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Os vencedores, os vencidos e o retornado

Uns regressam do passado, outros desaparecem. Uns vingam-se, outros desculpam-se. Uns avançam, outros ficam em pousio. Quem viu a sua cotação subir e descer neste Congresso do CDS?

Vencedores

Nuno Melo

(Rui Oliveira/Observador)

Nuno Melo sai de Guimarães com tudo aquilo que poderia ter pedido: foi eleito sem dúvidas nem hesitações, teve maiorias claras em todos os órgãos do partido e conseguiu juntar o apoio dos antigos líderes Manuel Monteiro, Paulo Portas e Assunção Cristas — sendo que conseguiu até levar ao Congresso os dois primeiros, que há décadas não eram vistos debaixo do mesmo teto (mesmo que em dias alternados). Não conseguiu o regresso de ex-dirigentes como António Pires de Lima ou Adolfo Mesquita Nunes — mas isso não era realista nesta fase.

Agora, começa o mais difícil. Os jornais, rádios e televisões foram assistir a este Congresso do CDS, mas vai ser preciso muito mais para conseguir que, apagadas as luzes do Multiusos de Guimarães, o partido continue a aparecer no espaço público. No seu discurso final, Nuno Melo deixou um sinal de esperança aos militantes do partido: se daqui a dois anos António Costa decidir aceitar um cargo europeu, e se, nessas circunstâncias, o Presidente da República cumprir a sua ameaça de derrubar o governo, o CDS terá uma oportunidade de voltar ao Parlamento mais cedo do que esperava. Mas, daqui a dois anos ou daqui a quatro anos e sete meses, há uma coisa de que Nuno Melo precisará sempre: de votos.

Manuel Monteiro

(Rui Oliveira/Observador)

Deve ter sido para caraterizar situações como esta que se inventou a expressão “Revenge of the 90’s“. Manuel Monteiro foi presidente do CDS entre 1992 e 1998 e, este fim de semana, pareceu ter vindo diretamente da década de 90, impecavelmente preservado por métodos de criogenia. Ao fim de todos estes anos, o discurso de Manuel Monteiro praticamente não mudou: continua a criticar o “fim” das pescas e da agricultura; continua a criticar “um país que vive exclusivamente do dinheiro que vem de fora”; continua a criticar aqueles que, na sua visão do país, “vivem à conta do Orçamento do Estado”.

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Ao fim de tantos anos, houve mais uma coisa que não mudou: Manuel Monteiro continua a entusiasmar o CDS. A dada altura, o discurso do ex-líder parecia o discurso de um futuro líder. No final, Manuel Monteiro anunciou o seu apoio a Nuno Melo. Mas ficou claro que continua a existir um outro CDS: enquanto for presidente do partido, Nuno Melo terá os anos 90 à espreita.

Telmo Correia

O deputado do CDS-PP, Telmo Correia intervém no debate parlamentar, esta tarde na Assembleia da República em Lisboa, 23 de junho de 2021. MIGUEL A. LOPES/LUSA

MIGUEL A. LOPES/LUSA

Telmo Correia, fervoroso adepto do Benfica (paixão que partilha com Nuno Melo), é como aqueles jogadores de futebol que ganham mesmo quando estão a dormir. O antigo vice-presidente e ex-líder da bancada do CDS não pôde ir ao Congresso por estar em isolamento (culpa da Covid-19), mas voltou a ser vice-presidente do partido — cargo que chegou a ocupar com Portas, mas não com Cristas. Mais do que isso: há vice-presidentes indicados por Melo que o são em resposta a lógicas geográficas, por ligações a Portas ou por inerência do cargo. Já Telmo Correia está lá porque é dos mais próximos de Nuno Melo e será, certamente, o vice mais influente junto do novo líder. A ordem da lista entregue à Mesa também confirma essa tendência: Telmo Correia é o primeiro vice-presidente.

Paulo Núncio

MIGUEL A. LOPES/LUSA

Paulo Núncio já era uma das referência do partido enquanto governante, mas fazer parte do Governo troika tornou-o num não-ativo eleitoral. Por isso, o antigo secretário de Estado dos Assuntos Fiscais era mais solicitado para colóquios, think tanks ou sessões temáticas da sua área (economia e finanças) organizados pelo partido do que para altos cargos ou campanhas. Já após ter saído do Governo — onde teve como ministros das Finanças Vítor Gaspar e Maria Luís Albuquerque — o centrista viu-se envolvido numa polémica: em 2017, o Governo PS revelou que, entre 2011 e 2015, a Autoridade Tributária não publicou os valores das transferências para offshore. Núncio ficou assim ligado ao chamado “apagão fiscal”, ao qual o Ministério Público abriu um inquérito nesse mesmo ano. O centrista é várias vezes confrontado politicamente com este assunto e ainda este domingo Ana Gomes enviou uma carta aberta a António Costa e Marcelo Rebelo de Sousa a alertar para o facto de a investigação ao “apagão fiscal” estar parada. E nomeou Núncio. Apesar dos dissabores públicos que pode causar — desde logo pela insistência da antiga eurodeputado no caso e em envolver o centrista — Nuno Melo escolheu Paulo Núncio para ser seu vice-presidente, naquele que é o cargo mais elevado que já ocupou no partido. É um reabilitado da PàF e, só isso, bastava para ser vencedor.

Cecília Meireles

O candidato à liderança do CDS-PP e eurodeputado Nuno Melo (D) acompanhado pela ex-deputada do partido Cecília Meireles (C) durante o 29.º Congresso do partido, no pavilhão Multiusos de Guimarães, 2 de abril de 2022. JOSÉ COELHO/LUSA

JOSÉ COELHO/LUSA

Cecília Meireles foi das mais aplaudidas pelo Congresso quando discursou no púlpito. Não ficou com nenhum cargo nos órgãos nacionais — alegando que se quer dedicar à vida profissional –, mas ouviu o novo líder dizer que é um “grande ativo” do partido e até a dá-la como exemplo, pedindo espaço para mais “Cecílias Meireles” no CDS. A popularidade e reputação que tem no partido, leva a que Cecília seja, a par do novo presidente, apontada nos bastidores como uma hipótese para liderar a lista do CDS às próximas eleições Europeias. O facto de não estar nos órgãos nacionais também lhe dá vantagem para um eventual próximo ciclo do partido: se as coisas correm mal a Nuno Melo, e ainda existir CDS, não lhe será imputada responsabilidade do falhanço. É apoiante de Melo, colaborou na moção, fez campanha pelo eurodeputado, mas consegue manter uma distância que pode ser um trunfo se quiser ser líder no futuro. Algo, aliás, que alguns no partido lhe vaticinam.

Vencidos

Francisco Rodrigues dos Santos

(Rui Oliveira/Observador)

Se tivesse entrado num congresso do Bloco de Esquerda, Francisco Rodrigues dos Santos não teria sido recebido com maior frieza. O ainda formalmente líder do CDS caminhou pela sala do 29.º Congresso do partido rodeado por câmaras de televisão, mas mergulhado num gélido e pesado silêncio. Todos os congressistas se comportaram como se não o conhecessem, como se nunca o tivessem conhecido e como se não o quisessem conhecer.

O último discurso de Francisco Rodrigues dos Santos juntou acusações, recriminações e repetições. O líder que tirou o CDS-PP do Parlamento continua convencido de que tudo o que fez de mal e tudo o que lhe aconteceu de mal é responsabilidade de um grupo maléfico e todo-poderoso de seguidores de Paulo Portas. Falou como se fosse uma entidade privada de qualquer capacidade de se movimentar para lá das fronteiras definidas pelos seus inimigos internos.

Francisco Rodrigues dos Santos decidiu terminar o seu discurso com a frase: “Não vou andar por aí, porque sempre estive aqui e vou continuar por aqui”. Se quisermos ser literais, não era verdade: logo que desceu do palco, não continuou “por aqui” porque abandonou imediatamente o Congresso. Se quisermos ser metafóricos, também não era verdade: Francisco Rodrigues dos Santos não continua “por aqui” porque, terminada a sua liderança, não houve ninguém que conseguisse defender o seu legado — se é que restou algum.

Filipe Lobo D´Ávila

PAULO NOVAIS/LUSA

Filipe Lobo d’Ávila apresentou-se no Congresso do CDS em pele de Cordeiro. Ao contrário dos últimos anos em que encabeçou listas ao Conselho Nacional (mesmo no auge de Cristas), em que foi candidato (mesmo num partido a tentar bipolizar entre João Almeida e Rodrigues dos Santos) e em que até aceitou ir para a direção de Rodrigues dos Santos (como vice-presidente), Lobo d’Ávila sai deste Congresso sem deixar nenhuma marca.

O antigo secretário de Estado da Administração Interna não podia estar ao lado da ala de Rodrigues dos Santos — com quem se incompatibilizou, demitindo-se da liderança –, nem do lado do portismo, do qual se afastou quando se tornou líder da oposição interna a Cristas. Sobrou-lhe ir ao palco embirrar com Nuno Melo, a quem disse que teria sido melhor candidato sete anos antes, quando criou ele próprio um movimento para que o eurodeputado fosse líder. O Congresso de Guimarães mostra que o capital que acumulou no bom resultado de há dois anos teve um prémio pífio: ser vice-presidente de Rodrigues dos Santos  durante um ano. Passou de um dos grandes vencedores no Congresso de Aveiro, a quase irrelevante.

Retornado

Paulo Portas

(Rui Oliveira/Observador)

Desde março de 2016 que Paulo Portas não entrava num Congresso do CDS — e percebe-se porquê. Alguns dos mais próximos de Portas falam com entusiasmo de uma eventual candidatura à Presidência da República, mas ninguém chega ao Palácio de Belém com o peso de um partido com menos de 90 mil votos. Por isso, Portas passou os últimos anos a ocupar um espaço à direita que vai bem para lá do CDS, com participações especiais em eventos internos do PSD e com um comentário semanal na televisão onde raramente fala sobre política interna.

Mas uma coisa é descolar de um partido — outra, radicalmente diferente, é recusar-lhe assistência quando ele está na iminência de morrer. Por isso, este fim de semana, Paulo Portas voltou a um Congresso do CDS. Mas exibindo uma extrema cautela com as palavras. Numa declaração por escrito no sábado, disse que isto “não significa qualquer regresso à política partidária ou às suas dialéticas”, sendo apenas “um gesto devido numa circunstância excepcional”. No domingo, presencialmente, não se afastou um milímetro deste tom.

Paulo Portas chegou, votou, falou e saiu antes mesmo de a maioria dos congressistas terem tempo de se deslocarem ao Multiusos de Guimarães. Precisava de voltar rapidamente para Lisboa — era dia de comentário na TVI e Paulo Portas nunca perde a noção das prioridades.

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