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Barcroft Media via Getty Images

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Paul Mason: “Se nada mudar, a geração mais nova vai viver num capitalismo falido e num planeta a arder”

Polémico, apoiado por uns, contestado por muitos outros, Paul Mason diz que caminhamos para a desintegração da humanidade. E no novo livro, "Um Futuro Livre e Radioso", diz saber como evitá-lo.

Nos seus dois mais recentes livros, Pós-Capitalismo – Guia Para o Nosso Futuro (2016) e Um Futuro Livre e Radioso – Uma Defesa Apaixonada da Humanidade, este último publicado no início de setembro pela Objectiva, o britânico Paul Mason (n. 1960) lança os dados para aquilo que descreve como “voltar a ganhar a humanidade”.

Mason é um famoso crítico do sistema capitalista neoliberal, polémico, contestado por muitos e apoiado por outros. Para ambos os grupos, contudo, a imagem que passa é a mesma: a de alguém que procura divulgar as suas ideias num discurso que mistura atitude com dramatismo, polarizando conceitos e políticas. Na sua mais recente obra fala de como a humanidade caminha para um futuro de desintegração. Razão? A incapacidade de projetar um futuro melhor, que sirva as pessoas e o planeta.

Em Um Futuro Livre e Radioso, Paul Mason explora a ideia de como estamos a usar a automação da forma errada, de como a inteligência artificial não está a melhorar o trabalho: bem pelo contrário. A forma como se trabalha empurra para o tédio, cria seres vulneráveis, fáceis de explorar, que perdem a capacidade de comunicar, inovar e cooperar, explica. No livro, Paul Mason oferece ideias, ferramentas, para se mudar o futuro. E é um homem de armas, ele próprio vai para a rua pô-las em prática, basta acompanhar a sua conta de Twitter ou procurar no YouTube por vídeos seus. Falámos ao telefone com o jornalista, autor e professor, poucos dias depois de Boris Johnson perder a maioria no Parlamento inglês.

“Um Futuro Livre e Radioso: uma defesa apaixonada da Humanidade”, de Paul Mason (Objectiva)

É inevitável começarmos por falar no Brexit, até porque se relaciona com a tese do seu livro. Qual é a sua perspetiva em relação aos desenvolvimentos das últimas semanas?
Sim, podemos começar por aí. Em Um Futuro Livre e Radioso tentei teorizar uma divisão que aconteceu na elite global, entre as pessoas que têm um interesse material em manter a ordem global multilateral e as pessoas que têm um interesse em destruí-la. Quando Donald Trump foi eleito tornou-se claro para mim que parte do capitalismo norte-americano precisa de destruir esta ordem global: é a indústria da energia, os que rejeitam as alterações climáticas e quem controla o fracking [fratura hidráulica]. Porque essa ordem global quer acabar com o carbono. E há uma parte da indústria financeira que precisa desse caos. Quem investe em recursos e tem acesso aos melhores computadores, à melhor inteligência artificial do mundo, que consegue prever melhor do que um humano, gosta desse caos.

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Mas de que forma é que Donald Trump entra aí?
Pensemos no perfil clássico de alguém que trabalha em investimentos imobiliários. Alguém como Donald Trump. Trump tem uma longa história de relações com pessoas que estiveram relacionadas com o crime organizado. Não estou a sugerir que ele esteve envolvido nesse tipo de crime, mas no livro dou vários exemplos de que ele fez negócios atrás de negócios com sindicatos que estavam nos bolsos do crime organizado. Essas pessoas têm um interesse em destruir uma sociedade de leis. Além desses fatores, há também os interesses de quem controla os média, como a Breitbart ou Rupert Murdoch. Para eles, quanto mais violações existem na Suécia, melhor o negócio. Porque contam continuadamente a história de que cada violação que acontece na Suécia é um ato criminoso de um emigrante.

Essas são as ligações que estabelece com Trump. E o Reino Unido?
Essa aliança também existe no Reino Unido. Se olharmos para o Brexit Party, que surgiu do nada, usando dinheiro sujo, muito dele estrangeiro, sem qualquer rasto, para alimentar a sua propaganda; se olharmos para os candidatos, tens o mesmo tipo de pessoas, dos fundos de cobertura, das private equity, do fracking, que rejeitam as alterações climáticas e que pertencem a uma aristocracia que não tem preocupações. Mas no Reino Unido é preciso adicionar um fator, que é o fator Trump. Isto tudo está a ser manipulado por ele. Estamos a assistir a uma espécie de neocolonialismo da política de Trump na política britânica, pelas pessoas que apoiam Donald Trump. Há uns tempos tivemos Mike Pompeo a dizer que eles farão tudo para impedir Jeremy Corbyn de chegar ao poder. Tivemos Trump com uma oferta comercial incondicional entre os Estados Unidos e o Reino Unido, que, se for aceite, destruirá as relações futuras do Reino Unido com a Europa. Por isso, o Reino Unido tornou-se numa espécie de local para uma batalha. De um lado temos a União Europeia que, por pior que seja, é baseada numa série de regras multilaterais, e do outro temos os Estados Unidos, país que se quer desvincular dessa ordem. E o Reino Unido é o campo de batalha para essas duas visões do futuro.

E onde entra a vontade da pessoas, do povo?
As forças plebeias que criaram Trump nos Estados Unidos também existem no Reino Unido. Temos as pessoas que negam as alterações climáticas e uma ignorância calculada e deliberada que existe entre as pessoas. Como, por exemplo, o tipo que refiro no livro que não acredita nas alterações climáticas, mas acredita que o eixo da terra teve uma alteração de 90 graus e que existem camelos enterrados debaixo da Antártida. Essas pessoas também existem no Reino Unido. E no meu livro tento perceber de onde é que elas vêm… o que estamos a assistir é uma aliança temporária entre a elite e uma multidão enfurecida, ambos decididos em reverter a história. Há um lado bom e mau com esta situação toda de Boris Johnson.

Pode explicar melhor que lados são esses?
O lado bom é que ele está bastante isolado, perdeu 10% dos seus deputados, onde se incluem algumas figuras liberais do Partido Conservador. Nos Estados Unidos os republicanos viraram a cara e fizeram-se de surdos, mas aqui os conservadores lutaram. E por terem feito isso, e pelo facto de termos uma democracia parlamentar, isso significa que Boris Johnson não tem controlo do governo. Ele dirige o governo, mas não tem uma maioria, e muitas das ações que ele pensa em tomar irão revelar-se tecnicamente ilegais. Essa é a parte boa. A parte má passa pelo facto de o Reino Unido não ter uma constituição escrita, mas uma fragmentada. Ter um primeiro-ministro a fazer ameaças verbais a recusar o executivo é uma situação sem precedentes. Ter um parlamento suspenso durante cinco semanas é algo sem precedentes. E mais situações do género ocorrerão nas próximas semanas. Essa á a minha forma de olhar para o Brexit, é o ponto de vista que analiso em Um Futuro Livre e Radioso. E nas últimas semanas tenho andado a pôr em prática nas ruas o modo de resistência que refiro no livro.

Paul Mason tem 59 anos. Jornalista, comentador e autor, foi uma das figuras principais no Channel 4 News e foi editor de Economia na BBC2 (Foto: Simone Padovani/Awakening/Getty Images)

Pegando no exemplo que dá do homem que não acredita nas alterações climáticas e acha que há camelos debaixo da Antártida. Como é que se chegou aqui? Se olharmos para meados dos anos 1990, a internet parecia prometer mais informação, democratizada. Mas neste século, nos últimos 10, 15 anos, tem-se assistido a um progressivo crescimento da desinformação, das chamadas fake news.
Não penso que seja desde há 10 ou 15 anos. Creio que a grande mudança deu-se em 2013. As elites construíram uma estratégia para dominar o ativismo online durante os próximos anos. A primeira tentativa foi com propaganda, que não funcionou, porque consegue-se sempre descobrir a verdade. A segunda foi com repressão, censuras à informação. Mas a terceira estratégia é que importa: criar pequenas bolhas de pensamento independente. Por exemplo, os israelitas têm um entendimento diferente dos palestinianos em relação ao que se passa em Gaza. Ou os evangélicos norte-americanos têm um entendimento diferente. Em relação ao Reino Unido há também uma reflexão interessante a fazer, há um grupo de pessoas na rua, que é pequeno mas faz-se ouvir, que tem afetado o desenvolvimento do discurso em volta do Brexit. São pessoas que vão para a rua cantar que os remainers são nazis, porque suprimem a democracia. É um bolha cuidadosamente criada. Esta foi a terceira estratégia, a criação destas bolhas de pensamento. Apenas funciona se o pensamento das pessoas for formatado, porque os seus ideais não têm argumentos para vencer uma discussão. Em Espanha, o Vox tem dificuldades em conseguir maiorias. Vai ganhando terreno, mas não consegue vencer maiorias. Foram os russos que exploraram esta tática, que é vencedora.

Qual o objetivo?
A ideia é criar ruído. É teoria básica de informação: se queremos inundar uma rede de informação, enchemos essa rede de ruído, de informação inútil. Observei essa desinformação em 2013, 2014, na Turquia, em Gaza e durante a guerra na Ucrânia. E isso também afeta os cidadãos que sabiam estar informados: começam a ficar preocupados e questionam se qualquer coisa que leem é, de facto, verdade. É uma tática antiga do KGB, a desinformação, mas com a existência de uma rede, a tecnologia digital, foi transformada numa arma e tornou-se viral. E penso que é isso que estamos a assistir, uma vontade de aceitar desinformação por parte de uma população motivada por políticas de direita. Outro detalhe importante foi a comercialização dos trolls da internet, até o YouTube e a Google começarem a bani-los, como o Mylo [Yiannopoulos], ou o PewDiePie, que não foi banido, mas deveria ser banido. Estes tipos são milionários. Ser de direita tornou-se algo comercial e lucrativo para estas celebridades da rede. Uma das teses do meu livro reflete sobre como o neoliberalismo criou um ser que é indefensável contra tudo isto que está a acontecer.

"Se o antissemitismo foi a cola que formou o nazismo nos 1930s, o antifeminismo é uma cola ainda mais potente, ainda mais do que a islamofobia. Porque eles [a extrema direita] precisam de reverter a revolução sexual: é a obsessão deles. E para chegarem a isso querem controlar os métodos contracetivos. Nos Estados Unidos já o estão a fazer."

Mas não acha que tudo isto começou a ser construído e se tornou bem mais real depois do 11 de Setembro de 2001? Especialmente quando a Fox News se tornou tão popular durante os mandatos de George W. Bush.
Com o 11 de Setembro o George W. Bush criou um pensamento radical de extrema direita. É um marco importante, mas acredito que há um problema psicológico mais profundo no neoliberalismo, que é a criação da ideia fatalista de que o mercado sabe tudo, que quer tornar a ação humana irrelevante, porque o mercado vai decidir e solucionar tudo no final do dia. No livro, defendo que a criação deste ser neoliberal, com o seu individualismo indefensável e fatalístico, está a criar uma situação que, quando os fundamentos do seu universo desaparecerem e o mercado já não perceber tudo o que se está a passar, perdendo assim a capacidade de prever e de se auto corrigir, vai levar essas pessoas a deixar de ter uma ideologia. E a esquerda não oferece uma mensagem de esperança, uma ideologia utópica clara. O que estão a fazer é a olhar para ideologias passadas, que não oferecem qualquer solução.

Na introdução de Um Futuro Livre e Radioso fala de como as máquinas estão a fazer o trabalho humano e de que muito trabalho humano passa agora por supervisionar as máquinas. Esta evolução tem-se dado desde a Revolução Industrial. A ideia deste futuro não torna as pessoas mais vulneráveis e permeáveis às ideias dos movimentos de extrema direita que têm surgido nos últimos anos, que proclamam um regresso ao passado?
A extrema direita, a elite, e as forças plebeias querem isso mesmo: reverter a história. Querem reverter os resultados do progresso tecnológico. E a grande reversão que querem fazer tem a ver com a libertação da sexualidade da mulher. É uma obsessão destes grupos. Para mim, se o antissemitismo foi a cola que formou o nazismo nos 1930s, o antifeminismo é uma cola ainda mais potente, ainda mais do que a islamofobia. Porque eles precisam de reverter a revolução sexual: é a obsessão deles. E para chegarem a isso querem controlar os métodos contracetivos. Nos Estados Unidos já o estão a fazer, estão a negar acesso à pílula por parte das mulheres, estão a educá-las no sentido de que a pílula do dia seguinte é malévola.

O que faz as pessoas quererem reverter a história?
É uma questão interessante. Penso que são os mesmos problemas que levaram a Alemanha ao nazismo, o cansaço psicológico das pessoas numa sociedade atomizada que deseja ordem. E creio que também há outros fatores de contingência. Por exemplo, na Península Ibérica houve um falhanço histórico em reconhecer o fascismo. Em Espanha o Partido Popular foi construído num acordo de paz com o fascismo, de que ninguém seria mandado para a prisão, ou sequer julgado. Dessa forma torna-se muito fácil ressuscitar o fascismo. No ano passado estive em Madrid e visitei o campo de batalha em Jarama e todos os monumentos em honra das forças britânicas e irlandesas tinham sido desfigurados ou destruídos. E isto acontece repetidamente. Na praça de Morata de Tajuña, a cidade mais próxima desse campo de batalha, as varandas têm bandeiras e pósteres falangistas. E o que me disseram é que quando as tiram, alguém vai aos memoriais e destrói as estátuas. É aqui que estamos, é o preço que pagas por décadas de recusa em perseguir os franquistas e de respeitar as vítimas do seu regime. Mas cada país enfrenta os seus próprios problemas, nós enfrentamos um no Reino Unido, que é o mito do colonialismo branco, o colonialismo branco benevolente do Império Britânico. Esse é o fantasma que ainda nos atormenta. E quando vemos os membros dos grupos de supremacia branca nas ruas, geralmente são homens nos seus quarentas, cinquentas, com pouca educação ou ex-militares. E na sua cabeça ainda há esse mito: de que o Império Britânico foi bom.

E os filhos deles, a geração seguinte, serão um problema?
Não estou assim tão preocupado com os filhos deles. O capitalismo britânico não precisa de um movimento fascista, o que tem é um movimento de direita populista, na forma do Partido Brexit. Quem vota no partido são votantes conservadores, da classe trabalhadora. É um mito dizer que muitos deles são ex-trabalhistas. Alguns são, mas não são a espinha dorsal da classe trabalhadora que votava no Partido Trabalhista. São a espinha dorsal da classe trabalhadora que vota no Partido Conservador. E o que essas pessoas odeiam é a liberalização do conservadorismo. Eles estão bem com o Partido Trabalhista ser a favor dos direitos gay, a favor do casamento gay, da multiculturalidade. Não eram a favor, mas como não votavam no Partido Trabalhista, estavam bem com isso. Agora quando o partido deles abraçou esse multiculturalismo, os direitos dos gays, dos transgénero, isso deixou-os loucos.

Quem são essas pessoas?
Muitos deles são pessoas nos seus 50, 60 anos, ou mais velhas, que iriam estar sempre enraivecidas com a modernidade. Há elementos do Partido Conservador que são de extrema direita, como Boris Johnson ou Jacob Rees-Mogg. E, claro, depois há o UKIP, o Nigel Farage, o dinheiro sujo por detrás de Farage. E estas pessoas são suficientes para dar permissão a que muitos digam o que bem entenderem. Permite-lhes vocalizar o seu racismo, foi isso que o UKIP fez na campanha do referendo. E o resultado do referendo dá-lhes permissão para começar a atacar verbalmente as pessoas à sua volta, toda a gente que pareça pertencer à classe média é assumida como um simpatizante de emigrantes e como um traidor do seu país. Esta narrativa está muito implícita agora, nas cidades pequenas. É um pouco como a middle-America. Isto também permitiu que estas pessoas se sintam como uma insurgência. Mas nas últimas duas semanas isso começou a mudar. Sim, ainda há fascistas na rua a ameaçarem deputados liberais, mas penso que o entusiasmo está a desvanecer. Porque se está a tornar óbvio quem são os aliados de Boris Johnson, a secção mais aristocrática do Partido Conservador, os americanos, Putin, começa a ser óbvio que esta situação serve Putin na perfeição e, com esta revelação, o entusiasmo dessas pessoas começa a esmorecer. Há umas semanas tivemos milhares de pessoas nas ruas contra esta prorrogação do parlamento, em várias cidades. E é uma situação que as forças plebeias mais à direita, que são a base do Partido Brexit, têm dificuldade em lidar.

Num futuro em que tudo parece baseado em algoritmos, automático, e que o trabalho irá mudar, uma solução como o Rendimento Básico Incondicional faria sentido?
Referi isso no meu livro anterior, Pós-Capitalismo, que a estratégia da esquerda para sair desta crise tem de passar por projetar uma visão utópica do futuro. É a única saída. Até isso ser feito, a única visão utópica do futuro será da direita, e a sua utopia resume-se à metáfora do lugar mítico onde o nacionalismo manda, que descrevo no livro. Temos de criar uma utopia e a transição para essa utopia. A transição tem de passar pelo reanimar da expansão fiscal keynesiana. Passa pelo green new deal, por uma sociedade com bons salários e pouco trabalho e, sim, parte disso passa pelo Rendimento Básico Incondicional. Contudo, penso que em sociedades que já têm um estado social será fácil de conseguir os mesmos resultados de um Rendimento Básico Incondicional, usando os serviços universais básicos, como serviços de saúde grátis, educação grátis, uma rede de transportes públicos gratuita, boas habitações a bom preço. Esses 4 pontos são a base disso, mas é assente numa redistribuição dos impostos, por isso penso que não será isso que irá destruir o Capitalismo. Ainda há a questão da rápida automação do trabalho, do fim de certos modelos de negócio assentes em monopólio, que trabalhos baseados em rendas deixem de existir, como a Uber ou o Airbnb. A grande estratégia no século XXI passará por separar o trabalho do salário. Não existirá trabalho especializado e que seja valorizado adequadamente. A automação é boa, mas precisamos de reduzir os custos de vida da classe trabalhadora para efetuar essa transição. Ao invés de acreditar que é possível voltar ao sistema de uma redistribuição alta de salário, como aconteceu nos 1960s, quando os sindicatos ditavam os salários. Claro, se isso voltar a acontecer, eu aplaudo, mas não irá resolver o problema. Sou um grande apoiante do Rendimento Básico Incondicional, dos serviços universais básicos e da automação.

"É a partir de 2050 que os efeitos mais desestabilizadores irão acontecer. Quando os furacões deixarem de matar 200 pessoas nas Bahamas e passarem a destruir por completo as Bahamas. Havia duas filas para as pessoas que foram salvas na Bahamas, umas que tinham um visto norte-americano e as que não tinham. E as que não tinham, ficaram para trás. É nesse ponto em que estamos."

Em tempos era transmitida a ideia de que quando fossemos mais velhos, trabalharíamos menos que os nossos pais, teríamos melhores condições, graças aos computadores, inteligência artificial e automação. Mas não é bem assim.
O que está a acontecer é o contrário da automação. No Reino Unido há uma estatística famosa: antigamente havia cerca de 4000 máquinas de lavagem automática nas estações de serviço, mas atualmente só existem mil e cerca de 20.000 lavadores de carros. Essas pessoas são emigrantes, que são explorados. Porque contratar um ser humano é mais barato do que comprar e manter uma máquina. Isto não é progresso. Isto é o que o neoliberalismo fez ao capitalismo. Está a criar estagnação. Confesso que é excitante para mim, finalmente, ver que os pensadores mais mainstream, do mundo neo-Keynesiano, como o Larry Summers, estão finalmente a perceber isso, as implicações desta estagnação secular. O capitalismo está estagnado por razões mais fundamentais do que aquelas em que eles acreditam. Expliquei isso no Pós-Capitalismo, a estagnação, os recursos para crescimento estão a desaparecer. Mas de qualquer das formas, temos de limitar o crescimento por causa das alterações climáticas. Em meados do século XXI teremos mesmo de fazer uma escolha crítica. A esquerda irá tentar mais uma vez tentar controlar o capitalismo, algo que não tem conseguido, ou vai projetar uma imagem para algo melhor?

Mas acha que irá demorar muito tempo?
A próxima década é crítica, é isso que quero dizer com meados do século XXI. Para atingir isso é essencial usarmos menos carbono. Se o green new deal não vencer, com uma alteração brutal na forma como consumimos energia, quem vai pagar isso são as pessoas: os humanos futuros que estarão aqui no próximo século. É a partir de 2050 que os efeitos mais desestabilizadores irão acontecer. Quando os furacões deixarem de matar 200 pessoas nas Bahamas e passarem a destruir por completo as Bahamas. Havia duas filas para as pessoas que foram salvas na Bahamas, umas que tinham um visto norte-americano e as que não tinham. E as que não tinham, ficaram para trás. É nesse ponto em que estamos. O problema não é só económico, é também geopolítico. E é absolutamente urgente que esta geração faça algo. Esta geração tem de fazer algo, mesmo que as gerações passadas, a geração do produtivismo, monoétnica, não o queira. Eu lido com isso: o meu maior problema em 2050 é que eu sei que estarei morto. Por isso, esse problema é da geração mais nova, que, se nada mudar, vai viver num capitalismo falido e num planeta a arder. Cabe a eles entrarem na política e criarem um ideal. Os meus dois últimos livros, Pós-Capitalismo e Um Futuro Livre e Radioso, são tentativas de reanimar a ideia de uma utopia socialista prática, com ligações a ideias mais verdes e que estão para lá do capitalismo. Neste último livro falo da transformação que temos de ter enquanto humanos. Essa era a peça que estava a faltar no Pós-Capitalismo. Nos últimos capítulos deste livro falo de como tem de haver um revivalismo do pensamento filosófico e moral. É essencial para convencer um largo número de pessoas para um projeto novo.

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