São importantes para o “boneco” das televisões. Quando não há “bolhas” de jotinhas a proteger os candidatos, acabam por ser barómetros da rua. As arruadas — que muitos dizem ter caído em desuso — alimentaram boa parte das agendas das campanhas em Lisboa. Pessoas zangadas, outras felizes com o beijinho dos que antes só viram na televisão, confettis pelo chão e panfletos que, muitas vezes, são deixados no caixote do lixo mais próximo. O Observador passou nas ruas depois das caravanas políticas e descobriu que uma alegada estrangeira afinal era lisboeta de gema, que há quem se tenha enervado muito com o presidente da câmara por a autarquia não a deixar dar água a pombos e quem mude a versão quando os candidatos viram a esquina. Nenhum deles muda, no entanto, o voto com a passagem da arruada.

Fernando Medina tinha andado por ali, minutos antes, em abraços, beijinhos, selfies e tudo quanto a campanha obriga. Uma das eleitoras que o cumprimentou foi Suzete Seita, de 85 anos, que agora está sentada no banco do jardim da Praça Paiva Couceiro, com a bandeira do PS à meia-esquadria, duas rosas na mão e um ar de quem não tem pressa para ir a lado nenhum. Costuma sentar-se naquele banco, onde até sabia que — naquela terça-feira à tarde — “ia estar a Sofia”. A Sofia (Dias) é a presidente de junta da Penha de França, nela vai “votar de certeza”. Para presidente de câmara, “talvez no Medina”. E pergunta: “Quem são os outros?”. Após ouvir os nomes dos outros candidato, complementa: “Sim, sou capaz de votar nele. Ele é PS, como eu”.

Minutos antes, tinha feito questão de estar de pé, ainda com muita genica para a idade, para dar dois beijos ao candidato do PS. A dona Suzete sempre foi socialista. Ou quase sempre. “A seguir ao 25 de abril fiquei influenciada pelo MRPP e depois ainda estive presa em Caxias. Mas foram só dois dias. Depois disso, fui sempre socialista“. Entretanto, uma vizinha interrompe-a para lhe pedir uma das rosas, ao que responde com a frieza de quem já não tem idade para fazer fretes: “Vá a elas [as “jotinhas” do PS] que têm muitas para dar. Eu só tenho duas”. Com o avançar da conversa a sua determinação em votar PS aumentou. “Vou mesmo votar neles e até vou atrás deles”. Levantou-se do banco e, de bandeira na mão, avançou para a arruada que já dobrava a esquina da Morais Soares.

É uma festa, trouxemos confettis. “Não da minha varanda”

A descida socialista da Morais Soares, na terça-feira, foi uma festa. E os socialistas levaram confettis. Não puderam foi lançá-los por todos os locais onde tinham planeado inicialmente. Durante a arruada, Fernando Medina foi abordado por uma eleitora zangada que fez questão de dizer ao autarca que não tinha permitido lançarem os papelotes da sua varanda porque a câmara “nem sequer deixa dar água aos animais e água não se nega a ninguém!”. Isto enquanto colocava o dedo em riste junto à cara de Medina. “Aos pombos? Isso não deixamos”, atirou Medina enquanto a senhora continuava a falar. Acabou-se o interesse na conversa para o autarca. “Ok, está bem”, disse o candidato seguindo caminho.

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A mesma eleitora explicava mais tarde que “tinha de lhe dizer [a Fernando Medina] na cara” tudo que lhe “ia na alma”. Ao Observador não quer dizer o nome: “Ponha Anabela, que é o meu nome ao contrário. E, se quiser, ponha Silva no apelido, mas aviso-lhe já que é mentira”. Seja Anabela Silva. A equipa do PS foi-lhe pedir, horas antes, “para lançar confettis da janela“, mas não deixou. “Nas últimas eleições, quando era o Costa que ia passar aí deixei, mas desta vez não deixei. E disse isso ao Medina“.

Meia-hora depois do encontro com Medina, explicava ao Observador que ainda estava “muito enervada”. A guerra com a câmara até começou na rua onde mora Fernando Medina. “Eu trabalhava na Avenida Luís Bívar e tinha lá um cão, o Snoopy, que até apareceu em televisões internacionais quando veio cá o Papa. E havia um indiano na rua que não dava água ao cão e eu metia lá os bebedores com água para o cão dele. Um dia apareceram os funcionários da câmara a multarem-me. Por dar água ao cão. Já viu?”, contou indignada. No domingo, Anabela talvez fique em casa e contribua para a abstenção: “Ainda não sei se vou votar. E se for, é para votar no partido dos animais [o PAN]”. Costa ainda teve direito a confettis da varanda de Anabela, com Medina acabou-se a festa.

“How are you?” Estrangeira para Teresa era afinal a dona Manuela

E se Medina não teve paciência para a conversa dos pombos na Morais Soares, Teresa Leal Coelho não parou tempo suficiente para perceber quem tem à frente. Seguia ao lado de Marques Mendes pela Guerra Junqueiro quando — tal como a (pequena) mancha laranja que a acompanhava — se aproximou de uma idosa que descansava num banco. A candidata do PSD percebe que se trata de uma estrangeira e começa a falar-lhe em inglês. Como não é eleitora, a comitiva não fica ali muito tempo. O que a candidata nem percebeu é que a suposta “inglesa” estava a ler o jornal “Destak”. Pode ter sido enganada pelo “k”.

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Tratava-se de Manuela Cardoso — nascida e criada em Lisboa, mas com aparência do norte da Europa — que não parava de rir após a passagem da comitiva do PSD, ao contar a história. “Ela começou-me a falar em inglês, pensou que era estrangeira e disse ao Marques Mendes que eu era inglesa”. E o que é ela lhe disse? “Não sei. Que eu sei pouco de inglês“, conta a lisboeta. Podia dizer-se que a candidata do PSD perdeu a oportunidade para ganhar um voto, mas não.

Manuela — que nem teve tempo de dizer que era afinal portuguesa — já sabe em quem vai votar. Primeiro vai dizendo que é secreto, depois que a cidade “tem melhorado muito” nos últimos anos. E, por fim, já a conversa vai longa, lá confessa: “Pronto, vou-lhe dizer: Gosto muito deste, do Medina.” Quanto a Marques Mendes, que também a abordou como estrangeira (influenciado pela análise de Teresa Leal Coelho), Manuela confessa que gosta “muito de o ver na SIC“, mas também não é isso que a levará a votar PSD.

Não muito longe dali, Sofia Matias e Emília, duas reformadas, vão comentando a passagem da comitiva do PSD. Ambas explicam a passagem em poucas palavras: “Passaram por aqui e deram-nos um papel”. Nem o vão ler, pois não é isso que muda o voto no domingo. Emília toma a dianteira da conversa: “A gente já tem mais ou menos uma ideia em quem é que vai votar. Não é eles passarem aqui que muda isso”.

A questão é se vão ter vontade de ir. E também não são as arruadas que as mobilizam. Sofia Matias não tem dúvidas de que se for às urnas “é para ir votar pelo Medina” e complementa: “Já disse ao meu filho: se for votar, é no Medina. E ele acha bem“. Emília não está tão convencida e reclama com a falta qualidade dos transportes. Sofia interrompe: “Bem não é tudo mau, estamos sentadas neste banquinho, que é novo“. Ao que Emília riposta: “Isso é porque é eleições. Olhe aquele muro ao pé da nossa casa, foi todo pintadinho de branco pelo Costa. E quando? Antes das outras eleições“. Ambas vão pedindo desculpa, com Emília a assumir, mais uma vez, as rédeas da conversa: “Desculpe lá, menino, a gente não percebe assim muito de política”.

Na Avenida de Roma a marcha do PSD ouve apitos, de apoio. Na calçada, mais atrás, uma mulher liga ao marido: “Sabes quem é que passou por mim agora e me cumprimentou, aquele baixinho da televisão. (Silêncio) Não, não, não é Vitorino, é dos outros, do PPD, é o Mendes. É o Marques Mendes.”

Joaquim Calhas também cumprimenta muito bem Marques Mendes, mas avisa que é “socialista”. Ao Observador explica que “respeita todos os partidos“, embora haja políticos que são uma “cambada de aldrabões”. Não tem saudades de Passos nem de Portas, que “iam seguir o caminho que a Alemanha queria e íamos continuar a ser sugados”.

Depois de Marques Mendes passar confessa que “não vai muito à bola” com o ex-líder do PSD e que até prefere “ouvir o Sarmento na televisão“, que acredita ser mais “isento“. Mas há mais sociais-democratas que são para si referências: Sá Carneiro era “um homem extraordinário”, Marcelo um homem que admira” imenso” e até Santana Lopes “que pronto até assim um pouco aldrabão, mas ‘amanda-se’ para a frente e faz as coisas. Na Figueira até foi para a frente de mais e deixou tudo empenhado, mas pronto, faz e ‘amanda-se’ para a frente”.

Joaquim é do PS e, “se tudo correr bem“, votará em Medina para a câmara. Para a junta, de Santa Clara, votará tudo menos no PS: “Não gosto da presidente de junta não vou votar nela”. Entretanto, vai segurando os panfletos do PSD, deixando para trás o do Lidl que lhe acompanhava a tarde. Vai ler? “Sou capaz de ler isto. Isso sou. Eu gosto de ler estas coisas“.

“A mim ninguém me matou a fome. Eu voto em quem quiser”

Num mercado da Ajuda quase vazio, saem as últimas bandeiras da CDU. O mercado é dividido ao meio: uma parte alimentar, outra de vestuário. Pouco depois da saída dos comunistas, há uma espécie de zaragata. Uma das trabalhadoras revolta-se e diz, aos gritos e muito irritada a outra comerciante: “Assim que eles saíram, veio logo a velha do PS dizer: ‘Vocês ciganos têm de votar no PS, que o PS já vos matou muito a fome, não é na CDU’. Mas quem é que ela pensa que é? A mim ninguém me matou a fome. Eu voto em quem quiser!“.

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Por ali há muitos socialistas, mas também comunistas. Na última quarta-feira antes das eleições, pela manhã, assim que a comitiva comunista vira a esquina Isabel Santos, vendedora de fruta, começa a gritar: “CDU, CDU, CDU!” Ninguém a acompanha. “Então não têm força, camaradas? Ainda não tomaram o pequeno almoço?“, questiona entusiasmada. Ao aproximarem-se da banca, dá as boas-vindas aos “grandes camaradas”, a quem recorda: “O nosso partido é pequeno, mas é o melhor.”

Meia-hora depois, quando o Observador volta ao local, Isabel começa por dizer, desconfiada com as perguntas, que pela força das campanhas que ali passaram “deve ser o PS que vai ganhar”. Mas logo acrescenta, que não é “da mesma cor deles”. Tal como tinha garantido ao candidato comunista João Ferreira, a vendedora da banca 25 é “comunista desde o 25 de abril”. O pai era, o marido também. Chegou a ser delegada sindical e a CDU contará com o seu voto, mas achou os seus camaradas “muito caladinhos, muito sem forças”.

Adelino, da banca da fruta, depois da caravana passar, confessa que anda mesmo fora do assunto e que nem sabia que “agora o PCP é a CDU”. É assim desde que a APU passou a CDU em 1987. O vendedor diz que todos os políticos que ali passam “são muito simpáticos”, mas apenas “antes das eleições”. Depois de dia 1 de outubro esquecem tudo: “Dizem hoje uma coisa, depois das eleições dizem outra”. Apesar desse desalento, vai votar (“é quase um dever que a gente tem, não é?“) e para a cidade só tinha um desejo: “Se eles fizessem depois das eleições tudo o que prometem, a coisa ficava ótima”.

No mesmo mercado, o cortador de carnes Jorge Cunha explicou a João Ferreira que é socialista, mas a nível local vota PCP. O candidato aproveitou para dizer que é “sinal que reconhece o valor da CDU nas autarquias locais”. Mais tarde, Jorge contaria melhor a história ao Observador. A nível nacional vota PS, mas a nível local, em Corroios (Seixal), vota CDU.

Considera-se um “moderado” entre o PS e a CDU. Diz que o PS é “do patronato” e a CDU dos “trabalhadores”. Assim — como “toda a vida” foi patrão de si próprio — está “no meio dos dois”. Até porque o PCP já está mais moderado e o PS, às vezes, fá-lo sentir com “pedras no sapato”. E conta: “Eu admirava o Sócrates e até prova o contrário dou-lhe o benefício da dúvida, mas vê-se que há ali qualquer coisa”. Pelo mercado da ajuda já viu passar muitas arruadas e cumprimenta todos. Mas, por ele, Passos e Portas “não voltavam a aparecer na TV.”

O professor que o PS ouviu, com paciência, fora da azáfama

A meio da Morais Soares, um professor da Escola Superior de Comunicação Social, Carlos Nuno, ao deparar-se com a arruada do PS, aproveita para expor os problemas de forma educada. Não tem tempo de falar com Fernando Medina, mas dois membros da comitiva saem para o ouvir, pacientemente.

Carlos Nuno — já a comitiva ia longe e já sem se ouvir os acordes da orquestra do PS — explica ao Observador que “não é por causa destes espetáculos de rua” que as pessoas votam nos candidatos, pois felizmente há “propostas, programas e debates públicos”. Não tem nada contra arruadas e interessa-se mais pelos problemas da cidade. Foi um deles que transmitiu aos membros da equipa de Medina. “A minha queixa é quanto à impossibilidade dos moradores poderem utilizar o automóvel“, lamenta.

Carlos garante que já experimentou todo o tipo de transportes públicos, mas “num ano” perde “um mês de vida” quando opta pelo metro ou pelo autocarro. Além disso, nos últimos anos, a liderança do PS teve a “brilhante ideia de retirar lugares de estacionamento”. Mas os homens de Medina responderam-lhe “o mesmo de sempre, que esperam regular o estacionamento com parquímetros, o que nunca acontece“.

José Lopes, cortador de carne de 56 anos, cumprimentou Medina de fugida. Não teve tempo de lhe dizer o que acha que está mal na cidade: o estacionamento. A arruada pouco ou nada muda no seu voto: “Cumprimentei-o tal como cumprimentei o Jerónimo e a Cristas. Isso não muda o meu voto.” Este cortador de carne mora perto de Alverca (e não vota em Lisboa), mas lamenta não ter um lugar para estacionar perto do trabalho que não seja pago. Assim, deixa o carro em Chelas e vai de metro para o talho na Morais Soares. Ou melhor, para a Alameda, já que a estação de Arroios está fechada para obras. Resultado: “Podia levantar-me às 06h30 e acordo todos dias às 05h00”.

Ali perto, no café Ribeirão Preto só há uma queixa: o metro está fechado. Mesmo na esquina da Morais Soares com a Almirante Reis, em plena Praça do Chile, o café perdeu “um terço dos clientes” com o encerramento (que é temporário, por 18 meses) da estação. O dono “por acaso” não se lembrou de dizer nada a Medina quando o cumprimentou, mas se tivesse outra oportunidade até diria: “Veja lá se despacha isso [as obras do metro], se for preciso a gente vai ajudar”.

Já é a segunda vez que Manuel Primo, 78 anos, vê uma arruada passar nestas autárquicas. “Ontem passou por aqui a Cristas e beijou-me. Não escreva isso aí… Vá, pode escrever”, conta. Sobre o mar de gente do PS com quem se cruzou, explica que “não muda nada”, já sei em quem vou votar: “Voto sempre no PS: seja para Presidente, primeiro-ministro ou para a câmara é sempre do PS.”

“Só se lembram de nós, os do bairro, quando há eleições”

No bairro são muitos os grupos que estão a cada esquina à espera das oportunidades que não têm. Assunção Cristas, em dia de aniversário, acabou de passar para mais um encontro com a Associação de Moradores do Bairro da Cruz Vermelha. Entra em casas com quartos onde dormem cinco pessoas e passa por divisões onde a luz não acende por culpa da humidade. Esses moradores fizeram pedidos na hora, mas outros não têm tempo de se queixarem. Passem mais perto ou mais longe, a marcha de políticos alimenta sempre o falatório no bairro.

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Numa das esquinas estão seis mulheres. Uma lê um dos folhetos de Assunção Cristas para as restantes como quem está a ler uma composição na escola para o resto da turma. Com algumas pausas e pouca emoção. Mais atrás, num dos cafés onde os homens sem trabalho param à porta, um deles vai-se queixando aos restantes: “Ela [Cristas] disse-me que nos ouve. Mas eu disse-lhe: ‘Dizem que nos ouvem, mas depois das eleições esquecem tudo o que dissémos”.

Num outro grupo também se ouve uma queixa ao fundo: “Ó dona, a ver é se vem cá arranjar o bairro”. A comitiva passa ainda por um grupo de jovens que ali está a jogar às cartas e um deles atira a ganza para o chão ao ver que se aproximam desconhecidos. O cheiro continua no ar, quando Cristas ali passa. Só um ou outro é que se esforça por um boa tarde. Um deles, já Cristas vai longe, diz para os outros: “A ver se ela arranja é aí um sítio para nós jogarmos às cartas em condições, que isto aqui está tudo partido”. Os jogadores de cartas seguem como se nada fosse.

Durante a visita, a moradora mais indignada (de mais para querer dar o nome ao Observador) vai protestando após a passagem de Cristas: “Não quero aqui nada desta gente. Saiam daqui e vão mas é dar casas a quem precisa. Ladrões! Só se lembram da malta quando há eleições. Os miúdos ali do bairro nem um parque têm para brincar. Saiam mas é do bairro depressa antes que eu me comece a passar a sério“.

PS prometeu emprego, Bloco desejou “boa sorte”

O percurso que Fernando Medina fez na terça-feira em Lisboa — entre a Praça Paiva Couceiro e a Praça do Chile — foi, precisamente, o mesmo que Ricardo Robles fez na quinta-feira ao lado de Catarina Martins. O Bloco segue mais lento pára mais tempo para falar com as pessoas, mas a estrela, que suga quase todas as atenções, é a líder.

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Já a chegar à Praça do Chile, Catarina Martins fica uns minutos à conversa com um leitor, que lhe pedia qualquer coisa. Desejou-lhe “boa sorte” e retirou-se. Minutos depois, Paulo Moura, desempregado de 51 anos, conta ao Observador o que pediu à líder bloquista: “Pedi-lhe trabalho. Trabalhei como assistente de cantoneiro durante três anos, a recibos verdes, e depois fiquei desempregado“.

Aconteceu-lhe de tudo na mesma altura. Fico desempregado, a mãe morreu e, por isso, o senhorio subiu-lhe a renda de 150 para 350 euros. Tem procurado trabalho em todo lado, mas não consegue. A junta de freguesia da sua zona, Marvila, ainda lhe pagou dois meses a renda, mas à terceira já não teve ajuda.

Nas arruadas tem “falado com os políticos todos” a “pedir trabalho”. Catarina desejou-lhe boa sorte, Robles Paulo nem sabe quem é e Fernando Medina, cumprimentou-o e encaminhou-o para outros elementos da comitiva. Paulo explica que Medina colocou-o a falar com “dois assistentes dele, que prometeram que iam ajudar. Disseram-me: ‘Se ganharmos as eleições ajudamos’. Se eles ganharem, eu segunda-feira vou lá à junta de Marvila pedir emprego”. Paulo tenta evitar “ir para debaixo da ponte” e começam-lhe a faltar opções: “Talvez vá à Santa Casa pedir ajuda”. As arruadas têm servido para pedir emprego. Quando elas passam fica para trás com os olhos humedecidos e pouca esperança.

Já António Rosa, trabalhador da construção civil, 60 anos, cumprimentou Catarina Martins com um sorriso na cara: “Ela é um espetáculo”, comentava mais tarde na esplanada do café. Pouco depois, contava ao Observador que vai “votar Bloco de Esquerda” no domingo. Sempre votou. Antes na UDP, agora no Bloco de Esquerda. António diz que foi sempre um “homem de esquerda, claro” porque é “trabalhador” e que vota no Bloco porque “é mais moderado que o PCP”. Sobre a arruada, diz que “faz parte” e que “campanha é campanha”, mas que “não é por isso” que muda o seu voto. Também viu passar o Medina, mas explica que a arruada dos socialistas teve “mais fantochada”.

Delfim Rocha — que se apresenta como “marido de uma lojista, cabeleireira” — estava no salão, num piso térreo da Morais Soares, quando ouviu uma música e disse para a mulher: “Pelo som desta música divertida, se são políticos, deve ser o Bloco de Esquerda“. A arruada nada muda o seu voto, pois é “muito de passagem”. Ainda assim considera este tipo de ação “importante” para os partidos se mostrarem, apesar do “folclore”. Gostou de cumprimentar Catarina Martins, que achou “mais baixa do que na televisão”, mas sempre foi mais PS, “mais Mário Soares”. Apresenta-se como sendo da “esquerda moderada”, que escolheu logo após o 25 de abril de 1974. Estava no Terreiro do Paço quando começou a pancadaria durante o discurso de Pinheiro de Azevedo, no célebre: “O povo é sereno. É só fumaça”.

Quando Medina passou, Delfim estava em casa, mas a sua mulher não. “Ele deu-lhe uma rosa”, explica, enquanto acrescenta: “Não tive ciúmes”. Até porque gosta do candidato do PS: “A ver se aquele sorriso não me engana. Ele tem um sorriso simpático, mas às vezes esses são os piores. Como há gente que tem cara de mau e depois é uma jóia de pessoa. Mas gosto do sorriso dele“.