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Podemos dizer que é uma “montra internacional” para artistas portugueses, que é “um festival para vender a música portuguesa”, que serve também para “tentar descobrir o futuro”. Desde que começou, em 2017, já escrevemos tudo isto sobre o MIL — Lisbon Internacional Music Network. E tudo isso se mantém válido, para a edição de 2022.

Já a decorrer desde esta quarta-feira, num primeiro dia mais voltado para as conversas e debates do que para os concertos (apenas um, de abertura do festival, agendado para as 22h), este festival-convenção que quer ajudar a estimular a circulação mundial e europeia de artistas, portugueses mas não só, tem sido nos últimos anos um viveiro de talentos.

Este ano, não é diferente. Sendo um dos objetivos do MIL colocar artistas e bandas em contacto com agentes e com programadores de festivais e salas de concerto de vários pontos do mundo, ao longo de três dias (outro, o de discutir os desafios e oportunidades com que se confronta hoje a indústria da música), o cartaz do festival baseia-se sobretudo em artistas e bandas emergentes, ainda em fase inicial da carreira mas promissores.

Assim sendo, decidimos olhar para todo o cartaz e destacar dez artistas e bandas que podem ser descobertos no MIL e revelar-se boas surpresas, tanto para os profissionais da indústria que, como bons olheiros, estarão presentes à procura de talento nos próximos dois dias, quanto para os espectadores cujo único interesse passará por ver concertos e encontrar “a próxima grande cena” da música.

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Optámos também por excluir desta lista artistas e bandas já relativamente conhecidos do público português atento à música nacional, como Filipe Sambado (já com três álbuns editados e uma ida à final do Festival da Canção da RTP) e Cassete Pirata, grupo que tem já dois discos completos e sobre o qual já escrevemos aqui.

[Oiça aqui uma antevisão a esta edição do festival MIL, feita no programa da Rádio Observador “Lado Bom da Vida” com o programador Pedro Azevedo:]

Festival MIL e Tomás Wallenstein ao piano

Prétu

5ª feira, 19h45 — 20h30, B.Leza

Dificilmente se ouvirá no MIL música mais inclassificável, mais original e mais inovadora do que a de Prétu. O novo projeto musical de Chullage, autor de álbuns marcantes na evolução do hip-hop português como Rapresálias, Rapensar e Rapressão, promete causar um abalo sísmico na música portuguesa e na própria comunidade hip-hop. As rimas ainda estão lá, em português e em crioulo cabo-verdiano, lembrando-nos que Chullage é um rapper único, com uma perspetiva própria e um discurso crítico, surpreendente e incisivo sobre o mundo e o que o rodeia. Mas a fórmula musical, aqui, dinamita todas as convenções do hip-hop ou de qualquer música já feita, misturando ritmos cabo-verdianos e africanos com batidas eletrónicas disruptivas. As quatro canções já reveladas deste projeto — “Waters (Pa Nu Poi Koraji)”, com Lowrasta como convidado, “Fidju Maria”, com participação de Dino D’Santiago, “A Luta Continua”, com Tristany e “xei di kor”, com Braima Galissá e Mick Trovoada — são canções-OVNI que elevam e muito as expectativas.

Chica

5ª feira, 19h30 — 20h15, Auditório ETIC

Quem também tem dado sinais promissores sobre o que poderá ser o futuro da sua música é Chica, nome artístico de Francisca Ribeiro, que este ano editou o seu primeiro EP, ou mini-álbum, intitulado Cada Qual no seu Buraco. Composto por cinco temas, gravados entre o seu Minho natal e Lisboa, parece desde já diferenciar a música de Chica de muitas escritoras de canções e intérpretes a solo que vão surgindo por estes tempos. Isto porque as suas canções, vivendo num universo folk, não se resumem a voz e guitarra/piano, sendo revestidas de contrabaixo e sopros e de arranjos genericamente elaborados — mas que se percebe, ainda assim, terem sido pensados com cuidado, de modo a que esse ambiente jazzístico se incorpore nas canções com elegância e discrição. A voz suave e afinada é outro trunfo, tal como as letras cheias de personalidade: em “Quando eu for grande”, com alguma ironia, canta “se eu só sei pôr defeito / porque é que falo de tudo / com tanto cuidado e jeito?”, e em “Brincar com o cão — arranjo em banda” revê, mordaz, frustrações geracionais: a dificuldade em conseguir habitação, o “estágio profissional” que “dá experiência e sai-se assim, experienciado” e os mantras da “meditação” e da “positividade” como “remédio”.

Reinel Bakole

6ª feira, 21h15 — 22h, B.Leza

Da Bélgica, com ascendência congolesa, Reinel Bakole é um dos nomes mais promissores do cartaz do MIL. Atualmente com 24 anos, Bakole é cantora, compositora, performer e bailarina, tendo já editado dois EP (mini-álbuns): A Gal on the Moon em 2020 e Closer to Truth em 2021. Tendo como grande referência Nina Simone (disse-o há um ano, numa entrevista), faz canções que se movem em águas neo-soul, mas que soam menos indistintas e musicalmente menos redondas do que a de muitos compositores e intérpretes de uma estética musical que está cada vez mais em voga e cada vez mais popular, pela leveza e sensualidade rítmicas.

Kriol

6ª feira, 20h — 20h45, Lounge

Pouco sabíamos sobre quem seriam os Kriol, mas uma só canção, “Tempo Djá Muda”, bastou para nos aguçar o interesse. O ritmo festivo, a que é muito difícil resistir, está garantido com o concerto deste duo, composto por Danilo Lopes (Fogo Fogo e Orquestra Todos) e Renato Chantre (Kussonduola e Orquestra Cesária Évora). Segundo a nota biográfica apresentada pelo festival, os dois juntaram-se durante a pandemia com vontade de “reinventar a música tradicional de Cabo Verde” e “criar novos sons com o objetivo de trazer o melhor desta ilha até nós”, apostando na renovação de “markuzas, valsas, colá san jon, coladeras e batukes”. Mais do que convencidos, estamos expectantes para ver o que será o futuro destes Kriol.

Bikôkô

6ª feira, 22h45 — 23h30, Titanic Sur Mer

Bikôkô, nome artístico de Neï Lydia, é outra artista internacional emergente que se mostrará ao público português no MIL. Descrita em junho de este ano como uma “estrela em ebulição” pelo El País, a jovem cantora e escritora de canções catalã, com ascendência camaronesa, editou no ano passado o seu primeiro mini-álbum, Aura Aura, e este ano a mixtape No News is Good News. Com apenas 20 anos, já tendo passado por Nova Iorque mas vivendo agora em Londres, citava no ano passado influências da música negra americana (Erykah Badu, D’Angelo, Ray Charles, Lauryn Hill, Solange), da música britânica (Alfa Mist, Ella Mai) e da música africana (Richard Bona, Oumou Sangaré), mas aludia também ao trabalho de escritores como Rachel Cusk e Rainer Maria Rilke e ao de designers de moda como Jean Paul Gaultier como inspiradores para o seu trabalho. A sua música parece evoluir no sentido de vir a conter batidas eletrónicas, percussões pan-africanas e uma elegância vocal que a tornam nome a ter em conta.

Filipe Karlsson

5ª feira, 21h15 — 22h, Musicbox

Quem também está num trajeto emergente é o jovem luso-sueco Filipe Karlsson. O músico, membro da banda rock Zanibar Aliens, começou por revelar a sua música a solo no pandémico 2020, com canções agrupadas num EP chamado Teorias do Bem Estar. Esta quinta-feira, vai surgir no MIL com um mini-álbum fresquíssimo, Mãos Atadas, revelado já este ano e em que confirma estar a apurar a sua pop gingona e saltitante, com groove dançante. Dito por outras palavras: está a crescer como artista e é provável que oiçamos falar mais dele no futuro.

Verde Prato

5ª feira, 21h — 21h45, B.Leza

De Espanha, país cuja música atual está ainda, em grande medida, por se revelar em Portugal, chega Verde Prato, projeto musical de Ana Arsuaga. Com um universo musical bastante diferente dos nomes acima citados, a música da compositora e intérprete é menos direta e acessível mas é muito particular. Entre tradições do cante do País Basco e batidas eletrónicas, por vezes mais ambientais, outras vezes mais pulsantes, a multi-instrumentista passou em 2021 pelo festival Sónar de Barcelona e está a trilhar um caminho muito pessoal e original. Não será surpreendente se regressar em breve a Portugal.

Sónia Trópicos

5ª feira, 20h — 20h45, Lounge

Mais um projeto emergente no campo da música eletrónica que se poderá revelar no MIL, neste caso nos universos de batidas dançantes. Sónia Trópicos é o heterónimo musical da produtora portuguesa Sónia Margarido, que venceu em 2021 o concurso PULSAR — dirigido a mulheres da música eletrónica — e que editou já este ano o seu primeiro mini-álbum. Intitulado Astral Anormal, é uma coleção de seis temas em que se destacam as explorações dançantes da instrumental “Além da Dor” e as canções eletrónicas “Safadinha Triste”, com a cantora Labaq como convidada, e “Cravos”, uma colaboração com AYAS.

Marta Knight

5ª feira, 20h — 20h45, Musicbox

Mais ancorada num arquétipo tradicional de canção, de bases folk e pop-rock, Marta Knight é outra cantora e escritora de canções emergente do cartaz do MIL a chegar oriunda de Espanha. Atualmente com 23 anos, Marta Caballero de nome de batismo, lançou o seu primeiro EP (Peterloo Heroes) em 2017 e revelou há menos de quatro meses o seu primeiro álbum completo. Strange Times Forever é um disco de canções emotivas e confessionais, com algum açúcar pop (não excessivo), escritas por uma jovem espanhola que compõe em língua inglesa, que cita referências como Stone Roses, Bob Dylan e The Smiths e que neste novo trabalho tem pérolas como “3am”, “I Hate Dancing” e “Creations”.

Tukan

5ª feira, 00h — 00h45

Apresentam-se como quatro músicos de Bruxelas e dizem-se inspirados por grupos como os Tortoise e BadBadNotGood. Não é um mau cartão de visita, de todo, para os belgas Tukan, banda que no ano passado editou um mini-álbum (EP) homónimo e que procura ainda uma maior personalidade na mistura de ambientes jazzísticos com ritmos eletrónicos, algo muito em voga nestes tempos. O novo single “Scuba” é suficientemente promissor para que estejamos atentos à evolução futura deste quarteto.