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A Áustria foi dos primeiros países europeus a desconfinar
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A Áustria foi dos primeiros países europeus a desconfinar

BARBARA GINDL / APA / AFP) / Austria OUT (Photo by BARBARA GINDL/APA/AFP via Getty Images

A Áustria foi dos primeiros países europeus a desconfinar

BARBARA GINDL / APA / AFP) / Austria OUT (Photo by BARBARA GINDL/APA/AFP via Getty Images

O sucesso austríaco explicado por quem o vive: bloqueio antecipado, conformidade do povo e o mau exemplo dos vizinhos de Itália

Sem aumento de contágios, Áustria vive dias de otimismo após uma "dura intervenção". O bloqueio antecipado e o espírito dos austríacos, "cumpridores mas não alarmistas", são a "chave do sucesso".

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Grávida de gémeos, Lucia Herzog, eslovaca a viver há 16 anos na Áustria, ainda se recorda do momento em que, em plena confusão num dos supermercados de Graz, se agarrou à barriga com medo de ser derrubada. Ainda o confinamento não tinha sido declarado no país e já as pessoas “estavam loucas”, a comprar “muita comida, muita cerveja e papel higiénico”. Quase dois meses depois, a descrição mostra uma realidade bem diferente. Apesar de se ter habituado a ficar em casa, Lucia já vê mais pessoas na rua e está feliz por as lojas do país terem reaberto, incluindo o IKEA: vai, finalmente, poder comprar um berço — no caso dela são precisos dois — e ter a companhia do marido nas consultas de rotina. Por causa das imposições em tempos de pandemia, ele faltou a duas ecografias. “Penso que as regras foram restritivas, mas o bloqueio foi eficiente”, diz em conversa telefónica com o Observador. “Estava com medo que o meu marido não pudesse assistir ao parto.”

A Áustria tem sido referida como um exemplo europeu no que toca à rapidez com que se tomaram medidas para combater a propagação do novo coronavírus. Depois de um confinamento de âmbito nacional e restritivo, a vida começa agora a regressar a uma normalidade possível, ainda que o uso de máscaras seja obrigatório em alguns contextos e ainda haja sectores da economia de portas fechadas.

O país pode ter optado pelo confinamento depois de Itália e de Espanha, a 16 de março, mas fê-lo numa altura em que registava muito menos casos: 1.132 infetados e apenas três mortes (a 15 de maio o país contabilizava 16.054 casos confirmados e 628 vítimas mortais; 14.471 pessoas estão recuperadas). Antes já as autoridades tinham decidido fechar centros educativos, bem como as fronteiras com a Itália. O confinamento da população austríaca foi acompanhado pelo encerramento de todos os serviços não essenciais e espaços como escolas, cafés, bares, restaurantes e salas de espetáculo, um pouco à semelhança do que aconteceu por cá.

A 14 de abril começaram a ser levantadas algumas das restrições como resultado do número cada vez menor de infeções. Juntamente com a Dinamarca, a Áustria foi também dos primeiros países europeus a anunciar uma data de regresso à tal nova normalidade, que ficou marcada pela abertura de lojas consideradas “não essenciais” até 400 metros quadrados e pelo uso obrigatório de máscaras nessas lojas e nos transportes públicos.

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“A primeira etapa foi muito bem gerida. (…) A situação está muito estável, tomámos as decisões certas no momento certo.” A primeira fase de desconfinamento foi superada sem aumento de contágios, tal como anunciou, a 5 de maio, o ministro da Saúde austríaco Rudolf Anschober. Em conferência de imprensa, citada pela Lusa, assegurou que o país ia prosseguir com o alívio das restrições: este sábado, 9 de maio, reabriram todas as lojas de comércio no país, e na sexta houve o levantamento oficial das medidas restritivas de circulação de pessoas (ainda que o teletrabalho continue a ser incentivado pelas autoridades). Já os cafés e restaurantes deverão estar de portas abertas a 15 de maio e os hotéis a 29. Após o regresso às aulas dos estudantes finalistas do liceu, os restantes níveis de educação escolar são retomados a 18.

“A primeira etapa foi muito bem gerida. (...) A situação está muito estável, tomámos as decisões certas no momento certo.”
Ministro da Saúde austríaco, Rudolf Anschober, a 5 de maio

Confinamento e responsabilidade da população foram “a chave para o sucesso”

O aumento diário de novos contágios no país, que chegou a estar próximo dos 50% quando o confinamento foi imposto, situava-se a 5 de maio no nível mínimo de 0,2%. Para Günter Weiss, da Universidade Médica de Innsbruck, o lockdwon aconteceu numa altura em que o número de infetados ainda podia ser controlado pelas autoridades locais e não corria o risco de sobrecarregar os hospitais — aliás, segundo os especialistas consultados pelo Observador, o serviço nacional austríaco nunca correu o risco de colapsar.

O confinamento decretado ainda numa fase inicial foi para este académico o principal motivo por detrás do aparente sucesso da Áustria. Também importante foi “a grande conformidade das pessoas na Áustria, que seguiram todas as restrições”, isto é, ficaram em casa e mantiveram a distância social quando necessário. “Isso foi a chave para o sucesso”, afirma Günter Weiss, do departamento de medicina interna que se ocupa de doenças infecciosas, imunologia, reumatologia e pneumologia. “Ao fim de aproximadamente três semanas [de bloqueio] o número de pacientes e de novas infeções estabilizou e diminuiu até um ponto em que temos menos de 100 infeções por dia na Áustria nos últimos dias.” Dados oficiais mostram que a 11 de maio registaram-se 72 novas infeções; a 12 de maio outros 38 contágios; a 13 uns 59 e a 14 de maio 33 novos casos.

Estas fotografias de Graz, na Áustria, têm sensivelmente um mês de diferença, tiradas a 2 de maio e 16 de março, respetivamente

ERWIN SCHERIAU/APA/AFP via Getty Images

Teresa Alves Costa, produtora de conteúdos no LinkedIn, vive há dois anos e meio na Áustria, em Graz — em conversa, chama-lhe o Porto da Áustria, ainda que tenha o ambiente universitário de Coimbra. Mudou-se para o país com o marido e atualmente está de licença de maternidade: Filipe tem apenas 5 meses. Diz que a primeira fase de desconfinamento foi “um sucesso”, embora “ainda não se saiba bem como”. Ao Observador refere uma dupla realidade: se, por um lado, há quem esteja descontente com a reabertura dos serviços, por outro, há pessoas que vivem a situação de uma forma “muito mais relaxada”. A boa performance do país tem raízes no “espírito dos austríacos”, diz, que são cumpridores mas não alarmistas. Foi por isso que Teresa continuou a ver pessoas na rua ao contrário das fotografias que viu de Lisboa, com a cidade completamente vazia. Referindo que os austríacos valorizam muito o ar livre e fizeram passeios em tempos de quarentena, diz também que o chanceler sempre enfatizou que se podia sair de casa por quatro motivos: “Trabalhar, compras essenciais, prestar assistência a familiares e fazer desporto individualmente”. Também Teresa saiu de casa, sempre com o bebé numa mochila na parte da frente do corpo.

“Não senti dureza no confinamento. As pessoas reduziram as saídas ao mínimo essencial. A primeira semana foi estranha. De repente, íamos fechar [o país] e ninguém sabia se havia stock nos supermercados. Mas, ao fim de duas semanas, já se sentia normalidade no ar”, conta Teresa Alves Costa ao Observador. Atualmente há um otimismo suportado pela curva epidemiológica, com o pico de casos alcançado no final de março/início de abril. Agora, as pessoas estão de regresso às ruas. “Diria que na rua só metade é que usa máscaras, não é obrigatório”, comenta — a obrigatoriedade, à semelhança do que acontece em Portugal, é apenas para os transportes públicos e para espaços fechados, como as lojas. Desde o final de abril que a cidade de Graz retomou aos poucos a vida habitual, com os austríacos a aproveitar o aligeirar das medidas. “Parece que já passou.”

"Ao fim de aproximadamente três semanas [de bloqueio] o número de pacientes e de novas infeções estabilizou e diminuiu até um ponto em que temos menos de 100 infeções por dia na Áustria nos últimos dias."
Günter Weiss, da Universidade Médica de Innsbruck

Robert Krause, professor e chefe da secção de Infectologia e Medicina Tropical na Universidade Médica de Graz, também é da opinião que os bons resultados registados devem-se essencialmente ao confinamento antecipado. “Acredito que a Áustria tomou as medidas certas na altura certa”, diz ao Observador. Acredita também que a primeira fase de desconfinamento correu bem e concorda com as declarações feitas a 5 de maio pelo ministro da Saúde austríaco, uma vez que “os números de novos casos estão em níveis muito baixos, pelo que as restrições puderam terminar há alguns dias — por exemplo, as restrições nos movimentos e nas viagens”.

Considerando as fronteiras com o norte de Itália — região duramente afetada pela pandemia — Günter Weiss explica que culturalmente existe uma “interação próxima” entre os dois países. Mas a 10 de março a Áustria fechou as fronteiras com a Itália numa tentativa de travar o surto de Covid-19, numa altura em que já vários países aumentavam de forma progressiva as medidas de contenção. O impedimento à circulação de pessoas entre fronteiras — admitindo-se apenas exceções justificadas com recomendações médicas — fez-se acompanhar pela repatriação de austríacos em território italiano.

Alemães esperam um autocarro no lado austríaco da fronteira entre a Áustria e a Itália a 11 de março; um homem é examinado na fronteira de Thörl-Maglern, na Áustria

Jan Hetfleisch/Getty Images

“No final de fevereiro e início de março percebemos que havia muitos casos em Itália e que o sistema de saúde ia colapsar. Provavelmente, os políticos austríacos tentaram evitar uma situação como a que aconteceu em Itália, daí a intervenção muito restritiva”, continua Weiss. Em retrospetiva, “o timing foi muito bom”. Se o bloqueio tivesse sido imposto uma ou duas semanas mais tarde, era provável que o país tivesse muito mais pessoas afetadas, diz. “Temos conseguido gerir as coisas bastante bem até agora e esperemos [que assim continue]. Nunca usámos mais do que 70% de todas as instalações [médicas].”

Tanto Weiss como Claudia Wild, responsável pela administração do Instituto Austríaco para Análises de Tecnologia Sanitária, referem que, depois da Alemanha, a Áustria é o segundo país europeu com o maior número de camas hospitalares por habitante — um gráfico da Eurostat colocava, em 2017, a Bulgária entre Alemanha e a Áustria. A existência de recursos permitiu que em pleno bloqueio apenas as cirurgias não urgentes fossem canceladas. “Fizemos isto de maneira a manter o equilíbrio entre tratar pacientes com Covid-19 e, ao mesmo tempo, dar os melhores serviços médicos e tratamentos aos pacientes com outras doenças”, acrescenta o académico.

Questionado sobre se existiu cooperação entre os opositores políticos na Áustria — como aconteceu em Portugal —, Weiss salienta que em meados de março todos os partidos estavam de acordo com o governo, estavam todos “no mesmo barco”. Com o passar do tempo, porém, existiu “alguma crítica”.

"Tornaram as coisas muito restritas sem deixar nada para a sabedoria dos cidadãos. Mas isto tem tudo que ver com perspetivas."
Claudia Wild, diretora administrativa do Instituto Austríaco para Análises de Tecnologia Sanitária

As críticas à “dura intervenção” e o foco no Tirol

Claudia Wild também está de acordo no que ao timing do bloqueio diz respeito, mas tem críticas relativamente ao que foi feito a seguir. Ao Observador diz que as medidas tomadas “são polarizadoras”. Admitindo que “regra geral” os políticos austríacos reagiram bem, Wild contesta as limitações impostas: “Exageraram ao serem demasiado restritivos”, diz. “Tornaram as coisas muito restritas sem deixar nada para a sabedoria dos cidadãos. Mas isto tem tudo que ver com perspetivas”, continua Wild, cujo instituto é parcialmente financiado pelo Ministério da Saúde austríaco. “O ministério entende as suas ações como 100% perfeitas, mas há 100 perspetivas diferente neste país.”

Se no início a pandemia era uma realidade longínqua, que remetia para o território chinês, do nada chegou à Áustria com o bloqueio a ser decretado “de repente” pelas autoridades. Foi, pelo menos, essa a perceção de Anita Komarek. Aos 37 anos, a mãe de três filhos, residente em Viena, recorda-se com alguma exatidão do sentimento generalizado de “fim do mundo”, de “armagedão”, que se apoderou dos austríacos, com corridas aos supermercados que também ali fizeram esgotar o stock de papel higiénico. Numa primeira fase, Komarek acatou o confinamento social decretado, mas agora critica as restrições que foram anunciadas umas a seguir às outras, referindo-se mesmo à prática de “salami tatics”, numa ótica de “dividir para reinar”. A queixa remete precisamente para a falta de liberdade aquando do bloqueio: “Tenho três crianças num apartamento, elas ficam doidas em casa”, diz. “Tenho o feeling que o nosso governo ouviu os cientistas errados. Não nos deram escolha. Não nos perguntaram nada e tivemos de obedecer.”

Para Wild não existiam evidências suficientes para que fosse decretado o fecho das escolas. “Quero ver a evidência. Não há razão para que as escolas tivessem de fechar, não há razão para não ser permitido fazermos desportos ao ar livre”, continua, admitindo que a sua opinião corresponde a uma minoria. A 24 de abril, a praça nas traseiras da Ópera Estatal de Viena recebeu aproximadamente 200 protestantes, numa manifestação organizada pela “Initiative for Evidence-Based Corona Information”. Apesar do protesto disperso pela polícia ao fim de uma hora, e que resultou na detenção de uma pessoa, sondagens recentes citadas pela Reuters parecem mostrar um aumento de apoio, durante a pandemia, ao jovem democrata cristão Sebastian Kurz e ao seu partido, que chegou ao governo numa coligação com os Verdes no início do ano.

Outra das críticas é o do forte policiamento nas ruas. Falando do que conhece — mais especificamente da cidade onde vive —, Wild alega que em Viena a “polícia estava em todo o lado” e que conhece várias pessoas que foram multadas por estarem a praticar desporto no exterior. “Eu própria estava sentada num banco, não havia ninguém no parque, e a polícia tentou multar-me. Não confiaram nas pessoas, enviaram a polícia para controlar tudo, isto foi longe demais”, diz, sublinhando que a Áustria terá reagido de forma autoritária devido à proximidade geográfica com Itália. “Penso que a maior parte dos austríacos gosta desta forma autoritária de controlar e de decidir”, continua.

Entre 16 de março e 14 de abril, “havia polícia quase em todo o lado a fazer rondas e a pedir documentos”, confirma Diogo Paciência que está em Salzburgo há sensivelmente um ano. O português de 22 anos que trabalha no sector de eventos também confrima que numa questão de dias “apareceram tantos casos que a estratégia e o discurso do governo mudou completamente”, com a decisão de fechar Tirol a ser, na sua opinião, “uma das melhores estratégias que tiveram”. “Acho que aqui existe uma responsabilidade social mais cuidada ou maior.”

Manifestações contra as medidas implementadas pelo governo para parar a propagação de Covid-19, a 24 de abril e a 1 de maio, em Viena; filas à porta da Zara e do IKEA, a 2 de maio, também em Viena

Thomas Kronsteiner/Getty Images

Günter Weiss esclarece que, efetivamente, o governo procedeu a uma “intervenção dura” e dá como exemplo o que aconteceu no Tirol, um dos estados federados da Áustria cuja capital é Innsbruck. Sobretudo conhecido pelas estâncias de Ski, a região foi sujeita a um bloqueio completo. “Fecharam as estâncias de ski, fecharam os hotéis, fecharam os restaurantes, fecharam todas as lojas à exceção de farmácias e supermercados. As pessoas ficaram impedidas de sair do Tirol por um longo período de tempo. Ficaram em casa, sem poder estar com outros. Isso foi uma grande intervenção no dia a dia das pessoas e também na economia. Aqui, na Áustria, o turismo, sobretudo no inverno, tem um papel muito importante”, explica. Sobre essa situação específica no Tirol, Claudia Wild comenta: “Penso que foi totalmente exagerado, ridículo”.

A quarentena em três resorts de esqui austríacos — St Anton am Arlberg, Sölden e o vale de Paznaun, que circunda Ischgl, pequena localidade dos Alpes austríacos — começou a 13 de março e prolongou-se até 24 de abril, altura em que o trio de resorts ficou sujeito às mesmas restrições impostas na restante Áustria. A estância de ski de Ischgl, conhecida como a “Ibiza dos Alpes” pela sua animada vida noturna, ficou marcada por estar no centro do maior foco de infeção no país, sendo responsável pela contaminação de 800 pessoas, fora os muitos turistas que também ficaram infetados e terão espalhado o vírus por vários países a Europa.

No início de março vários turistas já regressados aos respetivos países começaram a testar positivo para a Covid-19. Não indiferente aos números, a Islândia fez soar o alarme a 5 de março. Porém, houve uma alegada demora das autoridades locais em reagir, tanto que cerca de 4 mil turistas querem agora processar o governo austríaco por negligência. O Reino Unido diz mesmo que o seu paciente zero foi infetado na estância de Ischgl. De referir ainda que durante o bloqueio no Tirol foram proibidas entradas e saídas, com a única exceção reservada aos turistas, de maneira a que estes pudessem abandonar a região.

A “ganância” da Ibiza do ski que ajudou a propagar o coronavírus pela Europa

Como já antes escreveu o Observador, o Ministério Público do Tirol determinou a abertura de uma investigação criminal ao que aconteceu em Ischgl, estando sob escrutínio judicial não só a alegada negligência das autoridades sanitárias regionais, mas também a alegada omissão de infetados por parte das autoridades e dos empresários locais.

O sinal na cidade de Ischgl a 13 de março de 2020

JAKOB GRUBER/APA/AFP via Getty Images

Ao Observador, a austríaca Romina Daghighi, de 31 anos, comenta que a situação no Tirol chegou a ser uma preocupação nacional. A decisão de bloquear a região fez muitos austríacos sentirem que o novo coronavírus tinha finalmente chegado ao país, ainda que numa altura em que Itália já mostrava fragilidades no combate à Covid-19. “Eu vivo em Graz, que fica bem mais perto de Itália. Estava mais preocupada com o país vizinho do que com o que se passava no Tirol.”

As medidas aligeiradas pelo governo não se aplicam necessariamente às fronteiras. A Áustria vai prolongar até ao dia 31 de maio os controlos das suas fronteiras com os países vizinhos, como escreveu a agência Lusa. Em causa estão Alemanha, Itália, Suíça, Liechtenstein, República Checa e Eslováquia, mas também Hungria. O controlo nas fronteiras foi das primeiras medidas decretadas pelo governo de conservadores e verdes.

O medo de uma segunda vaga que “é esperada”

O arranque de um novo mês veio trazer mais descontração às ruas austríacas. O pânico inicial provocado pela pandemia já não se sente de maneira generalizada. Diogo Paciência, que vive em Salzburgo há um ano, diz que esta não é das regiões mais afetadas. Está a trabalhar no escritório desde há duas semanas, numa altura em que o teletrabalho é opcional. “Todas as empresas que não optem por teletrabalho têm de ter máscaras e desinfetantes. Na minha empresa, por exemplo, decidiram que não podemos cozinhar juntos — temos uma cozinha comum — e tudo o que era partilhado entre colegas mudou”, conta ao Observador. “Fala-se no receio de uma segunda vaga. O chanceler já veio dizer que, se os casos voltarem a aumentar, as medidas voltam a existir.” Robert Krause, da Universidade Médica de Graz, confirma precisamente que as medidas agora em vigor estão sujeitas a uma observação feita de duas em duas semanas.

À semelhança do que acontece em muitos países que já começaram a aligeirar as medidas anteriormente impostas numa tentativa de reduzir o número de contágios por Covid-19, também na Áustria se fala com algum temor na ideia de uma segunda vaga. Tanto que o chanceler Sebastian Kurz admitiu ao jornal suíço Blick que esse é “um cenário realista” e que o importante a considerar é se as infeções poderão ser controladas do ponto de vista regional e se os pacientes serão ou não isolados rapidamente.

Este é “um momento crítico para ver se conseguimos ou não manter um número baixo de infetados”, diz Weiss, que destaca duas medidas a serem adotadas pelo governo nesta primeira etapa de regresso à normalidade possível: na Áustria estão a ser testados todos os residentes e funcionários de lares de idosos, de maneira a isolar e conter possíveis infeções numa fase inicial, além de que as pessoas continuam a ser encorajadas a manter a distância de segurança. Há também a questão de usar máscaras em público. Não faz sentido usá-las na rua, diz, mas sim nos espaços de comércio fechados e nos transportes. Já Robert Krause adianta que, se os casos de infeção permanecerem baixos na Áustria, então, talvez as máscaras possam ser dispensadas do ponto de vista legal.

Uma banca em Viena com máscaras feitas à mão, foto de 4 de maio

JOE KLAMAR/AFP via Getty Images

“A segunda vaga é sempre um assunto, mas ninguém sabe se vai ou não acontecer”, continua Weiss, que descreve o seguinte cenário: o que pode ajudar, sobretudo na Europa, é a menor prevalência de infeções respiratórias na temporada de maior calor, uma vez que o verão pode ajudar a reduzir o número de infeções porque as pessoas passam mais tempo no exterior do que no interior, o que é, por sua vez, a grande fonte de infeções. Chegado o frio, a conversa é outra. “A questão é se o vírus vai ou não regressar com mais vigor no outono ou no inverno juntamente com a gripe. Isto é algo que não sabemos, mas é esperado que regresse.”

É por isso que a fase atual é uma espécie de tubo de ensaio: “Aprendemos nas últimas semanas que temos de ser muito flexíveis e adaptar as nossas decisões e medidas ao que acontece. Se tivermos um aumento de infeções talvez sejamos forçados a reduzir algumas das medidas e aumentar as restrições. Por outro lado, se tivermos sucesso e virmos que até ao final de maio, e início de junho, não temos aumento no número de infeções podemos pensar em voltar à vida normal”, diz Weiss.

Claudia Wild, cujo instituto identificou recentemente e a nível global 155 potenciais medicamentos e 79 possíveis vacinas contra o novo coronavírus, argumenta que as circunstâncias falarão por si. Não agora, mas no espaço de um ano.

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