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Ferenc Puskás deu o nome à rua onde começou a jogar futebol apenas um ano depois de morrer

AFP via Getty Images

Ferenc Puskás deu o nome à rua onde começou a jogar futebol apenas um ano depois de morrer

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Para Puskás ter uma rua, a comunidade de um clube teve de se juntar para mudar uma lei

Puskás morreu em 2006 e em 2007 já dava nome à rua do estádio do Budapest Honvéd, onde começou a jogar. Para isso, foi preciso mudar uma lei. A história do húngaro mais conhecido do mundo.

Enviada especial do Observador em Budapeste, Hungria

Ferenc nasceu no primeiro dia de abril de 1927 em Kispest, então subúrbio de Budapeste e agora parte da capital da Hungria. Nesse dia, a certidão de nascimento foi preenchida com o apelido Purczeld, o nome alemão que herdou dos pais. Começou a dar nas vistas assim que deu os primeiros toques na bola e chegou a ter de jogar com um nome falso, Miklós Kovács, antes de poder assinar oficialmente pelo clube local quando fez 12 anos. Só à beira de completar 16 anos, pouco antes de se estrear na equipa principal do Kispest FC, é que o pai de Ferenc decidiu mudar o nome da família para outro mais húngaro e menos alemão, adotando o apelido que acabou por dar a volta ao mundo: Puskás.

Puskás é, sem sombra de dúvida, o húngaro mais conhecido e reconhecido de sempre. Começou então a carreira perto de casa, estreando-se profissionalmente em novembro de 1943, e por lá se manteve até à altura em que o Kispest FC foi tomado pelo Ministério da Defesa da Hungria, tornando-se a equipa militar húngara e acabando por mudar de nome para Budapest Honvéd. A integração levou a que todos os jogadores recebessem graus militares — Puskás foi feito major, o que levou à alcunha Major Galopante. A ligação próxima com o Exército facilitava a contratação dos melhores jogadores húngaros por parte do clube, algo que se tornou fulcral para a conquista de cinco campeonatos consecutivos entre 1950 e 1955. Antes, em 1948 e com pouco mais de 20 anos, o avançado já se tinha tornado o melhor marcador da Europa, ao marcar 50 golos numa única época.

Soccer - Friendly - England v Hungary - Wembley Stadium

No antigo Wembley, num jogo particular contra Inglaterra, enquanto capitão da seleção da Hungria

PA Images via Getty Images

Puskás estreou-se pela seleção da Hungria em 1945, marcando na primeira internacionalização contra a Áustria, e acabou por fazer 86 jogos e 84 golos enquanto internacional. Em conjunto com nomes como Zoltán Czibor, Sándor Kocsis, József Bozsik (que posteriomente acabou por dar o nome ao estádio do Budapest Honvéd) e Nándor Hidegkuti, liderou a chamada Geração Dourada da Hungria que não sofreu qualquer derrota em 32 jogos consecutivos. Nesse período, os húngaros foram campeões olímpicos em 1952, na Finlândia, ganharam a Liga das Nações da Europa Central em 1953 e chegaram à final do Mundial da Suíça em 1954, onde acabaram por perder com a RFA — numa partida onde Puskás jogou com uma fratura cerebral e marcou um golo depois de já ter partido o tornozelo no início do torneio.

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Em 1956, o Budapest Honvéd entrou na Taça Europeia, a atual Liga dos Campeões, e o sorteio ditou que o adversário da primeira ronda seria o Athl. Bilbao. Os húngaros perderam a primeira mão em Espanha mas, antes que a segunda pudesse ser disputada, a Revolução Húngara rebentou em Budapeste. Os jogadores, incluindo Puskás, recusaram-se a regressar ao país e conseguiram as autorizações necessárias para que a segunda mão fosse realizada no Heysel Stadium, em Bruxelas. O avançado ainda marcou, as equipas empataram a três mas o Budapest Honvéd foi eliminado no resultado das duas mãos e os jogadores foram deixados numa espécie de limbo — por um lado, não queriam voltar a casa; por outro, já não tinham compromissos europeus e tinham de regressar. Juntos e enfrentando a oposição da FIFA e dos organismos que regulavam o futebol húngaro, conseguiram tirar as famílias da Hungria e realizar uma tour de angariação de fundos por Portugal, Espanha, Itália e Brasil. Quando deixaram o território brasileiro e regressaram à Europa, os jogadores separaram-se: uns acabaram mesmo por voltar à Hungria, outros encontraram novos clubes na Europa Ocidental. Puskás, por seu lado, só voltou a casa em 1981, mais de 25 anos depois.

Tempelhof Airport Arrival / departure of VIP's Germany / Berlin / Tempelhof (Tempelhof-Schoeneberg): Ferenc Puskas *02.04.1927-17.11.2006+ Athlete, football player, Hungary Arrival of the Spanish football team Real Madrid at Tempelhof Airport| from l

No meio, entre Di Stéfano e Gento, nos tempos do Real Madrid

ullstein bild via Getty Images

Depois de desertar, o avançado viajou para Espanha e ainda disputou alguns jogos não oficiais pelo Espanyol enquanto decidia o próximo passo. Em Itália, AC Milan e Juventus tentaram contratá-lo mas foram forçados a recuar quando a FIFA suspendeu o jogador durante dois anos como castigo por não ter voltado à Hungria. Puskás mudou-se para a Áustria e depois para Itália, onde tentou encontrar um novo clube quando cumprida a suspensão — os principais treinadores italianos, porém, afastaram a eventual contratação do jogador, preocupados com os 30 anos que já tinha completado e com o aumento de peso que sofreu nos dois anos em que esteve parado. O Manchester United ficou perto de assinar com o húngaro, numa tentativa de reforçar uma equipa destroçada pelo desastre aéreo de 1958 em Munique, mas as rígidas regras da FA quanto à contratação de jogadores estrangeiros e o facto de Puskás não saber falar inglês afastaram as duas partes. Por fim, alguns meses depois e aos 31 anos, acabou por juntar-se ao Real Madrid.

Ao longo dos oito anos em que jogou em Espanha, Puskás ganhou cinco campeonatos, três Taças Europeias (perdeu uma para o Benfica, em 1962) e uma Taça Intercontinental. Ao lado de nomes como Di Stéfano, Gento ou Pachín, fez 180 jogos na liga espanhola e marcou 156 golos, tendo feito 20 ou mais nas primeiras seis épocas ao serviço do Real Madrid, acabando como melhor marcador em quatro ocasiões. Ficou em segundo na atribuição da Bola de Ouro de 1960, apenas atrás do espanhol Luis Suárez, e acabou por naturalizar-se espanhol em 1962. Fez quatro internacionalizações pela La Roja, três delas no Mundial 1962, no Chile, onde Espanha não foi além da fase de grupos.

(FIELS) This picture taken 01 April 2006

Puskás em 2006, poucos meses antes de morrer, quando já estava hospitalizado

AFP via Getty Images

Terminada a carreira de jogador em 1966, Ferenc Puskás decidiu tornar-se treinador. Daí e até 1993, acumulou cargos em vários clubes e seleções: Hércules, San Francisco Golden Gate Gales, Vancouver Royals, Alavés, Panathinaikos, Real Murcia, Colo-Colo, Arábia Saudita, AEK, Al Masry, Sol de América, Cerro Porteño e South Melbourne Hellas. Teve especial sucesso na Grécia, onde foi duas vezes campeão com o Panathinaikos e chegou a uma final da Taça Europeia; no Paraguai, onde foi campeão com o Sol de América; e ainda na Austrália, onde foi também campeão com o South Melbourne Hellas. Em 1993, pouco mais de uma década depois de ter voltado à Hungria e numa altura em que já estava a viver novamente em Budapeste, Puskás assumiu o cargo de selecionador húngaro — mas a aventura só durou quatro jogos.

Em 2000, o antigo jogador foi diagnosticado com Alzheimer. Acabou por morrer seis anos depois, em 2006, com 79 anos. Teve um funeral de Estado, que começou no Puskás Arena a que já dava nome e passou na Praça dos Heróis para uma parada militar, e está sepultado na Basílica de São Estevão, a maior igreja do país, bem no centro de Budapeste. Atualmente, o nome de Puskás está espalhado pela Hungria e pelo mundo: em 2002, o então Népstadion, o estádio nacional húngaro, foi renomeado com o nome do antigo jogador, passando a Puskás Arena em 2019 com a construção do novo recinto; para além do estádio, também a estação de metro junto ao campo tem o nome do avançado; em 2001, dois astrónomos húngaros decidiram dar o nome do antigo jogador a um asteróide, conhecido agora como 82656 Puskás; existe a Puskás Akadémia, uma escola de formação, a Puskás Cup, um torneio para equipas Sub-17, e o FIFA Puskás Award, o troféu que premeia anualmente o melhor golo da época; e em 2017, em Melbourne e perto do Olympic Park Stadium, foi inaugurada uma estátua de Puskás para recordar o sucesso enquanto treinador do South Melbourne Hellas.

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O novíssimo Bozsik Aréna, construído exatamente no mesmo local do antigo, fica na rua Ferenc Puskás

AFP via Getty Images

A maior homenagem, porém, está no sítio em que tudo começou. Ainda antes de Puskás morrer, um antigo funcionário do Budapest Honvéd que se tinha cruzado com o antigo jogador decidiu começar uma contenda para conseguir dar o nome do avançado a uma das ruas de Kispest, o local em que este nasceu. A legislação da Hungria, porém, era um obstáculo: até há pouco tempo, só era possível dar o nome de alguém a uma rua 25 anos depois de essa pessoa morrer. A comunidade do subúrbio de Budapeste juntou-se, trabalhou em conjunto e conseguiu submeter uma proposta oficial ao autarca da capital húngara — que acabou por forçar uma mudança de legislação que foi aprovada pela Assembleia Geral da cidade. Atualmente, e graças a Puskás, é possível na Hungria nomear ruas antes do 25.º aniversário da morte de cidadãos honorários, vencedores de um Nobel ou campeões olímpicos. Um ano depois da morte do antigo jogador, em 2007, a rua Ferenc Puskás foi mesmo inaugurada. E o local escolhido não foi ao acaso. Atualmente, a morada do estádio do Budapest Honvéd, o Bozsik Aréna, é muito simples: rua Ferenc Puskás 1-3.

O estádio, porém, já não é o mesmo em que Puskás se fez jogador. Esse, o antigo, foi demolido em 2019 e substituído por um novo, com mais de oito mil lugares, que até recebeu alguns jogos do recente Europeu Sub-21. A memória, porém, persiste. Em Kispest, a cerca de 12 quilómetros do centro de Budapeste, Puskás é um nome, é uma rua e é um exemplo.

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