Maria Bethânia, Coliseu do Porto (14/9) e Coliseu de Lisboa (18/9 e 19/9)

Dispensa apresentações: é um dos nomes maiores da música brasileira, integrante de uma geração que varreu o país, qual furacão, na segunda metade do século passado. Com passagens recentes e regulares por Portugal, a irmã de Caetano Veloso desloca-se agora a Lisboa e Porto para atuações nos Coliseus. Apresentará um espetáculo novo, Claros Breus, em que interpretará “muitas canções inéditas, algumas inéditas na sua voz, músicos que tocam com Maria Bethânia pela primeira vez e também nova direcção musical e arranjos”, indica a informação de apresentação oficial dos concertos. Entre os temas nunca editados estão canções, por exemplo, “de Adriana Calcanhoto, Chico César, Roque Ferreira e Flávia Wenceslau, Lenine, Suely Costa e Caetano [Veloso]”, que Bethânia poderá vir a gravar em estúdio.

Pedro Abrunhosa “Viagens”, Andamento (15/9)

É num festival promovido pela RTP, o Andamento, que acontecerá um dos concertos mais inesperados da reentré: Pedro Abrunhosa vai revisitar o seu primeiro álbum, o marcante Viagens, editado há 25 anos. Gravado à época com o grupo Bandemónio e com contribuições do saxofonista Maceo Parker, colaborador de James Brown, Viagens foi um marco na música portuguesa dos anos 1990, pela mistura de funk com pop-rock ouvida em temas como “Não Posso Mais”, “É Preciso Ter Calma”, “Socorro” e “Tudo O Que Eu Te Dou”. Durante o festival, que tem entrada livre, será ainda possível ouvir concertos de Dillaz, Selma Uamusse e António Zambujo, além de outras atuações.

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Mário Laginha e Pedro Burmester, 15/9 (Coimbra) e 20/9 (Lisboa)

Dois dos mais celebrados pianistas da música portuguesa vão celebrar 25 anos da sua longa parceria musical nos palcos do Convento São Francisco, em Coimbra, e do Centro Cultural de Belém, em Lisboa. A primeira gravação que os uniu foi o disco Duetos, editado precisamente há um quarto de século. Ambos com formação clássica, tendo Laginha enveredado por uma carreira consolidada no jazz, a dupla atua junta há anos e esteve também junta em estúdio em outro dos grandes álbuns de piano da música nacional, 3Pianos, que teve participação do já falecido Bernardo Sassetti.

Four Tet, Nova Batida (15/9)

O cartaz do festival que acontece de 13 a 15 de setembro em Alcântara, Lisboa — mais especificamente entre a LX Factory e o Village Underground Lisboa —, é amplo e tem muitos motivos de interesse, com atuações de muitos músicos, produtores e DJs de relevo. Dos ingleses Jon Hopkins, Daniel Avery e Floating Points (Sam Shepherd) ao rapper norte-americano Talib Kweli, do emergente compositor neozelandês (mas que cresceu na Austrália e vive atualmente no Reino Unido) Jordan Rakei ao produtor musical e DJ catalão John Talabot, passando pelas batidas eletrónicas lusófonas de DJ Marfox e Violet, haverá dança com fartura. No entanto, é impossível não destacar Kieran Hebden, o produtor e DJ britânico que assina como Four Tet e que é quase consensualmente um dos criadores de batidas dançantes mais inovadores e imaginativos dos últimos 20 anos. Atuará na madrugada de domingo para segunda-feira, entre a meia-noite e as 2h, no palco indoor [interior] da LX Factory.

Gabriel Ferrandini com Alexander Von Schlippenbach, Culturgest (17/9)

Ainda é visto como o miúdo irreverente do jazz, mas o baterista Gabriel Ferrandini já tem 33 anos e mais de uma década com intensa (e internacional) atividade musical. Considerado pela crítica nacional e internacional de especialidade como um prodigioso baterista os universos do free jazz e da música improvisada, o músico que nasceu nos EUA mas vive há muito em Portugal lançou este ano o seu primeiro álbum em nome próprio, Volúpias. Foi o primeiro disco em que Gabriel Ferrandini gravou composições suas, liderando um trio que inclui ainda o saxofonista Pedro Sousa e o contrabaixista Hernâni Faustino, dois colaboradores de longa data. Volúpias, que começou a ser concebido em 2017 numa residência artística de um ano promovida pela Galeria Zé dos Bois, foi já lançado em CD e formato digital, mas será apresentado ao vivo pela primeira vez na Culturgest, na reentré. Para o concerto, além do trio que gravou o disco, Gabriel Ferrandini chamou um convidado especial a Portugal: o veterano (e prestigiado) baterista alemão de free jazz Alexander von Schlippenbach.

Tim Bernardes, 18/9 (Cineteatro Louletano), 19/9 (CCB), 20/9 (Sá da Bandeira), 22/9 (Teatro Aveirense), 23/9 (Casa da Música, 25/9 (Theatro Circo)

A música brasileira continua a dar frutos e Tim Bernardes talvez seja um dos mais saborosos a aparecer nos últimos anos. Vocalista, guitarrista e compositor da banda O Terno — que ainda este ano lançou mais um álbum, considerado pelo Observador um dos melhores do primeiro semestre —, o instrumentista e cantor voltará a Portugal este mês para uma digressão de apresentação do seu primeiro e até agora único álbum a solo editado, Recomeçar, de 2017. Já o tinha feito no ano anterior, com concertos em Lisboa, Setúbal e Espinho, mas o sucesso das atuações e o reconhecimento cada vez maior do público português à sua música leva-o novamente a cidades nacionais, desta feita Santarém, Aveiro, Porto, Braga, Loulé e mais uma vez Lisboa, para mais atuações. A solo, propõe canções melancólicas e doces, de grande delicadeza e intimismo. Ou, como explicava ao Observador no ano passado, propõe “tentar sublimar algumas tristezas de algum jeito belo”.

Common, Iminente (20/9)

O festival Iminente, que até já foi exportado em anos anteriores para Londres, afirmou-se nos últimos anos como “a” grande celebração nacional da cultura urbana portuguesa e em especial (embora não só) da cultura hip-hop. O cartaz de mais uma edição, que volta a acontecer este ano no Panorâmico de Monsanto, reflete o crescimento do festival nas últimas edições e propõe um menu ao gosto de um público maioritariamente jovem. Entre 19 e 22 de setembro, além de performances no âmbito de outras disciplinas artísticas que não a música, palestras, debates e espaço concedido a ramificações menos mediáticas da cultura hip-hop (como a dança dos b-boys e o graffiti), será possível ver concertos de boa parte dos autores atuais da música rap nacional, como Deau, Vado Más Ki Ás, Kappa Jotta, Holly Hood, Apollo G, Mynda Guevara, Dealema, L-Ali e Papillon. Haverá ainda atuações de artistas lusófonos exteriores ao hip-hop como Mayra Andrade, Cachupa Psicadélica e Pedro Mafama, mas é impossível não destacar Common no cartaz. O rapper norte-americano que se apropria da soul, do jazz, do confessionalismo e da intervenção social para a sua música será por certo uma referência até de muitos dos portugueses que vão atuar no Iminente. Tem uma longa carreira que dispensa longas apresentações (oiça-se o  álbum Be, de 2005, para começo de conversa…) e ainda por cima vai atuar em Portugal com novidades em carteira, dado que editou há dias um novo disco, Let Love. O concerto está agendado para as 21h30.

Criolo, Lisboa ao Vivo (20/9) e Évora Urban Village (21/9)

Depois de ter atuado este verão no festival MIMO, em Amarante, o cantor, rapper e compositor brasileiro Criolo desloca-se novamente a Portugal para concertos na sala Lisboa ao Vivo, situada perto da zona Marvila e do Braço de Prata, e no festival Évora Urban Village. Já com 30 anos de atividade musical regular mas com discos editados apenas desde meados dos anos 2000, o autor de “Não Existe Amor em SP” já deu numerosos concertos no país que o receberá em setembro. Este será mais um, de revisitação de uma carreira que engloba álbuns a solo como Nó Na Orelha (de 2011) e Convoque Seu Buda (de 2014).

Maria João Pires, Fundação Calouste Gulbenkian (23/9 e 13/11)

Depois de ter estado muito tempo ausente das salas de espetáculos nacionais, após travar o ritmo das digressões constantes a que se habituou na longa carreira, a pianista portuguesa decidiu abrir “uma excepção” para três recitais no Grande Auditório da Fundação Calouste Gulbenkian. No primeiro, a 23 de setembro, atuará acompanhada pela soprano arménia Talar Dekrmanjian. No segundo, a 13 de novembro, fará um concerto com a pianista — também arménia — Lilit Grigoryan. Por último, já no próximo ano de 2020 (dia 21 de março), fará uma atuação a solo, revisitando repertório de Ludwig van Beethoven e Claude Debussy.

Black Midi, Galeria Zé dos Bois (25/9)

Nas páginas impressas e digitais da crítica musical, surgem como espécie de renovadoras do rock. As expectativas em torno da jovem banda que se formou há quatro anos no Reino Unido são grandes, depois de um contrato assinado com a prestigiada Rough Trade Records e da nomeação do álbum de estreia do grupo, Schlagenheim, para disco do ano dos importantes prémios da música britânica Mercury Awards. A “regeneração do rock” de que se fala dificilmente acontecerá nos estádios, já que os Black Midi parecem demasiado experimentais e barulhentos para vir a ter as massas a seus pés, mas no panorama da música alternativa é inegável (ainda mais depois do concerto que deram este verão no festival Vodafone Paredes de Coura) que vieram para somar e agitar as águas. No dia 25 de setembro, terão o pequeno Aquário da Galeria Zé dos Bois, no Bairro Alto, em Lisboa, lotado para os ver. Talvez o espaço seja demasiado pequeno — a ZDB ter-se-á antecipado e agendado o concerto antes do mediatismo acrescido que a banda ganhou nos últimos meses —, mas será seguramente um concerto especial para quem for, daqueles que os espectadores poderão dizer uns mais tarde “eu vi-os em 2019 numa sala pequena e à pinha”.

Allah-Las, Lisboa ao Vivo (25/9)

O último álbum — Calico Review, de 2016 — já passou algo despercebido, mas as melodias dos anteriores Worship The Sun (de 2014) e sobretudo do álbum de estreia Allah-Las (de 2012) colocaram a banda norte-americana no radar mundial do indie. Vêm da Califórnia e isso nota-se no seu rock balnear, ao mesmo tempo enevoado e despreocupado, reminiscente de um psicadelismo gentil de outras décadas. Este é o regresso da banda a Portugal, depois de atuações por exemplo no festival de Paredes de Coura, em 2015, e no Musicbox, também em Lisboa, em 2017.

Bruno Pernadas Ensemble toca Bernardo Sassetti, CCB (28/9)

Uma homenagem a Bernardo Sassetti feita sem piano? Tocar o seu repertório ao vivo sem incluir o instrumento em que era prodigioso? A ideia pode parecer estranha, mas Bruno Pernadas não é de soluções fáceis. Guitarrista e multi-instrumentista com formação clássica e jazzística — mas também com experiência em repertório de canção mais tradicional, com que lida por exemplo no projeto Real Combo Lisbonense, de homenagem a Carmen Miranda —, Bruno Pernadas é um músico que confunde géneros e classificações musicais. No seu caldeirão cabe quase tudo, de ritmos orientais a ritmos sul-americanos e africanos, do jazz ao psicadelismo e à melodia pop. Com um álbum editado mais próximo de um universo jazzístico, dois discos ecléticos em nome próprio que misturam vários estilos e um álbum gravado com o guitarrista Norberto Lobo e o baterista e pianista Marco Franco para o trio que decidiram formar (intitulado Montanhas Azuis), Bruno Pernadas sucede a Ricardo Toscano como músico desafiado pela Casa Bernardo Sassetti para abordar em palco a obra do falecido pianista. Em palco, Bruno Pernadas vai tocar guitarra e assegurar a direção musical de um espetáculo que contará com outros nove músicos no contrabaixo, bateria, harpa, flauta, clarinete baixo, saxofone, vibafone, violino, viola e violoncelo. Espera-se uma noite em que a música de Sassetti se transformará em outra completamente distinta — mas igualmente boa.

Isabelle Faust, Fundação Calouste Gulbenkian (28/9)

Violinista de enorme prestígio, nascida em Esslingen, Alemanha, Isabelle Faust é a protagonista daquele que será um dos concertos mais esperados desta reentré, no domínio da música clássica. Quem a for ouvir ao Grande Auditório da Fundação Calouste Gulbenkian dificilmente não assistirá à revisão do repertório de J. S. Bach com o brilhantismo que Isabelle tem denotado desde que se começou a interessar pela música de Gabriel Fauré, quando vivia em Paris, ainda jovem, e que evidencia também, por exemplo, quando se dedica às composições de Wolfgang Amadeus Mozart.

Mão Morta, Hard Club (28/9), LAV (11/10) e Cineteatro Louletano (31/10)

Este conjunto de atuações da histórica banda portuguesa de rock, que tem em Adolfo Luxúria Canibal um líder e carismático, não será apenas “mais três concertos dos Mão Morta” na região norte, centro e sul de Portugal. O grupo tem um novo álbum anunciado para os próximos dias. Intitulado No Fim Era o Frio, tem edição prevista para 27 de setembro. Logo a seguir começam as primeiras apresentações ao vivo. Já se pode ouvir um tema, “Deflagram Clarões de Luz”, que traz sinais auspiciosos do que poderá vir a ser o álbum.

Yann Tiersen, Campo Pequeno (29/9) e Coliseu do Porto (30/9)

Há músicos que não se cansam de correr o mundo em digressões, outros que têm em Portugal uma base de fãs proporcionalmente (dada a dimensão do país) maior do que em outros locais. E depois há aqueles que conciliam as duas coisas. A quantidade de concertos que Yann Tiersen tem dado em Portugal nos últimos anos é tão impressionante quanto a sua agenda frenética: só no ano passado atuou em Braga e no Porto e há três anos tinha dado um concerto em Lisboa, depois de múltiplas atuações de meados dos anos 2000 em diante. Autor da banda sonora dos filmes “O fabuloso destino de Amélie Poulain” e “Adeus, Lenine!” e de álbuns a solo como Les Retrouvailles (2005), Skyline (2011), Infinity (2014), EUSA (2016) e o mais recente, editado em fevereiro deste ano, All (2019), o francês irá novamente a Portugal nesta reentré para concertos no Campo Pequeno, em Lisboa, e no Coliseu do Porto.

Rodrigo Leão, CCB (4/10)

Este não será “mais um concerto” de uma banda ou de um músico nacional até ao final do ano. Espera-se uma atuação especial. Segundo adianta a organização do Centro Cultural de Belém, o antigo membro dos Sétima Legião e Madredeus, autor de uma longa obra a solo que inclui um álbum gravado e editado em 2016 com o australiano Scott Matthew, vai “apresentar o seu novo espetáculo numa estreia absoluta”. Rodrigo Leão, que celebrou 25 anos de carreira no último ano, vai mostrar neste concerto “em primeira mão as canções do novo repertório que será editado ainda durante este ano”, o que trará interesse acrescido ao concerto.

Brad Mehldau, CCC (4/10), Centro de Artes e Espetáculos (5/10) e CCB (6/10)

Um dos pianistas mais importantes do jazz das últimas décadas vai a Portugal e isso merece, obviamente, nota de destaque. Antigo membro do distinto quarteto do saxofonista Joshua Redman, Brad Mehldau começou a enveredar por uma carreira a solo e como compositor nos anos 1990. Misturando o conhecimento profundo dos standards do jazz e da história deste género musical com uma imaginação futurista (traduzida por incorporação de elementos do rock e da música eletrónica), também com um domínio da linguagem clássica, Mehldau já gravou e tocou com gente como Wayne Shorter, Pat Meheny, Charles Lloyd, John Scofield e Willie Nelson. A ida ao Centro Cultural e de Congressos das Caldas da Rainha, ao Centro de Artes e Espetáculos da Figueira da Foz e ao Centro Cultural de Belém é também motivada pela edição de um novo álbum, o épico Finding Gabriel, considerado pelo Observador um dos melhores álbuns editados no primeiro semestre deste ano.

Júlio Resende – Concerto Para Amália Rodrigues, Teatro da Trindade (8/10)

Fora dos concertos habituais de apresentação do seu último álbum a solo, Cinderella Cyborg, e também das apresentações regulares enquanto membro da formação ao vivo do cantor Salvador Sobral, Júlio Resende agendou um concerto especial de homenagem a Amália Rodrigues no Teatro da Trindade, em Lisboa. Será, por certo, uma oportunidade rara para voltar a ouvir múltiplos temas do disco Amália por Júlio Resende, que o pianista português editou em 2013. Esta será também “uma carta musical que recorda o percurso e amigos de fadistas” e “uma carta de saudade que não esquece o percurso em Hollywood onde Amália cantou, os amigos transatlânticos Vinicius de Moraes e Caetano Veloso (…) [e] o pianista que compôs para Amália, Alain Oulman”, indica o texto de apresentação oficial do espetáculo.

David Bruno, Musicbox (12/10)

É uma das personagens mais caricatas do hip-hop e da música nacional e nos últimos anos, seja no seu grupo Corona seja a solo, tem construído uma sonoridade própria com ironia na ponta da língua. A solo, David Bruno é o romântico incurável do Portugal profundo e de outras décadas, conhecedor dos melhores anúncios da televendas e do kitsch de que se apropria para contar histórias através da música. No Musicbox, em Lisboa, dia 12 de outubro será dia de apresentação de Miramar Confidencial, o álbum sucessor do disco de estreia de David Bruno que tinha o título prosaico de Último Tango em Mafamude. Mistura synthpop, empreiteiros caloteiros e guiões de engate e ação Virgem Extra. É quase garantido que o álbum será também apresentado pelo menos no Porto, mas ainda não há data de atuação anunciada.

Deafheaven, Amplifest (13/10)

Uma das boas notícias deste ano foi o regresso do Amplifest. Depois de um hiato, o festival, que este ano decorrerá a 12 e 13 de outubro no Porto, volta a apostar num cartaz concentrado sobretudo nas variantes mais sombrias e pesadas do rock. Os Portrayal of Guilt, a belíssima cançonetista Emma Ruth Rundle e os belgas Amenra são alguns dos destaques, assim como a banda californiana Deafheaven, que tem créditos firmados no rock e que lançou no verão passado um novo disco, o quarto de estúdio e de originais da sua discografia, intitulado Ordinary Corrupt Human Love.

The Art Ensemble of Chicago, Casa da Música (15/10)

O Art Ensemble of Chicago (AEoC) e será sempre uma das formações importantes da história do jazz — mais do que não seja por aliar a qualidade musical a vanguardismo, no desenvolvimento de uma linguagem muitas vezes improvisada que fugia a convenções e regras e que se foi tornando gradualmente mais incisiva e política, abrindo caminho a que hoje existam formações como os Irreversible Entanglements. Ainda liderado pelo seu ideólogo, saxofonista e flautista Roscoe Mitchell tantos anos depois, o grupo apresenta-se em Portugal em octeto, com músicos tão prestigiados como Don Moye (tal como Roscoe Mitchell, também ele membro original) nas congas, bateria e percussão e Tomeka Reid no violoncelo. Em algumas cidades escolhidas a dedo — Chicago, Washington, Londres, São Paulo e Ribeirão Preto —, o grupo atuará acompanhado por uma orquestra de 15 elementos (incluindo o maestro, Steed Cowart), da qual fará parte por exemplo a flautista Nicole Mitchell. Não é o caso do concerto na Casa da Música, no Porto.

Sam the Kid, Coliseu de Lisboa (18/10) e Coliseu do Porto (8/11)

Foi ao ouvir o primeiro tema a solo que escreveu e gravou em vários anos, “Sendo Assim” que o rapper, produtor musical e promotor e pensador da cultura hip-hop (ou “Fernando Maurício do rap luso”, como cunha nesse mesmo tema) Sam the Kid se lembrou de fazer um concerto especial, com orquestra. A ideia passou a plano concreto e o autor dos discos Entre(tanto) e Pratica(mente) agendou duas atuações, em Lisboa e Porto. Em palco, Sam the Kid terá a companhia de Fred Ferreira, Francisco Rebelo, João Gomes e DJ Cruzfader — membros da banda Orelha Negra, que integra há vários anos — e uma orquestra de 24 elementos dirigida pelo maestro Pedro Moreira. Os bilhetes, naturalmente, começaram a voar: para a atuação em Lisboa já não há bilhetes e para a do Porto sobram poucos. Os concertos não se deverão repetir e é uma oportunidade única para rever em palco a solo um dos grandes intervenientes da música nacional deste princípio de século.

Sara Serpa, Bragança Jazz (16/10) e CCB (19/10)

Sara Serpa já não é apenas uma das grandes cantoras do jazz português, é um dos grandes talentos vocais do jazz europeu. Não o é apenas pela voz, que não é tudo: residente em Nova Iorque há mais de dez anos, alia ao maravilhoso tom e nuances vocais — que usa como instrumento de pleno direito — composições líricas e sonoras pensadas para música que estimule em todo o seu conjunto. Com vários álbuns editados nos Estados Unidos da América, ganhou ainda mais destaque com o último álbum Close Up, que gravou com o violoncelista Erik Friedlander e com a saxofonista e figura cimeira do jazz europeu e da música improvisada Ingrid Laubrock. É também esse disco, editado pela portuguesa Clean Feed e em que canta interjeições mas também textos (de Ruy Bello e Virginia Woolf, por exemplo), que motiva a ida a Portugal desta antiga estudante do Berklee College of Music e do New England Conservatory of Music, que já gravou com Ran Blake, André Matos e Mark Turner e Zeena Parkins (com estes a convite do influente John Zorn).

Kelsey Lu, Jameson Urban Routes (24/10)

É um dos concertos mais aguardados do festival Jameson Urban Routes, que decorre anualmente no clube de concertos e DJ sets do Cais do Sodré, Musicbox. Não que não haja interesse em descobrir os brasileiros Carne Doce, a reinterpretação do álbum de culto Plantasia por Moullinex e Bruno Pernadas e a mistura de ritmos turcos com funk e psicadelismo de outras latitudes dos Altın Gün, por exemplo, mas Kelsey Lu é uma confirmação especial. O motivo é sanguinário, no bom sentido: Blood, que em português significa sangue, é o titulo do primeiro disco da violoncelista e cantora norte-americana, que (estranhamente ou não) consegue misturar com eficiência classicismo e música de câmara com ritmos pop e R&B modernos e digitais. É um álbum que a revela ao mundo, é um álbum de estreia muito promissor e é o que motiva a atuação de Kelsey Lu, num festival que este ano decorre diariamente de 22 a 26 de outubro no Musicbox.

Pixies, Campo Pequeno (25/10)

Com um álbum novo acabado de editar — Beneath the Eyrie, lançado esta sexta-feira, 13 de setembro — os Pixies voltam a correr o mundo em digressão e vão passar por Lisboa no dia 25 de outubro. A banda de Black Francis, que tem desde 2016, em definitivo, a guitarrista e baixista (que já tocou por exemplo com Silver Jews, Queens of the Stone Age e Josephine Foster, tendo passado períodos mais longos nos grupos Entrance e A Perfect Circle, entre outros) Paz Lenchantin na vaga de Kim Deal, tem editado álbuns com regularidade recentemente. Este é já o terceiro disco que editam nos últimos seis anos, mas ainda são os clássicos de 1980 e 1990, como “Where is My Mind”, que movem corações. Os Pixies em 2019 será um concerto porventura nostálgico, mas para reviver a adolescência, porque não?

Benjamim, CCB (25/10)

Será um concerto de despedida e antevisão. Um dos melhores escritores de canções da música portuguesa surgidos nos últimos anos — depois de um primeiro projeto musical em inglês, Luís Nunes apareceu com nova persona artística que compõe e canta em português — vai em simultâneo “estrear canções novas” e recordar “canções que já percorreram milhares de quilómetros”, incluídas em álbuns como Auto Rádio (2015) e 1986 (2017). Benjamim vai lembrar o passado e antever o futuro, naquele que será o “último grande concerto” antes de entrar em estúdio para gravar o próximo disco.

Jessica Pratt, Musicbox (29/10)

O primeiro álbum, homónimo e editado em 2012, apresentou-a a um círculo pequeno de ouvintes atentos da música de guitarras norte-americana (e da folk sonhadora e acústica em que começou a mostrar dotes). Foi porém com o segundo disco, On Your Own Love Again, que a guitarrista e cantora norte-americana Jessica Pratt se começou a afirmar no panorama da música alternativa norte-americana, tendo feito digressões pela Europa que passaram também por Portugal. Agora, com um novo álbum editado este ano intitulado Quiet Signs, a cantora e compositora volta a viajar até Lisboa para um novo concerto. Quem gostar de música de tom íntimo e delicada, terá aqui um bom concerto no final do mês de outubro.

Dave Douglas & Uri Caine Duo, CCB (30/10) e Caldas Nice Jazz (31/10)

Já foi nomeado para os prémios Grammy, mas essa é a distinção mediática e popular que habitualmente se usa para convocar ouvintes mais desatentos para a sua música. Prodigioso trompetista “cinquentão”, com atividade musical regular e sólida desde os anos 1990, Dave Douglas já tocou com músicos como o saxofonista Joe Lovano, o baterista Andrew Cyrille, o guitarrista Jeff Parker e o baixista Bill Laswell. É com outro dos seus colaboradores dos últimos anos, o pianista Uri Caine, que Dave Douglas vai apresentar-se no Centro Cultural de Belém, em Lisboa, e no festival Caldas Nice Jazz, nas Caldas da Rainha, para atuações em duo inspiradas na adaptação da história (alternativa) da música negra e sulista dos EUA a uma linguagem jazzística elegante. É isso que se ouve em Present Joys, álbum que o duo gravou e editou em 2014. Melhor so se Dave Douglas e Uri Caine levassem até Portugal o prodigioso baterista Andrew Cyrille, com quem gravaram um dos belos álbuns de jazz lançados já em 2019, Devotion.

Mark Lanegan, Lisboa ao Vivo (30/10) e Hard Club (31/10)

Cantor barítino, rocker de alma e coração, antigo membro dos Screaming Trees com passagem posterior pelos Queens of the Stone Age, Mark Lanegan é uma daquelas figuras do rock que não têm groupies aos magotes mas que é reconhecido com respeito por quase toda a gente. Depois de vários concertos em Portugal, um dos mais especiais dos quais ao lado da banda portuguesa Dead Combo (com quem gravou um tema), desloca-se a Lisboa e Porto com um novo álbum na bagagem: Somebody’s Knocking, com edição prevista para dia 18 do mês das atuações em solo português.

Carlos do Carmo, Coliseu do Porto (2/11) e Coliseu de Lisboa (9/11)

Serão concertos especiais, estes de Carlos do Carmo nos Coliseus de Lisboa e Porto. Em fevereiro deste ano, o fadista anunciou que iria abandonar os palcos por estar na iminência de celebrar 80 anos (chegará a essa idade a 21 de dezembro deste ano). “É uma idade. Há pessoas que têm uma grande capacidade de durar até aos 90 e aos 100 anos a cantar, não é o meu caso”, explicou à data. Para sair de cena com uma despedida “sem amarguras, sem azedumes, com muita, muita gratidão”, anunciou duas atuações finais. Estas serão assim as últimas oportunidades de o ouvir ao vivo, de assistir uma última vez à revisitação de uma carreira única na história do fado português. Uma carreira distinguida com um prestigiante Grammy, que teve pontos altos na colaboração com Ary dos Santos mas que foi muito além disso, estendendo-se por exemplo à colaboração com outros grandes escritores e músicos igualmente exteriores ao fado mas que também o enriqueceram.

Mark Guiliana, Casa da Música (4/11)

Depois de ter atuado há cerca de um ano no festival Seixal Jazz (fez o concerto de abertura), o baterista norte-americano Mark Guiliana, que já tocou e gravou com músicos como Brad Mehldau, David Bowie, Dave Douglas e Lionel Loueke, vai deslocar-se ao Porto no penúltimo mês de 2019, para um concerto na Casa da Música. O baterista vai aproveitar para apresentar o álbum BEAT MUSIC! BEAT MUSIC! BEAT MUSIC!, editado este ano e no qual volta a juntar o virtuosismo técnico à utilização de métodos de composição e produção sonora com recurso à eletrónica.

Arcadi Volodos, Fundação Calouste Gulbenkian (4/11)

Galardoado novamente no último ano com um prestigiado prémio Gramophone (categoria de Melhor Gravação Instrumental), que distinguiu um álbum que compôs inspirado no repertório de Brahms, o pianista russo de 47 anos, nascido em São Petersburgo, já tinha vencido outros três prémios similares, mas para gravações que editou em 1999 (Arcadi Volodos ao vivo em Carnegia Hall), 2010 (Volodos em Viena) e 2014 (Volodos toca Mompou). É um dos pianistas com maior prestígio atual e um dos instrumentistas que mais elogios tem colhido da crítica por interpretação de repertório clássico nos últimos anos. Na primeira semana de novembro, estará no Grande Auditório da Fundação Calouste Gulbenkian para tocar peças de Franz Liszt e Robert Schumann.

Weyes Blood, gnration (5/11) e B.Leza (6/11))

Começou pelos territórios do noise, mas foi numa espécie de folk sonhadora e espectral que se afirmou no panorama musical desta década. Weyes Blood, nome e personalidade artística a que Natalie Laura Mering recorre para editar discos e atuar ao vivo, estreou-se nos álbuns no início desta década, com The Outside Room (2011). Com Front Row Seat To Earth, de 2016 (o seu terceiro disco), confirmou as boas expectativas que criara e afirmou-se em definitivo no panorama indie. Agora, desloca-se a Portugal para dois concertos de apresentação do novo álbum Titanic Rising, lançado este ano, bem recebida coleção de canções com arranjos elaborados e opulentos — mas não grandiloquentes.

Primal Scream, Hard Club (6/11)

Que o repertório é bom, sabe-se há muito: em particular os álbuns dos anos 1990, do magnífico e cósmico-dançante Screamadelica — o terceiro da banda, editado em 1991 — a Give Out But Don’t Give Up (1994), Vanishing Point (1997) e XTRMNTR (2000). Pode-se argumentar que os Primal Scream não fazem um grande álbum, do nível dos seus melhores, há duas décadas, mas mesmo os últimos discos não envergonham o legado de uma banda histórica do panorama musical britânico, formada há quase 40 anos e liderada pelo carismático Bobby Gillespie. Mais impressionante do que isso, porém, é a forma que os Primal Scream continuam a evidenciar ao vivo: os concertos são celebrações que provam que os “êxitos” envelheceram bem e que a banda está mais do que afinada. Foi assim, por exemplo, em 2008, quando a banda deu um grande concerto no festival de Paredes de Coura. E tem continuado assim desde aí, como se viu ainda este verão no festival NOS Alive. É por tudo isto que mais um concerto dos Primal Scream em Portugal, desta vez no Porto, é uma boa notícia, é por tudo isto que dificilmente quer for vai arrepender-se da decisão.

Cass McCombs, CCOP (7/11), gnration (8/11), Galeria Zé dos Bois (9/11)

Trovador da América da sorte e do azar, do folk-rock cançonetista de bar esconso, das roadtrips pelas longas auto-estradas no meio de nenhures, Cass McCombs é uma alma antiga com sangue novo. O último álbum Tip of The Sphere, editado já este ano, é o nono de uma carreira já longa que teve no álbum Big Wheel and Others (de 2013) um ponto alto. A mais recente coleção de canções não será a melhor do músico que se destaca mais na composição e nos arranjos detalhados dos temas do que na lírica, mas motiva uma nova ida de McCombs a Portugal depois de uma passagem pelo Centro de Artes de Ovar em 2017 e de uma boa dupla atuação em Lisboa (Cinema São Jorge) e Porto (festival NOS Primavera Sound) no ano anterior. Em anos anteriores, já tinha atuado em outros locais da capital do país (da Galeria Zé dos Bois e Teatro Maria Matos ao festival NOS Alive) e em cidades como Aveiro e Famalicão. Agora, terá nova atuação na Galeria Zé dos Bois, em Lisboa, e nas salas gnration, em Braga, e CCOP, no Porto.

Al Di Meola, Casa da Música (6/11), CCB (7/11) e Cineteatro de Alcobaça (8/11)

A última atuação em Portugal foi em 2017, na Casa da Música, no Porto. Desde 2015 que Al Di Meola não dava um concerto a solo em Lisboa — e o último foi precisamente no Centro Cultural de Belém. É às duas salas que Al Di Meola vai regressar em novembro, juntando uma atuação extra em Alcobaça, para mostrar os motivos pelos quais é considerado um dos mais importantes guitarristas da world music (em contacto estreito com o jazz). Na bagagem, o guitarrista ítalo-americano de 65 anos levará o seu último álbum de originais, Opus, editado em 2018 e que ainda não apresentou em Lisboa.

Charles Lloyd, Guimarães Jazz, CCVF (7/11)

Como habitual, aquele que se tem afirmado ao longo dos anos como um dos melhores festivais portugueses de jazz leva até Guimarães um interessante caldeirão de propostas que mistura talentos emergentes e recém-afirmados com veteranos com pergaminhos na história deste género musical nascido nos Estados Unidos da América. No Guimarães Jazz, este ano, poderá ouvir-se entre 7 e 16 de novembro os improvisos de dois dos melhores pianistas do jazz e da música improvisada da atualidade, Vijay Iyer e Craig Taborn (dia 9) e o trio do mais do que consolidado saxofonista Joe Lovano com a pianista Marilyn Crispell e a percussionista Carmen Castaldi (), entre várias outras atuações. Ainda assim, é impossível não destacar sobretudo Charles Lloyd, o veteraníssimo (81 anos) e prestigiadíssimo saxofonista e flautista nascido em Memphis, Tennessee, que assegurará o concerto de abertura do festival. São incontáveis os grandes álbuns que lançou desde os anos 1960, como incontável é a quantidade de grandes talentos ecléticos com quem já trabalhou, do pianista Jason Moran às banda rock The Doors e Canned Heat, do guitarrista húngaro Gabor Szabó aos norte-americanos Bill Frisell e Willie Nelson, dos pianistas Brad Mehldau e Keith Jarrett aos bateristas Pete La Roca e Jack DeJohnette. Em Guimarães, Charles Lloyd atuará com um quinteto que inclui ainda piano (tocado por Gerald Clayton), guitarra (Martin Sewell), contrabaixo (Harish Raghavan) e bateria (tocada pelo seu parceiro de há muitos anos Eric Harland).

The Divine Comedy, Aula Magna (7/11), TAGV (8/11), Theatro Circo (9/11)

Com uma relação longa e de grande afinidade com o público português, que os leva a atuar recorrentemente em Portugal, os irlandeses Divine Comedy vão regressar para uma mini-digressão de três concertos em novembro, em Lisboa, Coimbra e Braga. Liderado, como sempre, por Neil Hannon, o grupo vai apresentar pela primeira vez em palcos portugueses o novo disco Office Politics, editado em junho deste ano. Recebido discretamente por crítica e público, é sobretudo um pretexto para ver mais um concerto da banda de pop-rock que se afirmou nos anos 1990.

Willia Tyler, Auditório de Espinho (8/11), CAE Portalegre (9/11), Teatro Bocage (10/11)

Alguns dos seus amigos e parceiros na guitarra instrumental acústica — tocada com aquele estilo de dedilhado rápido, em que as notas se sucedem a uma velocidade frenética sem que se perca harmonia, a que os norte-americanos chamam fingerpickin’ —, como Steve Gunn ou Ryley Walker, tornaram-se entretanto cançonetistas que também escrevem letras e cantam. William Tyler não o fez, manteve-se (por exemplo, como Glenn Jones ou Daniel Bachman) firme na criação de ambientes sonoros intrincados mas também apaziguadores apenas com o recurso à guitarra e a outros instrmentos, sem voz a acompanhar. Fez bem, porque os discos Goes West (editado este ano) e Modern Country (2016) — sobretudo, pese embora alguns grandes temas de Deseret Canyon (2015) e Impossible Truth (2013) — e o EP Lost Colony (de 2014) não precisam de voz alguma, funcionam na perfeição assim mesmo, cheios de guitarras e ocaisonais pianos e órgãos, baterias e outras percussões, baixos e sintetizadores. Está ainda por revelar que formação levará William Tyler à Europa este outono e em particular em Espinho, Portalegre e Lisboa. Seria uma pena que viesse sozinho, dado que nos discos Tyler tem-se vindo a reunir cada vez mais de outros instrumentistas e músicos.

Godspeed you! Black Emperor, Lisboa ao Vivo (9/11) e Hard Club (10/11)

Bandas de pós-rock há muita, mas como os Godspeed you! Black Emperor há poucas — e sem crença beata e incondicional no género, aproximando-se de linguagens como a música noise e drone com regularidade. O grupo canadiano tem vindo a criar um dos repertórios de rock instrumental mais enérgicos e densos que se têm ouvido nos últimos anos e voltará a Portugal em novembro, depois de vários anos fora dos palcos nacionais (a última atuação foi há já cinco anos, no festival NOS Primavera Sound). É sempre um prazer recebê-los.

Katia Guerreiro, Coliseu do Porto (21/11)

Considerado pela crítica musical um dos melhores álbuns portugueses editados no ano passado, Sempre, da autoria da fadista Katia Guerreiro e com produção musical de José Mário Branco, tem vindo a ser apresentado por todo o país nos últimos meses. Porém, o concerto de 21 de novembro, no coliseu portuense, será por certo um dos mais especiais da digressão. Já em dezembro, a fadista tem um concerto marcado no Teatro Micaelense, em São Miguel, nos Açores.

Raul Refree e Lina, T. S. Luiz (22/11), CCC Caldas da Rainha (23/11), Theatro Circo (27/11)

Pode bem ser uma das revelações da reentré, no que se refere a concertos. A junção de dois protagonistas destes assim o indicia. Um, Raul Refree, é um músico e produtor espanhol que tem experiência adquirida em potenciar vozes femininas: trabalhou, nos últimos anos, com Rosalía e Sílvia Pérez Cruz em Espanha e com Luísa Sobral em Portugal, por exemplo — além de ter colaborado com cantores e músicos como Lee Ranaldo. Já Lina é uma fadista portuguesa sobre quem ainda não se sabe grande coisa, tirando ser fã devota de Amália Rodrigues. Raul e Lina juntaram-se para um projeto musical que resultou num primeiro concerto em Espanha e que viajará agora até aos palcos portugueses, através do festival itinerante Misty Fest, que decorre este ano entre 4 e 30 de novembro e que propõe ainda atuações de The Legendary Tigerman com Maria de Medeiros, Maria Gadú, Kyle Eastwood e Teresa Salgueiro, entre outros. Em relação a esta inesperada dupla, conta a promotora Uguru que Raul Refree “ouviu Lina cantar no Clube do Fado e se apaixonou pela voz”. Convidou-a depois a ir para estúdio, onde se cruzaram “numa sala especial”, cheia de “sintetizadores vintage, de Moogs e Arps, de Oberheims e Rolands, mas também com o piano muito perto”. As guitarras ficam para a “nossa imaginação”, a música de Lina e Raul Refree também. Até novembro.

The Mountain Goats, Lisboa ao Vivo (24/11)

É difícil perceber porque é que os The Mountain Goats nunca deram um concerto em Portugal em nome próprio. Não se trata propriamente de uma banda nova — começaram nos anos 1990 e editaram o primeiro álbum há 25 anos —, mas só agora, à boleia do novo e 17º álbum In League With Dragons, vão estrear-se em território nacional. A estreia desta elegante e poética banda de indie-rock e folk-rock norte-americana acontecerá na sala Lisboa ao Vivo, a 24 de novembro. O concerto está inserido na digressão europeia da banda, que começará a 9 de novembro em Estocolmo, na Suécia.

Vampire Weekend, Coliseu de Lisboa (26/11)

O que é feito do indie-rock juvenil norte-americano e britânico, que deixou miúdos com borbulhas a saltar nos bares, de cerveja na mão e felizes com o ressurgimento do bom pop-rock no início deste século? A pergunta vai-se fazendo entre saudosistas de uma outra era, porque aquelas bandas cresceram, são hoje outras, o sangue já não fervilha do mesmo modo. Não se pode esperar que os Vampire Weekend continuem a fazer temas como “Cousins”, mas o último álbum — Father of the Bride, editado no início do ano —, não sendo um grande disco, tem um conjunto de canções absolutamente certeiras, como “Harmony Hall”, “This Life” e “2021”. Só esse trio de singles-ases, indie pop elegante e adulto, a somar a alguns êxitos do passado, justificam a ida ao concerto dos Vampire Weekend em nome próprio em Lisboa, depois de uma atuação este verão no festival NOS Alive. Acresce que o novo guitarrista do grupo, Brian Robert Jones, é uma belíssima adição e isso é especialmente notório ao vivo.

Afonso Cabral, CCB (30/11)

Membro dos You Can’t Win Charlie Brown e da formação que acompanha Bruno Pernadas ao vivo, o compositor e cantor Afonso Cabral lançou este ano o seu primeiro álbum a solo, Morada. O disco foi apresentado pela primeira vez em palco no festival Bons Sons, na aldeia de Cem Soldos, em Tomar, mas em trio, com um teclista (António Vasconcelos Dias) e um guitarrista (Pedro Branco). A 30 de novembro, porém, Afonso Cabral dará aquele que tem vindo a ser anunciado como o concerto de apresentação “oficial” do disco, acompanhado por uma banda maior. As canções, de escrita apurada quer na melodia e estruturas harmónicas (tão próximas do aconchego afinado da pop como exploratórias e cósmicas), quer ainda nas letras, merecem uma ida a Lisboa para ouvir o músico que já escreveu temas para os cantores Cristina Branco e Salvador Sobral.

Nikolai Lugansky, Fundação Calouste Gulbenkian (2/12)

Vibrante pianista de 47 anos nascido em Moscovo, Nikolai Lugansky terá conseguido — reza a lenda — tocar uma sonata de Beethoven ao piano com apenas cinco anos, apenas de ouvido. Talento precoce, estudou piano no Conservatório de Moscovo e iniciou nos anos 1980 uma carreira de grande prestígio, que incluiu gravações para a Warner Classics, a Onyx Classics e para a Deutsche Grammophon, entre outras editoras. Na Gulbenkian, em Lisboa, interpretará reportório de Debussy, César Franck e Alexander Scriabin.

The National, Campo Pequeno (12/12)

Sim, é mais um concerto dos The National entre os muitos que têm dado em Portugal nos últimos anos. Sim, os alinhamentos já não têm a força que tinham em 2008, quando, com um Boxer (o disco que editaram em 2007) quase acabado de editar e com um Alligator — para muitos o melhor álbum da banda, lançado em 2005 — já rodado e experimentado na estrada, deram uma sucessão de concertos mítica em Portugal. Quem viu as atuações no festival então ainda chamado Optimus Alive (hoje NOS Alive) e sobretudo na Aula Magna, em Lisboa, e no Centro Cultural Vila Flor, em Guimarães, ainda hoje as recorda com um sorriso nostálgico no rosto. Desde aí, os álbuns da banda não tiveram mais a mesma força, mas não só foram muito mais ouvidos — resultado do reconhecimento entretanto acrescido — como não envergonham nada o legado do grupo liderado por Matt Berninger. O último I Am Easy To Find, lançado em maio, já preencheu boa parte do alinhamento do concerto dos The National em Paredes de Coura, este verão. O mesmo deverá acontecer neste concerto em Lisboa, seguramente mais uma atuação ao agrado dos devotos do indie-rock literário e despojado dos The National.

Valete, Capitólio (14/12 e 15/12) e Hard Club (21/12)

Inicialmente estava planeado apenas um único concerto de Valete, no Cineteatro Capitólio do renovado Parque Mayer, em Lisboa. Seria “O” concerto de regresso de Valete às atuações em nome próprio na capital do país, depois de vários anos a dar concertos apenas integrados em festivais, sem discos novos para apresentar. Desta vez, ainda não haverá um álbum novo mas haverá o encerramento de um ciclo na carreira de do rapper, que já lançou dois singles do seu próximo disco. Em Movimento será o primeiro álbum de Valete desde Serviço Público, de 2006, que foi o seu segundo disco e um dos mais importantes álbuns da história do hip-hop português — e é aguardado há anos. Antes de dar a conhecer o trabalho na íntegra, Valete fará ainda assim três atuações, duas em Lisboa e uma no Porto.