4
Rui Patrício não foi de estátua, foi um homem estátua
O herói de Marrazes tão habituado a fases finais e a defesas tão elogiadas que acabam por transformar-se em estátuas teve o jogo mais estranho no dia em que se tornou o sétimo mais internacional de sempre: não fez uma única defesa, sofreu um golo no único remate enquadrado em que foi traído pela trajetória a fugir do pontapé de Thogard Hazard e não teve sequer possibilidade para poder ser aquela figura discreta que raramente surge destacada por mais ou menos que faça. Foi mais um adepto do que outra coisa, esteve o encontro todo a cumprir o distanciamento social do perigo e acabou com ainda menos trabalho.
6,5
Diogo Dalot e aquela oportunidade que nasceu ao jantar no Dubai
Dalot aqui, Dalot ali, Dalot acolá. Dalot andava sossegado de férias no Dubai com o companheiro Diogo Leite e as namoradas quando, à entrada para um jantar, lhe ligaram de Budapeste. Em condições normais até podia ser um telefonema para os apanhados mas, com o teste positivo de João Cancelo e os períodos de maior paragem no plano competitivo de Cédric Soares e Ricado Pereira, saiu-lhe mesmo o jackpot para uma chamada ao Europeu de seniores depois de ter sido vice-campeão Sub-21. Não, calma, a taluda ainda estava para chegar. E o cansaço acumulado de Nelson Semedo ficou na mesma como um descanso para Fernando Santos: o lateral estreante até começou com vergonha de ser feliz nas subidas mas cumpriu, algumas vezes fez até o movimento que não foi acompanhado com o passe na altura certa e esteve sempre sereno a defender com Eden Hazard pela frente. Está tão evoluído entre os crescidos que até foi notícia na antecâmara do jogo, pela provável continuidade no AC Milan por empréstimo do Manchester United.
6,5
Pepe, o que foi, o que é e o que sempre será
Pepe foi como sempre Pepe. Batalhador, inteligente, capaz de sair em antecipação – mesmo tendo Lukaku pela frente. Pepe voltou a ser Pepe. Quando o encontro começou a aquecer, começou por dar um cheirinho a marcar território numa confusão entre Bruno Fernandes e Eden Hazard e, mais tarde, virou ao contrário Thorgan Hazard perante os protestos dos belgas por Portugal não ter colocado a bola fora – mesmo tendo Lukaku nessa altura no chão. Pepe foi mais do que Pepe. Na altura de risco, avançou para o ataque, andou a saltar de bola aérea em bola aérea e teve tempo para ir aos corredores laterais, ou pressionar ou criar vantagem numérica para cruzamento. Pepe é, foi e será isto. E não se cansa de ser assim aos 38 anos.
6
Rúben Dias, um Rocky de olho negro que nunca caiu no KO
O Rocky da Seleção ainda não tinha começado o combate com Lukaku e já apresentava o olho esquerdo inchado, como se tivesse perdido antes de começar. Não foi isso que aconteceu. É certo que o avançado belga conseguiu mais vezes dominar a bola ou explodir em velocidade com Rúben Dias do que com Pepe mas o central do Manchester City nunca virou a cara à luta, travou em jogo de antecipação várias bolas e acabou a ter de apanhar a locomotiva no Inter pela frente em situações de 1×1 sem nunca ter sido atropelado. Que mais não fosse pela quantidade de rounds que teve de travar com um peso pesado, merecia que aquela bola de cabeça na sequência de um canto de Bruno Fernandes desse golo. Courtois não concordou com essa ideia.
5,5
Raphael Guerreiro e a passividade no reencontro entre amigos
O reencontro com tantos companheiros de equipa no B. Dortmund pareceu fazer-lhe mal sobretudo na primeira parte, onde raramente subiu pelo corredor mesmo tendo algumas boas oportunidades para isso e esteve demasiadas vezes a ver Meunier criar desequilíbrios 1×1. Melhorou no segundo tempo, teve no pé direito a oportunidade para voltar a ser um talismã como acontecera com a Hungria mas o remate acertou no poste e acabou quase acampado como se fosse um ala na esquerda mas sem conseguir criar chances para desfazer a derrota e a mostrar algum desgaste físico pelos quatro jogos completos.
7,5
João Palhinha até aprendeu a ser decisivo com amarelo
Rúben Amorim sempre foi muito sincero nas análises que fazia ao Sporting, nos melhores e nos piores jogos, e sobre Palhinha (perdão, Palhão) não teve dúvidas quando um dia disse “Quando ele não tem amarelo, é um elemento fundamental para nós; quando já tem amarelo, às vezes mais vale não tê-lo em campo”. Até isso o médio dos leões conseguiu quebrar na primeira vez em que foi titular na Seleção: acabou como o jogador com mais remates (todos para a bancada ou arredores), com mais desarmes e com mais interceções e com um amarelo a condicionar a capacidade de pressão num meio-campo onde tinha pela frente Kevin de Bruyne (que saiu lesionado no lance em que foi admoestado) e depois Mertens. A capacidade que teve em perceber a forma de jogar de Portugal com uma linha de quatro mostra o potencial como jogador.
5,5
João Moutinho é aquilo, apenas aquilo e nada mais do que aquilo
A forma como João Moutinho entrou no jogo com a França, a funcionar como o pêndulo para colocar a equipa calmamente a circular bola a partir de trás até ir queimando linhas em progressão explicou o porquê da aposta de Fernando Santos depois do naufrágio do meio-campo contra a Alemanha. Aos 34 anos, com a diferença de não aguentar aquele ritmo que tinha mais novo em que fazia mais de 50 jogos por temporada e nunca se lesionava, continua a ser o mesmo jogador que era entre a natural evolução de alguém que um dia vai ser treinador (assim o queira porque as características estão lá). Às vezes até parece pensar demasiado à frente, como as três ocasiões em que apareceu no espaço entre defesa e meio-campo belga a pedir bola sem receber. No entanto, se a sua entrada na equipa era uma obrigatoriedade, a saída neste jogo mais físico pelo corredor central e com Portugal em desvantagem acabou por tornar-se uma inevitabilidade.
7,5
Renato Sanches
Agarrou na bola, fez uma primeira finta, colocou para a frente para arrancar em velocidade numa explosão que nem mesmo com falta de Witsel foi travada, deu início a uma transição rápida que podia ter criado depois mais perigo. Renato Sanches esteve tão bem como contra a França mas com mais protagonismo do que contra a França: foi mais à frente, arriscou a meia distância, tentou mais passes de rutura como aquele que deu a primeira oportunidade a Diogo Jota, nunca descurou a parte defensiva e apenas uma vez deu uma passo em falso permitindo uma transição dos belgas. Depois, estoirou. Mas foi preciso chegar ao terceiro jogo do Europeu para se perceber que só existia um motor com a cilindrada necessária.
3,5
Bernardo Silva, sempre na parte de trás da fotografia
Ele cumpre. Ele tenta fazer. Se no Manchester City Bernardo Silva já é mais pelo “nós” do que pelo “eu”, quando joga na Seleção esse “eu” não existe. Com isso, Bernardo não é “ele”. E se no plano ofensivo praticamente não existiu, entre um ou outro cruzamento que foi ficando de forma inevitável na defesa contrária, nem sempre foi o mesmo jogador abnegado nos equilíbrios defensivos e voltou a aparecer na fotografia do golo do adversário mas nas costas de Thorgan Hazard. Foi uma rara distração mas foi decisiva.
4
Diogo Jota e os tropeções na própria vontade
Faz os movimentos certos, tem qualquer coisa que lhe permite antecipar os lances no último terço, pecou na finalização. Uma vez, logo no início do jogo, com um remate trapalhão de pé esquerdo. Outra vez no segundo tempo, com um tiro a sair por cima. Esse foi o grande problema de Diogo Jota não só neste jogo com a Bélgica mas em todo o Campeonato da Europa: o último toque. Às vezes parece quase que o avançado não está habituado a estas andanças e quer tanto fazer que tropeça na própria vontade. De tropeção em tropeção, Portugal caiu e o jogador do Liverpool passou ao lado de uma fase final com uma equipa e um esquema tático que lhe estendiam a passadeira para ser uma da revelação deste Europeu depois da boa época em Anfield.
6
Ronaldo e uma cara de confiança que não teve o habitual final feliz
A forma como sentiu o apoio dos adeptos mal entrou para o aquecimento, o facto de ter a família na bancada bem ao pé do banco português, aquela cara de confiança enquanto cantava o hino. Se fosse pela primeira imagem, não haveria dúvidas em relação ao que iria acontecer nos 90 minutos seguintes como a Hungria soube, a Alemanha soube e a França soube. Desta vez, a grande história é que não se conseguiu colocar Ronaldo, golo e recorde na mesma frase. Não por falta de tentativa, não por evitar procurar outros espaços, mas porque aquilo que criou, arriscou e tentou chocou sempre numa qualquer muralha, fosse ela um defesa ou o guarda-redes, neste caso Courtois. Sentiu mais do que ninguém a eliminação mas deu o que tinha.
5,5
Bruno Fernandes e João Félix mexeram porque são diferentes
Foram as primeiras apostas de Fernando Santos logo aos dez minutos da segunda parte e trouxeram aquilo que o jogo pedia. Perderam bolas, tiveram passes errados mas não se pouparam em correrias com e sem bola dando à forma de atacar de Portugal mais jogo entre linhas, mais capacidade de meia distância e mais presença na área para combinações. Todas elas, claro, sem golo.
6
André Silva deixou uma pergunta de todos: não jogou mais porquê?
A entrada do goleador do Eintracht foi o ponto de viragem total no encontro a nível ofensivo de Portugal, que ganhou profundidade, ganhou uma referência mais posicional, ganhou um apoio para combinações à entrada da área com apoio frontal, ganhou argumentos para Ronaldo sair para terrenos menos centrais. Teve também uma boa oportunidade para fazer o empate mas foi sobretudo na influência positiva que teve na equipa que se valorizou, lançando a dúvida do porquê de não ter sido mais vezes utilizado na prova até pela entrada importante que teve no encontro com a Hungria, decidido apenas nos dez minutos finais.
5
Sérgio Oliveira e Danilo, os últimos da Tropa de Elite para o ataque final
Fernando Santos arriscou tudo com as entradas de Sérgio Oliveira e Danilo, deixando o médio do PSG como falso central para Pepe subir à área contrária e colocando o jogador do FC Porto no lugar de Renato Sanches porque era essencial sobretudo critério de passe na construção e não explosão e verticalidade contra uma equipa acantonada no terço recuado. Cumpriram a sua missão mas no final perderam a batalha.