A queda das taxas de juro abriu uma oportunidade para quem deve dinheiro à banca. Ao consolidar todos os créditos num único mais barato, é possível baixar substancialmente os encargos mensais ou, mantendo o montante, reduzir o prazo da dívida.
Imagine uma família com dois créditos ao consumo:
- Um, de 20 mil euros a 8 anos para a aquisição de carro novo há 5 anos, tem uma taxa de juro de 12,5%;
- O outro, de 10 mil euros a 5 anos contratado há 2 anos para financiar a remodelação da casa (eletrodomésticos e mobília), tem uma taxa de juro de 13,5%.
Nesta altura, a família tem uma dívida de 16.662 euros com um prazo remanescente de 3 anos. As prestações mensais somam 561 euros, excluindo impostos e outros encargos. E se saldar estas dívidas contratando um novo crédito?
As taxas de juro cobradas agora pela banca variam entre 4% e 12% nos créditos pessoais, mostram os preçários das instituições financeiras. Todavia, as taxas mais baixas estão reservadas aos clientes que dão garantidas no empréstimo, como o penhor de aplicações financeiras ou fiadores. No entanto, como se mostra mais à frente, mesmo sem garantias, é possível contratar taxas perto de 7%.
Ao trocar os dois créditos anteriores por um novo à taxa de 7%, a família ficaria a pagar uma prestação mensal de 514 euros durante 3 anos, menos 8,4% do que paga agora. Se estiver com restrições financeiras, é possível ficar a pagar menos todos os meses através da extensão do prazo para 5 anos (330 euros por mês) ou, mesmo, 8 anos (227 euros). Todavia, se não tiver dificuldade em pagar 561 euros, pode reduzir o prazo da dívida em um trimestre — para 2 anos e 9 meses — para permanecer com o mesmo encargo mensal.
Na prática, a poupança poderia ser superior, porque os cálculos anteriores não incluem todos os encargos dos financiamentos antigos, como as comissões de processamento de prestações e os impostos. Porém, há outros custos que poderiam reduzir a poupança obtida com a consolidação de créditos, como as comissões iniciais do novo empréstimo e os custos de reembolso antecipado das dívidas anteriores.
TAEG para comparações honestas
Se procura um crédito para consolidar as suas dívidas, compare as suas alternativas recorrendo à taxa anual de encargos efetiva global (TAEG). Além dos juros e das amortizações do capital em dívida, esta taxa tem em conta outros custos associados ao contrato do crédito, como comissões e impostos.
A pedido do Observador, o ComparaJá, o portal de informação e comparação de produtos financeiros, procurou junto da banca portuguesa as soluções de crédito que mais permitem poupar através da consolidação. No primeiro caso, dum consumidor que quer juntar dez mil euros de dívidas, o Novo Banco tem a melhor proposta: uma taxa de juro nominal de 6,95%. Após a contabilização do encargo de documentação e das comissões de liquidação das prestações, a TAEG fica em 10,5%.
Instituição | Tipo de crédito | Prestação mensal | TAEG | Montante total imputado ao cliente |
Novo Banco | Crédito pessoal | 202,73€ | 10,5% | 12.625,83€ |
Cetelem | Crédito consolidado | 226,32€ | 11,2% | 12.888,00€ |
Banco BPI | Crédito pessoal | 199,34€ | 11,3% | 12.868,60€ |
Santander Totta | Crédito consolidado | 223,00€ | 12,7% | 13.363,00€ |
Millennium bcp | Crédito pessoal | 201,81€ | 13,5% | 13.443,84€ |
Caixa Geral de Depósitos | Crédito pessoal multifuncionalidade | 227,00€ | 13,6% | 13.609,00€ |
Unibanco | Crédito pessoal | 224,13€ | 13,8% | 13.598,41€ |
Cofidis | Crédito consolidado | 243,62€ | 13,8% | 13.611,00€ |
Fonte: ComparaJá a 16 de outubro de 2017. TAEG = taxa anual de encargos efetiva global. |
O Banco de Portugal calcula trimestralmente a TAEG máxima que as instituições financeiras podem cobrar nos créditos ao consumo. A Cofidis e o Unibanco atribuem a taxa máxima, que está atualmente em 13,8% para a maioria dos créditos pessoais. A opção pela Cofidis em vez do Novo Banco representa mais 985,17 euros de encargos ao longo dos cinco anos do empréstimo.
A taxa máxima de 13,8% na maioria dos créditos pessoais (exclui os que se destinam a financiar educação, saúde, energias renováveis e locação financeira de equipamentos) está em cerca de metade do nível máximo que estava em vigor no primeiro trimestre de 2013, de 27,5%.
No segundo caso simulado pelo ComparaJá para o Observador, o casal de consumidores hipotéticos necessita de 15 mil euros a 8 anos para absorver vários créditos. Nesta situação, o Banco BPI tem a melhor proposta: uma TAEG de 10,3%, que resulta de uma taxa nominal de 7% acrescida das comissões de abertura de crédito, o prémio do seguro de vida obrigatório para um titular, a comissão de manutenção da conta à ordem e os impostos.
Instituição | Tipo de crédito | Prestação mensal | TAEG | Montante total imputado ao cliente |
Banco BPI | Crédito pessoal | 206,60€ | 10,3% | 21.462,84€ |
Cetelem | Crédito consolidado | 248,94€ | 11,2% | 22.250,28€ |
Santander Totta | Crédito consolidado | 236,00€ | 11,7% | 22.687,00€ |
Millennium bcp | Crédito pessoal | 208,56€ | 12,3% | 22.831,08€ |
Cofidis | Crédito consolidado | 272,45€ | 13,7% | 24.010,92€ |
Caixa Geral de Depósitos | Crédito pessoal multifinalidade | 252,00€ | 13,7% | 24.149,00€ |
Fonte: ComparaJá a 16 de outubro de 2017. TAEG = taxa anual de encargos efetiva global. |
Neste segundo caso, a seleção do crédito com a prestação mensal mais baixa (206,60 euros no Banco BPI) permite poupar mais de 18% por mês face ao encargo mensal mais elevado (252 euros na Caixa Geral de Depósitos).
O setor financeiro português concedeu 333 milhões de euros em crédito ao consumo por cada um dos oito primeiros meses de 2017. “Há a perceção de que há muito crédito novo, mas uma grande parte é para consolidação de créditos. Muitas vezes, [a dívida] passa apenas de uma instituição para outra”, alerta Sérgio Pereira, diretor-geral do ComparaJá. “O crédito deveria ser o óleo da economia, mas não está a ser.”
No terceiro caso simulado, de um casal de quer consolidar 20 mil euros a pagar em seis anos, o Novo Banco é também a instituição com a proposta mais económica, ao indicar uma TAEG de 9,7%.
Instituição | Tipo de crédito | Prestação mensal | TAEG | Montante total imputado ao cliente |
Novo Banco | Crédito pessoal | 346,81€ | 9,7% | 25.894,69€ |
Banco BPI | Crédito pessoal | 343,68€ | 10,5% | 26.428,88€ |
Cetelem | Crédito consolidado | 403,31€ | 11,6% | 27.296,40€ |
Santander Totta | Crédito consolidado | 385,00€ | 12,0% | 27.686,00€ |
Millennium bcp | Crédito pessoal | 346,19€ | 12,3% | 27.597,60€ |
Cofidis | Crédito consolidado | 416,29€ | 12,3% | 27.804,00€ |
Caixa Geral de Depósitos | Crédito pessoal multifuncionalidade | 395,00€ | 13,2% | 28.469,00€ |
Unibanco | Crédito pessoal | 395,57€ | 13,8% | 28.781,99€ |
Fonte: ComparaJá a 16 de outubro de 2017. TAEG = taxa anual de encargos efetiva global. |
Apesar de concordar que pode ser uma boa ideia para quem quer baixar os custos dos seus créditos pessoais, Sérgio Pereira avisa que nem sempre é possível concretizar a consolidação de dívidas. “Ainda é bastante difícil obter crédito pessoal. Há duas razões: a taxa máxima [imposta pelo Banco de Portugal] que limita o negócio e a falta de informação disponível sobre quem procura crédito”, explica.
Se não tentar a consolidação, nunca saberá se conseguirá aproveitar a queda das taxas de juro. O importante é simular o impacto financeiro dessa consolidação — sozinho ou com ajuda de um serviço como o ComparaJá.