Artigo em atualização ao longo do dia
Depois de um dia passado no Alentejo, entre o porto de Sines, o olival intensivo em Santiago do Cacém e a preservação de aves em Castro Verde, a caravana do PAN desceu — em carro híbrido — até ao Algarve, onde passa todo o dia desta quinta-feira, arrancando com mais uma iniciativa “Pergunta-me o que quiseres” (com André Silva, basicamente, a colocar-se à disposição de quem quiser questionar o partido na rua).
Antes, o porta-voz do partido passou a manhã no centro histórico de Faro a responder às perguntas dos ouvintes do Fórum TSF e explicou as razões por detrás do programa com mais propostas de proibição nestas legislativas. Definindo o PAN como “o partido mais maduro da política portuguesa” e como “a voz política da comunidade científica”, comparou as proibições propostas com a criação de um código da estrada proibitivo quando surgiram os carros — “o PAN traz novas visões e perspetivas, é natural que tenha de haver novas regras”.
O momento da manhã seria, porém, o telefonema do ouvinte Paulo Soares, que se apresentou como membro do partido RIR (Reagir – Incluir – Reciclar), o partido de Tino de Rans — para perguntar a André Silva, essencialmente, qual o segredo para ser eleito sem cobertura mediática. O porta-voz do PAN reconheceu a falta de acompanhamento mediático aos partidos mais pequenos e defendeu que em tempo de campanha eleitoral devia ser “como quando jogamos monopólio, devíamos estar todos na casa de partida, devia haver momentos televisivos com igualdade”.
PAN arranca campanha com denúncias de transporte de animais — e quer alianças com os outros partidos
“Isto é o que defendemos. Coisas diferentes são os critérios editoriais de cada órgão de comunicação social”, destacou André Silva. “Nós não cruzámos os braços. Tivemos forte presença na rua, nas redes sociais. O PAN é o exemplo claro do crescimento de um partido de fora do sistema. Entrámos na Assembleia da República sem cobertura mediática”, acrescentou, antes de deixar uma mensagem de esperança e alento ao partido de Tino de Rans. “É possível entrarem no Parlamento sem cobertura mediática. Apresentem as vossas propostas.”
Antes, André Silva tinha manifestado que gostaria “que a Assembleia da República fosse mais multipartidária, que houvesse mais partidos, é extremamente positivo para a democracia”. “Da mesma forma que o PAN trouxe uma agitação em determinados temas, outros partidos com certeza também o farão”, afirmou o porta-voz do partido.
Sobre as sondagens diárias, que têm apontado para uma descida das intenções de voto do PAN, André Silva diz não estar preocupado. “Aquilo que temos vindo a assistir é um sinal de consolidação e crescimento do PAN face a 2015. Quer as sondagens quer a rua são animadoras, somos cada vez mais conhecidos e reconhecidos. É normal que estas sondagens diárias variem. Não me parece que seja significativo”.
Durante a conversa com os ouvintes, André Silva voltou a reforçar que o caso Tancos não deve entrar na campanha eleitoral. “Nós pensamos que este caso tem estado envolto em bastante opacidade, informações e contrainformações, e no meio da campanha somos apanhados com mais uma informação que acaba por ser mais do que uma especulação, que eventualmente poderá afetar, indiretamente, mas especulativamente, o Presidente da República. Nestes moldes, sem informação concreta, objetiva, este é um tema que não deve entrar na campanha, que só serve para intoxicar e desviar atenções do essencial.”
O porta-voz do PAN acrescentou que é preciso combater os casos mediáticos “que judicializam a política, que não dignificam nem a democracia nem o sistema judicial” — e deixou a ideia de juízes e tribunais especializados nestes casos que contribuam para “uma justiça mais célere”.
Azeredo Lopes acusado. “Combate à corrupção deve ser eficaz”
Reagindo à notícia da acusação de Azeredo Lopes no caso de Tancos, André Silva preferiu insistir na ideia de que a justiça deve desenvolver o seu trabalho e apurar os factos, “e se for o caso, que a pessoa seja condenada”. Mas o porta-voz do PAN aproveitou para dizer que é preciso “caminhar para uma participação democrática e participação política com maior transparência”.
“O que nós verificamos é que em todos os momentos e em todos os governos há pessoas que prevaricam e aquilo que pedimos à justiça é que existam condenações. A luta por uma maior transparência de combate à corrupção deve ser eficaz. A esmagadora maioria das denúncias e dos casos de corrupção não resultam em condenações. É importante que sejam dotados mais meios ao Ministério Público e à Polícia Judiciária. O MP não tem meios para verificar os terabytes que estão dentro dos computadores”, disse.
Quanto a Tancos, concretamente, disse: “Esta pessoa em causa está acusada. Se, de facto, se comprovar que teve responsabilidades neste processo evidentemente que deve ser condenado. Mas não me merece mais comentários do que este. Nos sucessivos governos existem governantes a praticar atos ilícitos, muitas vezes a condução dos processos é extremamente morosa, não dão em nada, temos de criar mecanismos de maior transparência. Quanto maior for a transparência, maior dificuldade de existirem processos mais opacos”, acrescentou, antes de levar a conversa para o próprio programa eleitoral.
“Depois tem de se criar meios para que haja uma maior celeridade. Defendemos a criação de tribunais especializados em corrupção na medida em que estamos a falar de crimes de enorme complexidade, para não termos cinco, seis ou sete anos de casos a arrastar-se”, rematou.
PAN numa nova geringonça? Não é “prioridade”, mas corrupção é “linha vermelha”
Ainda durante o Fórum TSF, questionado sobre se o PAN aceitaria fazer parte de uma solução governativa à semelhança do que sucedeu na última legislatura, André Silva começou por repetir o que já tem dito — que encara todos os partidos como aliados —, mas depois foi mais longe e não deixou de parte a possibilidade de integrar um acordo nos mesmos moldes.
“As soluções que sairão da noite de 6 de outubro podem ser várias, podem ou não integrar o PAN. Mas essa não é a nossa prioridade”, disse André Silva, destacando que o objetivo principal do partido é reforçar o número de deputados para defender as suas causas, independentemente de estar “a apoiar uma solução de governo ou fora dela”.
No caso de haver um acordo, porém, esse terá de ser formal. Tornando a assinalar que ainda é um “cenário precoce”, já que “ainda não chegámos a meio da campanha”, André Silva diz que não lhe “parece que possam existir acordos que sejam sensatos que não estejam escritos”.
Logo depois, no jardim Manuel Bívar, em Faro, André Silva falou com os jornalistas e explicou mais detalhadamente a sua posição. À boleia da reação ao caso de Tancos e à acusação do ex-ministro Azeredo Lopes, André Silva deixou a primeira linha vermelha.
“Quando falam muitas vezes em linhas vermelhas para aprovação ou acompanhamento de uma solução governativa, e não querendo falar numa ou outra medida específica, mas a visão para o país sobre os mecanismos de transparência, de representação e conflito de interesses e de combate à corrupção tem que ser alterada. Tem que haver uma capacidade de convergência dos outros partidos relativamente a esta matéria de uma vez por todas porque isto é só proclamatório”, afirmou o porta-voz do PAN.
De Faro, e após uma curta permanência no centro da cidade para distribuir panfletos a quem por ali passava, André Silva seguiu com a comitiva para o Convent’Bio, um projeto de agricultura biológica instalado num antigo convento em Lagoa — onde almoçou uma refeição vegetariana e fez uma curta visita pela horta na companhia de elementos do partido naturais do Algarve, antes de se dirigir para a última ação do dia, uma visita à serra de Monchique, afetada pelo incêndio do ano passado.