Os vencedores

Rui Rio

O líder social-democrata chegou a este Congresso com condições que nunca teve desde que é líder do PSD: varreu a oposição interna, fez um brilharete nas autárquicas (as primeiras eleições em que pode verdadeiramente reclamar uma vitória) e até as sondagens (as mesmas que Rui Rio sempre desprezou) apontam para uma aproximação face aos socialistas. Cheira a poder, isso sente-se no partido e foi particularmente evidente nesta reunião magna — os críticos ficaram (quase todos) em casa e até os mais recentes adversários, com Luís Montenegro à cabeça, engrossaram o coro de apelos à união do partido. Rio teve um passeio no parque em Santa Maria da Feira e saiu deste Congresso como chegou: dono e senhor do partido. Nas duas vezes em que subiu ao palco esteve longe de produzir discursos galvanizadores e se a ideia era não cometer grandes erros Rio conseguiu cumprir. A verdadeira corrida do líder social-democrata começa já em janeiro, com a sucessão de debates e o aquecer da campanha eleitoral.

Carlos Moedas

São novos tempos e os ventos sopram a favor de Moedas. O presidente da câmara de Lisboa – a quem em tempos foi atribuída falta de carisma – entrou como um furacão no Congresso do PSD. Esteve pouco mais de uma hora em Santa Maria da Feira (foi logo embora, qual pop star aterefada com-uma-câmara-para-governar), mas levantou o Congresso três vezes e deu-se ao luxo de dar conselhos a Rui Rio sobre como ganhar eleições. Saiu assim aclamado do Congresso, qual Ayuso do centro-direita português. Apesar de longe de discursos épicos (como os de Santana), ou espirituosos (como o de Marcelo no Coliseu em 2014), Moedas inscreveu o seu nome na história dos Congressos do PSD. É hoje um dos maiores ativos do partido e tem legítimas aspirações de um dia entrar nas contas da liderança. Cheira bem, cheira a poder. E foi esse o aroma que Moedas trouxe de Lisboa.

Paulo Colaço

O presidente do Conselho Nacional de Jurisdição foi uma dor de cabeça para Rui Rio nos últimos dois anos. Foi atacado no púlpito por figuras como o líder parlamentar Adão Silva e por membros do CNJ afetos a Rio, que utilizaram tudo o que podiam para o diminuir, incluindo o facto de não ter acabado o curso de Direito (que voltou a frequentar este ano). Colaço defendeu-se sempre dos ataques, lembrou que o anterior presidente da CJN, escolhido por Rio, era economista. À noite, na ronda de entrevistas às televisões, Rio, o líder, envolveu-se diretamente na contenda e criticou Paulo Colaço, sugerindo que danificou a imagem do partido com a sua ação. Um dos objetivos das tropas de Rio para este Congresso era afastar Colaço, mas venceu o underdog contra o status quo do partido.

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O semi-vencedor

Miguel Pinto Luz

O número dois de Carlos Carreiras entrou neste Congresso como derrotado. Aliou-se a Paulo Rangel desde o primeiro momento, perdeu protagonismo ao longo da campanha interna e acabou, tal como Rangel, derrotado contra todas as expectativas que existiam. A associação ao eurodeputado poderia ter sido politicamente fatal, mas Pinto Luz tentou inverter a tendência. Fez um discurso de rutura (o único que furou a unidade em torno de Rio) e apresentou uma lista ao Conselho Nacional que superou a de Luís Montenegro, possivelmente um dos seus adversários no futuro pós-Rio. Se é verdade que não pode ser colocado no mesmo patamar de Rio e Moedas, Pinto Luz conseguiu fazer uma prova de vida neste congresso e posicionar-se, para já, como a alternativa ao líder do PSD. Resta saber se conseguirá manter o capital político conquistado quando as coisas forem mais a sério.

Os vencidos

Luís Montenegro

Depois de dois anos de “recato”, durante os quais assegurou ter estado “sempre perto”, Luís Montenegro pretendia aproveitar este Congresso para voltar em grande. Mas o estrondo acabou em suspiro. Depois de ter perdido na primeira divisão, quando disputou a liderança do partido, perdeu agora na segunda divisão, quando disputou a liderança da oposição interna. A sua lista para o Conselho Nacional acabou em terceiro lugar, atrás da lista de Miguel Pinto Luz.

Pinto Luz foi claro: fez um discurso a reafirmar a sua oposição a Rui Rio. Montenegro foi equívoco: fez um discurso de crença absoluta na vitória de Rui Rio nas legislativas que não se percebeu se era um aplauso verdadeiro ou uma armadilha disfarçada. Sofreu ainda uma derradeira humilhação: Rui Rio elogiou o discurso de Luís Montenegro, tratando-o como um pai trata uma criança bem-comportada.

Paulo Rangel

Há um mês Paulo Rangel achava que este ia ser o Congresso da sua consagração e um grande momento de afirmação como candidato às legislativas contra o PS de António Costa. Rangel acertou em tudo, menos no protagonista. O Congresso foi o momento da afirmação, mas de Rio, seu adversário nas diretas. Se houve alguma consagração foi a do falhanço da estratégia do eurodeputado. Segundo as sondagens, Rio está a aproximar-se de António Costa com a estratégia que Rangel diabolizava.

Para um candidato que há menos de um mês teve os votos de praticamente metade dos militantes, Rangel viu os apoios partirem-se no imediato em pinto-luzistas, montenegristas e novos-rioistas. Rangel sai assim do Congresso como sempre esteve no partido: como um sniper solitário, sempre pronto a disparar contra o PS, para apoiar os companheiros que precisarem do seu auxílio e até para uma eventual batalha eleitoral, mas a apontar a mira a partir de uma torre de marfim em Bruxelas. Disse que não tem por hábito hibernar politicamente, mas, no fim, restou-lhe voltar a emigrar. Sai com um quadro importante do partido, mas o seu sonho (de liderar o partido e, depois, o país) acabou.

Nuno Morais Sarmento

Nuno Morais Sarmento passou de vice-presidente do PSD a apoiante de um candidato derrotado à liderança. Depois, passou de apoiante de um candidato derrotado à liderança a candidato do status quo a presidente do Conselho de Jurisdição Nacional. A seguir, passou de candidato do status quo a presidente do Conselho de Jurisdição Nacional a candidato derrotado que, não acreditando no que lhe está a acontecer, exigiu uma recontagem. Por fim, candidato derrotado que, não acreditando no que lhe estava a acontecer, exigiu uma recontagem a candidato derrotado, ponto final. Tudo isto em poucas semanas, tudo isto a uma velocidade estonteante. Com apenas mais 34 votos, Paulo Colaço abateu mais um barão com décadas de poder e influência. Era possível este Congresso ter sido mais humilhante para Nuno Morais Sarmento? Se calhar era, mas neste momento é difícil imaginar como.

O Penetra

António Costa

Não há Congresso da oposição que não tenha no líder do Governo o seu principal odioso. Foi, por isso, sem surpresas, que pelo púlpito de Santa Maria da Feira passaram todo o tipo de mimos dirigidos a António Costa. Mas não só. A dada altura houve mesmo um protesto do presidente da Mesa do Congresso, Paulo Mota Pinto, por ter percebido que o líder do PS estava numa iniciativa partidária que desviava as atenções políticas do palco de Santa Maria da Feira. O fim de semana era do PSD, de (re)entronização de Rio, e a JS tinha Costa a encerrar uma iniciativa em Lisboa que deu no seguinte resultado: perto das 19 horas, António Costa entrava pelo palco político adentro a carregar (como nunca até ali) no pedido de maioria absoluta para o PS. Mota Pinto acusou-o, por isso, de “tentar condicionar” os trabalhos sociais-democratas, afinal, explicaria Rio depois numa das entrevistas televisivas que deu, foi o próprio líder do PS a criticar os sociais-democratas há uns anos por terem feito algo semelhante, sublinhando o pacto tácito que quando um partido fala, o outro… Certo é que Rio também não quis fazer disso um caso e a isso não deve ter sido alheio o facto de que quando Costa falou quem estava a discursar no Congresso era precisamente o único opositor que Rio não gostou de ouvir: Miguel Pinto Luz.