Reportagem em atualização ao longo do dia

Foi cansativa, mas com pouco sumo, a manhã do primeiro dia de campanha do PAN a norte. Depois de uma pequena arruada no centro histórico de Aveiro com duras críticas ao presidente da câmara — o social-democrata Ribau Esteves, presidente da Associação Nacional de Municípios — devido ao projeto de construção de um parque de estacionamento no centro da cidade, André Silva e uma dezena de apoiantes viajaram de comboio na praticamente abandonada Linha do Vouga entre Santa Maria da Feira e Espinho para alertar para a necessidade de investimento no transporte ferroviário em Portugal.

Na estação de Espinho, à chegada, poucos minutos depois de Assunção Cristas ter anunciado a intenção de propor uma nova comissão de inquérito ao caso Tancos, André Silva, que lidera o partido que mais se tem tentado afastar do caso, sublinhou a importância de reforçar a representação parlamentar do PAN para também poder participar em comissões de inquérito — vedadas aos partidos com apenas um deputado. “Será importante que o PAN também possa aumentar a sua representação parlamentar significativamente para poder estar presente e contribuir para estes trabalhos nas comissões de inquérito. Evidentemente concordo que haja um maior esclarecimento sobre estes casos”, disse André Silva aos jornalistas.

Cristas quer nova comissão de inquérito a Tancos e Ministério Público a analisar declarações de Costa

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Ainda assim, André Silva considerou que o timing de Assunção Cristas ao propor, em plena campanha eleitoral, uma nova comissão de inquérito não é o ideal. “A ser verdade aquilo de que o Ministério Público acusa um ex-governante, de ter mentido numa comissão de inquérito, é grave. O que nos parece é que não vai ser neste preciso momento que se vai instituir uma comissão de inquérito e que vamos esclarecer tudo o que se está a passar em torno deste caso. Do nosso ponto de vista, não vamos querer politizar na semana da campanha este caso em concreto”, afirmou o candidato do PAN.

“Não faz sentido desgastar um sistema democrático que está cada vez mais desacreditado, em que mais de metade das pessoas não votam e que se afastam por causa destes casos. O PAN quer ser mais maduro e mais responsável no sentido de credibilizar o sistema democrático, de dizer que não somos todos iguais, que é preciso voltar a confiar nos políticos e na política e pôr as pessoas a votar, muito mais do que estar a centrar a campanha num caso judicial, que é importante, mas que do nosso ponto de vista a campanha deve ser centrada noutras matérias”, insistiu.

Em reação às notícias deste sábado, que revelam que o Partido Socialista terá considerado o surgimento do caso neste momento como uma conspiração, André Silva tornou a insistir que “aquilo a que se está a assistir é uma politização de um processo judicial e de alguma forma um aproveitamento político que serve, quer à esquerda quer à direita, para desviar por um lado as atenções da campanha e daquilo que são as principais propostas”.

Almoço vegetariano em viagem de comboio pouco animada

Antes, André Silva tinha percorrido as ruas praticamente desertas de Santa Maria da Feira com cerca de uma dezena de apoiantes — mas quase sem se cruzar com ninguém a quem pudesse divulgar a mensagem do partido. Ainda distribuiu meia dúzia de panfletos, encontrou uma amiga de infância na rua e procurou, em vão, chegar a pessoas que, simplesmente, não andavam a rua. Na comitiva, ouviam-se alguns desabafos. Falta cantar umas músicas, uns batuques, uns megafones, lamentava-se.

O grupo, composto por apoiantes e jornalistas, seguiu sozinho, a pé, para fora da cidade, para subir uma encosta durante 15 minutos até à estação de comboios — onde a estrutura local do partido tinha um conjunto de caixas à espera de todos, uma para cada um: o almoço. Vegetariano, claro, para comer durante a viagem de comboio. Quando chegou a composição, o grupo entrou calmamente e sentou-se. André Silva fez toda a viagem sem interagir com os poucos passageiros que seguiam no comboio — aproveitou para ir almoçando.

À chegada a Espinho, entregou simbolicamente a Filipe Cayolla, cabeça-de-lista pelo distrito de Aveiro, um exemplar do programa do PAN em braille, semelhante ao que ficará em todas as sedes distritais do partido. Depois, criticou a falta de investimento na ferrovia e lembrou a proposta do PAN para ligar todas as capitais de distrito com linhas férreas.

“É importante termos feito esta viagem para se perceber que não há alternativas, na Área Metropolitana do Porto, ao transporte individual e rodoviário a partir de alguns concelhos. Um dos concelhos mais populosos, que é Santa Maria da Feira, que tem muitas pessoas a trabalhar no Porto, não tem uma ligação alternativa. De automóvel, é possível fazer-se de Santa Maria ao Porto em 20 minutos, mas através de comboio tem de se subir uma encosta, 10 a 15 minutos até à estação de comboio, e depois vir até Espinho, de Espinho mudar de linha de comboio numa distância de um quilómetro para chegar até ao Porto. Numa viagem que dura na totalidade entre uma hora e meia a duas horas. Portanto, há muito que fazer no nosso país em termos de mobilidade”, assinalou André Silva.

O plano do PAN para ligar todas as capitais de distrito por comboio representa um investimento de 100 milhões de euros por ano, explicou André Silva.

A acusação a Ribau Esteves de usar “artimanha” com fundos europeus

Durante a primeira parte da manhã, em Aveiro, André Silva percorreu o jardim do Rossio, único parque verde no centro da cidade, e falou com os residentes sobre o projeto da autarquia de construir ali um parque subterrâneo com recurso a fundos europeus.

Para o deputado do PAN, a construção de um parque subterrâneo subverte a lógica de afastar os carros do centro das cidades. “A aposta devia ser na construção de parques periféricos e criar intermodalidade, para que as pessoas deixem os seus carros. Aquilo que o senhor presidente da câmara quer fazer é subverter este princípio, que é um princípio nacional, um princípio europeu”, acusou André Silva.

Ao mesmo tempo, o recurso a fundos nacionais para a construção do parque e a utilização de fundos europeus para o arranjo urbanístico da superfície é uma “artimanha” para usar dinheiro da UE para algo que contraria o objetivo do financiamento comunitário.

“Há dinheiros públicos nacionais para construir o parque de estacionamento e depois usam-se fundos europeus para fazer o arranjo urbanístico da superfície, o que contraria o espírito da UE que diz que estes fundos devem ser usados para retirar automóveis do centro da cidade, e no fundo através desta artimanha está-se a utilizar fundos públicos” para construir o parque, lamentou André Silva.

O dia de campanha para o PAN só terminou a meio da tarde em Viana do Castelo. André Silva voltou aos temas ambientais — a zona de conforto do partido — e visitou o Centro de Monitorização e Interpretação Ambiental da cidade, para ouvir falar sobre os projetos de preservação da biodiversidade do estuário do rio Lima.

Depois de percorrer o parque ecológico na companhia dos responsáveis da instituição, André Silva ficou pelo centro histórico da cidade para se reunir com os membros do partido no distrito de Viana do Castelo e discutir pormenores da estrutura distrital do PAN, ainda em processo de formação.