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O Instituto Nacional de Saúde Ricardo Jorge é uma das instituições que se tem dedicado a investigar a evolução da pandemia de Covid-19
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O Instituto Nacional de Saúde Ricardo Jorge é uma das instituições que se tem dedicado a investigar a evolução da pandemia de Covid-19

JOÃO PORFÍRIO/OBSERVADOR

O Instituto Nacional de Saúde Ricardo Jorge é uma das instituições que se tem dedicado a investigar a evolução da pandemia de Covid-19

JOÃO PORFÍRIO/OBSERVADOR

"Omniscientes só os deuses". Porque é que a ciência não consegue ter certezas absolutas sobre nada deste coronavírus? Mesmo nada

Afinal o vírus fica ou não nos objetos e pode contaminar-nos? A pandemia desaparece no verão? Os fumadores correm mais riscos ou a nicotina ajuda? A resposta é só uma: não se sabe. É normal na ciência

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Logo em janeiro, quando a Covid-19 ainda não tinha chegado a Portugal e só havia casos confirmados em 27 países do mundo, um estudo publicado no Journal of Hospital Infection dizia que “os coronavírus humanos podem permanecer infecciosos em superfícies inanimadas por até nove dias” e que “devemos esperar algo semelhante do SARS-CoV-2”.

Em meados de março, uma equipa de investigadores norte-americanos enviou uma carta ao editor do The New England Journal of Medicine, uma das publicações científicas mais prestigiadas da medicina, sobre a estabilidade do SARS-CoV-2, o novo coronavírus, nas superfícies contaminadas. Dizia, por exemplo, que numa experiência feita em laboratório, o vírus continuava infeccioso por mais tempo no plástico e no aço inoxidável do que no cartão e cobre.

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Mas já este mês, apesar dos resultados anunciados por estes cientistas, a Organização Mundial de Saúde (OMS) publicou um documento com uma afirmação que surpreendeu quem se abasteceu de lixívia para combater o novo coronavírus: “À data da publicação, a transmissão do vírus causador da Covid-19 não foi conclusivamente relacionada com superfícies ambientais contaminadas disponíveis em estudos”.

A própria Direção-Geral da Saúde — que numa orientação relacionada com a utilização de transportes públicos insistiu que este vírus também se transmite por “contacto das mãos com uma superfície ou objeto contaminado com SARS-CoV-2 e, em seguida, com a boca, nariz ou olhos” — esclareceu em conferência de imprensa que essa forma de transmissão parece ser “mais difícil”. Graça Freitas citou a OMS, dizendo contudo que nada estava ainda confirmado, e que o melhor era prevenir, o que neste caso significa continuar a desinfetar.

OMS sem provas de contágio da Covid-19 através de objetos recomenda manter desinfeção frequente

Mas perante as novas informações, muitos largaram a lixívia para acusarem de incompetência as autoridades de saúde nas redes sociais. Entre a publicação de janeiro e a indicação quase contraditíria da OMS emitida agora em maio, 5 meses depois, aconteceu algo que justifica a viragem de 180 graus nas informações dadas ao público: ciência. Um mundo feito de avanços e recuos, mais pontos de interrogação do que pontos finais. Ou seja, de muitas dúvidas e incertezas.

Aliás, não foi só sobre a permanência do vírus nas superfícies que houve reviravoltas: quem não se lembra, aliás, das várias posições sobre o uso ou não de máscaras?

Mas perante as novas informações, muitos largaram a lixívia para acusarem de incompetência as autoridades de saúde nas redes sociais. Entre a publicação de janeiro e a indicação quase contraditíria da OMS emitida agora em maio, 5 meses depois, aconteceu algo que justifica a viragem de 180 graus nas informações dadas ao público: ciência.

Pedimos ao virologista Celso Cunha, do Instituto de Higiene e Medicina Tropical, que nos ajudasse a olhar para os estudos de três casos em que os cientistas chegaram a resultados contraditórios ou que as autoridades de saúde adjetivaram de “inconclusivos” para perceber o que esteve na origem dessa disparidade. Encontrámos respostas nos métodos científicos e em alguns problemas na interpretação dos dados.

1.º caso

A influência do clima quente na transmissão do SARS-CoV-2

Desde os primeiros tempos dos estudos em torno do novo coronavírus que se sabe como o SARS-CoV-2 é altamente estável a baixas temperaturas e sensível ao calor. Um estudo publicado no The Lancet, uma das revistas científicas médicas mais antigas do mundo, indica que o vírus é “altamente estável a 4ºC”, mas “com a temperatura de incubação aumentada para 70ºC, a inativação foi reduzida a cinco minutos”.

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Cedo se começou a especular se a Covid-19 podia, sendo assim, ser uma doença sazonal, que surge no outono e inverno mas atenua na primavera e verão com a chegada de temperaturas mais altas — tal como o vírus da gripe, por exemplo. Na falta de respostas, a Universidade de Toronto decidiu analisar 144 áreas para descobrir se aquelas que tiveram temperaturas altas numa determinada semana de março tinham tido menos casos em comparação com outras mais frias.

Num estudo preliminar, a equipa encontrou uma associação entre o crescimento da epidemia com a temperatura e também com a humidade. No entanto, ainda antes de os resultados serem publicados, os cientistas encontraram alguns problemas na metodologia do estudo, como os próprios admitiram neste documento: essa associação deixava de ser evidente “depois da inclusão de outras oito variantes”.

Depois deste aprimoramento, os investigadores chegaram precisamente à conclusão contrária. O relatório final,+ indica que “o crescimento epidémico da Covid-19 não foi associado com a latitude ou com a temperatura, mas foi fracamente associada com a humidade relativa ou absoluta”. Em comunicado de imprensa da Universidade de Toronto, uma das autoras do relatório, a epidemiologista Dionne Gesink, assumiu definitivamente que “o verão não vai fazer isto desaparecer”.

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Mas o caso não termina aqui. No relatório da análise, os investigadores assumem que o estudo tem “limitações importantes”: “O que eles dizem é que os resultados podem estar a ser enviesados por uma série de fatores. A maneira de testar nos diferentes locais pode variar, não têm informações sobre o número de testes feito por milhão de habitantes, as medidas de intervenção são diferentes de área para área, não se sabe o grau de obediência por parte da população, a temperatura que foi levada em conta é apenas a da capital de cada área”, enumera Celso Cunha. E a lista de fatores que pode influenciar o estudo continua.

Ainda assim, como podem os resultados da Universidade de Toronto de alguma forma contrariar as indicações dadas no estudo publicado na The Lancet? É que estes últimos foram obtidos em laboratório, não num contexto real: “Foi feito num ambiente controlado, com determinadas condições de humidade ou pressão, o que pode condicionar os dados. Podem não ser coincidentes com o que acontece no dia a dia. Não são necessariamente inválidos, mas precisam de ser lidos com cuidado, porque apenas se pode dizer que, debaixo daquelas condições, o resultado foi o anunciado”.

Ainda assim, como podem os resultados da Universidade de Toronto de alguma forma contrariar as indicações dadas no estudo publicado na The Lancet? É que estes últimos foram obtidos em laboratório, não num contexto real: "Foi feito num ambiente controlado, com determinadas condições de humidade ou pressão, o que pode condicionar os dados. Podem não ser coincidentes com o que acontece no dia a dia. Não são necessariamente inválidos, mas precisam de ser lidos com cuidado".

2.º caso

A gravidade da Covid-19 em infetados fumadores

Tudo começou com um artigo publicado na plataforma Qeios que dizia que, “com base na literatura científica atual e em novos dados epidemiológicos, o estado de tabagismo atual parece ser um fator protetor contra a infeção por SARS-CoV-2“. Por isso, os autores colocaram em cima da mesa uma ideia arrojada: “Hipotetizamos que o recetor nicotínico de acetilcolina desempenha um papel fundamental na fisiopatologia da infecção por Covid-19 e pode representar um alvo para a prevenção e controlo da infecção”.

Estas informações foram citadas em jornais de todo o mundo que diziam que, contrariamente ao que o senso comum assumiria à partida, quem fuma parecia ter menos probabilidade de desenvolver a doença provocada pelo novo coronavírus. Só que um outro estudo, desta vez publicado na plataforma Preprints, veio esclarecer as conclusões do primeiro artigo com uma melhor escolha de palavras: para estes autores, “a nicotina, não o tabagismo, poderia melhorar a tempestade de citocinas e a resposta inflamatória grave”.

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Isso mesmo foi sublinhado num terceiro estudo publicado no European Respiratory Journal, que concluiu que os pacientes com doença pulmonar obstrutiva crónica (DPOC) e os fumadores têm, na verdade, níveis mais altos da ACE2, a enzima na superfície das células que o novo coronavírus utiliza para as invadir, o que aumenta o risco de desenvolver um caso grave de Covid-19.

As diferenças entre os estudos são muitas, a começar logo pelo facto de os dois primeiros não terem sido revistos pelos pares — um crivo importante para testar a solidez do método científico. Depois, o primeiro artigo é de revisão, isto é, olha para estudos que já estão publicados, mas está repleto de informações imprecisas ou mesmo incorretas. Por exemplo, os autores “dizem que o recetor do vírus não foi detetada nos pulmões, o que não é verdade” para mais adiante dizerem o contrário, aponta Celso Cunha.

o primeiro artigo é de revisão, isto é, olha para estudos que já estão publicados, mas está repleto de informações imprecisas ou mesmo incorretas. Por exemplo, os autores "dizem que o recetor do vírus não foi detetada nos pulmões, o que não é verdade" para mais adiante dizerem o contrário, aponta Celso Cunha.
Virologista, Diretor da UEI de Microbiologia Médica do Instituto de Higiene e Medicina Tropical

Além disso, os investigadores afirmam que “o recetor da nicotina pode ter um papel importante na infeção do vírus porque se esse recetor for bloqueado pela nicotina fica inacessível para o vírus poder entrar nas células”. O problema é que “não temos nenhuma evidência sobre isso”, diz o virologista português. Em suma, “esta revisão tem várias imprecisões”, o que torna as suas conclusões igualmente dúbias.

Fumadores (e ex-fumadores) têm risco aumentado de desenvolver casos graves

De facto, é verdade que, entre os internados nos hospitais em alguns países do mundo (a China e a Itália são dois deles), há uma subrepresentação dos doentes fumadores. No caso da China, um país com cerca de 25% de fumadores na população em geral, só 7% dos internados se disseram fumadores. Foi com base nesta diferença estatística que o primeiro estudo tentou perceber porque é que os fumadores pareciam de alguma forma protegidos da Covid-19.

O problema é que há muitos aspetos que podem justificar este fenómeno: “O que é um fumador?”, questiona Celso Cunha: “Será que os hospitais contabilizam também os fumadores ocasionais ou as pessoas que fumam um ou dois maços de tabaco por dia? Se o doente deixou de fumar há duas semanas, é considerada não fumadora mesmo que tenha fumado 20 anos. Isso não é considerado no estudo”, alerta o virologista.

“O que estamos a ver aqui é uma correlação, ou seja, se uma pessoa é fumadora tem menos chances de ser hospitalizada. No entanto, uma correlação nunca é uma relação de causa-efeito porque pode haver outros fatores metidos no meio que enviesem estes dados“, explica Celso Cunha. É possível, por exemplo, que os fumadores tenham seguido mais as medidas de contenção por assumirem que eram um grupo de risco.

Mesmo em relação ao uso das placas de nicotina, a discussão continua, e há muitas dúvidas sobre a sua eficácia.

"O que estamos a ver aqui é uma correlação, ou seja, se uma pessoa é fumadora tem menos chances de ser hospitalizada. No entanto, uma correlação nunca é uma relação de causa-efeito porque pode haver outros fatores metidos no meio que enviesem estes dados", explica Celso Cunha. É possível, por exemplo, que os fumadores tenham seguido mais as medidas de contenção por assumirem que eram um grupo de risco.
Virologista, Diretor da UEI de Microbiologia Médica do Instituto de Higiene e Medicina Tropical

3.º caso

A infeção pelo novo coronavírus através de superfícies contagiadas

Após dois meses de confinamento a ouvir as regras para limpeza de objetos para evitar a propagação do novo coronavírus, a OMS afirmou que “a transmissão do vírus causador da Covid-19 não foi conclusivamente relacionada com superfícies ambientais contaminadas disponíveis em estudos“. Nos dias seguintes, já em Portugal, a DGS reiterou em duas conferências de imprensa que essa forma de transmissão parece “mais difícil” e “poderá não ser tão elevada” como se pensava.

Estas declarações surgem depois de vários estudos terem sinalizado a capacidade de sobrevivência do SARS-CoV-2 em vários objetos e superfícies. Um dos mais populares foi uma carta ao editor publicada no The New England Journal of Medicine e revista pelo consórico COVID19PTCiência.

Os médicos que seleccionam os estudos que realmente importam e têm relevância. E os resumem para os seus colegas que tratam a Covid-19

Segundo essa revisão, de acordo com a carta em questão, “o SARS-CoV-2 permaneceu viável — isto é, capaz de infetar — em aerossóis durante toda a duração da experiência”, isto é, três horas. “O SARS-CoV-2 foi mais estável em plástico e aço inoxidável do que em cobre e papelão, e foram detetados vírus viáveis até 72 horas após a aplicação nessas superfícies”. No cobre, “nenhum SARS-CoV-2 viável foi medido após 4 horas”, prossegue o texto. No papelão, a viabilidade já não era verificada ao fim de 24 horas.

De acordo com o COVID19PTCiência, para chegar a estas conclusões, os investigadores fizeram 10 experiências com dois vírus — o SARS-CoV-2 e o SARS-CoV-1, que provocou a epidemia de 2003 — em 5 condições ambientais: aerossol, plástico, aço inoxidável, cobre e papelão. Todas as medições foram relatadas como médias em três repetições, indicou o consórcio.

Ora, neste caso, não é a robustez do método científico delineado para esta experiência que permite à OMS e às outras autoridades de saúde dizer que não há resultados conclusivos sobre o perigo de transmissão do vírus através de superfícies contaminadas. O que sustenta as afirmações da OMS é que, tal como no caso da influência da temperatura, “estes dados devem ser vistos com cuidado porque podem não corresponder àquilo que se passa na realidade no dia a dia”, prossegue Celso Cunha.

Ora, neste caso, não é a robustez do método científico delineado para esta experiência que permite à OMS e às outras autoridades de saúde dizer que não há resultados conclusivos sobre o perigo de transmissão do vírus através de superfícies contaminadas. O que sustenta as afirmações da OMS é que, tal como no caso da influência da temperatura, "estes dados devem ser vistos com cuidado porque podem não corresponder àquilo que se passa na realidade no dia a dia", prossegue Celso Cunha.
Virologista, Diretor da UEI de Microbiologia Médica do Instituto de Higiene e Medicina Tropical

“As experiências foram feitas numa determinada temperatura, numa determinada humidade, entre outros fatores, e portanto as pessoas podem ficar confundidas com aqueles dados quando não há evidência científica nenhuma de facto de que alguém tocando numa superfície contaminada leve nas mãos carga viral suficiente para se infetar“, indica o virologista.

“Isto não significa que os dados são inválidos”, sublinha Celso Cunha, mas sim que os dados devem ser interpretados à luz das condições controladas em que foram obtidos — em laboratório, não na realidade. “Se esta experiência foi realizada num ambiente a 30ºC, não podemos concluir que num ambiente a 4ºC os resultados fossem os mesmos“, exemplifica o investigador do IHMT.

Perante a certeza, vigora então o princípio da precaução para que a DGS tanto tem apelado: “Não é um estudo conclusivo, não é um assunto encerrado. Na dúvida, porque há outros vírus cuja história conhecemos melhor e que se transmitem por essa via, é melhor continuarmos a ter precauções em relação aos objetos e às superfícies”, pode ler-se na página oficial da instituição.

“Omniscientes só os deuses”

Estes três casos são exemplos de situações onde a incerteza se materializa no percurso científico. E é normal, aponta Ana Delicado, investigadora do Instituto de Ciências Sociais, dedicado aos estudos sociais da ciência, ao Observador:

A investigação científica é um processo cumulativo, vai-se eliminando as incertezas com mais investigação. Com o avanço do conhecimentos e das técnicas vai-se acumulando mais conhecimento. Mas usando procedimentos diferentes ou abordagens diferentes chega-se a resultados diferentes. Nenhum processo de investigação consegue cobrir todas as variáveis possíveis”.

É que “omnisciente só os deuses”, compara a investigadora, para quem a incerteza científica deve ser comunicada “claramente” para aumentar a confiança do público na ciência: “Há a noção que o público lida mal com a incerteza. Mas os casos em que o público perdeu a confiança na ciência não se deveram à comunicação da incerteza mas sim à negação dessa incerteza“.

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No caso da pandemia da Covid-19 e do novo coronavírus, esta incerteza é igualmente natural porque “é um fenómeno completamente novo” e “tem características específicas que ainda estão a ser investigadas”: “Não há ainda dados empíricos suficientes para responder a muitas questões”, explica Ana Delicado.

Mesmo tendo em conta o ritmo frenético com que novas informações têm sido publicadas em relação a este tópico, essa velocidade pode mesmo ser inimiga da perfeição: “Têm sido divulgados muitos resultados de estudos que não passaram pela revisão por pares. Há uma grande urgência para encontrar soluções para a pandemia, mas às vezes trabalha-se com amostras muito pequenas, com informação incompleta”, critica.

Mesmo tendo em conta o ritmo frenético com que novas informações têm sido publicadas em relação a este tópico, essa velocidade pode mesmo ser inimiga da perfeição: "Têm sido divulgados muitos resultados de estudos que não passaram pela revisão por pares. Há uma grande urgência para encontrar soluções para a pandemia, mas às vezes trabalha-se com amostras muito pequenas, com informação incompleta.
Ana Delicado, investigadora do Instituto de Ciências Sociais

“A incompetência é não perceber que a incerteza faz parte”

Também João Júlio Cerqueira, fundador do projeto SciMed e médico especialista em Medicina Geral e Familiar e Medicina do Trabalho, diz que “a ciência tem-se movido à velocidade da luz”. Mas embora note que “os cientistas estão, globalmente, de parabéns”, estas circunstâncias trazem dois problemas: “O facto de ser um fenómeno novo, o que requer tempo para ser estudado e compreendido e a ‘ânsia’ em publicar resultados, muitas vezes provisórios e de baixo valor científico”.

Talvez isso torne ainda mais importante a comunicação da incerteza científica para a população em geral: “Os cientistas devem ser honestos sobre a qualidade do estudo realizado e as inferências que se podem retirar desses estudos”. Para o médico, parte do problema está na comunicação social, “que tende a simplificar a mensagem, transformando algo que é cinzento numa dicotomia de branco ou preto”.

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Segundo João Júlio Cerqueira, a existência de um novo estudo não simboliza necessariamente que a ciência está sempre a mudar. “Um novo estudo irá juntar-se a toda uma coleção de evidência científica sobre determinado fenómeno. As conclusões são retiradas de acordo com a avaliação de toda a evidência. E ao contrário do que as pessoas pensam, mudanças de paradigma na ciência demoram muitos anos a mudar”, indica.

Talvez isso torne ainda mais importante a comunicação da incerteza científica para a população em geral: "Os cientistas devem ser honestos sobre a qualidade do estudo realizado e as inferências que se podem retirar desses estudos". Para o médico, parte do problema está na comunicação social, "que tende a simplificar a mensagem, transformando algo que é cinzento numa dicotomia de branco ou preto".
João Júlio Cerqueira, fundador do projeto SciMed e médico especialista em Medicina Geral e Familiar e Medicina do Trabalho

Por isso é que, quando questionado sobre se a incerteza científica é um sinal de incompetência por parte da comunidade científica em responder a uma determinada pergunta, afirma que “o grande sinal de incompetência é não perceber que a incerteza faz parte da ciência”: “Dizer que não sabemos é um sinal de humildade e honestidade”.

Em suma, “não existem verdades absolutas”. E “não existem dogmas”, acrescenta o criador do SciMed: “Uma das grandes capacidades da ciência e dos cientistas é mudar de paradigma perante fortes evidências de que o conhecimento anterior estava errado. Não existe nenhuma outra ideologia que faça o mesmo, seja religiosa, política ou espiritual. A única ideologia que se auto-corrige é a ciência”.

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