Saudosos de Pedro Passos Coelho e mais crentes em Paulo Portas do que em Luís Marques Mendes. Esperançosos que a intervenção na política mude o país, mas conscientes de que a emigração é uma grande possibilidade na vida de quem está a acabar cursos superiores e a iniciar-se no mercado de trabalho. Assim são os jovens liberais que este fim de semana ouviram e falaram sobre política no primeiro evento da IL dirigido à juventude, o Just X’ IL.

Era quase hora de jantar de uma sexta-feira e, aos poucos, começaram a chegar os primeiros liberais ao Cineteatro da Nazaré, onde se realizou o pioneiro evento de jovens da IL. A abertura ficou a cargo de João Cotrim Figueiredo, que levava uma esperança para o país, para o partido e para cada uma das caras que tinha à sua frente: aqueles jovens “heróis” seriam o reflexo de quem trocara a hipótese de emigrar por lutar por um Portugal melhor.

A teoria estava lá e era aparentemente certa, até porque no léxico dos vários jovens ouvidos pelo Observador durante os dois dias coube sempre a palavra “esperança”. Mas não chega. O tema da emigração e da falta de oportunidades dentro de portas voltou a um dos painéis do evento e a pergunta, e consequente resposta, desconcertou até o presidente do partido.

Quem é que pondera emigrar?” Mais de metade da sala levantou o braço. Ao Observador, vários jovens liberais confirmaram a intenção. Carlos Machado tem 21 anos, está a frequentar o último ano no mestrado de engenharia em gestão industrial e admitiu que sair do país é uma “solução”. “O meu curso tem elevada empregabilidade, mas acho que os salários em Portugal não estão nem perto da realidade internacional”, defendeu.

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Os argumentos multiplicaram-se — desde a procura de salários mais altos à falta de oportunidades — e, no discurso de encerramento, João Cotrim Figueiredo não poupou nas palavras: é “deprimente” a quantidade de jovens que quer emigrar. E disse mais: “É um fracasso do país.”

Passos o favorito, Portas é plano B

Mas quem são os jovens liberais? Muitos dos que marcaram presença no primeiro evento da juventude são ainda estudantes — e dividem-se maioritariamente entre cursos de Direito e Engenharias. Com pouco mais de 20 anos e provenientes de várias zonas do país veem na IL a “missão” de contribuir para tornar o país mais liberal.

Francisco Prata é de Santo Tirso e considera que foi o facto de “viver num país muito pouco liberal” que o fez juntar-se à IL. Outro dos companheiros de bancada, Carlos Machado, tem apenas 21 anos, mas acredita estar a trabalhar para o futuro: “Sei que não será propriamente para a minha geração, mas para os meus filhos ou netos, para uma mudança a longo prazo.”

Aliás, alguns dos jovens entrevistados pelo Observador admitem mesmo que foi a maioria absoluta do PS que os levou a tomar uma decisão e a juntarem-se ao partido. “A política no geral está desacreditada, os nossos pais estão desacreditados e isso passa para os filhos. A educação não tem nenhum incentivo à informação dos jovens e a política fica completamente esquecida”, afirmou Constantino Soares.

O jovem liberal vê na IL aquilo que via em Rui Rio. Apesar de não destacar nenhum ídolo político, recorda o ex-presidente do PSD como uma “pessoa séria”, frisando que “falta seriedade na política portuguesa”. “Na IL as pessoas são sérias, jovens, querem fazer algo pelo país e não por elas”, disse.

Mas o ídolo político mais referido foi mesmo Pedro Passos Coelho, principalmente com justificações de que “cresceram muito” com a presença do ex-primeiro-ministro e de que o ex-líder do PSD marcou o momento em que passaram a olhar para a política com mais atenção. E há mais: de Barack Obama, ex-Presidente dos EUA, a Carlos Guimarães Pinto, ex-presidente da Iniciativa Liberal, são várias as opções entre os ídolos dos liberais.

Por outro lado, é quase unânime que se as próximas eleições Presidenciais só tivessem dois candidatos à direita — Paulo Portas e Luís Marques Mendes — seria o ex-líder democrata-cristão o escolhido dos jovens liberais. Quase sem hesitação, os jovens liberais optavam pelo por Portas e deixariam o ex-líder social-democrata fora das contas.

Há também ecletismo no que toca à capacidade de apagar um partido do espetro político português. Se a maioria dos jovens considera que nenhum deve perder o lugar pelo facto de as “ideias de todas as pessoas deverem ser ouvidas e discutidas”, há também quem admita que “há alguns partidos que não fazem falta nenhuma ao sistema português”.

Entre as respostas, o Chega lidera as intenções em larga medida, mas também o Bloco de Esquerda, o PCP e o PNR foram referidos. “Apagava o Chega porque sinto que a grande maioria dos votos são de revolta e isso é perigoso, porque está a roubar votos a partidos que podem fazer a diferença e porque está a dar poder a um poder que não pode ter”, apontou um liberal.

Enquanto outro argumentava: “Penso que apagava o Chega porque são exatamente o oposto daquilo que acho que deve ser a política.”

O dia em que Cotrim falou para os “heróis” que lutam pelo liberalismo e lhes lembrou que o populismo é uma linha vermelha

O regresso (discreto) de Maria Castello Branco

Uma das surpresas do primeiro evento da juventude foi a presença de Maria Castello Branco, que esteve afastada do partido nos últimos meses — e ficou até de fora da Comissão Executiva escolhida por João Cotrim Figueiredo. Apesar de não ter estado como oradora em nenhum dos painéis, a liberal esteve entre os mais de 100 jovens que fizeram parte do evento.

Em declarações ao Observador, Maria Castello Branco aponta que “foi bom regressar a casa” depois de um mestrado em teoria política em Londres e garante que o partido pode contar com ela.

“O João Cotrim Figueiredo, num gesto de motivação tão típico dele, mostrou-me, uma vez, uma canção que repetia, carinhosamente, “Don’t come home too soon”. Nem sei se ele sabe o quanto essa canção me ajudou durante este ano em Londres. Tive a sorte de aprender tanta coisa que espero ter a oportunidade de por em prática agora que regresso”, realçou a ex-membro da direção da IL.

Maria Castello Branco fez questão de referir que pretende ficar no partido: “A IL é a minha casa, que nunca deixei e à qual regresso agora cheia de vontade de poder ajudar a construir um Portugal mais liberal”, afirmou, sublinhando que está “pronta para arregaçar as mangas e voltar ao trabalho”.