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Não há outra maneira de dizer isto: esperámos por este momento como uma criança pelas férias grandes. Vai começar a última temporada de uma série que fez gostar de dragões quem não gostava de dragões, gostar de zombies quem não gostava de zombies, e que é muito mais do que uma série de zombies e dragões. Que talvez seja sobre o aquecimento global, ou sobre a condição humana caminhando irreparavelmente para a morte, ou uma improvisação livre sobre a história do Ocidente, da Muralha de Adriano à Guerra das Rosas, ou apenas uma gloriosa fantasia que, por mero acaso, fez ressoar dentro de milhões de espectadores em todo o mundo o chamamento familiar das grandes histórias.

Começou por ser a adaptação de uma obra literária, ultrapassou-a e, agora, se quiser, terá de ser a obra literária a adaptá-la ao papel. Há quem diga que vamos todos precisar de terapia daqui a pouco mais de um mês, quando acabar de vez (enfim, tanto quanto se pode dizer “de vez” nestas coisas). Mas, antes, terá primeiro de se cumprir no inevitável desenlace. E qual será? Estará à altura das colossais expectativas dos seguidores, que já conjeturaram as hipóteses mais fantásticas? Ou sucumbirá ao peso da própria grandeza, esmagado por uma promessa que não soube cumprir, como “Lost”, anos atrás? Dentro de 5 semanas e pouco saberemos. Para já, aceitam-se apostas. Quem ocupará, no fim de tudo, o trono de ferro?

[o trailer da oitava e última temporada:]

Hipótese nº1: Daenerys Targaryen

Vamos ver: tem do seu lado os exércitos dos Dothraki e dos Imaculados, dois dragões e um tipo que ressuscitou. São argumentos de peso. Daenarys caminha para o trono desde o início da trama, há oito anos. “Eu nasci para governar os sete reinos”, diz a própria, algures. Foi vendida pelo irmão, casada à força e logo enviuvou, venerada como uma deusa e perseguida como um demónio. Enquanto outros reis se sucediam e atraiçoavam no trono, vinha caminhando, navegando, inapelavelmente, em direção ao seu destino.

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Daenerys Targaryen

O trono de ferro foi, na verdade, feito pelos antepassados de Daenerys e sentaram-se nele durante 300 anos, até Jamie Lannister, o regicida, matar Aerys II Targaryen, o rei louco. Daenerys vem do exílio para reconquistar Westeros. Aparentemente, é ela quem encarna o fogo do título original da saga de George R. R. Martin – “A Song of Ice and Fire”. Está na derradeira cena de várias temporadas e no epicentro de alguns dos momentos mais grandiosos das sete temporadas anteriores. Mas não será uma solução demasiado óbvia? Numa série que nos habituou à surpresa e ao arrojo?

No meio de tantas personagens cheias de falhas, Daenerys representa uma heroína quase clássica, a princesa prometida, e de GoT esperamos certamente mais do que o clássico. Mas não menosprezemos o facto de o girl power ser claramente um dos não ditos mais evidentes da série. E mais: Daenerys nunca seria apenas mais uma rainha; ela é aquela que vem libertando os escravos por onde passa, a única – talvez a par de Jon Snow, mas já lá vamos – que vimos amada pela multidão, e não temida.

“Eu não venho para parar a roda”, diz ela no episódio 8 da 5ª temporada; “venho para partir a roda”. Poderá ser o fim da monarquia absoluta? Da guerra, da hereditariedade? O começo da democracia? Talvez. Mas primeiro, ela tem de ver aquela questão de andar a dormir com o sobrinho.

Hipótese nº2: Aegon Targaryen, a.k.a. Jon Snow

Bom, qual é o problema de Jon Snow? São vários. Para começar, ainda não sabe, mas ele é o sobrinho que anda a dormir com a tia Dany. Depois, é a solução ainda mais óbvia do que Daenerys. E o gelo de “Uma Canção de Fogo e Gelo” – snow. Pior que a parente chegada, que sempre foi fazendo uns disparates pelo caminho, Jon caminhou desde o início da trama como o Luke Skywalker desta brincadeira – e nós sabemos como, no fundo, ninguém gostava muito do Luke Skywalker (que, agora por isso, também se meteu num sarilho por causa de não conhecer bem a respetiva árvore genealógica. Por isso, miúdos, já sabem: não tentem fazer isto em casa).

Jon Snow

É o herói venerado, empurrado para a liderança, que não quer, por possuir qualidades de exceção que ele mesmo não consegue ver, mas que os pares lhe reconhecem; é, enfim, aquele que desafia os deuses. Se for como o herói trágico que lembra, acaba mal; o problema é que Jon pura e simplesmente já acabou, já morreu muito lá para trás na série, e depois foi ressuscitado com pouco mais do que um “abracadabra” (na solução mais coxa da série e que, a bem da relação, todos fingimos que esquecemos, mas, na verdade, ainda ninguém perdoou). Portanto, qual é o limite para um tipo destes? Não sabemos.

George R. R. Martim deixou cair, numa entrevista ao The Observer em 2015, que o final de GoT seria agridoce. Muita gente pensa por isso que, entre os dois heróis mais evidentes, um terá de morrer para que o outro chegue ao trono. Mais: uma lenda que paira como uma das muitas profecias da história diz que os Caminhantes Brancos (que é como quem diz, os zombies) já foram derrotados certa vez, muitos anos atrás, por um guerreiro que sacrificou a amada. Mas Jon tem mais ar de quem se sacrificaria por Daenerys (e, no fim de contas, até já “bend the knee”. Ajoelhou). Ah. Bran, o puto que vê tudo, diz a Sam Tarly, no último episódio que vimos, o 7 da temporada 7, que Jon é o herdeiro do trono. E a própria Daenerys teve uma visão em que via o trono coberto de neve (pois. Snow. Outra vez. “O que há num nome?”).

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E ainda há Melisandre (ou a bruxa vermelha, para os amigos), que anda desaparecida, e que também acha que Jon é o príncipe que o Deus da Luz prometeu que viria para combater as trevas. Mas ela também já se enganou uma vez, achando que era Stannis. Em que ficamos? É ver. Mas, a respeitar-se tudo direitinho, sem facadinhas nas costas e quando todas as personagens estiverem na posse de toda a informação sobre as verdadeiras origens familiares umas das outras, Jon, aliás, Aegon é que é o legítimo senhor de Westeros. E isso é bonito. E um bocadinho seca.

Hipótese nº3: Daenerys Targaryen & Jon Snow

Por todo o exposto acima, Daenerys e Jon dizem: “estamos à beira do apocalipse zombie, será assim tão grave sermos tia e sobrinho?” – e vai de avançarem em coligação para o trono, onde reinam os sete reinos enfim com justiça e paz e são felizes para sempre. Pois. É uma hipótese. E, ao mesmo tempo, não é uma hipótese. Não para a melhor série de sempre. Antes morrer toda a gente e ganharem os zombies. Mas calma – lá iremos. Para já, vamos aos outsiders.

Hipótese nº4: Cersei Lannister

Sentiu o arrepiozinho? Pois. Cersei, a rainha má, tem sobrevivido a tudo e todos. Tudo mesmo – até às maiores humilhações (vide “Walk of Shame”). Já perdeu o marido, o pai, os três filhos, já mandou pelos ares a Santa Sé do sítio com fogo-vivo. Mas já não lhe resta muito mais. Tem do lado dela os mercenários da Golden Company, meio Jaime e o Montanha – enfim, não é incrível, comparado com a corte de admiradores de Daenerys. Mas é rapariga para tentar usar os mortos a seu favor.

Cersei Lannister

E ainda há Euron Grejoy e os seus barcos. Mas vamos ver: apesar de tudo, não é que o bem vá longe em “Game of Thrones”, mas o mal absoluto também não se tem dado melhor. E há a profecia de Maggy the Frog: que iria enterrar três filhos de cabelo dourado (Myrcella, Joffrey e Tommen: check), que chegaria ao trono, mas logo daria lugar a uma rainha mais nova (Margaery Tyrell: check) e que acabaria morta pelo irmão mais pequeno.

Claro que toda a gente pensa em Tyrion, o anão, mas é tão óbvio que logo se diz que não pode ser e que deve ser Jaime, o gémeo, uns instantes mais novo. Nós apostamos aqui um café que será Arya Stark, que tem o nome de Cersei no topo da sua lista de mortes desde o fim da primeira temporada, que é da altura de Tyrion e tem aquele jeito para as máscaras…

Hipótese nº5: Gendry

É uma hipótese muito aventada por essa internet afora. Improvável levar a rei uma personagem secundaríssima que andou desaparecida metade das temporadas? Verdade. Mas depois veja isto: Gendry, o ferreiro, é bastardo de Robert Baratheon. Mais: há uma boa hipótese de ser filho de Cersei. Ah, pois é.

Gendry

Muito lá para trás, Cersei disse a Catelyn Stark: “Perdi o meu primeiro rapaz… Aquela beldade de cabelo negro… também era um lutador.” Assim mesmo “Perdeu” – não diz “morreu” e isso, em GoT, pode fazer toda a diferença. Os três amados filhos de cabelo dourado que Cersei viu morrer eram todos fruto da relação incestuosa com o louríssimo irmão Jaime. Gendry, por seu turno, conta a Ned Stark, logo na primeira temporada, que a mãe era loura e que terá morrido quando ele era miúdo (perante o ar incrédulo, percebemo-lo agora, do imaculado senhor Stark).

Gendry, moreno como o pai Robert, pode muito bem ser, portanto, o único filho legítimo do casamento entre o falecido rei Robert e Cersei (escorraçado pela própria mãe pelo ódio que tinha ao marido) e, assim, e para uma certa corrente, o verdadeiro herdeiro do trono de ferro. Num final agridoce como o anunciado por Martin, em que muitas personagens maiores podem morrer, Gendry tem uma belíssima hipótese.

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Hipótese nº6: The Night King

É, ao mesmo tempo, o melhor e o pior dos finais. Porquê o melhor? Porque nenhum faria filosoficamente mais sentido: a morte é inescapável e, no fim de tudo, é muito maior do que as mesquinhas guerras dos homens pelo poder. Porquê é o pior? É mau storytelling – desde o início que a série nos diz: o Inverno vai chegar, o Inverno está quase a chegar e acaba com o Inverno chegou? Caramba. Esperamos um pouco mais da série-que-blá-blá-blá.

The Night King

Mas pode haver nuances. Ponto um: há, em Westeros, lendas de que, em tempos imemoriais, mortos e vivos colaboraram – e que até houve casamentos entre eles. Ponto dois: o próprio Jon está (é bom lembrá-lo) tecnicamente morto. Ponto três: há uma longa teoria, muito marada, mas bem sustentada, que defende que o Night King é, na verdade, Bran Stark, e que só por isso Jon foi poupado quando esteve diante dele (é uma longuíssima história, que podem procurar na internet, mas adiantamos que envolve viagens no tempo e a ideia de que Bran, que tem a capacidade de ver todo o passado e todo o futuro de Westeros, foi ao passado e entrou no corpo do Night King vendo nisso a única forma de salvar a humanidade). E, finalmente, ponto quatro… Lembrem-se disto, rapazes: “Valar Morghullis.” “Todos os homens têm de morrer.” Quantas vezes nos foi dito? “All men must die.”

Hipótese nº7: Tyrion Lannister

Certo. A personagem que ganhar o trono de ferro e, portanto, em certo sentido vencer a “Guerra dos Tronos” não será, necessariamente, a melhor personagem da “Guerra dos Tronos”. Grandes, enormes personagens já morreram e muitas das que restam não têm uma hipótese credível de terminarem reis. E isso inclui: Bronn, Sandor The Hound, Varys, Jorah, Brienne, Sir Davos, Jaqen H’ghar, ou mesmo os próprios Jaime Lannister ou Arya Stark.

Tyrion, provavelmente a personagem das personagens, no entanto, tem. Porquê? Bom, há isto: já lhe ocorreu que o mais pequeno dos Lannisters seja, na verdade, um Targaryen? Filho do caso do rei louco com Joanna Lannister, a mãe de Cersei e Jaime? E logo meio-irmão de Daenerys e, sim, também ele tio de Jon Snow? Poderá Tyrion estar no meio de toda a equação, de toda a longa história de sangue, herdado e derramado, que conduz ao trono? Rebuscado? Nem tanto.

Tyrion Lannister

Explicaria o ódio que o “pai”, Tywin Lannister, lhe tinha. O desprezo com que sempre foi tratado. O Lannister feio. O Lannister a quem Tywin diz, com todas as letras, nas suas últimas palavras: “Tu não és meu filho” e em que, na altura, todos ouvimos apenas aquele tom telenovelesco do “tu para mim morreste”? E explicaria algo que Cersei já pressentiu, mas não compreende: o porquê de, ao contrário de todas as outras personagens da série, Tyrion não lutar ao lado da família, mas por Daenerys, mistério que o próprio Tyrion julga explicar-se pelas suas convicções políticas baseadas na liberdade, na justiça e na democracia. Digamos que Daenerys morre. E que Jon abdica. Tyrion é rei.

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E acrescentemos que nada disto é sequer necessário: se ele for filho do Rei Louco, o rei apesar de tudo legítimo que Jaime Lannister assassinou, levando ao poder Robert, o rei que conhecemos no início da trama após a Rebelião, ele, Tyrion, é que é rei de direito. Sem que mais ninguém tenha de morrer. E se ele até souber disto tudo. E for por isso que o preocupa ver Jon entrando para o quarto de Daenerys no último episódio? “I drink and I know things”. Como não beber?

Hipótese nº8: O trono é destruído

Depois de a morte e os dragões terem varrido tudo o mais. Um novo começo para Westeros e para a humanidade. Sim, uma hipótese muito credível para o desenlace da “Guerra dos Tronos” é o fim do trono de ferro. O trono que foi forjado com as armas dos adversários vencidos. O trono que é um símbolo da guerra. O trono que é todos os tronos. Esse trono tem de ser destruído.

O trono

Várias das profecias o veem arrasado. Queimado por um dragão? Pelo fogo-vivo de Cersei? Afinal, que importa este trono? Que bem tem feito? Porque quereria alguém de bem sentar-se nele? Se lá estiveram o rei louco, e Joffrey, e Cersei? E se o ingénuo Tommen e o devasso Robert foram o melhor que lá passou? Se por ele se mataram todos uns aos outros? Muita gente ainda o disputará – e além dos referidos, ainda Sansa Stark (que não acreditamos que tenha uma hipótese honesta de lá chegar) e Stannis Baratheon (que apostamos outro café em como nunca morreu) – mas há-de arder.

E, nesse cenário, quem sobe ao poder? Talvez um filho de Daenerys e de Jon (sim, apesar disso). Ou mesmo de Cersei, sem culpa dos pecados da mãe. Ou de Sam e Gilly. Ou de Missandei e Grey Worm. Ou o próprio Sam. Ou Missandei e Grey Worm. Alguém que represente um novo começo. Escolhido pelo povo que Daenerys tentou, mas não soube realmente libertar. Aquele que encontrará novas formas de governo, que caminhará para a liberdade e a democracia, num tempo em que andam tão necessitadas de quem lhes escreva poemas épicos. Talvez seja a única resposta possível para uma série com zombies e dragões, mas que pareceu sempre estranhamente sobre nós, aqui e agora. Daqui a cinco semanas e pouco, falamos. #ForTheThrone