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Corbis via Getty Images

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O que se passa nos seis concelhos onde os casos de Covid-19 são mais do dobro da linha vermelha do Governo?

Em Odemira, a apanha da framboesa acelerou os casos. Em Moura, foi uma professora "super-spreader". Em Rio Maior houve um surto na fábrica do famoso pão. E em Ribeira de Pena, a causa vem da barragem.

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Não é preciso muito para que um concelho como Carregal do Sal, no distrito de Viseu, entre nas zonas quentes da matriz de risco do Governo. Com menos de 10 mil habitantes segundo o último Censos, basta que tenha 12 novos infetados ao longo de duas semanas para cruzar a linha vermelha dos 120 casos por 100 mil habitantes — o suficiente para que o Executivo decida travar o desconfinamento (ou até mesmo faça regredi-lo), tanto naquele município, como naqueles que o circundam, se os números se verificarem durante duas avaliações consecutivas. A próxima acontecerá antes de dia 19, data marcada para a 3.ª fase de desconfinamento, e neste momento há precisamente 19 concelhos no continente que podem ter de voltar de apertar as medidas contra a Covid-19.

Carregal do Sal está entre os seis piores. Segundo António Costa, a incidência neste momento está pelo menos no dobro dos valores limite. Sem falar em números concretos, o primeiro-ministro informou que os dados apontam para uma incidência superior a 240 casos ao longo de 14 dias por 100 mil habitantes. É um aumento considerável em relação aos 97 anunciados ainda na segunda-feira no relatório da Direção-Geral de Saúde (DGS), e que vinham de zero contágios na semana anterior — uma conta que permitia concluir que, entre 10 e 23 de março, tinha havido apenas 10 novas infeções neste concelho de Viseu.

Carregal do Sal: uma residência para fechar com um único idoso causou todo o surto

Como se salta então de 10 novos casos para pelo menos 24 — podem ser muitos mais, mas na conferência de imprensa desta quinta-feira António Costa não esclareceu qual era exatamente a incidência nos diferentes concelhos — ao longo das últimas duas semanas de março? Segundo Rogério Abrantes, presidente da Câmara Municipal de Carregal do Sal, a resposta está numa residência para idosos em Parada, ao cuidado do pároco daquela freguesia por pertencer à Cáritas, que está em processo de encerramento, mas que ainda abriga uma pessoa.

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Em entrevista ao Observador, o autarca explicou que os funcionários do lar continuaram a apresentar-se ao trabalho, apesar de a residência estar para fechar portas desde o início do ano, para acompanhar o único idoso que ainda mora lá dos 10 que a residência costumava acolher. Bastou um dos trabalhadores ter transportado o vírus para a residência para que outros cinco tenham ficado infetados e, nas palavras de Rogério Abrantes, terem “arrastado o problema para casa”. Desde 18 de março até 1 de abril, o concelho teve 34 novos casos.

Todos os inquéritos epidemiológicos relacionados com este surto foram realizados e os contactos já foram isolados. Na quarta-feira passada, o concelho não registou nenhum novo caso de infeção pelo coronavírus; e na quinta-feira seguinte também não. É isso que indica o autarca que, dentro de duas semanas, quando o Governo fizer uma nova avaliação, acha que tudo estará suficientemente controlado para se baixar do limiar de risco e avançar no desconfinamento. Mas “esse bichinho que anda aí é invisível, nem sempre o conseguimos controlar”, lamenta.

Dos 19 concelhos com uma incidência superior a 120 casos a 14 dias por 100 mil habitantes, a tal linha vermelha que dá motivos ao Governo para travar o confinamento em algumas regiões do país se tudo continuar assim dentro de duas semanas, seis são especial preocupantes: além de Carregal do Sal, também Moura, Rio Maior, Odemira, Portimão e Ribeira de Pena estão acima do dobro dessa linha vermelha. O que se passa por lá?

Moura: o caso de uma professora “super-spreading” que espalhou o vírus

Também em Moura, onde os novos casos a 14 dias por 100 mil habitantes têm estado sempre acima do limiar de risco traçado pelo Governo (embora a subir e a descer de semana para semana), as incógnitas prosseguem. Como o Governo não adiantou qual é a incidência exata neste município de Beja, dizendo apenas que estava acima de 240, não se sabe se a situação epidemiológica melhorou e está abaixo dos 386 casos em duas semanas por 100 mil habitantes anunciados na segunda-feira no boletim da DGS; ou se piorou e os números ultrapassam agora essas últimas contas.

Basta que Moura, com uma população de cerca de 15 mil habitantes, tenha 18 novos infetados em duas semanas para ultrapassar os 120 casos por 100 mil habitantes e entrar na zona laranja da matriz de risco do executivo. Para a incidência estar acima dos 240 casos, o concelho teria de registar pelo menos 36 casos positivos desde meados de março. Mas segundo a nova base de dados da VOST Portugal, publicada já esta sexta-feira, o concelho detetou 53 novos casos nas últimas duas semanas, o que resulta numa incidência de 349 casos por 100 mil habitantes. Ou seja, mesmo estando acima das linhas vermelhas do Governo, a proporção de casos diminuiu em relação ao balanço de segunda-feira.

Em conversa por telefone com o Observador, Mário Faria, do Bar do Ateneu Mourense, encontra explicações no desconfinamento que se iniciou a 15 de março. Conta-nos que, após o regresso às aulas presenciais das crianças até ao ensino básico, desencadearam-se dois surtos distintos em escolas. Um deles ocorreu na Escola do Sete e Meio, outro foi detetado na Escola da Porta Nova. O primeiro teve origem numa professora que, estando contagiada, infetou um número anormalmente grande de outras pessoas — um caso de “super-spreading” do vírus sinalizado após a deteção de uma testagem massiva na comunidade escolar.

Odemira: um dos problemas é o dos migrantes da apanha da framboesa

Estar acima de 240 novos casos em duas semanas por 100 mil habitantes não também não tinha de ser necessariamente mau para o concelho de Odemira. No relatório da DGS publicado esta semana, o município registava uma incidência de 336 casos — ou seja, 76 novos infetados num município com cerca de 22 mil pessoas — entre 10 e 23 de março. Tal como em Moura, as métricas podiam ter baixado ou então subido, mas o mapa apresentado pelo Governo após o Conselho de Ministros não o revelou.

É preciso recuperar as publicações feitas pela Câmara Municipal na página de Facebook, baseadas nos dados reportados pela Proteção Civil, para perceber que, nas últimas duas semanas, Odemira teve mais 77 casos, o que perfaz uma incidência de 342 casos por 100 mil habitantes entre 18 de março e 1 de abril. Ou seja, a situação piorou ligeiramente desde a atualização de segunda-feira. Só entre 26 e 29 de março, foram detetados 33 novos casos em Odemira. De 22 para 23 de março já tinham sido mais 20.

A culpa, aponta o comandante Luís Oliveira, dos Bombeiros Voluntários de Odemira, está em dois surtos: um entre os residentes do concelho, cuja origem resulta de uma circulação comunitária do vírus; outro na comunidade migrante, que nesta altura do ano se dedica à apanha da framboesa. Apesar de cada um destes surtos ter provocado sensivelmente o mesmo número de infetados, é o último que causa mais preocupações à população: vem aí o pico da campanha, haverá mais gente dedicada à apanha da framboesa e, por isso, mais trabalhadores em contacto.

O problema é que muitos destes agricultores, que estão apenas de passagem pelo concelho de Odemira, ficam alojados em casas sobrelotadas, onde o cumprimento do distanciamento físico nem sempre é possível e onde as outras regras de proteção individual, como a desinfeção regular das mãos e a utilização de máscara, também se torna difícil. É a oportunidade perfeita para um vírus como o SARS-CoV-2 se propagar entre os funcionários e daí para o resto da população daquele concelho.

Rio Maior: 40 casos positivos na fábrica do famoso pão

Em Rio Maior, também foi um surto que fez disparar a incidência de infeções pelo coronavírus no concelho ribatejano. Ana Narciso, natural deste município e jornalista no Oitava Colina, explicou que há um surto de Covid-19 a Panificadora Costa & Ferreira, casa do famoso pão de Rio Maior. Após uma campanha de testagem realizada em 253 colaboradoras, 40 casos positivos foram detetados entre os trabalhadores da fábrica. Alguns deles infetaram os membros das suas próprias famílias.

O panorama em Rio Maior é semelhante ao verificado em Moura e Odemira: o relatório da última segunda-feira indica que, no período entre 10 e 23 de março, o concelho registava uma incidência de 280 novos casos ao longo de 14 dias por 100 mil habitantes — e tinham sido detetados, portanto, 59 novos casos nesse mesmo intervalo. Ora, o primeiro-ministro apontou Rio Maior como um dos concelhos com incidência acima dos 240 na quinta-feira, mas isso não diz muito sobre a evolução epidemiológica no concelho: a incidência tanto podia ter aumentado como podia ter diminuído em relação aos cálculos de segunda-feira.

São os dados de novos casos introduzidos na base de dados da VOST Portugal, que denunciam o veredito: em Rio Maior, nas últimas duas semanas, houve um total de 57 novos casos de infeção pelo SARS-CoV-2. Ou seja, a incidência baixou dos 280 casos em 14 dias por 100 mil habitantes apontados na segunda-feira para 269 entre 18 de março e 1 de abril. Em suma, dos três concelhos onde a evolução epidemiológica não era clara no mapa apresentado após o Conselho de Ministros, Odemira foi o único onde a situação piorou.

Ribeira de Pena: incidência de zero a mais de 240 em 10 dias por causa da barragem

Algo de estranho se passa em Ribeira de Pena: depois de os relatórios de 14 de março (em vésperas de desconfinamento) e de 22 de março terem sugerido que não tinham sido encontrados novos infetados pelo coronavírus no concelho, bastou que cinco fossem detetados entre 10 e 23 de março para que a incidência saltasse para os 83 novos casos em 14 dias por 100 mil habitantes. É essa a conta que surge no ponto de situação publicado pela DGS nesta última segunda-feira. O problema é que, segundo o Governo, a 1 de abril a incidência já tinha disparado para mais de 240 casos ao longo de duas semanas por 100 mil habitantes.

Isso significa que, nestas últimas duas semanas, Ribeira de Pena teve pelo menos 16 novos casos. Foram, na verdade, 17 entre 18 de março e 1 de abril, revelam os boletins epidemiológicos que a Câmara Municipal costuma publicar nas redes sociais e em que cita como fonte a Unidade de Saúde Pública do Alto Tâmega e Barroso. É o suficiente para que a incidência suba para 260 casos a 14 dias por 100 mil habitantes num concelho onde residem cerca de 6.500 pessoas.

Guilherme Pimenta, proprietário do restaurante Cantinho do Churrasco, conta ao Observador que os novos casos foram detetados entre os funcionários que trabalham nas das barragens da região — nomeadamente nas obras de construção da barrragem do Alto Tâmega, que é maior e também concentra mais funcionários. Muitos desses trabalhadores são de Ribeira de Pena, o que terá levado ao aumento da incidência no concelho. Quem trabalha neste ramo costuma almoçar nas cantinas das empresas, o que facilita a transmissão do vírus no caso de apenas um indivíduo estar positivo, mesmo cumprindo à risca as medidas de contenção.

Portimão: surto na construção civil desencadeou testagem massiva

Segundo as declarações de Isilda Gomes, presidente da Câmara Municipal de Portimão, à Rádio Observador, a incidência dos casos positivos de infeção pelo SARS-CoV-2 disparou após terem sido detetados dois surtos no ramo da construção civil. Para compreender quão longe tinha ido a disseminação do vírus na comunidade, a autarquia abriu as portas do Portimão Arena para fazer uma testagem massiva a que qualquer cidadão podia recorrer. Em 1.500 pessoas sujeitas a teste rápidos, 9% — ou seja, 135 — testaram positivo à presença do SARS-CoV-2.

Isilda Gomes acredita que a taxa de positividade registada neste exercício prova que, afinal, a transmissão do vírus não está a ser disseminada e que ela está contida a determinados setores da sociedade. Por isso, a Câmara Municipal vai investir numa testagem setorial, que vai abranger pescadores, funcionários de hotéis, trabalhadores da construção civil e padarias, taxistas, funcionários no ramo da segurança privada, trabalhadores de apoio domiciliário e dos mercados.

Entretanto, todos os casos relacionados com os surtos na construção civil — e que na maioria das vezes foram detetados em contexto familiar desses construtores civis e nos seus locais de trabalho, em várias obras do concelho — foram identificados e isolados imediatamente. Por isso, os resultados positivos que contribuíram para a alta incidência em Portimão “eram esperados”, relativiza Isilda Gomes: as pessoas “já estavam em isolamento e já não estão na comunidade”, por isso as cadeias de transmissão já foram cortadas.

Portimão. “Vamos fazer testagem massiva por setores”

Dos seis concelhos com pior situação epidemiológica no país, Portimão é o maior em termos populacionais: tem cerca de 55,6 mil habitantes, o que significa que precisa de detetar 67 casos de infeção pelo SARS-CoV-2 para alcançar a linha vermelha dos 120 novos infetados em duas semanas por 100 mil habitantes. Para constar na lista dos piores municípios, registou pelo menos o dobro disso no mesmo período de tempo: 134 novos casos.

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