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Catarina Portas, empresária e responsável pelas lojas “A Vida Portuguesa”
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Catarina Portas, empresária e responsável pelas lojas “A Vida Portuguesa”

MELISSA VIEIRA/OBSERVADOR

Catarina Portas, empresária e responsável pelas lojas “A Vida Portuguesa”

MELISSA VIEIRA/OBSERVADOR

Os desejos para 2021: "Estou farta de desmanchar lojas, quero é criar"

A dificuldade de 2020 reflete-se nas vontades para o próximo ano, mas também nas lições de vida que entram com os dois pés em 2021. Estes são os desejos de novo ano de lojistas, designers e chefs.

    Índice

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É difícil de acreditar que 2020 vai deixar saudades. Mas às portas de um novo ano sobra tempo para refletir sobre os 12 meses que passaram, ainda que estes tenham sido essencialmente marcados pela pandemia que já não precisa de introduções. Perguntámos a 12 pessoas, de diferentes sectores, da hotelaria à restauração, passando pela ilustração e pelo design, o que aprenderam com 2020, qual o local de refúgio que encontrarem em ano de confinamento — por vezes o sofá da sala, outras vezes o mar — e o que esperam de 2021 que está aí a chegar. Todos eles admitem dificuldades acrescidas num período atípico como este e também lições de vida, as quais querem levar consigo para lá das 12 badaladas.

Fernão Gonçalves, chefe de bar executivo do grupo Plateform

Fernão Gonçalves, chefe de bar executivo do grupo Plateform

MELISSA VIEIRA/OBSERVADOR

O que aprendeu com 2020? 2020 foi um ano que nos mostrou novas vertentes no universo, sobretudo com os bares fechados. Sem dúvida que tivemos de nos reinventar. O que mudou mais foi a necessidade de recorrer ao teletrabalho nesta área. No início não era óbvio, mas o teletrabalho provou-se uma ferramenta útil. Agora fazemos reuniões semanais e mensais através do Zoom, descobrimos que é uma boa maneira de unir as equipas. Ainda durante o confinamento comecei a fazer webinars a pedido da Escola de Hotelaria e Turismo na Póvoa de Santa Iria. Foi um desafio, estava habituado a fazê-los presencialmente e dei por mim a dar webinars para 50 pessoas a partir de casa. Comecei também a dar cursos para o IFP (Instituto de Emprego e Formação Profissional) através do Zoom. Passei a estar cinco horas por dia no Zoom.

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O que espera de 2021? Espero encontrar uma editora para publicar o meu livro, “Thinking Cocktails”. Era um projeto para 2020, mas com a pandemia não deu. O livro quer pôr as pessoas a criar os seus próprios cocktails a partir de casa, sem ser só seguir receitas. Espero também que o vírus se vá embora.

Qual o significado do objeto escolhido? No fundo foi o livro, porque faz parte de 2021.

Qual o significado do lugar escolhido? Escolhi o sofá de casa porque transformei a sala no escritório e foi sentado no sofá que fiz novas cartas para 2021 para os espaços do grupo e onde fiz também webinars. Trocares o bar pelo sofá é algo inesperado, mas acabou por funcionar.

Felipa Almeida, designer de interiores/curadora

Felipa Almeida, designer de interiores/curadora

MELISSA VIEIRA/OBSERVADOR

O que aprendeu com 2020? Aprendi a aceitar a falta de controlo no dia a dia, a importância vital do convívio e a valorizar a liberdade.

O que espera de 2021? Mais convívio, muito mais convívio! Que consigamos resolver a questão do vírus de vez e que a nova normalidade seja diferente da que tínhamos em 2019 com melhores valores e um mundo mais justo.

Qual o significado do objeto escolhido? Esta peça é do Mestre Xico Tarefa do Redondo, no Alentejo, um dos lugares onde andei este ano a visitar artesãos e a descobrir trabalho maravilhoso que quero ajudar a valorizar. O artesanato português é especial, é nosso e temos de cuidar dele. 2020 foi um ano de mudança na minha vida profissional. Comecei uma nova página sempre ligada aos interiores, mas com um foco específico no artesanato nacional.

Qual o significado do lugar escolhido? Escolhi o espaço do atelier em Campo de Ourique onde tenho os meus livros e a maior parte dos objetos que vou recolhendo nas minhas pesquisas. Representa bem esta nova fase da minha vida.

Kiko Martins, chef

Kiko Martins, chef

MELISSA VIEIRA/OBSERVADOR

O que aprendeu com 2020? Aprendi a não dar nada por garantido, a ter agilidade na mudança, a ser ágil a reagir e, acima de tudo, a dar valor a tudo aquilo que tenho: família, amigos, sócios, e tudo aquilo que já conquistei e fiz na vida.

O que espera de 2021? Espero um 2021 de retoma, obviamente uma retoma lenta. Mas de retoma profissional, de reabertura de alguns espaços que fechei temporariamente. E espero um 2021 mais alegre, mais feliz, com menos restrições, mas ainda com muita maturidade e cabeça na situação atual e na ligação entre as pessoas.

Qual o significado do objeto escolhido? O meu objeto escolhido foi uma faca que simboliza a amizade, foi um presente que um amigo me deu este ano. Segundo ele simboliza a resiliência, a paciência e a força, a faca tem esse poder. Foi feita por uma artesão português, o Paulo Tuna, e a madeira é de azinho.

Qual o significado do lugar escolhido? O lugar escolhido foi uma cozinha que tem muito que se lhe diga… Era uma cozinha que não usava muito e que este ano passei a usar bastante. É a cozinha de minha casa. Acho que nunca tinha cozinhado tanto em minha casa, foi um lugar muito marcante em 2020.

José Oliveira, proprietário do Raw Culture Art & Lofts Bairro Alto

José Oliveira, empresário hoteleiro

MELISSA VIEIRA/OBSERVADOR

O que aprendeu com 2020? A pandemia veio trazer uma grande insegurança quanto ao futuro. Para mim, e especificamente para o projeto Raw Culture Art & Lofts Bairro Alto, foi obviamente impactante, sobretudo num ano em que tínhamos grande planos: estava previsto um conjunto de exposições com três fotógrafos de renome mundial, que ficaram para 2021; tínhamos também previsto inaugurar outro conceito para o espaço bar/restaurante do hotel, que obviamente ficou guardado para o próximo ano. O Raw Culture Bairro Alto está aberto e continuará aberto, pois considero que é muito importante manter a energia positiva nesta maré negra em que navegamos. Em termos de lição, a mais importante de todas é não darmos nada por adquirido, pois o universo comanda tudo o que nos rodeia.

O que espera de 2021? Espero que Portugal não deixe de ser um dos pontos mais importantes do turismo a nível mundial. Pensando o nosso projeto em particular, no início da primavera deverá ser lançada a primeira exposição referente ao ano 2021 que deverá ter uma duração de 3 meses. Também deverá ser lançada a primeira pedra para a construção do novo conceito para o espaço bar/restaurante.

Qual o significado do objeto escolhido? Na fotografia estou sentado num skate suíço, feito à mão, e aparece também uma mota dos anos 1950/1960 — ambos os objetos estão em exposição. O objeto que vai acompanhar-me nos próximos tempos é uma pílula do artista Damien Hirst. Existem dois significados, uma vez que é uma peça de desejo e de esperança (espero que em 2021, com a vacina, venha a cura).

Qual o significado do lugar escolhido? Escolhi o Raw Culture Art & Lofts Bairro Alto porque o hotel terminou em finais de 2017, já em 2018 teve imensos problemas de construção. 2019 foi um ano bom, mas 2020 era suposto ser o ano da consolidação…

Joana Astolfi, artista, arquiteta e designer

Joana Astolfi, artista, arquiteta e designer

MELISSA VIEIRA/OBSERVADOR

O que aprendeu com 2020? Aprendi a fragilidade da vida, que tudo pode mudar num dia. Somos muito frágeis, temos que nos reinventar constantemente, surpreender-nos a nós próprios. Aprendi que é importante arriscar, conquistar o medo que é muito latente nos portugueses. Nunca podemos deixar de sonhar alto: o sonho é muito importante porque é o ponto de partida para as conquistas. Importa também a proximidade da família e dos amigos, e o abraço. Tenho saudades de abraçar as pessoas.

O que espera de 2021? Em 2021 espero viajar muito. Este ano não viajei quase nada. As viagens são muito importantes para me inspirar, para nutrir a minha memória visual, tornam-se numa espécie de enciclopédia para os projetos que faço. Em 2021 vou ao Rio de Janeiro, a Londres, a Copenhaga e a Marraquexe — quatro cidades que já conheço e que me inspiram muito. Também espero fazer projetos fora de Portugal, tendo como base Lisboa. Para isso preciso de um manager internacional, coisa em que me vou concentrar no próximo ano.

Tenho também um projeto que é a “Casa Astolfi”, que será um espaço híbrido no qual estou a trabalhar há algum tempo — um hotel boutique com bistro bar, galeria e uma loja de artesanato com o melhor que se faz em Portugal, um show case do lifestyle português visto através dos meus olhos. Estou à procura de investidores, já tenho alguns. Queria que a primeira “Casa Astolfi” fosse em Lisboa, talvez um palacete no Príncipe Real. É um sonho no qual vou trabalhar em 2021. Quero também ver a minha filha Duna crescer mais um ano.

O trevo de quatro folhas comprado por Joana Astolfi em Paris

© Joana Astolfi

Qual o significado do objeto escolhido? Escolhi um trevo de quatro folhas dentro de uma lupa. Comprei-o há três anos em Paris numa loja que gosto muito, chamada Deyrolle. Adoro objetos que contam histórias e esta loja tem precisamente isso. Adoro lupas, estou sempre com lupas ao pescoço para ver os pormenores das coisas. Já o trevo de quatro folhas é uma anomalia… e como eu gosto das imperfeições. Na verdade, o trevo de quatro folhas é uma imperfeição que traz boa sorte. Não acredito muito na palavra sorte, mas acho que 2021 não vai ser um ano fácil, vou ter de ter coragem, força, esperança e amor. Este trevo significa isso para mim, vou estar sempre com ele dentro da mala. “Creativity takes courage.”

Qual o significado do lugar escolhido? Escolhi a Marquise da Møbler. Conheci a Cristiana, dona da Marquise, porque ao lado deste espaço há uma loja de mobiliário vintage, a Møbler, onde vou há muitos anos comprar peças para mim e para clientes [e do qual a Cristina também é dona]. Ao lado desta loja havia um armazém que hoje é a Marquise. Aquele espaço tinha potencial, mas estava obsoleto. A Cristiana queria criar um espaço para receber pessoas e há uns tempos ligou-me a dizer que ia avançar com o projeto e pediu-me que me sentasse com ela para trocarmos algumas ideias. Estava tão ocupada que não a consegui ajudar, mas seis meses depois vou lá, entro pela porta e… disse-lhe não faria nada diferente, está lindo! O espaço é um abraço de bom gosto. Está tudo ligado ao artesanato e a curadoria da loja e comida são ótimas. Este foi o espaço onde passei mais tempo em 2020. Durante o tempo em que estive em teletrabalho ia para lá muitas vezes trabalhar no pátio. O luxo é a sofisticação da simplicidade.

Bento Amaral, diretor de serviços técnicos e de certificação do Instituto dos Vinhos do Douro e do Porto

Bento Amaral, enólogo

Rui Oliveira/Observador

O que aprendeu com 2020? A noção da fragilidade humana, o que leva a uma lição de humildade e de necessidade de união, de percebermos que estamos todos no mesmo barco ou, pelo menos, que navegamos todos no mesmo mar. Só conseguiremos superar esta crise em conjunto. Com 2020 aprendi também a necessidade de estarmos em equilíbrio com natureza e de preservarmos o meio ambiente. Foi uma invasão desse ambiente que levou ao contacto do ser humano com este vírus. Destaco também a capacidade de nos conseguirmos reinventar e a utilização das tecnologias que nos aproxima, bem como a confirmação de ser um privilegiado pelo emprego que tenho.

O que espera de 2021? Espero o início de um novo normal, para podermos voltar aos contactos pessoais e presenciais sem medo. Tenho também esperança numa retoma da economia e do emprego para a maioria das pessoas, bem como de um ainda maior reconhecimento dos vinhos portugueses a nível internacional, principalmente os do Porto e do Douro.

Qual o significado do objeto escolhido? A garrafa está cheia de esperança num mundo melhor, assim como de bom vinho do Douro. Representa ainda o meu trabalho e uma paixão, que pretendo que se mantenha para o futuro.

Qual o significado do lugar escolhido? Durante 2020 estive cinco meses em casa, em teletrabalho, por pertencer a um dos grupos de risco. Sinto falta do contacto humano próximo, mas um dos privilégios do teletrabalho, e o único momento diário em que saio de casa, é poder dar uma pequena volta higiénica ao pé do mar. O mar é um amigo que me tirou a mobilidade, mas que me deu muito: a possibilidade de conhecer outros países, assim como ter êxitos desportivos.

Clara Não, ilustradora

Clara Não, ilustradora

Rui Oliveira/Observador

O que aprendeu com 2020? Aprendi que temos de estar preparados para os imprevistos e aprendi que devemos ver as coisas más exatamente como elas são. Ou seja, houve uma atmosfera de positivismo tóxico em 2020: a pandemia é má em si, pode é haver consequências boas. Aprendi que é preciso valorizar e cuidar da saúde mental. 2020 provou mesmo o que era ter saudades, pelo que aprendi a lidar com a saudade. Aprendi a sobreviver e a lidar com a introspeção. Aprendi que as desigualdades sociais vieram ao de cima: o racismo, a misoginia sistémica, a desigualdade de género e até a desigualdade económica. A pandemia não é igual para toda a gente.

O que espera de 2021? Espero que as pessoas tenham aprendido como o que aconteceu em 2020. Que tenham mais cuidado com os hábitos pessoais, na forma como fazem a vida, mas não no sentido do medo. Que não nos esqueçamos do que aconteceu, mas que tentemos evitar que coisas destas voltem a acontecer: pandemias virais e pandemias de privilégios e de desigualdades. E não esquecer: o amor é sempre bom quando existe!

Qual o significado do objeto escolhido? Escolhi o meu caderno de bolso, onde vou apontando tudo o que penso. É o meu amiguinho, são as memórias, aponto tudo lá. Não quero esquecer as coisas boas, nem as coisas más. Quero antes aprender com todas elas.

Qual o significado do lugar escolhido? Escolhi o Miradouro das Fontainhas (era o miradouro ou os CTT, já que as encomendas safaram muitos artistas na pandemia). As Fontainhas foram especiais porque era lá que ia espairecer. Levava um caderno ou um livro e voltava para casa. Era lá que fazia o passeio higiénico (que nome feio). A zona onde vivo é habitacional, pelo que aproveitava para apanhar ar e sol. E era interessante perceber que, no meio disto tudo, a água continuava a correr.

Susana Bettencourt, designer

Susana Bettencourt, designer

Rui Oliveira/Observador

O que aprendeu com 2020? Este ano ensinou-me a trabalhar com uma equipa nova, reestruturada para focar o negócio no online. Ensinou-me a entender e a conhecer cada mais o meu cliente direto, das redes sociais e do online, que é completamente diferente do cliente multimarca. Aprendi a arriscar e a pensar fora da caixa e a não sentir-me presa ao sistema da moda tal como ele é apreendido. No último Portugal Fashion [em outubro de 2020] optei por um modelo de apresentação completamente diferente. Fiz uma sessão fotográfica, ao invés de um desfile tradicional, que teve um resultado incrível nas nossas lojas e nas redes sociais. Houve desafios logísticos no processo e na organização de coleção, nada comparado com o que estávamos habituados. Se eu já me empurrava para fora da minha zona de conforto, a pandemia empurrou-me ainda mais.

O que espera de 2021? Que o consumidor português tenha compaixão pelas marcas portuguesas, grandes ou pequenas. Que consigamos baixar a nossa pegada ecológica como país, comprar menos mas melhor. Espero aumentar substancialmente as vendas — em 2020 houve um aumento gigante na loja online e estamos cada vez mais assíduas nas redes sociais. Quero aplicar o conhecimento apreendido no doutoramento na minha marca. Quero que as pessoas deem cada vez mais valor às coisas mais pequenas que perderam em 2020.

Qual o significado do objeto escolhido? Escolhi o computador porque foi o meu elo de ligação com o mundo e com as pessoas, o qual foi cortado com falta de feiras e de eventos.

Qual o significado do lugar escolhido? O Neya Porto Hotel [atualmente de portas fechadas] foi exatamente o lugar onde fiz uma apresentação fora da minha zona de conforto, onde fizemos a tal sessão fotográfica para todo o mundo ver. Significou um grande passo comunicar um evento físico de forma digital. Foi muito irónico, e fui apanhada de surpresa, quando percebi que o hotel esteve fechado durante todo o mês de dezembro, mas vai reabrir na primavera de 2021.

Inês Mocho, maquilhadora

Inês Mocho, maquilhadora

MELISSA VIEIRA/OBSERVADOR

O que aprendeu com 2020? O que mais aprendi foi a ter paciência e a respeitar o ritmo das coisas. Foi a maior lição. Tive muitas outras, mas a que retenho e que sinto que me mudou muito foi esta. Afinal, há muitas coisas que fogem do nosso controlo.

O que espera de 2021? Sou uma eterna otimista: se o copo tiver uma gota de água vou dizer que está meio cheio. Espero que venha aí um ano fantástico. 2020 foi, sem dúvida, um ano desafiante, mas não olho para ele como um ano negro. Olho como um ano de aprendizagem, de mudança. Depois de tudo o que aconteceu, há a tendência para dizer que queremos que tudo mude… Quero que tudo mude em temos de saúde, mas há muita coisa que aconteceu que nos fez ter perspetivas diferentes, que nos ajudou a olhar mais para o outro. Espero que 2021 seja mais um ano incrível de aprendizagens.

Qual o significado do objeto e do lugar escolhidos? Na fotografia apareço sentada numa cadeira no meu novo espaço. O loft é um projeto que abri há cerca de dois anos, com salão na parte de cima e academia na parte de baixo. Com a pandemia mudámos o espaço. Como estamos a atravessar uma fase em que se fala muito em saúde mental, em tirar tempo para nós, percebi que os momentos para cuidarmos de nós próprios são muito importantes. Assim surgiu o projeto do spa, com o piso de baixo a ser totalmente renovado. A sala onde tirei a fotografia é muito feminina e a cadeira onde estou sentada deu-me muitas dores de cabeça porque andava há imenso tempo à procura de algo assim. A cadeira e o espaço simbolizam a atitude perante este ano: o que de melhor podemos extrair mediante uma mudança que à primeira vista parece ser muito negativa. Por isso mesmo adaptei o meu projeto.

Catarina Portas, empresária, responsável pelas lojas “A Vida Portuguesa”

Catarina Portas, empresária

MELISSA VIEIRA/OBSERVADOR

O que aprendeu com 2020? Que a vida era feita de altos e baixos já eu sabia, mas tão altos e tão baixos não sabia. 2020 é, sobretudo, um ano que nos fez muitas perguntas e que nos pôs muito à prova. No meu caso, fomos obrigados a fechar duas lojas e a não renovar contratos. Mas é no ano mais difícil que descobrimos quem está lá connosco. Este foi o ano em que a equipa ficou coesa, em que as pessoas deram as mãos, em que houve sentido de solidariedade e em que as pessoas se sacrificaram pelos outros. As pessoas foram absolutamente extraordinárias.

O gesto da fotografia, o dar as mãos, simboliza a coisa mais importante em 2020. Houve cuidado e amizade, foi muito incrível, e isso é uma coisa que levamos no coração para o próximo ano. Em 2021 vamos repensar o nosso negócio, mas também devíamos repensar algumas coisas enquanto sociedade. Estamos a fazer bem as coisas no turismo? Será que deveríamos repensar um pouco isto para não sermos tão dependentes? Para não termos partes de cidades vazias e mortas quando ele desaparece? Esta é uma grande ocasião para repensar as coisas. Como empresa vamos fazê-lo, mas gostava que a sociedade também o fizesse. Ganhámos definitivamente uma oportunidade para repensar as coisas.

O que espera de 2021? Espero que a nossa vida se acalme um pouco, que nos possamos abraçar, coisa da qual morro de saudades: de abraçar e dar beijos, de estarmos próximos uns dos outros. Falta-nos o toque, que também é tão importante. Espero que possamos recuperar as nossas vidas. Houve tanta gente que teve a sua vida transtornada para pior, que 2021 seja um ano de reconstrução de todos nós e daquilo em que acreditamos. Ficou mais claro aquilo que é realmente importante.

Vamos abrir uma nova loja em 2021. É um projeto completamente fora do habitual, acho que vai ser uma surpresa. Isto fez-nos mexer para terrenos por explorar, forçou-nos a sair do nosso conforto instalado. Na primavera vai abrir ao público um espaço que já tínhamos, vai ser uma “A Vida Portuguesa” que será também outras coisas. Acho que o espaço vai ser surpreendente. Vamos trazer armários antigos das lojas já desmanchadas para este espaço [tal como se vê na fotografia de abertura do artigo].

Qual o significado do objeto escolhido? A junção das mãos, o dar as mãos. O que descobri em 2020, e que quero levar para 2021, é uma equipa muito mais coesa, consciente, amiga e solidária. No meio de tanta desgraça, a coisa boa foi a capacidade nos ajudarmos uns aos outros.

Qual o significado do lugar escolhido? Foi o nosso armazém. Desde há três anos temos um armazém/escritório onde funciona também a loja online e o gabinete de design, é um espaço de 600 metros quadrados (era uma antiga fundição ali mesmo ao pé da loja do Intendente). Sempre pensámos em abri-lo como showroom… É o espaço que vai abrir na Primavera. Estou mesmo com muita vontade de o fazer. Estou farta de desmanchar lojas, quero é criar.

Paulo Pina e Paulo Neves, sócios da padaria Isco

Paulo Pina e Paulo Neves, sócios da padaria Isco

MELISSA VIEIRA/OBSERVADOR

O que aprenderam com 2020? Não somos muito dados a clarividências. Ainda assim, 2020 foi um ano fodido, que deu luta, por isso interessante. Aprendemos que a limitação da liberdade (para abrir portas, para fazer o que queremos quando queremos, para sair, para entrar) é lixada. Aprendemos que surgem muitas vezes caminhos que não conhecíamos — quem diria que o mundo se ia entreter em casa a empanturrar-se com bolos e pães? Aprendemos que estar descansadinhos é bom, mas só quando é porque o queremos. Aprendemos também a usar máscara sem ser para o Carnaval e descobrimos que aguentamos várias horas com ela sem desfalecer.

O que esperam de 2021? Esperamos voltar a fazer tudo aquilo que podíamos antes, mas agora com um bocadinho mais de espaço, que este ano criou. Esperamos fazer outros bolos, pães e pratos, conhecer novas comidas e novos sítios. Esperamos que esta descoberta do pão e da padaria caseira contribua para que as pessoas valorizem a qualidade e a dedicação de vários padeiros e pasteleiros. Clientes esclarecidos são o que queremos, para podermos fazer coisas novas, experimentar novas texturas, cheiros e sabores, e termos alguém do outro lado que saiba apreciar ou que nos explique que é capaz de ser melhor não ir por ali.

Qual o significado do objeto escolhido? Isto é um poster de uma festa do Isco – temos saudades de ter as portas todas abertas e as mesas encostadas à parede, gente a entrar e a sair, confusão e música. Festa com copos, comida, amigos e tudo aquilo a que temos direito. Queremos voltar a ser anfitriões sem limitações. Escolhemos este poster em particular, porque tem o Diego, é apropriado.

Qual o significado do lugar escolhido? É um lugar muito 2020 – foi o nosso ponto de abastecimento de máscaras e luvas, quando os fornecedores começaram a falhar ou a abusar nos preços. É mesmo ao virar da esquina do Isco, num saltinho íamos lá buscar as mordaças limpas e depois ficávamos à espera de quem nos fosse bater à porta para comprar pão ou a preparar encomendas para entregar em casa, em Lisboa e arredores.

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