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RODRIGO MENDES/OBSERVADOR

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Os vencedores, os vencidos e o poupado da convenção do Chega

Ventura foi líder incontestado. Polícias receberam promessas. Pedro Nuno foi apresentado como uma das opções para primeiro-ministro. Montenegro e Rocha saíram pior na fotografia. Marcelo foi poupado.

Vencedores

André Ventura

DIOGO VENTURA/OBSERVADOR

O facto de ser um líder incontestável não é exatamente uma novidade – a reeleição por valores próximos dos cem por cento é prova disso. Internamente, porém, o maior feito de André Ventura foi ter conseguido esvaziar o Chega de (quase) todas as bizarrias e excentricidades. Procurou assumidamente transformar o Chega num partido de “propostas” e não de “protesto” — como anunciou à chegada, na sexta-feira —, mas o tom continua a ser o de guerrilha, como ficou evidente no último discurso. Se dentro de portas ainda é incensado como líder do protesto, no país, por maioria de razão, mais forte será essa perceção, o que pode comprometer a estratégia de furar o voto útil entre PS e PSD. Ainda assim, em menos de cinco anos, conseguiu uma verdadeira proeza. O partido acredita genuinamente que Ventura pode vir a liderar a direita e, porque não, formar governo. Ao longo de dois dias, ignorou Luís Montenegro, tentou afirmar-se como o verdadeiro intérprete do espírito da Aliança Democrática (no discurso de domingo, citou três vezes Sá Carneiro) e elevar-se a rival único de Pedro Nuno Santos. Saiu desta convenção com uma promessa: está preparado para ser primeiro-ministro. Em 2017, depois de conseguir 21% nas autárquicas em Lisboa, Assunção Cristas disse exatamente o mesmo num congresso do CDS e as coisas não correram muito bem. Se das próximas legislativas sair um resultado que atire o Chega para o plano da irrelevância (cresce, mas não conta à direita), Ventura terá de repensar a estratégia.

Rita Matias

DIOGO VENTURA/OBSERVADOR

Conquistou relevância interna por direito próprio e é hoje um dos símbolos do partido. Na véspera da Convenção, o semanário Expresso publicou um estudo do Observatório da Emigração em que se traçava um cenário preocupante:  30% dos jovens nascidos em Portugal vivem hoje fora do país. Foi o mote para que André Ventura a convidasse para ser mandatária nacional da campanha para as legislativas. Quando o líder do Chega o anunciou a partir do palco, os militantes gritaram pelo nome deRita Matias. Além disso, é o rosto maior do combate ao que o Chega vê como o perigo da “ideologia de género” nas escolas, tema que anima, como poucos outros, os militantes do partido. Por isto, Rita Matias sai desta 6.ª Convenção Nacional do Chega como inequívoca vencedora.

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Pedro Nuno Santos

JOÃO PORFÍRIO/OBSERVADOR

Se o novo líder do PS mandasse na direita, o seu opositor único seria André Ventura. Por extraordinária coincidência, se André Ventura mandasse na direita, idem idem aspas aspas. Por isso, Pedro Nuno Santos deve ter gostado de ouvir o discurso do líder do Chega no sábado. Ventura declarou, perentório, que o PSD “já não tem força”; decretou, imodesto, que “só o Chega pode ser alternativa ao PS”; e anunciou, definitivo, que a escolha nas legislativas será apenas “entre o Portugal de 2024 do Chega e o Portugal de 1974 de Pedro Nuno Santos”. Os socialistas podem, assim, assombrar os eleitores com um Chega que, nos seus planos fantasiosos, afasta o PSD, enterra o CDS, dinamita a Iniciativa Liberal e toma conta da direita à força, com pontapés e empurrões. Se a realidade fosse essa, sobraria o PS como último reduto de resistência, transformado no fiel depositário de todos os votos que pretendessem defender a democracia do regresso do novo fascismo. Os socialistas, como sempre, não aceitaram o convite para estarem presentes na sessão de encerramento da convenção do Chega — mas, também como sempre, passarão os próximos dias e semanas a falar do Chega. Nos livros de Harry Potter, Voldermort era Aquele-Que-Não-Deve-Ser-Nomeado; nas campanhas do PS, Ventura é Aquele-Que-Deve-Ser-Sempre-Nomeado. Nisso, esta convenção do Chega ajudou Pedro Nuno Santos.

Polícias

Este movimento inorgânico que surgiu dentro da PSP

FERNANDO VELUDO/LUSA

As polícias têm estado em protesto nas últimas semanas. No dia em que arrancou o congresso do Chega, 500 polícias estiveram no Estádio Municipal de Portimão todos vestidos de preto durante um jogo da I Liga, o Portimonense-Farense. Isto depois de uma semana de luta intensa e com uma tentativa de boicote aos jogos da Taça de Portugal. Os partidos não ficaram indiferentes e até Pedro Nuno Santos fez questão de falar das forças de segurança. Mas, em matéria de promessas para as polícias, André Ventura é o campeão. O presidente do Chega faz depender qualquer acordo de direita de uma equiparação de salários com a Polícia Judiciária, naquela que é a principal reivindicação dos polícias na rua. Além disso, ainda diz que vai canalizar o dinheiro de apoios dado à ideologia de género para antigos combatentes, para a justiça — e para as forças de segurança. André Ventura dedicou também a convenção do Chega às polícias em protesto. Os polícias não se podem queixar de falta de destaque na reunião magna do partido, nem do seu líder que, ao bom estilo da direita radical, defende um Estado mais securitário.

Vencidos

Luís Montenegro

IGOR MARTINS / OBSERVADOR

Uma das narrativas da convenção do Chega foi a de um êxodo massivo de figuras do PSD para o Chega. Na realidade, até agora, esse êxodo não aconteceu. Até ver, resume-se à confirmação de Henrique Freitas, um ex-secretário de Estado de Durão e de Santana de quem já poucos no PSD se lembrarão, e à negociação com Maló de Abreu, um ex-braço direito de Rui Rio de quem já poucos no PSD se quererão lembrar. Além disso, o PSD entrou em modo combate e lembrou que Henrique de Freitas apoiou Manuel Alegre na corrida à Presidência da República, insinuando que o agora trânsfuga estaria já entre os social-democratas apenas em corpo e não em espírito. Apesar de tudo, só o facto de se falar sobre o tema é o suficiente para provocar um incómodo a Luís Montenegro porque pode criar em alguns eleitores a ideia de que esta liderança do PSD produziu um descontentamento que a Aliança Democrática não acalmou e que só tem o Chega como destino.

Rui Rocha

O presidente da Iniciativa Liberal (IL), Rui Rocha, durante a 6.ª Edição da Festa da Liberdade no Porto, 25 de novembro de 2023. JOSÉ COELHO/LUSA

JOSÉ COELHO/LUSA

Aquilo que está dito sobre Luís Montenegro, pode ser repetido para o líder da Iniciativa Liberal. Com uma agravante: é que os desiludidos da IL que seguiram para o Chega discursaram na convenção do partido neste fim de semana. Na noite de sábado, Nuno Simões de Melo, ex-conselheiro da IL, subiu ao púlpito para jurar que mudou de partido, mas não mudou de convicções: “Era, como sou, um liberal, conservador e de direita”. E aproveitou aqueles minutos de protagoinismo para acusar o seu antigo partido de “ceder às causas identitárias e à cultura woke” e de “desfraldar as bandeiras fraturantes da esquerda”. Rui Rocha até pode ter ficado aliviado com a saída de Nuno Simões de Melo da IL (tal como terá ficado aliviado com a saída de Carla Castro das listas de candidatos a deputados do partido), mas os liberais deviam perceber que a mera existência de uma linha de passagem direta entre a IL e o Chega só beneficia André Ventura.

Nuno Afonso

JOÃO PORFÍRIO/OBSERVADOR

Foi fundador, vice-presidente, militante número dois do partido e, até à terceira Convenção (a de Évora), era também o número dois afetivo do partido (ainda que a uma distância abismal do todo poderoso número um). A partir daí, cometeu o pecado capital no Chega: criticar e conspirar contra André Ventura. Foi sendo despromovido até ter de sair pelo próprio pé. No Chega, este fim de semana, ninguém parece ter sentido a falta. Nuno Afonso tentou ainda desferir um golpe que acertaria em cheio em André Ventura: ser candidato a deputado nas listas da Aliança Democrática ou, no mínimo, manifestar um apoio público à nova AD. O vereador em Sintra (eleito pelo Chega, mas agora relegado a independente) não conseguiu convencer o PSD da sua utilidade nas listas. Ficou perto de se tornar vencedor, mas acaba assim vencido. André Ventura disse que não estava incomodado e até aproveitou o caso para dar a volta ao texto: “Não me incomoda. Por cada um que vai, vêm três ou quatro”

O poupado

Marcelo Rebelo de Sousa

Presidente da República promulga recomposição de carreiras dos deficientes das Forças Armadas

JOÃO PORFÍRIO/OBSERVADOR

Ventura já chamou a Marcelo “fantochada de Presidente”, “Presidente-cartaz” e ainda lhe dedicou outros mimos pouco simpáticos. Houve congressos do Chega em que, mesmo os congressistas, viam o Presidente como inimigo do partido e amigo do PS. Agora, tudo mudou. O líder do Chega disse em abril e repetiu em novembro que Marcelo lhe deu a garantia de que não se oporá a uma solução de governo que inclua o Chega. Este não é, por isso, o momento de hostilizar o chefe de Estado, mesmo que seja tradicionalmente uma das piñatas favoritas da autoproclamada direita não-fofinha. André Ventura conseguiu falar no “caso das gémeas” – um dos mais difíceis de gerir em oito anos de Marcelo – no seu discurso na convenção sem fazer uma única referência ao Presidente da República. O Ventura pré-moderação não deixaria de bater, nem que fosse ao de leve, em Marcelo. O Presidente foi, estrategicamente, poupado.

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