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Nikola Jokic e Jimmy Butler são as duas grandes estrelas da companhia na final da NBA entre Denver Nuggets e Miami Heat
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Nikola Jokic e Jimmy Butler são as duas grandes estrelas da companhia na final da NBA entre Denver Nuggets e Miami Heat

C. Morgan Engel

Nikola Jokic e Jimmy Butler são as duas grandes estrelas da companhia na final da NBA entre Denver Nuggets e Miami Heat

C. Morgan Engel

O fala-barato espectacular contra o calado eficaz: a improvável final da NBA que contraria todas as estatísticas

Denver Nuggets procuram primeiro título com o todo poderoso poste Jokic a fazer tudo, Miami Heat tentam um lugar na história partindo do play-in com um Butler cada vez mais líder – eis a final da NBA.

Nas terras pequenas, ou nos bairros tradicionais das cidades grandes, é comum que algumas pessoas tenham alcunhas: o Tozé Marreco é Marreco de alcunha porque, bom, é marreco; o Toni Manco é Manco de alcunha porque, como devem ter adivinhado, é manco. A alcunha serve sempre como forma de distinguir um indivíduo dos outros, reconhecendo a característica que os torna únicos, mas o seu uso varia – umas vezes de a alcunha é usada de forma sarcástica, outras é uma homenagem.

Quando alguém decidiu chamar Air a Michael Jordan, a alcunha era elogiosa, uma forma de enaltecer a capacidade atlética de MJ: ele aguentava tanto tempo no ar que mais parecia que voava. Magic Johnson era Magic porque fazia coisas improváveis, impossíveis, que ninguém tinha imaginado; Karl Malone era The Mailman (o carteiro) porque entregava sempre a carta (a bola) no destino correto (o cesto adversário). E Kobe Bryant resolveu chamar-se a si mesmo Black Mamba porque esta é uma espécie particularmente venenosa e assassina de cobra – e, sim, Kobe deu uma alcunha a si próprio.

Não é certo quando é que esta prática de dar alcunhas começou, mas até hoje ainda não parámos o fazer. Nikola Jokic, o poste dos Denver Nuggets é o Joker – podia imaginar-se que a alcunha se deve à sua tendência para causar o caos e o pânico nas defesa adversárias, mas o criador da alcunha, Mike Miller, baptizou-o assim porque tinha dificuldade em dizer Jokic. Jimmy Butler, a estrela dos Miami Heat (que, nos seus melhores dias, lembra Jordan), é conhecido por Jimmy Buckets e não é precisa uma licenciatura em Literatura Anglo-Saxónica para saber que buckets são cestos e a alcunha pretende homenagear a capacidade que Jimmy tem de marcar pontos, em particular nos momentos decisivos.

Jokic contra Butler, os Denver Nuggets contra Miami Heat. Se no início da época poucos apostariam nesta final, no final da regular season não deve ter havido uma alma a pôr dinheiro em como esta seria a final da NBA – que começa na madrugada desta sexta-feira, em Denver, e se joga à melhor de sete. Nenhuma das equipas era vista como favorita, embora por razões diferentes. Nos anos anteriores os Nuggets falharam sempre nos playoffs, apesar de todo o brilhantismo de Jokic, um poste que não é poste, é o melhor passador/criador da liga; os Heat, que vão jogar a sua segunda final em quatro anos, acabaram a época regular a ter de jogar o play-in, o torneio de acesso ao playoff, no qual perderam o jogo contra os Bulls, antes de darem a volta no último período do segundo jogo do play-in.

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Uma humilde estatística demonstra quão improvável esta final é: apenas por uma vez, em toda a história da NBA, uma equipa que acabou em oitavo na sua conferência conseguiu chegar às Finals da NBA – no caso, os New York Knicks, na época 1998/99 – e acabaram por perder em cinco jogos para os San Antonio Spurs, que haviam sido primeiros na sua conferência (e em toda a NBA). Pensem nisto: uma equipa que arrancou a época acumulando derrotas, que chegou ao fim da fase regular basicamente com o mesmo número de vitórias e derrotas, que no play-in tinha dois jogos para conseguir qualificar-se para o playoff e à entrada do último quarto do último jogo do play-in estava a perder – essa equipa consegue chegar à final.

Contra tudo aquilo que era apontado, Miami Heat passaram o play-in e eliminaram Milwaukee Bucks, New York Knicks e Boston Celtics até chegarem à final

E se essa chegada, em si mesma, já não é nada fácil, os adversários que os Heat encontraram pelo caminho tornaram-na quase impossível. Como oitavos da Conferência Este, os Heat tiveram de jogar a primeira ronda contra os Bucks, de Giannis, na máxima força (isto é, com Middleton sem problemas de saúde). É verdade que Giannis perdeu dois jogos por lesão, mas esses jogos dividiram-se. Se precisássemos de uma justificação para a alcunha Buckets, Jimmy deu-a no no jogo 4 quando espetou 56 pontos no cesto dos Bucks. Butler é tão mas tão bom que tem dois alcunhas: além de Jimmy Buckets quando os playoffs chegam ele também é apelidado de playoff Jimmy, porque se transforma e o jogo dele eleva-se ao nível das maiores super-estrelas, não apenas em termos de pontos marcados mas também de empenho na defesa, cotoveladas, ressaltos, jogadas sensacionais, triplos no último segundo, afundanços em cima de dois ou três adversários – e liderança.

Liderar, nos dias de hoje, é identificado demasiadas vezes com marcar uma catrefada de pontos, mas essa é a visão redutora da metrificação em voga – liderar é muito mais que isso, é dar confiança aos colegas, torna-los melhores jogadores, incentivá-los a lançar, a arriscar, a atingirem um apuramento das suas qualidades que eles próprios desconheciam.

E se Miami precisava de liderança: perderam Oladipo ainda antes dos playoffs e Tyler Hero logo no início – Hero é sexto homem, o primeiro suplente ,mas, no fundo, um titular, com os seus triplos, as suas entradas para o cesto, a sua defesa sem freios. À medida que os playoffs foram avançando, Jimmy foi marcando menos mas foi envolvendo mais e mais os colegas – nove dos quais nem sequer passaram pelo draft e foram recrutados na G-League e outras ligas menores. E de repente vimos Gabe Vincent ou Caleb Martin a marcarem 20 e tais pontos, a chegarem-se à frente quando Jimmy tinha dois homens em cima.

Depois dos Bucks, os Heat eliminaram os Knicks (terceiros na conferência Este) e os Celtics (segundos na mesma conferência), estes numa batalha épica que quase quebrou um recorde da NBA. Os Heat chegaram a 3-0, deixaram-se empatar (com uma tapinha de Derrick White no último décimo de segundo do sexto jogo) e foram ao TD Garden em Boston disputar o sétimo jogo. Em toda a história da NBA nunca ninguém tinha conseguido virar uma série depois de ter estado a perder 3-0 – e houve 149 ocasiões anteriores em que se chegou à mesma situação.

Depois de terem começado a série a ganhar por 3-0, Miami Heat consentiram o 3-3 mas foram a Boston confirmar uma nova surpresa

O que os Heat fizeram nesse jogo sete é a sua imagem de marca: todos os davam como outsiders, derrotados antes do primeiro apito, e começaram logo a perder. Depois fizeram o mesmo de sempre: lentamente foram sugando a vida do adversário. Na defesa começaram a alterar de homem para homem para zona, mudaram defensores, fizeram 2×1 e, acima de tudo, foram exímios nas ajudas e nas dobras, secando o ataque a Boston, obrigando-os a perder bolas e marcando pontos em contra-ataque.

No ataque tiveram toda a paciência do mundo – se havia linha para atacar rápido atacavam rápido, se não havia então rodavam a bola até encontrar o homem livre, até encontrar o mismatch que lhes dava mais jeito. Um roubo de bola aqui, um triplo acolá e sem que se desse por isso, sem dar muito nas vistas, logo ao início da segunda parte o jogo estava praticamente decidido: como os Spurs de antigamente, os Heat jogaram de forma matemática, aproveitando todos os pontos fáceis possíveis e não concedendo um milímetro aos jogadores mais perigoso de Boston.

Comparado com isto, o percurso dos Nuggets quase parece fácil, um à vontade simbolizado no 4-0 com que despacharam os renascidos Lakers. Jokic tem sido o jogador mais dominante dos playoffs, acumulando triplos duplos e normalizando o impossível para um jogador da sua altura e estrutura (não é propriamente magro, não é o tipo mais fit da NBA). Jokic não é bem um poste, antes vem buscar a bola e usa a estatura e o corpo para observar de cima o campo e escolher o momento do passe (não raro fá-los para as costas, sem olhar). É capaz de penetrar em drible para o cesto, sabe lançar em queda e, se estiver muito apertado, dá um passo atrás e lança de três por cima da cabeça. É imparável.

Não é só a forma de Jokic que contribui para o trajeto sem percalços dos Nuggets – este ano tiveram Jamal Murray finalmente de volta e com saúde e o mistério adensa-se. Será que Denver sempre foi uma super-equipa mas que esteve privada da sua super-estrela, ou será que a conferência Oeste, este ano, como que implodiu? Os Clippers não estiveram à altura, Golden State, ainda o franchise campeão, deu tiros nos pés (ou socos nos próprios colegas de equipa), os Grizzlies viram a sua maior figura, Ja Morant, cair num buraco sem fundo, depois de exibir armas no Instagram e de uma série de acusações de agressões na sua vida civil, os Kings nunca foram verdadeiramente candidatos, os Lakers acordaram tarde demais.

É difícil não desconfiar que os Nuggets tiveram a vida facilitada – e, no entanto, eles foram a época toda a melhor equipa da NBA, em particular no ataque. Com Jokic como fulcro, toda a equipa roda a bola à procura do homem livre, através de uma série de bloqueios e movimento constante e passe e corte – os fundamentos do basquetebol, como que se os Spurs de Popovich por alturas de Tim Duncan sofressem um upgrade cirúrgico para a época atual.

Nikola Jokic voltou a ser uma peça determinante na vitória dos Denver Nuggets frente aos LA Lakers

Gina Ferazzi

É praticamente impossível parar Jokic, mas claro que os Heat vão atirar-lhe todos os tipos de defesa possível: 2×1 no momento da receção, homem a homem com um segundo a surgir se Jokic for para o cesto, zona. Eric Spoelstra, o treinador dos Heat, mostrou contra os Celtics todo o arsenal de truques táticos de que dispõe – mas desta vez não estará a defrontar um treinador rookie e terá de decidir se prefere viver com Jokic a marcar os seus pontos e secar tudo em seu redor ou se prefere retirar o máximo de pontos possível a Jokic e aceitar os pontos vindos dos jogadores de rotação.

Quase todas as casas de apostas colocam os Nuggets como vencedores, em seis jogos – a opção mais sensata: os Nuggets têm o melhor jogador, um às em Murray, uma rotação mais profunda, são praticamente imbatíveis no ataque mas os Heat, com a sua defesa física, a sua extrema organização e a capacidade que têm de enervar os adversários, de lhes retirar a confiança, de colocar os oponentes a não acertar no cesto durante minutos a fio, podem muito bem roubar um par de jogos.

Só que agora perguntaram a Jimmy Butler quão feliz estava ele com os jogadores da rotação. Na NBA os jogadores são visto assim: há as super-estrelas, as estrelas e todos os outros são jogadores de rotação. Jimmy disse: “Eles não são jogadores de rotação, são os meus colegas de equipa, são jogadores como eu”. A final vai ser isto: Butler, o fala-barato, o tipo sempre cheio de confiança, o tipo que grita “Sou o melhor jogador do mundo” no meio dos jogos, que adora ser provocado, que adora que lhe batam, contra o Jokic, o sérvio que nunca dá entrevistas, que nunca expressa uma emoção, que acha que a NBA não tem assim tanta importância e nem sequer vê jogos quando está em casa – mas que é uma máquina de receber, rodar, passar e lançar.

O fala-barato espectacular contra o calado eficaz – esta não é a final com que a NBA sonhou mas é a final mais justa, que coloca frente a frente os dois melhores jogadores dos playoffs e as duas equipas mais bem treinadas. Daquelas equipas que têm uma super-estrela mas que vivem do jogo colectivo, em que todos defendem, todos atacam e todos sabem exactamente o que têm a fazer em cada momento.

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