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Jair Bolsonaro tinha prometido que seriam 15, muitos menos ministros do que o habitual num Governo brasileiro. Não conseguiu manter essa promessa — são 22 ao todo —, mas reuniu um grupo que respeita em grande parte o espírito da sua campanha eleitoral. O combate à corrupção e ao crime violento são alguns dos princípios orientadores do novo Presidente do Brasil e os escolhidos honram essas propostas.

E não é só pelo nome mais sonante na área da justiça — o juiz Sérgio Moro. Prestes a assumir funções, há outros com formação em combate à corrupção (como André de Almeida Mendonça ou Wagner Rosário), os que defendem propostas de linha dura contra a criminalidade, os que têm formação militar — são sete ao todo — e os que apoiam o golpe militar de 1964 (pelo menos dois, Augusto Heleno e Ricardo Vélez Rodríguez). Há também os que apoiam medidas liberais para a economia, liderados pelo pensamento do ministro da área, Paulo Guedes.

A compor a equipa, há vários ministros atualmente a serem investigados por questões ligadas a corrupção ou conflito de interesses — um deles, Ricardo de Aquino Salles, foi inclusivamente condenado em primeira instância já depois de ser escolhido por Bolsonaro. Homens e mulheres que o Presidente, apesar de aparentemente contrariem a sua indicação expressa de não ter casos jurídicos no Governo, não deixa cair, até estarem esgotadas todas as hipóteses de se provar a inocência de cada um.

Durante a campanha, vários destes futuros ministros tinham já sido apontados como “ministeriáveis”: era o caso de Onyx Lorenzini, homem-forte da campanha, o astronauta Marcos Pontes ou até o próprio Sérgio Moro, por quem Bolsonaro nunca tinha escondido a admiração. Mas muitos destes nomeados surgem como cartas fora do baralho para os que não acompanham à lupa a política brasileira. Quem são eles, afinal?

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André de Almeida Mendonça, o advogado (Advocacia-Geral da União)

Percurso

  • Advogado de profissão, estudou corrupção na Universidade de Salamanca e é um especialista em programas de clemência.
  • Passou grande parte da carreira primeiro no setor privado (BR Distribuidora) e depois na Advocacia-Geral da União, o órgão que representa os poderes da União na esfera judicial.
  • No organismo público, foi corregedor-geral, adjunto do Procurador-Geral, diretor do departamento de património, coordenador de medidas disciplinas, vice-diretor da Escola e procurador-seccional da União.

Propostas

  • Mendonça já anunciou ter como meta a recuperação de 25 mil milhões de reais nos próximos dois anos, através da colaboração de empresas que admitam ter cometido irregularidades em contratos com a administração pública.

Polémicas

  • Não está, que se saiba, envolvido em qualquer polémica.

General Augusto Heleno, o “linha dura” (Gabinete de Segurança Institucional)

Percurso

  • É general de quatro estrelas, a patente mais elevada da hierarquia do Exército.
  • Foi primeiro comandante na Missão da ONU para a Estabilização do Haiti, liderou o Comando Militar da Amazónia e foi instrutor na Academia Militar das Agulhas Negras, onde conheceu Jair Bolsonaro.

Propostas

  • Responsável pela segurança presidencial, Heleno irá assumir um cargo sobretudo de aconselhamento ao Presidente, pela sua experiência como militar. Para já, tem defendido o aumento da segurança e controlo policial em bairros desfavorecidos, estradas, fronteiras e prisões.
  • Defende maior liberdade de atuação para as forças policiais e militares, incluindo uma autorização mais alargada para poderem disparar. Caso contrário, diz, o Brasil tornar-se-á um “anarcopaís”.

Polémicas

  • Em 2011, num discurso em memória do seu pai (também ele militar), elogiou o golpe de 1964, que instaurou uma ditadura militar no país. “Lutaste, em 1964, contra a comunização do país e me ensinaste a identificar e repudiar os que se valem das liberdades democráticas para tentar impor um regime totalitário de qualquer matiz”, afirmou.
  • Heleno está convicto de que havia muitos outros planos de atentados contra Bolsonaro para além daquele em que o candidato foi esfaqueado. Deu como exemplo uma faca apreendida a uma mulher, perto da casa do Presidente. “Pode ser que ela diga que era para cortar um queijinho, mas estava com a faca”, afirmou o general.
  • Quando fez parte do Comité Olímpico do Brasil, até 2017, Heleno recebia um salário de 59 mil reais, quando o teto constitucional para salários públicos é de quase 34 mil reais. O Comité diz que esse teto não se aplicava ao general e Heleno garante que foi contratado por uma empresa privada e não sabia que o financiamento do seu ordenado era de origem pública.

Almirante Bento Costa Leite, o pró-nuclear (Minas e Energia)

Percurso

  • Almirante de Esquadra, licenciou-se na Escova Naval, fez um MBA em Gestão Pública na Fundação Getúlio Vargas e uma pós-graduação em Ciência Política na Universidade de Brasília.
  • Comandou o Programa de Desenvolvimento de Submarinos e o Programa Nuclear da Marinha. Era atualmente diretor-geral de Desenvolvimento Nuclear e Tecnológico na Marinha.
  • Foi ainda observador da missão de paz da ONU em Sarajevo, assessor parlamentar do ministro da Marinha no Congressso e comandante de dois submarinos.

Propostas

Polémicas

  • Não está, que se saiba, envolvido em qualquer polémica.

General Carlos Alberto Santos Cruz, o segundo general (Secretaria do Governo)

Percurso

  • General do Exército na reserva, é formado em Engenharia Civil.
  • Comandou a Missão da ONU para a Estabilização do Haiti e outra na República Democrática do Congo.
  • Esteve à frente da secretaria de Segurança Pública do ministério da Justiça do Governo de Michel Temer e manteve-se como consultor da ONU.

Propostas

  • A Secretaria de Governo tem como responsabilidade fazer a articulação entre o Governo e o Congresso. Bolsonaro, contudo, já tinha atribuído essa responsabilidade a Onyx Lorenzoni, chefe da Casa Civil. Santos Cruz garante, contudo, que “não irá trombar” com Onyx (como quem diz que não irá chocar com o colega). Este, por sua vez, garante que Cruz estará mais focado no Programa de Parcerias de Investimentos, entre Estado e empresas privadas, e na relação do Governo com os municípios.
  • Entre os aliados do Presidente, há quem diga que Santos Cruz foi colocado nesta posição para ajudar a fazer uma articulação mais direta entre Bolsonaro e o ministério da Justiça, de Sérgio Moro.

Polémicas

  • O general abandonou a secretaria de Segurança Pública de Temer dizendo não se sentir “confortável” naquela posição. Em causa estariam, segundo explica a Época, as visões diferentes que tinha do ministro da Segurança, Raul Jungmann, relativamente à intervenção nas favelas do Rio de Janeiro. Santos Cruz achava que as tropas militares deviam subir os morros com autorização para entrar no conflito armado e, se necessário, matar. O ministro discordou, temendo uma forte reação. O general optou então por sair do cargo, aproximando-se depois da campanha de Bolsonaro.

Damares Alves, a defensora das crianças (Mulher, Família e Direitos Humanos)

Percurso

  • Advogada de formação, é também pastora da Igreja do Evangelho Quadrangular.
  • Tem trabalhado nos últimos anos como assessora do senador Magno Malta, conhecido líder da chamada “bancada evangélica” no Congresso.

Propostas

  • É defensora do chamado “estatuto do nascituro”, que está em discussão no Congresso. O estatuto pretende restringir o acesso ao aborto e atribuir uma pensão às mulheres vítimas de violação que decidam avançar com a gravidez. “Essa pasta vai lidar com proteção de vidas, não com a morte”, já garantiu a ministra.
  • “Se depender de mim, vou para a porta das empresas onde o funcionário homem ganha mais do que mulher para protestar por equiparação salarial”, afirmou Damares, muito embora esta seja uma matéria em que o Presidente Bolsonaro acha que o Estado não deve intervir.
  • A ministra defende ainda um “pacto pela infância”, para tentar combater a estatística que dá conta de que a cada dia são assassinadas 30 crianças no Brasil. Contudo, não apresentou ainda que medidas podem fazer parte desse pacote.

Polémicas

  • Damares deu recentemente nas vistas ao anunciar publicamente, numa entrevista à Folha de S. Paulo, que foi violada por dois pastores quando era criança. A ministra tentava assim dizer que entendia a posição das mulheres violadas, a propósito da discussão sobre a “bolsa estupro” — nome dado, informalmente, à proposta de pensão para as grávidas que decidam não abortar na sequência de violações. Damares chegou inclusivamente a confessar que, aos 10 anos, ponderou matar-se com veneno para ratos e que apenas não o fez porque, nesse momento, “viu Jesus”. Essa declaração foi alvo de chacota nas redes sociais, tendo inclusivamente o próprio Bolsonaro saído em defesa da sua ministra: “É vergonhoso fazerem deboche”, disse.
  • A ministra foi assessora do senador Magno Malta, de 2015 até agora, e muitos membros da bancada evangélica não viram com bons olhos o facto de Damares ter aceitado um cargo que, creem, deveria ter sido oferecido ao seu chefe. “Se até ao momento ficava clara alguma ingratidão com o Magno Malta, agora chegou a ser afronta. Acho que ele [Bolsonaro] erra em convidar e ela [Damares] erra em aceitar. Não foi uma coisa muito bem conduzida”, afirmou até o deputado Sóstenes Cavalcante, aliado de Malta no Congresso.
  • Damares é fundadora do Movimento Atini — Voz pela Vida, uma ONG que tenta prevenir o infanticídio nas comunidades indígenas. A sua ONG está acusada pelo Ministério Público Federal em Rondônia pela divulgação de um vídeo encenado com crianças indígenas a serem enterradas vivas, pelo facto de terem uma deficiência — apresentando-o como “uma história verdadeira”, algo que a acusação contesta, visto a tribo retratada não ter essa prática. O caso ganha relevo agora que a pasta da ministra tem jurisdição sobre a Funai (Fundação Nacional do Índio).

Ernesto Araújo, o pró-americano (Relações Exteriores)

Percurso

  • Licenciado em Letras pela Universidade de Brasília, é diplomata de carreira.
  • Trabalha há anos no ministério dos Negócios Estrangeiros brasileiro, no Departamento de Estados Unidos, Canadá e Assuntos Interamericanos.

Propostas

  • Foi sugerido pelo filósofo Olavo de Carvalho, conhecido como ideólogo inspirador de Bolsonaro, o que indica que pode ter um perfil marcadamente ideológico no cargo. No seu blog, há alguns meses que Ernesto criticava o Partido dos Trabalhadores, o “marxismo cultural” e a corrente que apelida de “globalismo”.
  • Num documento interno a que a Folha de S. Paulo teve acesso, o ministro explicitou quais os governos internacionais com quem o Brasil deveria procurar alinhar-se: Estados Unidos, Itália, Polónia e Hungria. Segundo Ernesto Araújo, todos “desejam defender as suas próprias civilizações e as suas nações face ao globalismo dominante”. E deixa claro que o pacifismo não é necessariamente o caminho: “Não estamos no mundo para ser a Miss Simpatia”, escreve, sobre o papel do Brasil.
  • Com Araújo à frente dos Negócios Estrangeiros, o foco será colocado no reforço das relações bilaterais com os EUA de Donald Trump: “The sky is the limit” (O céu é o limite), declarou, quando questionado sobre o estado atual da relação entre os dois países. Por outro lado, a posição será de demarcação clara de outros países, como a Venezuela. O Presidente Nicolás Maduro foi inclusivamente desconvidado da tomada de posse de Bolsonaro assim que Araújo foi chamado para o cargo.
  • Como futuro ministro, Ernesto Araújo já informou que o Brasil não irá fazer parte do pacto global das migrações promovido pelas Nações Unidas e assinado em dezembro em Marrocos. “A imigração deve estar a serviço dos interesses nacionais e da coesão de cada sociedade”, defende o ministro.

Polémicas

  • Ernesto Araújo não tem poupado nas palavras e tem deixado bem claro o seu fincado perfil ideológico. No ensaio “Trump e o Ocidente”, o ministro escreve que o Presidente norte-americano irá resgatar a civilização ocidental e as tradições forjadas “pela cruz e pela espada” e, num artigo publicado após a sua nomeação, já prometeu que irá combater as ideias “abortistas” e “anticristãs” nas Nações Unidas. Contudo, estas posições são algo recentes. Como recorda o jornal Nexo, há dez anos Araújo escrevia uma tese cujas ideias a nível internacional pareciam estar bastante alinhadas com as do Governo à altura, o de Lula da Silva (PT). Como exemplo, estava a questão da manutenção da Venezuela no Mercosul, na qual defendia que esse assunto fosse analisado “do ponto de vista do Brasil e do Mercosul e não dos EUA ou da União Europeia”.

General Fernando Azevedo e Silva, o militar comedido (Defesa)

Percurso

  • General do Exército na reserva, foi chefe do Estado-Maior do Exército.
  • Foi responsável pela Autoridade Pública Olímpica durante a presidência de Dilma Rousseff.
  • Mais recentemente, ocupou o cargo de assessor do juiz do Supremo Tribunal Federal Dias Toffoli.

Propostas

  • O general Azevedo e Silva já anunciou os novos comandantes do Exército, da Marinha e da Força Aérea e respeitou a lógica habitual das Forças Armadas de nomear os oficiais mais antigos, muito embora tivesse havido especulação de que no caso do Exército pudesse ter sido escolhido o general Mauro Cid, por ser de Artilharia como Bolsonaro. No entanto, o ministro respeitou a tradição e nomeou Edson Pujol, de Cavalaria.
  • Azevedo e Silva já defendeu um aumento do orçamento para o seu ministério, que possa traduzir-se em aumentos salariais para os militares.
  • O futuro ministro também coloca em cima da mesa a possibilidade de as forças militares poderem ser usadas para responder “esporadicamente” a questões de segurança.

Polémicas

  • Não está, que se saiba, envolvido em qualquer polémica.

Gustavo Bebianno, o fiel da campanha (Secretaria-Geral da Presidência)

Percurso

  • Licenciado em Direito pela Universidade Pontifícia do Rio de Janeiro, tirou um mestrado em Finanças na Universidade de Illinois, nos Estados Unidos.
  • Foi sócio do escritório de advogados de Sérgio Bermudes e diretor jurídico do Jornal do Brasil.
  • Aproximou-se da campanha de Bolsonaro em 2017, apresentando-se como admirador do candidato. Desde então, passou a gerir a agenda de Bolsonaro, os contactos com a imprensa e esteve próximo durante a recuperação do candidato no hospital.

Propostas

  • Publicamente, Bebianno já defendeu como seu principal objetivo promover a desburocratização através do uso das tecnologias. “Talvez pela primeira vez, [teremos] o Governo federal a olhar para sua atividade-fim, que é servir bem a população. O nosso interesse é que o contribuinte pagador de impostos e a população brasileira sejam bem atendidos em tudo aquilo que o Governo tem a oferecer em tempos de serviço e produto”, afirmou.

Polémicas

  • Durante a transição, Bebianno ter-se-á incompatibilizado com um dos filhos do Presidente, Carlos Bolsonaro. Sabendo disso, o novo ministro chegou a sugerir que Carlos — que durante a campanha coordenava as redes sociais da campanha do pai — fosse nomeado para a secretaria de Comunicação da presidência. Mas essa declaração foi vista como um “falso afago” pelo filho do Presidente, que reagiu indiretamente no Twitter afirmando que “Caráter não se negocia. Quando há compulsão por aparecer a qualquer custo, sempre tem algo por trás. A procura por holofote é um péssimo indicativo do que se pode esperar de um indivíduo”.

Gustavo Canuto, o técnico (Desenvolvimento Regional)

Percurso

  • Estudou Engenharia de Computação na Universidade de Campinas e Direito no Centro Universitário de Brasília. Trabalhou na IBM Brasil.
  • Foi chefe de gabinete do ministro da Integração Nacional e secretário-executivo no mesmo ministério.

Propostas

  • Com a fusão do ministério das Cidades e do ministério da Integração Nacional nesta nova pasta do Desenvolvimento Regional, Canuto declara que será possível ter uma política mais uniforme em todo o país: “Vamos unir, finalmente, as políticas nacionais de desenvolvimento regional e de desenvolvimento urbano. Afinal de contas, não há um metro quadrado deste país que não pertença a um município”, afirmou.
  • O novo ministro afirma que ainda não sabe se o famoso programa de apoio social Minha Casa, Minha Vida se manterá sobre a sua alçada. Avançou, contudo, que o seu orçamento deverá estar algures entre os 1,35 e os 1,80 mil de milhões de reais.

Polémicas

  • Não está, que se saiba, envolvido em qualquer polémica.

Luiz Henrique Mandetta, o investigado (Saúde)

Percurso

  • Médico ortopedista, licenciou-se na Universidade Gama Filho, no Rio de Janeiro, e fez a sua residência no Mato Grosso do Sul. Especializou-se em ortopedia infantil em Atlanta, nos Estados Unidos.
  • Foi secretário da Saúde de Campo Grande entre 2005 e 2010. Depois de sair, candidatou-se ao seu primeiro cargo político e foi eleito deputado federal pelo partido Democratas (DEM). Foi posteriormente eleito presidente da Comissão de Seguridade Social e Família.
  • Tem também uma ligação às Forças Armadas: nos anos 90 foi médico do Exército, como tenente.

Propostas

  • Já depois da sua nomeação, Mandetta declarou publicamente não ter prioridades para o seu mandato. “A gente tem na saúde um debate muito extenso. A prioridade maior é aquela que te aflige naquele momento. Em saúde, não tem como dizer que A é prioridade em relação a B. É um conjunto de atividades que temos de fazer”, disse.
  • Na prática, já se focou nas campanhas contra o HIV, dizendo que há uma “banalização” da doença; e também abordou a política de tratamento das dependências, propondo uma alternativa aos atuais Centros de Atenção Psicossociais.
  • Relativamente ao caso dos médicos cubanos — que Havana decidiu retirar do país em reação a declarações de Bolsonaro —, o novo ministro disse crer que o programa era mais “um convénio entre Cuba e o PT e não entre Cuba e o Brasil” e sugeriu um programa alternativo: usar a Lei do Serviço Militar para obrigar os recém-licenciados em Medicina a responderem às exigências do Estado.

Polémicas

  • Mandetta está atualmente a ser investigado por alegada fraude, tráfico de influências e pagamentos não declarados. Em causa está a criação de um sistema informático em Campo Grande, onde foi secretário da presidência. Os investigadores suspeitam de que terá influenciado a contratação das empresas para esse serviço em troca de ajudas na campanha eleitoral. O ministro responde negando a acusação e dizendo que são “denúncias de um deputado da oposição”. Bolsonaro defende o seu ministro: “Isso é de 2009, ele nem é réu ainda, o que nós acertamos foi que qualquer denúncia ou acusação que se torne robusta, a pessoa saia do governo.” A Mandetta terá dito diretamente “pô, você ficou seis anos numa secretaria de saúde e tem só um processo?”, como que a desvalorizar o caso.

Marcelo Álvaro Antônio, o discreto (Turismo)

Percurso

  • Estudou Engenharia Civil em Belo Horizonte, mas não chegou a licenciar-se.
  • Foi vereador em Belo Horizonte e é atualmente deputado federal pelo Partido Social Liberal de Bolsonaro. Antes do PSL, esteve no Partido Republicano Progressista (PRP), no Partido da Mulher Brasileira (PMB) e no Partido da República (PR).

Propostas

Polémicas

  • Não está, que se saiba, envolvido em qualquer polémica.

Marcos Pontes, o astronauta (Ciência e Tecnologia)

Percurso

  • Mestre em Engenharia de Sistemas e piloto de testes de aeronaves, é também tenente-coronel da Força Aérea na reserva.
  • Ficou conhecido do grande público por ser o primeiro astronauta brasileiro — e o primeiro da América do Sul — a ir ao espaço, depois de participar numa missão da Estação Espacial Internacional em 2006.
  • Já foi embaixador da ONU para o desenvolvimento industrial.
  • Em 2014 entrou na política, candidatando-se a deputado federal pelo Partido Socialista Brasileiro (PSB). Atualmente está filiado no PSL de Bolsonaro.

Propostas

Polémicas

  • Desde que entrou na reserva como militar, o ministro tem sido apelidado de “garoto-propaganda” pela sua participação em múltiplas palestras e campanhas publicitárias. Uma das empresas a quem fez publicidade estava registada no nome de uma das suas assessoras, razão pela qual foi investigada pelo Ministério Público Militar em 2006, segundo conta o The Intercept Brasil. Em causa estaria a possível violação do código militar que proíbe quem está no ativo de manter interesses comerciais. Depois da investigação prescrever em 2017, como relembra o Diário de Notícias, Pontes tornou-se sócio maioritário da empresa.

Onyx Lorenzoni, o distribuidor de jogo (Casa Civil)

Percurso

  • Veterinário de formação, é sócio do Hospital Veterinário Lorenzoni no Rio Grande do Sul.
  • Entrou na política na sua cidade natal (Rio Grande), como deputado estadual. Desde então já foi eleito deputado federal pelo DEM duas vezes.
  • Desde 2017 que se aproximou claramente da campanha de Bolsonaro, em vez de apoiar o candidato preferido do seu partido — Geraldo Alckmin, do Partido da Social-Democracia Brasileira (PSDB).

Propostas

  • À frente da Casa Civil, como responsável pela articulação entre o Executivo e o Congresso, Onyx tem como responsabilidade ajudar a costurar a maioria parlamentar de que Bolsonaro necessita nas câmaras para aprovar as suas iniciativas. No final de novembro, Lorenzoni garantia que o Presidente terá uma base de apoio entre 350 a 513 deputados na Câmara dos Deputados — mas garante que isso não será conseguido à custa do “toma lá, dá cá”, ou seja, através de troca de cargos e favores.
  • Em termos de ideias políticas, o chefe da Casa Civil segue a linha do Presidente: o fim do Estatuto de Desarmamento e a redução da maioridade penal são algumas das propostas que mais apoia.

Polémicas

Osmar Terra, a herança de Temer (Cidadania e Ação Social)

Percurso

  • Médico de formação, com mestrado em Neurociências, foi secretário da Saúde no Rio Grande do Sul e na prefeitura de Santa Rosa.
  • Há cinco mandatos que exerce o cargo de deputado federal pelo Movimento Democrático Brasileiro (MDB).
  • Foi ministro do Desenvolvimento Social no Governo de Michel Temer.

Propostas

  • O ministério que será liderado por Osmar Terra englobará responsabilidades que até aqui cabiam às pastas do Desporto, Cultura, Desenvolvimento Social e até alguns setores que pertenciam ao ministério do Trabalho. É uma estrutura pequena do Ministério do Trabalho que é a economia solidária [que migrará para o Ministério da Cidadania]. Para nós, é importante para a geração de emprego e renda. Ela é só uma secretaria, é um pedaço do ministério”, resume o ministro.
  • Como principais objetivos estão a continuidade de programas sociais como o Bolsa Família e o Criança Feliz, mas com pequenas alterações: devem estimular a criação de emprego e podem ser alargados. Uma das ideias é passar a atribuir uma 13ª prestação do Bolsa Família, para além das 12 mensais já distribuídas.
  • Osmar pondera alterar a Lei Rouanet, que concede apoios à Cultura e que tem sido amplamente criticada por Bolsonaro.

Polémicas

  • A escolha de Osmar Terra, à semelhança da de Damares Alves, irritou profundamente a bancada evangélica, que gostaria de ver Magno Malta num destes dois lugares. “Quem é Osmar Terra comparado ao Magno Malta?”, perguntou até o pastor Silas Malafaia, apoiante fervoroso, até agora, de Bolsonaro.

Paulo Guedes, o liberal (Economia)

Percurso

  • Economista licenciado pela Universidade de Minas Gerais, a sua formação foi no entanto marcada sobretudo pelo doutoramento que fez sobre política fiscal na Universidade de Chicago.
  • Fundou o Banco Pactual e a BR Investimentos e presidiu ao Instituto Brasileiro de Mercado de Capitais. Deu aulas em várias universidades.
  • É presidente da Bozano Investimentos, cargo que vai abandonar ao entrar no Governo.

Propostas

  • Terão de ser muitas, até porque Paulo Guedes irá ter em mãos um “superministério” que engloba as Finanças, a Indústria e Comércio e o Planeamento. Uma tarefa que se aplica a quem defende o Estado mínimo, já que Paulo Guedes é um liberal económico que defende os cortes no papel do Estado, as privatizações e a abertura aos mercados internacionais. Bolsonaro, contudo, até há bem pouco tempo defendia uma postura mais estatizante — mas parece ter mudado de ideias, persuadido por Guedes.
  • Teve carta branca para escolher pessoas para vários cargos: Roberto Castello Branco para a Petrobras, Rubem Novaes para o Banco do Brasil e Pedro Guimarães para a Caixa Económica Federal. Decisões particularmente importante se tivermos em conta que Guedes quer criar uma secretaria de Privatizações para acelerar a venda de várias empresas públicas.
  • Guedes já garantiu que gostaria de “meter a faca” no chamado Sistema S, o sistema de contribuições para serviços ligados a categorias profissionais ou económicas como o Serviço Social do Comércio ou do Transporte.

Polémicas

Ricardo de Aquino Salles, o condenado (Meio Ambiente)

Percurso

  • Advogado e criador do movimento Endireita Brasil.
  • Secretário estadual para o Meio Ambiente em São Paulo, durante o Governo de Geraldo Alckmin (ex-candidato presidencial do PSDB).
  • Concorreu a deputado federal nestas eleições pelo partido Novo, mas não foi eleito.

Propostas

  • Não são conhecidas ainda propostas muito concretas do ministro nomeado, mas Ricardo Salles já deixou uma garantia: “Vamos preservar o meio ambiente sem ideologia e com muita razoabilidade”, disse, garantindo que todos os que “trabalhem e produzem no Brasil” serão respeitados.

Polémicas

  • É uma polémica à séria: a 19 de dezembro, já depois de ter sido escolhido por Bolsonaro, mas ainda antes de tomar posse, Ricardo Salles foi condenado em primeira instância por “improbidade administrativa” devido à sua ação enquanto secretário estadual do Ambiente em São Paulo. O tribunal considerou que, na elaboração do plano da Área de Proteção Ambiental da Várzea do Rio Tietê, “foram cometidas diversas irregularidades”, como medidas que podem prejudicar o meio ambiente, intimidação de funcionários a alteração de documentos. Salles garante que vai recorrer. Dentro do Governo de Bolsonaro há quem considera a situação “delicada”, como conta o Estado de S. Paulo, tendo em conta a postura anti-corrupção assumida por Bolsonaro. Mas o Presidente está decidido em não deixar cair o seu futuro ministro do Ambiente.
  • Pode não ser muito certo qual é o rumo que o ministério tomará com Salles, mas Bolsonaro já deixou claro que espera um ministro que faça frente às instituições: “Quando vi entidades ambientais criticando ele, eu falei: ‘pôxa, Onyx [Lorenzoni], acho que acertámos”, comentou em jeito de piada o Presidente.
  • Durante a campanha eleitoral pelo NOVO, que Salles perdeu ao não ser eleito para deputado federal, o futuro ministro deu nas vistas ao sugerir publicamente nas redes sociais o uso de balas com o calibre igual ao seu número de candidato “contra a praga do javali” e “contra a esquerda e o MST [Movimento dos Trabalhadores Sem Terra]”. O partido desvinculou-se da publicação e disse rejeitar “qualquer insinuação ou apologia à violência”.

Ricardo Vélez Rodríguez, o ideológico (Educação)

Percurso

  • Colombiano, fugiu da violência no seu país para o Brasil, em 1979. Adquiriu a cidadania brasileira nos anos 90.
  • Licenciado em Filosofia e Teologia em Bogotá, doutorou-se mais tarde em Filosofia na Universidade Gama Filho, no Brasil.
  • Deu aulas em várias universidades colombianas e brasileiras ao longo da vida.

Propostas

  • É um nome desconhecido na área educacional, mas foi sugerido pelo ideólogo Olavo de Carvalho, o que pode indicar uma colagem às suas ideias.
  • Desde que foi nomeado, Rodríguez tem partilhado algumas das suas opiniões sobre educação: é a favor do Escola Sem Partido (movimento contra o que consideram ser uma “doutrinação ideológica” que acontece nas escolas brasileiras), defende que o Presidente saiba quais vão ser as questões do Exame Nacional do Ensino Médio (depois de uma polémica com uma pergunta que envolvia questões sobre a sigla LGBT na prova de Linguagem) e é contra a discussão de temas de género e sexualidade na sala de aula.
  • Defende a criação de Conselhos de Ética em todas as escolas para “zelar pela reta educação moral dos alunos”.
  • Considera os colégios militares bons exemplos a seguir pela escola pública, pois têm bons níveis de “qualidade, exigência e disciplina”.
  • Considera que o ensino médio (entre os 10 e os 19 anos) deve preparar imediatamente os alunos para entrarem no mercado de trabalho, dispensando alguns de frequentarem o ensino superior. “Nem todo mundo gosta de universidade. Eu acho que o segundo grau deve ter como finalidade mostrar ao aluno que ele pode pôr em prática esses conhecimentos e ganhar grana com isso, como os youtubers estão ganhando grana sem frequentar universidade”, defendeu.

Polémicas

Roberto Campos Neto, o especialista da banca (Banco Central)

Percurso

  • Mestre em Economia com especialização em Finanças, formou-se na Universidade da Califórnia (EUA).
  • Trabalhou nos bancos Bozano, Simonsen e na gestora Claritas. Atualmente é diretor e responsável pela Tesouraria no banco Santander.

Propostas

  • Não são conhecidas as ideias que Roberto Campos Neto traz consigo para o cargo, mas é sabido que é neto de Roberto Campos, um conhecido liberal da política brasileira.
  • A nomeação de Campos surge numa altura em que se discute se o Banco Central, que vai liderar, deve ser autonomizado do Governo ou não. Atualmente, o organismo está ligado ao ministério das Finanças, mas tem estatuto equiparado ao do ministério, estando intimamente ligado à presidência da República.

Polémicas

  • Não está, que se saiba, envolvido em qualquer polémica.

Sérgio Moro, o juiz da Lava Jato (Justiça e Segurança Pública)

Percurso

  • Licenciado em Direito pela Universidade de Maringá, doutorou-se na mesma área na Universidade do Paraná, onde viria a dar aulas mais tarde. Estudou ainda em Harvard.
  • Como juiz, trabalhou em vários casos de corrupção como o caso Banestado ou Mensalão.
  • Tornou-se figura de destaque pelo seu trabalho no caso Lava Jato, a partir de Curitiba, tendo sido responsável pela condenação do ex-Presidente Lula da Silva.

Propostas

  • Sérgio Moro já declarou o que espera ver da Justiça brasileira: magistrados “independentes, íntegros, e que tenham também uma história profissional consistente com a política do Governo” — ou seja, nas suas próprias palavras, “duros contra  crime”.
  • O novo ministro prometeu que está a preparar um pacote de medidas anti-crime que pretender criar uma secretaria de Operações Policiais Integradas para investigar a criminalidade violenta.

Polémicas

  • A única polémica passível de ser apontada a Moro é o facto de ter repetido múltiplas vezes, ao longo do tempo em que investigou a Lava Jato, que não tinha nenhuma intenção de entrar na política. Ao aceitar o convite de Bolsonaro, expôs-se às críticas dos que o acusavam de ter intenções políticas ao investigar e condenar Lula da Silva.

Tarcísio Gomes de Freitas, o mestre-de-obras (Infraestrutura)

Percurso

  • Licenciado em Engenharia Civil pelo Instituto Militar de Engenharia, tem pós-graduações em Gerenciamento de Projetos e Gestão de Cadeia de Suprimento e Logística.
  • Foi consultor legislativo na Câmara dos Deputados e participou na missão de paz da ONU no Haiti como chefe da secção técnica da Companhia de Engenharia do Brasil.
  • Foi diretor-executivo no Departamento Nacional de Infraestrutura durante o Governo de Dilma Rousseff.

Propostas

Polémicas

  • Não está, que se saiba, envolvido em qualquer polémica.

Tereza Cristina, a defensora da bancada ruralista (Agricultura)

Percurso

  • Engenheira agrónoma de profissão, foi secretária do Desenvolvimento Agrário da Produção, da Indústria, do Comércio e do Turismo no governo do Mato Grosso do Sul.
  • Passou para a política a nível nacional em 2015, ao ser eleita pelo DEM. Desde então faz parte da chamada bancada “do Boi”, que representa os interesses da indústria agropecuária.

Propostas

Polémicas

Wagner Rosário, o anti-corrupção (Transparência e CGU)

Percurso

  • Ex-oficial do Exército, estudou Ciências Militares na Academia das Agulhas Negras.
  • Fez mestrado em Combate à Corrupção e Estado de Direito da Universidade de Salamanca.
  • Fez toda a sua carreira na Controladoria Geral da União, órgão federal responsável pela defesa do património público e implementação de transparência. Desde maio de 2017, ainda no Governo de Temer, passou a assumir o cargo de ministro da Transparência interino.

Propostas

Polémicas

  • Não está, que se saiba, envolvido em qualquer polémica.