Que no Porto se come bem não é uma novidade, que as doses são generosas, também não, mas as opções tornaram-se cada vez mais saudáveis e equilibradas, sendo uma clara tendência ao virar da esquina. Os restaurantes ficaram mais verdes e luminosos, as travessas foram substituídas por bowls, o pão escureceu e os doces da casa perderam o açúcar, mas mantiveram o sabor. Os legumes e a fruta convivem agora harmoniosamente dentro do mesmo copo e ingredientes como o abacate, a quinoa ou a batata doce ganharam um lugar na nossa lista de compras. Sente-se à mesa destes dez restaurantes e dê uma oportunidade à comida que faz bem.
Camélia Brunch Garden
Rua do Passeio Alegre, 368, Foz. 22 617 0009. De terça a domingo, das 10h às 20h
Apesar de ser originária do Japão, a camélia é considerada a flor do Porto, tendo chegado à cidade em 1810, através de uma encomenda de Inglaterra. Cedo se espalhou pelos jardins públicos e em março é a protagonista de uma semana repleta de exposições e atividades. Pedro Vieira, um dos sócios do Camélia Brunch Garden, inspirou-se nesta flor para abrir o seu mais recente projeto, depois de ter inaugurado há 14 anos a Paparoca da Foz, uma padaria de culto na zona da Cantareira. Numa casa com vista para o Douro, cuja esplanada está a um passo da linha do elétrico, a intenção era fazer de um café um autêntico jardim. Dentro ou fora de portas, é possível provar os ovos benedict com molho holandês, salmão fumado e cebolinho em cima de uma fatia de pão de sementes, a tapioca com atum marinado, manga, quinoa, cebola roxa, coentros e lima ou a Deli Sanduiche, feita com pão doce de brioche, carne laminada, molho de mostarda, picles de pepino e geleia de cebola roxa. Se a gula atacar no fim da refeição, não se preocupe, pois há bolo de limão vegan, cheesecake de manteiga de amendoim e panquecas com massa de aveia ou banana. A Dutch Baby é uma panqueca especial cozinhada num tacho de ferro fundido, pela qual terá de esperar cerca de 20 minutos, mas vale a pena porque vem coberta com bolachas oreo trituradas, framboesas, caramelo e flores comestíveis. Além de chás, há café de especialidade arábico e cocktails de autor batizados com nomes de plantas.
Kind Kitchen
Rua do Bonjardim, 302, Porto. 22 113 0928. De terça a sexta, das 12h às 14h30 e das 19h às 22h; sábado, das 12h às 22h
Ana e Eva Egmond são irmãs, têm ascendência holandesa, mas foi em Portugal que nasceram e se tornaram, há um ano, veganas. “Foi uma opção ética, ambiental e saudável. Juntas quisemos para passar esta mensagem de ativismo e propagar o veganismo”, explica Eva ao Observador. No início deste verão nasceu o Kind Kitchen, um restaurante sem ingredientes de origem animal, mas que não vive só de saladas cheias de alface. O falafel com molho de iogurte, os nuggets de tofu, o hambúrguer de cogumelos e feijão ou a bowl Thai, com tofu, arroz basmati de coco, manga, cenoura, batata doce assada, coentros e molho de amendoim satay são alguns exemplos da carta que provam isso mesmo. Nas bebidas conte com chá biológico, cerveja artesanal, cidra vegan e uma espécie de coca-cola feita com ingredientes naturais. O restaurante tem um carimbo de sustentabilidade, por isso usa apenas garrafas de vidro, papel reciclado e sacos do lixo biodegradáveis. Enquanto espera pela comida olhe para o teto em forma de túnel e aprecie a pintura do Coletivo Rua.
Casa da Tété
Rua Professora Rita Lopes Ribeiro Fonseca, 76. Vila Nova de Gaia. 91 406 4630. De segunda a sexta, das 12h30 às 14h30 e das 19h30 às 21h30; sábado das 12h30 às 14h30
Tânia Manso sempre gostou de se alimentar bem, procurar receitas e inovar nos pratos que fazia, pois cansava-se facilmente “do típico frango grelhado”. Apesar de não ser uma expert nos tachos, a paixão pelo que é mais saudável foi crescendo e há três meses deixou de ser consultora financeira para abrir um restaurante. Na Casa da Tété o almoço e o jantar têm direito a um menu diferente todos os dias, com sopa, entrada e um prato de peixe, carne ou vegetariano. As receitas são tradicionais portuguesas, mas têm pequenas alterações que as tornam low carb e mais nutritivas. O bacalhau com broa, couve-flor e espinafres, o caril de grão de bico com legumes, as almôndegas com molho de beterraba ou a lasanha de carne com fatias de beringela e courgette são alguns dos pratos mais requisitados. No universo das sobremesas não há farinhas refinadas nem açúcar, que aqui é substituído por tâmaras, mel ou agave. Tudo é feito dentro de portas, da tarte de caramelo salgado ao cheesecake com compota de frutos vermelhos com cereais, servido num copo para comer à colher.
KUG
Rua D. Manuel II, 178, Porto. 22 600 0744. De segunda a domingo, das 12h às 20h
Kitchen & Urban Garden é o significado do nome deste restaurante ainda a funcionar em regime de soft opening, tendo agendada a abertura oficial para o final de setembro. O Kug ocupa o rés-do-chão do Oporto Loft, um hotel aberto há cinco anos próximo do Palácio de Cristal, fica longe da confusão e privilegia o contacto com a natureza. No jardim os animais são bem-vindos e há mantas, sofás, puffs, baloiços de madeira e almofadas. O bar serve sumos naturais e cocktails de autor, mas em breve haverá uma zona dedicada a vinhos nacionais, biológicos e de pequenos produtores. Para comer, espere pratos feitos à base de ingredientes sazonais, muitos deles plantados no próprio jardim, como abacates, ameixas, laranjas, limões e dióspiros. A tosta de cogumelos com chips de batata doce, a taça de açaí com fruta e cereais ou o hambúrguer em pão brioche com salmão e queijo ricota são algumas opções do menu de almoço, que pode saborear numa pérgola a ouvir os passarinhos. No futuro o Kug irá alargar o horário para receber jantares em duas salas, tendo sugestões para grupos igualmente saudáveis.
Do Norte Café by Hungry Bikes
Rua do Almada, 57-59, Porto. De segunda a domingo, das 9h às 16h
Só pela decoração deste espaço podemos quase adivinhar a nacionalidade dos proprietários. Quer tentar? As madeiras escuras do mobiliário, vindo de lojas de segunda mão ou até mesmo do lixo, a salamandra, as mantas, as pinhas, os ramos de eucalipto, os troncos de árvores suspensos no teto e os esquis do tempo da União Soviética na parede são elementos que compõem um café inspirado no norte da Europa e de Portugal. Maria Kulagiana e Alexey Mikhaylow trocaram a Rússia pelo Porto há dois anos e vieram em busca de mais tranquilidade. “Quando chegámos sentimos falta de encontrar pequenos almoços saudáveis, os que havia tinham sempre coisas muitos doces”, partilha Maria ao Observador. Inicialmente abriram o Hungry Biker, um café na Rua das Taipas onde também alugam bicicletas, mas o espaço pequeno e sempre concorrido fez com que se aventurassem num projeto mais ambicioso. Em fevereiro surgiu o Do Norte, especialista em comida equilibrada, de conforto e saciante, com direito a um pátio coberto e sossegado nas traseiras. Há dois brunches disponíveis todos os dias, tostas em pão sem glúten com salmão ou cenoura picante, taças de húmus e quinoa, papas caseiras de aveia e arroz, iogurtes naturais com fruta da época, mel, coco e sementes de chia e batidos “que são uma autêntica refeição”. A especialidade vai para um queijo russo assado no forno com frutas e caramelo.
Club Life
Rua de Mouzinho da Silveira, 197, Porto. 22 208 0050. Café: de segunda a sábado, das 9h às 19h e domingo, das 9h às 17h. Restaurante: de segunda a sábado, das 12h às 15h30;19h às 22h30
O Club Life nasceu no Brasil há seis anos e começou por vender comida sem glúten, sem lactose, sem conservantes ou açúcares refinados em formato take away. Em 2018 a marca mudou o conceito, eliminou 90% do plástico, melhorou o design e apostou numa experiência gastronómica diferente, onde o cliente permanece no espaço para saborear cada prato. A nova etapa da cadeia chegou ao Porto em maio pelas mãos do casal Maria e Guilherme Puoli, vindos diretamente de S. Paulo. Privilegiando os ingredientes locais e biológicos, a carta tem uma base brasileira, mas foram feitas adaptações para agradar o paladar português. “Temos uma opção de bacalhau e de sopa todos os dias, por exemplo”, diz Maria Puoli ao Observador. No café, no piso de cima, pode experimentar bebidas como o supper green, com espinafres, ananás, leite de amêndoa, chia e limão, mas também açaís com granola e fruta da época, papas de aveia com maçã, canela, nozes e agave, tapiocas doces e salgadas e ainda uma versão das típicas coxinhas de frango com massa de babata doce. No piso térreo funciona o restaurante e tanto almoço como ao jantar há um menu com sugestões de peixe, carne, frango e vegetariano diferentes todos os dias.
Garden Porto Café
Rua Fernandes Tomás, 989, Porto. 22 110 8540. De segunda a domingo, das 9h às 20h
Depois de trabalhar cinco anos na restauração em Londres, Alexandre Castro regressou ao Porto e na mala trazia um desejo: abrir o seu próprio negócio. No Garden inspirou-se no street food norte-americano e asiático e apostou em brunches compostos e em pratos como o camarão pipoca com maionese agridoce, os tacos vegetarianos, os ovos muffin com carne desfiada, molho barbecue, bacon crocante e molho bearnês, a waffle de frango com creme de queijo ricota, ovo escalfado e maple syrup de vinho do Porto ou a panqueca de abóbora com uma bola de gelado artesanal. A carta está disponível a qualquer hora do dia e o espaço é altamente instagramável, onde o chão a imitar a calçada portuguesa, as plantas suspensas, o mobiliário em madeira rústica, os candeeiros em palha ou a loiça colorida alegram a vista e garantem muitos likes. Os mimos na decoração não ficam por aqui, o artista urbano Mr. Dheo é o autor de dois trabalhos expostos no Garden, um deles com elementos bem típicos da cidade.
Slash – Natural Habits
Rua da Lionesa, loja C10, Leça do Balio. 22 110 7201. De segunda a sexta, das 10h às 19h
Se pensa que o conceito de comida rápida não combina com a comida saudável engana-se. No Slash a cozinha não tem ingredientes processados, açúcar ou plástico, mas os pratos aparecem na mesa num instante. A ideia surgiu durante os cinco anos que Mariana Van Zeller viveu com a família nos Estados Unidos da América. “Ao contrário do que possam pensar, lá conseguimos encontrar soluções ricas e equilibradas”, conta ao Observador. De regresso a Portugal, em 2018, Mariana pensou naqueles que almoçam uma fatia de pizza, um hambúrguer ou um folhado XXL em frente ao computador e idealizou um restaurante onde o cliente só precisaria de um garfo para comer. “Cortamos todos os ingredientes numa tábua e misturamos tudo com um molho caseiro, isto faz com que a pessoa não tenha de procurar o tomate ou o queijo numa salada e numa única garfada sinta todos os sabores.” A bowl homónima da casa, com quinoa, espinafres, frango marinado grelhado, cebola caramelizada, tomate cherry, queijo de cabra, sementes de abóbora e vinagrete, ou a nova criação Mariachi, inspirada no México, com arroz integral, guacamole, pico de gallo – uma mistura de tomate, cebola, salsa, coentros e sumo de limão – lentilhas e molho picante são duas das estrelas da casa. Há mais de 50 ingredientes frescos para fazer a sua própria salada, sopas, wraps e sobremesas sem adição açúcar, como o brownie com 60% de cacau e nozes ou a barra de granola feita dentro de portas.
Nicolau
Largo Alberto Pimentel, 4, Porto. 22 208 2406. De segunda a domingo, das 9h às 21h
A pedido de várias famílias o Nicolau chegou finalmente ao Porto. Vinda diretamente da capital, esta casa é conhecida pelas receitas saudáveis, o ambiente descontraído e os pratos coloridos e altamente fotogénicos. O cão mascote que lhe dá o nome está presente na decoração, assim como as madeiras, as plantas, os apontamentos em azul turquesa e a luz natural que entra pelas janelas desta esquina na baixa. Na carta, cheias de opções para qualquer hora do dia, saltam à vista o arroz doce vegan feito com leite de coco e fruta, o caril vegan com grão e legumes, a salada de bulgur com salmão fumado, tomate, pepino, amêndoas torradas e molho de iogurte ou o o rosti de batata doce com abacate, bacon e ovo escalfado. Tacos, hambúrgueres, tapiocas, tostas e panquecas são outras alternativas. Nas bebidas reinam os sumos naturais, os smoothies, os cocktails e os cafés quentes e frios, sendo o flavored latte, com baunilha e caramelo salgado, uma das principais novidades.
Viva Creative Kitchen
Largo São Domingos, 33, Porto. 22 208 2126. De terça a sexta, das 18h30 às 22h30; sábado e domingo, das 18h às 23h
Hans Portela é brasileiro, esteve três anos em Miami ao leme de um restaurante mexicano, mas em 2018 decidiu mudar-se para Portugal com a mulher, Nathalia, à procura de uma melhor qualidade de vida. Apesar de ter família em Viseu, foi no Porto que escolheu firmar raízes e inaugurar um negócio a quatro mãos. O espaço que encontrou no Largo S. Domingos é limitado no sistema de exaustão, o que obrigou Hans a usar toda a sua criatividade em pratos com ingredientes crus e influências asiáticas, mexicanas e brasileiras. Das entradas para partilhar fazem parte a burrata injetada com redução de vinho do Porto balsâmico, figos, lâminas de amêndoas e folhas, o camembert fondue trufado com mel e alho servido em pão de fermentação lenta natural ou os nachos com chilli e pico de gallo. Os pratos principais centram-se sobretudo nos tártaros de atum, salmão e beterraba, nas saladas e nas bowls, já as sobremesas ficam a cargo de Nathalia e podem variar entre o parfait de amendoim com geleia de frutos vermelhos ou o bolo de chocolate com laranja e crumble de bolacha.