o André e o José, estava aberto a fazer um filme assim?
Quando me convidaram ninguém tinha ideia de nada. Ninguém fazia ideia do que ia resultar, muito menos eu. Aceitei porque o André ligou-me a convidar e eu não saberia dizer-lhe que não. Aceitei, quando dei por ela estava a terminar um filme de hora e meia.

Demorou quanto tempo?
Filmámos duas semanas na Madeira e ficámos ano e meio a montar.

Para Jorge Jacome, importante é "educar o olhar e irmos aprendendo a trabalhar com o que nos vão dando"

Quando filmou, já havia ideia do texto? Ou o texto vem depois?
O André já tinha começado a escrever coisas, antes e durante a rodagem. E quando digo “coisas”, falo de blocos de texto variadíssimos, desde diálogos, ensaios filosóficos, listas de coisas ou até mesmo citações de outros textos. Já começava a haver um jogo de palavras que também nos foi ajudando durante a rodagem. Há muitas ideias que já estavam espalhadas naquela balburdia de palavras que foram gerando os diálogos que vamos ouvindo no filme.

Mas quando começou o processo de montagem, já tinha esta ideia partilhada do diálogo ou não?
Acho que não… o diálogo, as legendas?

Não, a conversa que existe com o espectador.
Quando comecei a montar não tínhamos ideia de que o texto iria aparecer daquela forma. Sabíamos que ia ter texto, podia ser em formas de diálogos, voz off, uma narradora, o que fosse. Quando comecei a montar as primeiras imagens essa ideia não existia. Quando estou a montar e não tenho a voz off, o que acontece é que começo a introduzir texto em forma de legendas para me ajudar a guiar a montagem. Eu sei que vai haver aquele texto, vou metendo texto em forma de legendas para me guiar os tempos, que associações de palavras e imagens podem resultar. Acho que foi isso que deu forma final ao filme. Passa quase a ser uma sessão de psicanálise. As palavras aparecem fisicamente no filme, mas têm uma também intensidade interior, possivelmente mais forte. Não é ninguém que nos está a dizer nada, somos nós que estamos a ler. É a mesma experiência de quando estamos a ler um livro.

Nessa leitura o espectador torna-se o protagonista do filme. De onde vem essa vontade?
É isso, sim, nós enquanto espectadores, a nossa respiração, os nossos risos, é uma forma que funciona muito bem no filme. É bastante divertido e quanto mais pessoas na sala estão, mais as pessoas se riem. Há pessoas que choram durante o filme. O filme só consegue existir porque há esses diferentes elementos todos a conviver com a mesma energia e com a mesma vontade de estar ali.

E o público alguma vez assumiu a voz como meditação guiada?
Há muitas pessoas, sobretudo pessoas que fazem meditação guiada através dos canais do YouTube, que se conectam com o filme de uma forma que não tínhamos pensado, de uma forma quase espiritual. A primeira vez que mostrei o filme a uma pessoa que tem experiência em meditação guiada, ela teve uma relação com o filme que eu nunca tive. Eu sou mais prático, direto, analítico, e essa pessoa viu no filme uma ligação íntima muito forte. Quando eu estava a montar nunca pensei nisso, pensei sempre que era uma ligação direta.

"Estou curioso para saber o que vai acontecer quando os estúdios perceberem que não fazem dinheiro com os filmes que enchem os multiplex, o que vai acontecer à sala de cinema após isso. Estou curioso em saber se o cinema se torna naquilo que o teatro se tornou, num sítio de experimentação, ao qual um grupo de pessoas vai."

O que te influencia para chegares a essa linguagem? Não só do texto, também visual.
A linguagem do filme nasce com o processo do filme, é uma coisa que no cinema não acontece. Roubo muito às artes performativas. No cinema há esta estrutura de escrever primeiro, filmar depois e remediar o que for preciso. Nos meus filmes tento contrariar isso e em cada um dos processos tento descobrir e encontrar coisas. O processo mais intenso e fértil para mim é a montagem, é onde encontro todas as possibilidades para reorganizar o que andei à procura. Por isso, a forma final do filme não nasce de uma forma que eu imaginei visualmente, é algo que vai nascendo e, neste caso, sendo acrescentada por diferentes pessoas, seja por mim, pelo André ou o José, mas também pelos intérpretes do Dançando com a Diferença, de todas as coisas que eu leio, vejo, os Tiktok que consulto quando estou a querer não trabalhar. O estilo mais experimental do filme, se podemos chamar assim, não nasce como forma final, vai-se construindo devagar, vai-se descobrindo.

Falou no TikTok, há momentos do filme que lembram os vídeos do TikTok. É uma linguagem que pode encaixar no cinema?
Não, por uma razão muito misteriosa. Há vídeos, diretos no TikTok que são de 3, 4 ou 5 horas. Coisas banais que têm milhões de visualizações. No cinema, se pensar num filme como o “Jeanne Dielman, 23 quai du Commerce, 1080 Bruxelles”, da Chantal Akerman, que é uma dona-de-casa, que descasca batatas, vemos o seu dia-a-dia, a maior parte dos espectadores não consegue ver as três horas e tal do filme. Enquanto que as 3 e 4 horas do TikTok conseguem. Não consigo explicar esta relação do espectador e a sua atenção. Ao mesmo tempo, depois o TikTok tem uma coisa muito rápida e de escolha, somos nós que escolhemos o que queremos ver. O cinema dá a possibilidade de ver um ponto de vista que o filme decidiu dar. Não vejo uma relação direta entre o TikTok e o cinema por causa dessas duas coisas. Agora, se para mim é um modo de ir procurar ideias e de pensar isto que andamos aqui a fazer? Sim, totalmente.

O que encontra num direto de horas?
Sou mais consumidor dos vídeos e nesses encontra-se de tudo. Primeiro, o algoritmo está feito para o meu tipo de gosto, desde coisas absurdas em ilhas às quais nunca irei, até gatos, porque não há nada mais engraçado do que ver gatos a fazer coisas engraçadas. Ou perspetivas de pessoas que nunca vou conhecer…

E que lugar tem este cinema num país como Portugal?
O cinema português é muito curioso, muito diverso. Acho que há um certo respeito pelo trabalho dos diferentes realizadores. Tenho a sorte de conseguir não parar e continuar a fazer projetos, com dinheiro e com estrutura. Mas sei que é raro e é um enorme privilégio. Por isso, acho que não é fácil. acho que há muitos realizadores e realizadoras muito talentosos que têm muita dificuldade em Portugal em desenvolver um trabalho próximo ou parecido do que querem desenvolver.

"A linguagem do filme nasce com o processo do filme, é uma coisa que no cinema não acontece. Roubo muito às artes performativas"

Sente que está a fazer cinema para fora?
Não sei como este filme vai correr, espero que as pessoas vão ao cinema. Mas tenho a certeza que este filme vai fazer mais espectadores internacionalmente do que em Portugal. Mas isso também não muda a forma como trabalho, que é estar atento às coisas que me interessam e trabalhar coisas que me interessam.

E consegue desenvolver trabalho lá para fora?
Sim, consigo financiamento. Mas a questão é o filme ser visto. Faz muita diferença estar a mostrar o filme e conversar no final para uma sala com 150 pessoas ou ir a uma sala onde estão duas. E isso, às vezes, acontece em Portugal, quando estou a mostrar o filme e estão duas pessoas. Isso é duro. Não é que eu ache que todas as pessoas têm de ver os meus filmes, é só que quando estou a mostrar um filme e estão duas pessoas na sala, há uma sensação de tristeza, de não ter feito o suficiente. Gostava muito que isso mudasse, agora como, não sei.

Cresceu em Viana do Castelo. O que viu, e como o viu, também o levou a fazer um cinema com esta forma?
Há uma coisa importante, que é educar o olhar e irmos aprendendo a trabalhar com o que nos vão dando. Em Viana do Castelo há um cineclube com sessões semanais, onde passam os filmes que não vão para o multiplex do centro comercial. Provavelmente é nesse cineclube, e noutros do país, que o “Super Natural” irá passar. É com esse trabalho que os cineclubes fazem que aprendi que existiam filmes diferentes dos que já conhecia. Foi a aprender a ver, e lembro-me de ter algumas sensações, quando vi alguns dos filmes, que não foram as melhores, porque não sabia o que estava a ver. Esses filmes de que, na altura, não gostei, que me fizeram questionar porque é que eu não gostei deste filme, ou não o percebi. Foi por acumulação, ver mais e mais filmes, até perceber que não existe uma forma de ver e de fazer cinema. Existem infinitas.

"O cinema português é muito curioso, muito diverso. Acho que há um certo respeito pelo trabalho dos diferentes realizadores. Tenho a sorte de conseguir não parar e continuar a fazer projetos, com dinheiro e com estrutura. Mas sei que é raro e é um enorme privilégio."

O cinema vai mudar?
Estou curioso para saber o que vai acontecer quando os estúdios perceberem que não fazem dinheiro com os filmes que enchem os multiplex, o que vai acontecer à sala de cinema após isso. Estou curioso em saber se o cinema se torna naquilo que o teatro se tornou, num sítio de experimentação, ao qual um grupo de pessoas vai.

Já experimentou trabalhar imagem com inteligência artificial?
Não de forma profunda. Estive numa escola artística em que se valoriza por um lado o cinema, mas também as novas tecnologias. No segundo ano tínhamos de trabalhar com novas tecnologias, o que quer que isso fosse. O meu projecto era criar um filme que se remontasse cada vez que era projetado. Que é uma ideia bastante simples, não precisa de grande máquina ou robô para desenvolver isto, ou seja, que as 400 cenas de um filme fosse constantemente baralhadas e, sempre que se vê o filme, a perspetiva e a forma de o ver fossem diferentes. Não sei se está próximo da ideia de inteligência artificial, é um computador que reorganiza as imagens, segundo algum critério ou não. Esta ideia não está longe da inteligência artificial. Agora, o que vai fazer daqui para a frente, não sei, mas estou à espera para ver.

Nunca o assustou que o filme não tivesse uma voz humana?
É o contrário. Não há uma voz humana, mas há um som robótico que todos os espectadores questionam. E quando o filme acaba, precisam de saber o que é aquela voz. Nunca nos assustou, sabíamos que tinha de ser complexa o suficiente para haver a interrogação. A resposta da maior parte das pessoas é um alien, um deus ou um robô. Mas a solução é muito simples, é só e exclusivamente a voz do filme. O problema é que a voz do filme é composta de muitas coisas. Por vezes é a voz de um golfinho, porque estamos a ver um, ou a de uma aranha que está a ser abraçada, ou de um intérprete que está a olhar diretamente para nós, a fazer uma pergunta. É a voz do próprio filme, logo é a voz de todas as coisas.

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