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JOÃO PORFÍRIO/OBSERVADOR

JOÃO PORFÍRIO/OBSERVADOR

"O mito da cara metade é terrível. Fazemos raios e coriscos para estar numa relação"

Almas gémeas não existem e o amor pode ser tranquilo e sereno. Em entrevista, o sexólogo de "Casados à Primeira Vista" e autor do livro "Deuses Caídos" explica como há pessoas tóxicas no amor.

Antes de participar no programa da SIC, “Casados à Primeira Vista”, Fernando Mesquita já tinha feito nome na área da psicologia: são mais de 15 anos a receber pessoas em consultório, enquanto psicólogo clínico e sexólogo, e são já alguns os livros que leva no currículo, incluindo o SOS ManipuladoresMais de três anos após a sua publicação, Mesquita regressa com uma nova obra, Deuses Caídos (editora Chá das Cinco), onde se propõe a apresentar diferentes personalidades amorosas tóxicas em contexto de relação: pessoas que, numa primeira abordagem, apresentam-se como deuses e que nos fazem acreditar que são especiais.

Esses “deuses” que tendem a cair do altar, finda a paixão, podem ser “Acumuladores de Conquistas Amorosas”, “Ciumentos Patológicos”, “Meninos da Mamã” ou “Fantasmas Digitais”, entre muitos outros. Mais do que falar sobre estas personalidades amorosas, Fernando Mesquita explica ao Observador como a paixão, apesar de uma obsessão, é essencial para que duas pessoas se possam conhecer. Em entrevista, desmistifica mitos e crenças amorosas e também deixa avisos: “Podemos nunca viver intensamente uma relação porque estamos sempre à espera da tampa para o tacho”.

O livro está à venda por 15,50 euros.

O que são “deuses caídos”?
Quando começamos uma relação idealizamos o parceiro ou a parceira: tudo aquilo que ele ou ela faz ou diz é maravilhoso, colocamos essa pessoa num altar e ela passa a ser um deus para nós. A fase da paixão tem esta questão de apagar os defeitos um do outro. Quando estamos apaixonados procuramos mostrar o melhor daquilo que somos, vemos aquilo que queremos ver no outro e também vemos o que ele realmente é: são misturas explosivas que nos levam a endeusar a outra pessoa. Estando há algum tempo na relação, começamos a notar alguns defeitos e a ver que, afinal, este deus que colocámos no altar tem uma ou outra coisa que não é assim tão agradável e que existem características que gostamos menos ou que até nos fazem mal. Aí, o deus cai do altar e passa a ser uma pessoa comum como nós; às vezes, com muitos mais defeitos do que gostaríamos. São estes os deuses caídos.

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Assim sendo, somos todos “deuses caídos”? Afinal, já todos nos apaixonámos e fomos paixão de alguém…
Acabamos por ser deuses caídos no geral. Somos deuses caídos quando nos tornamos reais. Mas, depois, há uns deuses que são mais tóxicos do que outros. Quando somos uma pessoa normal, somos um deus caído, mas saudável. O início do livro dá destaque aos deuses caídos tóxicos.

Quais os sinais de que “endeusámos” alguém?
Há estudos que dizem que não podemos viver mais do que dois anos apaixonados, caso contrário, ficaríamos esgotados. Alguns sinais implicam ficar sem apetite, estarmos constantemente a pensar na outra pessoa e entender que tudo o que ela nos diz como correto: só faz sentido aquilo que queremos ver. Há uma série de transformações, não só em termos do pensamento e da forma de estar, mas também neuroquímicas que nos fazem criar uma adição pela outra pessoa. A paixão é aditiva, há pessoas que não conseguem estar em relações onde não exista a paixão, ou seja, têm de saltar de relação em relação.

"Há estudos que dizem que não podemos viver mais do que dois anos apaixonados, caso contrário, ficaríamos esgotados."

Mas a paixão não acaba por desvanecer?
A paixão desfaz-se ou constrói-se, ou seja, transforma-se. Transformar-se não implica que seja para uma coisa pior, pode transformar-se em algo mais saudável, apesar de não tão intenso.

Quando é que os sintomas da paixão não são saudáveis?
Quando, de alguma forma, começamos a ficar esgotados emocional e psicologicamente só de pensar naquela pessoa. Quando não temos a capacidade de nos distanciar e de ver se a pessoa corresponde mesmo àquilo que vemos. Quando nos fazem alertas e não os valorizamos.

“Raramente um deus caído é exclusivamente Ciumento Patológico, Dependente Emocional, Manipulador, Menino da Mamã, Acomodado, Acumulador de Conquistas Amorosas ou qualquer outro tipo” Pág. 23

Na fase inicial da paixão assistimos ao “maquilhar” de uma personalidade. Até que ponto é que o amor faz com que nos  “enganemos” uns aos outros?
Às vezes iludimos o outro. Muitas das características que apresentamos inicialmente são um pouco trabalhadas no sentido de conquistar e, com o avançar da relação, pode acontecer deixarmos de investir nelas porque não eram coisas naturais. O importante aqui é tentarmos seduzir, conquistar a outra pessoa e cativá-la através de coisas que não nos são um grande esforço… Esta maquilhagem também está um pouco associada à autoestima. Quando nos sentimos amados e desejados, sentimo-nos muito melhor.

Depois, há a questão da intimidade: muitas vezes não dizemos determinadas coisas que gostaríamos de experimentar porque temos receio de que a outra pessoa não receba bem aquilo que queremos. Isso faz com que acumulemos uma série de frustrações. Existem logo tabus à nascença da relação.

"A paixão vai servir para que duas pessoas se conheçam melhor e vai permitir desenvolver a relação que, eventualmente, passa a um estado de amizade ou de amor. Esta fase é importante, mas também é importante que as pessoas procurem ser mais honestas com os outros e até consigo próprias."

Quando é que o jogo de sedução pode ser perigoso?
Há indícios de perigo quando, por exemplo, o que se diz e o que se faz não corresponde à verdade. Ou seja, quando o parceiro ou a parceira nos diz “estive a pensar o dia todo em ti” e, vamos a ver, não mandou uma única mensagem. Aí, podemos questionar-nos. Às vezes isso acontece na própria comunicação, quando alguém diz “só tenho olhos para ti” ou “só penso em ti” ou “nunca te irei trair”… O “nunca” e o “sempre” são coisas complicadas nas relações. Até pode ser dito com as melhores das intenções, mas se formos um pouco mais racionais vemos que, se calhar, o “sempre” e o “nunca” são difíceis de existir numa relação…

Quando estamos apaixonados temos as “defesas em baixo” e não vemos os defeitos uns dos outros. É como um sistema imunitário em deficit?
[Risos] Sim, o sistema imunitário ou o sistema racional. É importante virmos um pouco à terra e vermos o que está a acontecer na relação. Mas também é bom estarmos apaixonados e vivermos a paixão — a paixão vai servir para que duas pessoas se conheçam melhor e vai permitir desenvolver a relação que, eventualmente, passa a um estado de amizade ou de amor. Esta fase é importante, mas também é importante que as pessoas procurem ser mais honestas com os outros e até consigo próprias.

Borboletas na barriga, sensação de se só querer estar com o outro… a paixão também é obsessão?
A paixão é uma obsessão. Já Freud dizia precisamente isso. É perdermos o apetite porque estamos a pensar na outra pessoa. Quando criamos muitas expetativas e pensamos “este é o meu par ideal” é preciso termos consciência de que estamos neste estado emocional. Não devemos ficar presos a estas imagens. Quando as relações terminam neste estado de paixão, em que nós não conseguimos ver os defeitos e o deus ainda não caiu do altar, é quando fica ainda mais difícil afastarmo-nos do outro… porque fica para sempre uma imagem idealizada.

“Freud chegou a nomear o estado de enamoramento como ‘a paixão hipnótica’, pois, neste período, existe uma obsessão pelo outro. É um período caracterizado por uma necessidade intensa de ver, sentir e estar com a pessoa amada. Por outras palavras, aos olhos dos apaixonados, o amado torna-se único e especial… como se de um Deus se tratasse!”. Pág. 33

Eduardo Sá. “Contentamo-nos nas relações, com medo que não venha mais ninguém”

É possível confundir a paixão com o amor? E quando é que uma acaba e o outro começa?
A questão de confundirmos a paixão com o amor é interessante porque, muitas vezes, quando nos dizem “estou apaixonado por ti” começamos logo a questionar se o que sentimos é ou não paixão, se conseguimos ou não corresponder, se estamos ou não a ser sinceros. Às vezes, isto pode levar a que exista uma afastamento na relação por sentirmos que não estamos a corresponder emocionalmente.

Quando as borboletas começam a ficar mais calmas, quando eventualmente até conseguimos dar espaço à pessoa para ter o seu tempo, quando nos sentimos tranquilos, quando não sentimos que podemos perder aquela pessoa a qualquer momento… isto já são indicadores de que estamos numa relação muito mais tranquila. Há quem diga que não conseguimos ficar apaixonados pela mesma pessoa duas vezes. Ou seja, mesmo quando terminamos uma relação com alguém, se voltarmos, a fase de paixão já existiu. Em termos de sentimento de amor, é normal que durante uma relação existem momentos em que nos sentimos mais próximos e mais afastados do outro, não devemos começar logo a questionar se a relação faz ou não sentido.

Com tanta coisa a acontecer, às vezes é mais fácil descurar quem está em casa…
Costumo dizer é que é importante fazermos uma cativação contínua, tal como o principezinho e a raposa. Isso passa por coisas tão simples como dar um sorriso especial quando nos estamos a despedir. Devemos fazer esta cativação contínua sem cobrança. Muitas vezes as pessoas fazem determinados gestos à espera de algo em contrapartida. Isso não é um dar genuinamente, é um dar com alguma intenção. O reforço positivo também é importante. Temos essencialmente duas formas de educar: através da repressão e da crítica, a que estamos muito habituados, ou através do elogio.

© João Porfírio/Observador

JOÃO PORFÍRIO/OBSERVADOR

No livro escreve que “diversas correntes da psicologia afirmam que a forma como se vive o amor se deve, em grande parte, às experiências precoces com os cuidadores primários.” A forma como os nossos pais nos educaram pode influenciar a maneira como amamos?
Não devemos culpabilizar sempre os pais e as mães. De facto, para amarmos temos de aprender a amar e, geralmente, este ensinamento é feito através dos pais. O que se verifica muitas vezes é que os filhos que tiveram pais ou cuidadores primários que foram ausentes e que, de alguma forma, não lhes prestaram o devido cuidado alimentar ou não deram o devido carinho tornam-se pessoas mais distantes, mais frias e desconfiadas na vida adulta. Suponhamos uma relação em que os pais discutem bastante, a criança pode perceber que amar é isso, é estar aos berros um com o outro ou, então, a criança pode ter a capacidade de perceber que quando for adulto não quer nada disto e opta por um comportamento totalmente oposto ao que viu nos pais. É importante que, mesmo entre os pais, exista esta demonstração de carinho e afeto para que as crianças percebam que isso faz parte de uma relação.

"Aquilo que se verifica muitas vezes é que os filhos que tiveram pais ou cuidadores primários que foram ausentes e que, de alguma forma, não lhes prestaram o devido cuidado alimentar ou não deram o devido de carinho tornam-se pessoas mais distantes, mais frias e desconfiadas na vida adulta." 

Pode estar em causa um padrão geracional tendo em conta a forma como amamos?
Há casos em que os pais já não existem e, aí, é preciso fazermos as pazes com eles e percebermos que, se calhar, eles deram-nos aquilo que eram capazes de dar no momento. Muitas vezes não nos sentimos amados, mesmo sendo aquela a forma como os pais nos sabiam amar, precisamente porque os pais deles amaram de determinada maneira. Há pais que, realmente, não fazem esta demonstração de forma consciente, não conhecendo o mal que podem estar a fazer. A generalidade dos pais quer que os filhos tenham o melhor.

A forma como se ama não estará associada a valores da sociedade? Isto é, o conceito de família tem vindo a mudar…
Hoje os pais têm mais atenção em determinados aspetos, mas é possível que os pais dos nossos pais tenham tido outros cuidados aos quais atualmente não daríamos valor, mas que também eram formas de dar amor.

É também importante a forma como a criança capta, interioriza e assimila a informação que recebe. Nesse aspeto, fala em “mitos e crenças culturais” que são passadas de geração em geração. Como por exemplo?
Há aquela ideia de que amar é sofrer. Amar não é sofrer. Temos de desconstruir um pouco essa ideia: o amor é sentirmo-nos bem com a pessoa que está ao nosso lado. Quando sofremos, quando nos sentimos pior do que deveríamos por estar com determinada pessoa, então… talvez isso não seja amor. Muitas vezes associamos o amor dramático ao viver intensamente. Mas há o viver intensamente as coisas de forma positiva ou negativa. Se é um viver dramático onde nos sentimos mal, rejeitados, onde não somos valorizados, isto não é amor de certeza.

"Há aquela ideia de que amar é sofrer. Amar não é sofrer. Temos de desconstruir um pouco essa ideia: o amor é sentirmo-nos bem com a pessoa que está ao nosso lado."

O amor pode ser tranquilo e sereno?
Sim, é esperado que o amor seja tranquilo e sereno.

Há quem associe essa tranquilidade ao comodismo…
Ao comodismo? Não. Às vezes achamos que não gostamos do outro por não sentirmos insegurança ou ciúmes. É possível que isso corresponda a características nossas, a uma necessidade de estarmos intranquilos para sentirmos que o amor existe.

“O mito de que existe uma alma gémea alimenta a ideia de que o amor é algo que parte de fora. Que, quando uma relação não corre bem, a culpa está na pouca sorte que se tem. Ou seja, a responsabilidade pelo sucesso, ou insucesso, da relação está na sorte (ou falta dela) de encontrar o parceiro a que se está destinado.” Pág. 37 e 38

A ideia de existe uma alma gémea também pode hipotecar a nossa felicidade?
A questão da cara metade é quando encontramos alguém, ou estamos à espera de encontrar alguém, e acreditamos que aquela pessoa é a nossa cara metade e, por isso, fazemos raios e coriscos para estar na relação. Mesmo que essa pessoa não nos trate bem, não nos valorize. Este é um mito terrível. As relações devem manter-se quando sentimos que há caminho para percorrer.

O estarmos continuamente em busca da pessoa certa corresponde a um tipo de personalidade. Pode explicar?
Os “crentes patológicos” acontece sobretudo quando se acaba uma relação na fase da paixão e o deus ficou por cair do altar. Assim, podemos comparar durante anos as pessoas que aparecem diante de nós com a tal personagem idealizada ou com aquela pessoa que julgamos ser a nossa cara metade. O mito da cara metade acaba por vir da ideia de que há sempre uma tampa para o tacho… No fundo, é a ideia de que todos nós temos a possibilidade de sermos felizes com alguém que pode ser a pessoa ideal e que pode estar ao virar da esquina. Mas se ficamos vidrados nessa questão, podemos nunca viver intensamente uma relação porque estamos sempre à espera do que não vem.

"O mito da cara metade acaba por vir da ideia de que há sempre uma tampa para o tacho… No fundo, é a ideia de que todos nós temos a possibilidade de sermos felizes com alguém que pode ser a pessoa ideal e que pode estar ao virar da esquina. Mas se ficamos vidrados nessa questão, podemos nunca viver intensamente uma relação porque estamos sempre à espera do que não vem."

“Desesparados por relações amorosas”, “dependentes emocionais”, “crentes plantónicos”, “parceiros camaleónicos”, “parceiros sabonete”, “acomodados”, “meninos da mamã”, “só amigos”, “acumuladores de conquistas amorosas”, “fantasmas digitais”, “viciados em sexo”, “ciumentos patológicos”, “narcisistas”, “manipuladores”. As personalidades que definiu no livro correspondem a pessoas tóxicas?
Têm potencial para serem tóxicas. Agumas podem mesmo ser tóxicas, no sentido de não permitirem que o amor seja vivido plenamente. O livro é um alerta para termos consciência de que existem estes tipos de personalidade. Se estivermos numa relação com um acomodado, em que damos tudo pela relação e a outra pessoa não faz nada, isso é uma relação tóxica; se estamos com alguém que é um “fantasma digital”, que nos cativou, surpreendeu e, de um momento para o outro, desaparece… isto também uma relação tóxica. A mesma coisa com os “parceiros sabonete”, que desaparecem quando dizemos que estamos interessados. Isto não deveria existir numa relação amorosa.  Não é o meu papel enquanto terapeuta dizer à pessoa o que é que tem de fazer, posso dar-lhe algumas indicações, mas a decisão terá de ser sempre dela.

Quais são as personalidades amorosas mais frequentes em consultório?
Ao longo dos vários anos de consulta, fui identificando estes padrões tendo em conta as histórias que me foram contando. As personalidades que defini correspondem a casos de pessoas e vivências que foram surgindo frequentemente em consultório. Nesse sentido, aparece de tudo um pouco. Há alturas em que os “desesperados por relações amorosas” são muito frequentes. Geralmente, são mulheres na casa dos 30-40 anos que dedicaram muito tempo à profissão ou a cuidar de alguém e que, de um momento para o outro, dão por elas sem terem um parceiro ou parceira e começam a questionar o sentido da vida — ter uma relação passa a ser uma prioridade, pelo que muitas vezes deixam-se envolver por outros deuses caídos. Isto acaba por ser muito frequente. São pessoas que começam a isolar-se, a investir menos nas atividades, se saem ou se entram numa atividade é com o objetivo de conhecer alguém, vivem muito para a relação.

“É possível que o amor estimule mudanças na Personalidade Amorosa dos seus intervenientes. No entanto, embora seja possível, não é aconselhável assumir um compromisso com base na expetativa de que o parceiro vai mudar.” Pág. 46

E as mais perigosas?
Todas elas têm características perigosas. Os “fantasmas digitais” seduzem e, de um momento para o outro, deixam de ter qualquer tipo de contacto — quando eles ou elas desaparecem é quando a outra pessoa já está na fase da paixão; quem é vítima deste tipo de pessoas passa a ser invadida por questões e não tem as respostas. É terrível para quem fica.

Como o ghosting?
Sim, é o fantasma digital.

"Há várias causas para que alguém se torne tóxico. Pode ser uma a questão da baixa autoestima. Tendo uma baixa autoestima, podem existir vários tipos de comportamento: há pessoas que são constantemente pessimistas, que tudo lhes corre mal e que levam uma carga negativa consigo; há outras que mascararam a baixa autoestima com um comportamento narcisista e que se tornam perfecionistas de maneira a esconder as suas fragilidades. Não é assim tão fácil identificar uma personalidade típica de uma pessoa tóxica."

O que é defeito e o que é tóxico?
Um defeito é algo que vemos ser uma característica da outra pessoa, mas que não nos afeta ou incomoda tão diretamente. Tóxico é quando essa característica nos afeta diretamente. Às vezes o mesmo comportamento pode ser um defeito para algumas pessoas e tóxico para outras.

É possível lidar com uma pessoa tóxica?
É possível, mas ela vai fazer-nos mal. Podemos cruzar-nos com várias pessoas tóxicas, até no trabalho. É possível, mas talvez devêssemos procurar evitar esse tipo de pessoas, sobretudo se sentimos que determinada pessoa nos suga a energia. Mas, lidando, importa que não nos deixemos afetar por elas, precisamos de ter a consciência de que nem tudo aquilo que elas dizem corresponde à verdade.

O que faz uma pessoa ser tóxica?
Há várias causas para que alguém se torne tóxico. Pode ser uma a questão da baixa autoestima. Tendo uma baixa autoestima, podem existir vários tipos de comportamento: há pessoas que são constantemente pessimistas, que tudo lhes corre mal e que levam uma carga negativa consigo; há outras que mascararam a baixa autoestima com um comportamento narcisista e que se tornam perfecionistas de maneira a esconder as suas fragilidades. Não é assim tão fácil identificar uma personalidade típica de uma pessoa tóxica.

Há alguma prevalência de género em relação aos manipuladores?
Não, às vezes há a ideia de que as mulheres são mais manipuladoras, mas não. Se calhar há homens que podem ter este tipo de comportamento, de manipulação, mas que culturalmente ainda não são tidos como tal.

Cuidado, talvez esteja a ser manipulado (no trabalho, nas amizades e no amor)

Tendo em conta o programa em que participou há pouco tempo, “Casados à primeira vista”, algum dos intervenientes se enquadra nas personalidades amorosas apresentadas no livro?
Não posso identificar, mas se calhar vimos lá “meninos da mamã”, “acomodados”, “parceiros sabonete”… até “manipuladores”. Vimos ali muitas relações tóxicas, algumas que nem chegaram a ser relação. Vimos também “crentes platónicos.” Vimos muitas coisas, mas o livro já estava escrito antes de eu entrar para a experiência.

Deu para ajudá-los?
No programa fizemos algumas intervenções SOS, não fizemos psicoterapia com eles. Fizemos algum acompanhamento, demos algumas sugestões… Trabalhar estas questões da personalidade é uma coisa que leva tempo, que requer um espaço próprio, não era o momento adequado. O engraçado é conseguirmos ter visto estas personalidades numa fase inicial, ou seja, como não houve a paixão, a maior parte dos intervenientes não foi idealizado, viu-se logo o ser natural ao invés da imagem idealizada. A paixão é importante para unificar o casal. Muitos deles não trabalharam tanto como se estivessem numa relação que tem os passos todos. Eles estavam 24h juntos e mesmo no namoro temos períodos em que estamos sozinhos e podemos fantasiar sobre a outra pessoa. Seria interessante eles conhecerem-se no altar e estarem algum tempo afastados para puderem fantasiar.

Porque é que acha que há tantos programas na televisão sobre o amor?
Há agora, porque o amor andou aí adormecido durante uns tempos. As pessoas, apesar de tudo, ainda acreditam muito no amor e que é possível ser-se feliz com alguém a seu lado.

Vai haver uma segunda temporada dos “Casados”?
Foi-nos dito que vai haver uma segunda temporada, não sei se com os mesmos terapeutas. Foi-nos dito para estarmos em alerta.

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