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JOÃO PORFÍRIO/OBSERVADOR

JOÃO PORFÍRIO/OBSERVADOR

O dia em que a Iniciativa Liberal desceu a Avenida sozinha. "Não íamos assinar uns papeluchos que parecem um editorial do Avante!"

Iniciativa Liberal junta várias centenas em desfile alternativo para assinalar 25 de abril. "Foi um remendo mal feito, mas nós só temos que agradecer a esse senhor capitão porque deu-nos visibilidade"

Pedro Janeiro juntou-se ao desfile do Iniciativa Liberal (IL) porque não aceita “assinar nenhuns papeluchos do Partido Comunista para ter autorização para celebrar o 25 de abril”. Tem vestida uma camisola azul com o símbolo dos liberais estampado e na mão tem um cartaz onde se lê: “Não há donos da liberdade”. É uma espécie de prolongamento da discussão que só terminou com dois desfiles diferentes a fazerem o habitual trajeto das comemorações do 25 de abril. Houve algumas diferenças entre a ideia do IL e o desfile organizado pela Associação 25 de Abril, mas já lá vamos.

O empresário do norte, militante do partido de Cotrim Figueiredo, segue na linha dos argumentos que foram trocados ao longo da semana: “A liberdade não lhes pertence, pertence a todo o povo português”. Este foi um dos principais argumentos que não deixaram que em vez de dois, Lisboa tivesse apenas um desfile comemorativo do 25 de Abril. Ainda no Saldanha, enquanto a manifestação esperava pelo autocarro vindo do Porto que trazia mais liberais, o líder do partido mantém o alvo e fala do tal “papelucho”: “A Associação 25 de abril acabou a permitir a nossa participação, mas teríamos que subscrever um apelo que parece saído de um editorial do jornal Avante”, irrita-se o deputado único e líder do partido.

“Aquilo só pode ter sido escrito por um comunista e eu recusar-me-ia a assinar fosse que manifesto fosse. Não temos que provar a nossa pureza ideológica e viemos aqui hoje, como já viemos noutros anos trazer a alegria que nos caracteriza e mantendo o amor à liberdade e à democracia”.

JOÃO PORFÍRIO/OBSERVADOR

Chegado o autocarro do Porto, chegam também os paus das bandeiras que desde as duas da tarde estavam à espera de ser içadas num dos bancos da Praça Duque de Saldanha, em Lisboa. “Havia bandeiras, mas não havia paus. Isto é um trabalho do coletivo”, ironiza um dos militantes enquanto vai distribuindo bandeiras azuis, com o símbolo do partido. Este local, no centro da capital, tem sido usado para mostrar alguns dos cartazes mais emblemáticos do IL e foi por isso escolhido para a concentração. É nas costas de um grande outdoor que se vão afinando os cânticos que vão ser gritados ao longo da tarde. Na frente lê-se, em letras garrafais: “Senhores contribuintes, apertem ainda mais o cinto”. A imagem mostra uma caricatura de António Costa, representado como se fosse um comandante da TAP, numa das críticas mais veiculadas pelo partido: o Governo não devia ter injetado dinheiro para recuperar a companhia de bandeira portuguesa.

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Com mais de meia hora de atraso, as várias centenas de pessoas que se juntaram começam a descer a Avenida Fontes Pereira de Melo em direção à rotunda do Marquês de Pombal. Por esta hora já o desfile da Associação 25 de Abril ia bem encaminhado e João Cotrim Figueiredo assumia a cabeça desta concentração, segurando a grande tarja frontal onde se lê: “Mais liberdade política, social e económica”. A seu lado tem o candidato do partido à Câmara de Lisboa, Bruno Horta Soares e Tiago Mayan Gonçalves.

De mochila às costas e sapatilhas nos pés, o candidato presidencial dos liberais fez-se ao caminho para assumir que esta é a primeira, mas pode não ser a última vez que o Iniciativa Liberal organiza um desfile no dia da liberdade: “Vamos ver, se isto facilitar a logística à grande agremiação que vai à nossa frente não há problema nenhum, nós fazemos a nossa”. Mayan é mais um dos que garante que já esteve noutros desfiles do 25 de abril, pelo menos nos de 2018 e 2019, anos em que o IL já existia enquanto partido. Desta vez fez diferente e lamenta: “Não nos quiseram”. “Mas como a rua não é minha nem é sua, nós estamos aqui também”, diz usando um dos gritos que mais foi atirado pelos liberais durante a descida da Avenida.

“Não é minha, nem é tua. É de todos esta rua” grita-se com frequência, mas é especialmente audível quando a aglomeração chega ao edifício da Organização Regional de Lisboa do PCP que fica bem no meio do percurso. Por esta altura o desfile para e os dois megafones ganham mais entusiasmo: “25 de abril sempre, fascismo nunca mais. 25 de abril sempre, comunismo nunca mais”, gritam como se quisessem que as palavras chegassem ao interior daquele edifício que tem a bandeira vermelha com a foice e o martelo desenhados.

Apesar de envergonhadas, as vozes dos liberais vão-se soltando à medida que se vencem metros deste percurso. Às bandeiras azuis foram-se juntando várias de Portugal, uma da União Europeia e mais duas com as cores do orgulho LGBT: “Ser liberal é isto mesmo, aceitarmos as decisões de todos”, diz Raquel Almeida que segura na mão uma destas bandeiras com as cores do arco-íris.

O partido que muitas vezes foi acusado de viver dentro das redes sociais, mostra pela primeira vez que também consegue tirar as pessoas de trás dos ecrãs: “Digam agora que isto é o meu perfil falso“, ironiza um dos apoiantes do partido numa alusão às acusações de criação de perfis fantasmas, criados nas redes sociais para dar força a algumas das ideias que por lá são veiculadas. Tiago Mayan Gonçalves fez uma campanha presidencial sem comícios e sem banhos de multidão, mas apenas três meses depois de ter ficado em penúltimo lugar, não está surpreendido com a adesão: “Já há muito tempo que o IL mostrou que não é apenas um partido do Twitter, mas se dúvidas houvesse, elas hoje desapareceram”.

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Entre os que desfilam na avenida está também Mário Dias, vem do Entroncamento e tem um cartaz particularmente inspirado. Ao lado de um cravo azul — a cor do partido — aparece desenhada a imagem de um homem sentado numa sanita. O texto: “Informo que é uma questão sanitária… pois estamos a ficar com dores abdominais ao ver o IL a crescer”.

O autor justifica ao Observador: “Este cartaz é baseado numa frase que foi dita nesta semana e que dava como justificação para o Iniciativa Liberal não poder participar no desfile principal uma questão sanitária. Eu acho que eles disseram isso porque devem faltar sanitas aqui na zona. Não se compreende que uma Avenida tão grande não tenha capacidade para receber mais 200 pessoas”. A ironia é feita com a justificação dada pela organização do primeiro desfile que impediu o Iniciativa Liberal de participar porque era necessário garantir as regras de controlo sanitário.

A concentração azul acabou por surgir de um conflito, mas Mário Dias não tem dúvidas de que foi melhor assim: “Foi um remendo mal feito, mas nós só temos que agradecer a esse senhor capitão porque ele foi o causador desta manifestação e de toda a visibilidade que ela nos trás. Eu agradeço-lhe, foi a coisa mais útil que fez na vida dele”, conclui.

Esta é a mesma opinião do empresário do norte que não aceitou assinar os “papeluchos” do PCP. Pedro Janeiro não tem dúvidas de que não é mau manter este desfile porque “é conveniente manter uma distância higiénica de quem há 47 anos está a tentar voltar a uma ditadura de esquerda, contra aquilo que defendemos” Daqui até ao argumentário liberal é um passo: “Temos que poder escolher a escola onde os nossos filhos estudam e se quisermos abrir uma empresa, não podemos ser obrigados a entrar num pântano de burocracia e pagar milhares de impostos”, critica o empresário que está a pensar mudar a sede fiscal da empresa para o estrangeiro.

Fotogaleria. Dois desfiles levaram à Avenida da Liberdade milhares para “celebrar Abril”, da esquerda à direita

Ao som de “Portugal! Liberal!” o desfile fica em suspenso numa zona em que já é possível ver a cauda da concentração da Associação 25 de Abril. Num processo difícil, apoiado pelos agentes da PSP que ao longo da tarde foram acompanhando este desfile, João Cotrim Figueiredo, Tiago Mayan Gonçalves, Bruno Horta Soares e os outros liberais que seguram a tarja frontal dão uma volta de 180º e viram-se de costas para a Praça dos Restauradores. Vão começar a subir porque “o IL gosta mais de subir do que de descer”, atira o líder do partido, enquanto dá um novo rumo ao percurso.

A mudança estava prevista e teve como objetivo não cruzar os dois eventos marcados para a tarde de domingo. Chegados ao Marquês, os liberais param em frente ao outdoor que o partido tem junto à rotunda e de bandeiras no ar, tiram uma fotografia de grupo. E despedem-se. Quando estão a desmobilizar, as duas chaimites que desceram mais cedo a Avenida cruzam a rotunda deixando antever que as comemorações do 25 de Abril acabaram dos dois lados da barricada.

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