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Pedro Hossi tem 41 anos. Nasceu em Luanda, cresceu em Portugal, passou por Paris, Nova Iorque e Los Angeles. Em 2020 foi Xanana Gusmão no filme "Sérgio", da Netflix
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Pedro Hossi tem 41 anos. Nasceu em Luanda, cresceu em Portugal, passou por Paris, Nova Iorque e Los Angeles. Em 2020 foi Xanana Gusmão no filme "Sérgio", da Netflix

Pau Storch

Pedro Hossi tem 41 anos. Nasceu em Luanda, cresceu em Portugal, passou por Paris, Nova Iorque e Los Angeles. Em 2020 foi Xanana Gusmão no filme "Sérgio", da Netflix

Pau Storch

Pedro Hossi sozinho numa "Noite na Lua": "As coisas correm mais vezes mal do que bem, depois vamos acertando"

O ator é o protagonista do monólogo que se estreia esta terça-feira no Estúdio Time Out, em Lisboa. Em entrevista, fala de erros e crescimento, de teatro, de streaming e de uma outra paixão: podcasts.

Pedro Hossi gosta de seguir em frente. A caminhar, a olhar para o próximo projeto ou a saltar de país em país para aprender um pouco mais. Aos 42 anos abraça pela primeira vez um monólogo, com a peça “Uma Noite na Lua”, que tem estreia marcada para esta terça-feira, 3 de agosto, no Estúdio Time Out em Lisboa e estará em cena até dia 31 deste mês. A peça volta assim aos palcos, depois de ter estado em cena em Portugal pela mão do ator e humorista Gregorio Duvivier. Hossi, que tem andado pela televisão e pelo cinema nos últimos anos, regressa ao teatro para vestir a pele de um escritor falhado.

Ora, o falhanço, o bloqueio criativo ou a página em branco fazem parte do dia a dia de Pedro Hossi. “Acontece-me constantemente. Para mim, faz parte do processo. Estamos à procura de uma determinada afinação e, às vezes, sai tudo ao lado. É impossível pensarmos que as coisas vão correr sempre bem. Já tive muitos momentos em que fui visitado pela falta de inspiração”, diz em conversa com o Observador.

Mas essa vertigem não o deixa mais nervoso com o futuro nem com os projetos que vão surgindo. O ator nasceu em Luanda, cresceu em Portugal e já percorreu meio mundo só para continuar a aprender. Andou pelos Estados Unidos da América no início da sua carreira para estudar teatro em Nova Iorque. Partiu para Paris, onde foi estendendo aquilo que aprendeu e finalmente regressou aos EUA, para se fixar em Los Angeles — onde até realizou uma média-metragem. Agora, está em Portugal, “feliz da vida”.

Mas isso não o impede de continuar a tentar ter um pé lá fora. Em 2020 foi Xanana Gusmão no filme “Sérgio”, da Netflix,  que fala sobre o diplomata Sérgio Vieira de Mello, antigo alto comissário das Nações Unidas para os Direitos Humanos. A par disso, vai sendo rosto habitual das novelas ou de outro tipo de ficção, como a série “Até que a Vida nos Separe” da RTP1. “Não sei onde estarei a seguir. Estava com saudades de estar perto da minha família e amigos. Mas daqui a quatro ou cinco anos posso estar noutro sítio qualquer”, afirma.

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Agora, segue para palco para interpretar um texto do autor brasileiro João Falcão, escrito na década de 1990. Já não há tempo para rituais ou nervosismo. “O processo nesta peça tem de ser diferente. É ir, avançar, começar”.

[o teaser de “Uma Noite na Lua”:]

A caminhada que faz, é para preparar a cabeça para a estreia?
O exercício físico é algo que não descuro, nunca. Não por vaidade, mas por necessidade mesmo. Só tenho de estar no estúdio a partir das 18h00. Queria respirar um pouco, exercitar o corpo.

Falemos então da estreia. O maior desafio da peça foi pegar num monólogo?
Houve vários desafios. O monólogo implica, quase sempre, uma memorização de um texto que é tendencialmente extenso. Esse, sim, é um grande desafio. São 32, 33 páginas que têm de estar completamente memorizadas e esquecidas. Não podemos estar ali à volta das palavras. É memorizar para esquecer que depois tem de fluir naturalmente. Depois, outro desafio: o palco. O Estúdio Time Out não tem um, tivemos de adaptar esta encenação a uma arena, em que o público está à volta do ator. Foi um desafio até para a forma como me conduzo, tenho de estar quase sempre em 360. Esse não é o teatro tradicional, que tem palco italiano com o público à frente. Aqui a dinâmica é diferente. Mas estes desafios todos acabam por ser o que realmente me dá gozo. Estava à procura de um grande desafio. Aqui está ele.

A vontade de ter um grande projeto veio de onde? Da pandemia? Ou é a fase da sua vida que pede isso
Nos últimos anos tenho feito televisão e cinema. A última vez que fiz teatro foi em Los Angeles há muitos anos. Estava à procura de voltar a pisar um palco. Mas também tinha noção de que queria algo específico. Não queria voltar a fazer teatro só para dizer que estava a fazer. Queria encontrar algo que me permitisse aprender. E que me fizesse ir além do que já faço bem. Este material que encontrámos, escrito pelo João Falcão, foi um grande desafio nesse sentido. É escrito quase de uma forma frenética. Claro que o ano que todos já tivemos, que já vai para o segundo, e que parece algo que não nos abandona, fez com que tivesse mais tempo para refletir. Uma das coisas que me trouxe a pandemia, além das limitações, foi esse tempo. E em relação ao que quero fazer. É aí que surge a peça e de um encontro entre mim e o António Terra, com quem comecei a fazer teatro há 20 anos. Houve vontade de unir forças e fazer algo bonito, forte e potente.

"Por mais que tentemos programar ou controlar aquilo que vai acontecer, já está provado que temos muito pouco controlo. A partir do momento em que fomos à procura do material para criar, apareceu-nos a peça “Uma Noite na Lua”. Li as primeiras páginas e foi uma decisão óbvia."

Vai buscar algo ao teatro que não encontra nas outras duas artes?
A linguagem teatral é diferente. O trabalho de câmara é minimalista no sentido em que a câmara tem uma perceção que é sete ou oito vezes mais eficaz do que o olho humano. Quando trabalhamos à frente de uma, “o menos é mais”, bem sabendo que este é um lugar comum. No teatro, a dinâmica não é essa, de todo. Quanto mais um ator estiver vivo e ligado, mais o público vai absorver isso. E depois, caindo noutro lugar comum, quando operamos à frente de uma câmara, temos a oportunidade de repetir. Não correu bem, faz-se outro take. No teatro não. O que faz disto, em termos de adrenalina pura, uma experiência incomparável. Talvez skydiving. É um saltar para o desconhecido.

Esta peça fala também de solidão. Trabalhar sozinho foi difícil ou parece-lhe que era necessário para chegar a esse tal novo desafio?
Nunca me impus à ideia de criar algo que envolvesse outros atores. Sabia que queria o desafio e estava à procura dele, mas isto depois foi uma série de coincidências. As coisas vão acontecendo e nós vamos reagindo. Por mais que tentemos programar ou controlar aquilo que vai acontecer, já está provado que temos muito pouco controlo. A partir do momento em que fomos à procura do material para criar, apareceu-nos a peça “Uma Noite na Lua”. Li as primeiras páginas e foi uma decisão óbvia. Pensei: “OK, isto envolve mesmo trabalho de ator”. Pesquisei sobre a peça, pensei sobre as duas encenações antes e cheguei à conclusão que estava em boa companhia. Espero não desapontar.

A peça fala de um escritor falhado. Estas fases de bloqueio, em que nada sai, obviamente que já as encontrou. Como é que se sai de lá?
Acontece-me constantemente. Se calhar não sou a melhor pessoa para responder. Para mim faz parte do processo. Estamos à procura de uma determinada afinação e às vezes sai tudo ao lado. Ontem fiz um ensaio corrido que foi francamente bom e à noite, fizemos outro, com amigos próximos, e saiu ao lado. Ou seja, ainda ontem à noite vivi uma situação dessas. Faz parte. É impossível pensarmos que as coisas vão correr sempre bem. Correm mais vezes mal do que bem, depois vamos acertando. É um processo. Já tive muitos momentos em que fui visitado pela falta de inspiração.

"Acho importante ter tempo para conversar com alguém. Mas fazemos isso com amigos, a olhar para o telemóvel com mil coisas a acontecer..."

Pau Storch

Falou nas duas outras encenações. Uma delas teve o ator e humorista Gregorio Duvivier como protagonista. O elemento cómico do texto foi difícil trabalhar?
A peça está tão bem escrita que não é preciso grande coisa. A piada está lá. O João Falcão escreveu aquilo de uma forma que, se for bem executada, há passagens em que a tendência é que as pessoas achem graça. Não foi um desafio, não. É dizer as palavras no timing certo, o que vai produzir o efeito desejado. E não é a primeira vez que entro nesse registo cómico, o que me agrada. Claro que a tendência é fazer papéis mais dramáticos.

O Pedro tem um podcast, “O Processo das Coisas”, onde fala com várias figuras ligadas aos mais variados quadrantes, das artes à política. Conversar com os outros ajuda no processo criativo?
São várias peças que se encaixam. Hoje em dia, há muito défice de atenção. As coisas são servidas em segundos, se for apresentada em minutos já não conseguimos ficar presos. Os conteúdos têm uma duração cada vez menor. A minha ideia ao criar este podcast foi tentar contrariar um pouco isso. Tento ao máximo contrariar o défice de atenção. Oiço uma série de podcasts religiosamente. Agora não, por causa da peça, mas oiço imensos. Essa foi uma das razões. Depois, foi a curiosidade. Queria aprender mais sobre as pessoas. A ideia inicialmente era falar mais de arte, entrevistar atores e realizadores, por exemplo, mas depois expandi para a política também. A maioria são artistas, mas também tenho políticos ou médicos. Acho importante ter tempo para conversar com alguém. Mas fazemos isso com amigos, a olhar para o telemóvel com mil coisas a acontecer… Como gosto de consumir esses conteúdos, porque não contribuir?

Claro. É também uma oportunidade para parar um pouco.
Nós não paramos. E não acredito que vá melhorar. Com o crescimento exponencial da tecnologia, tudo vai ficar mais rápido e acessível. Não sei até que ponto é benéfico. É tudo tão recente, como a forma como comunicamos. Não sei para onde vamos. Não olho para a velocidade com que o mundo muda com otimismo. Espero estar errado.

Em relação à internacionalização, esta semana vamos ter a estreia da Daniela Melchior no “Suicide Squad 2”…
… fez de minha filha num projeto. Tenho um carinho muito especial por ela. Estou a vibrar de forma intensa com todo este sucesso. Ela é realmente incrível, merece o mundo.

"A Daniela [Melchior] estava em Portugal quando foi chamada para fazer uma audição [para o filme "Suicide Squad"]. Com o surgimento da HBO, da Amazon ou da Netflix, as produções são feitas no mundo inteiro. Logo, é normal que exista também esta internacionalização dos projetos. Ter atores de várias nacionalidades."

Queria perguntar-lhe, muito diretamente, se lhe parece que é desta que os atores portugueses conseguem aterrar em palcos internacionais?
As coisas têm mudado imenso para os atores portugueses. Basta ver os últimos anos, a quantidade de atores que têm participado em produções internacionais. É uma consequência deste novo mundo em que vivemos. Antes, para se ter acesso ao tipo de filmes em que participa a Daniela, teríamos de estar baseados em Los Angeles. A Daniela estava em Portugal quando foi chamada para fazer uma audição. Com o surgimento da HBO, da Amazon ou da Netflix, as produções são feitas no mundo inteiro. Logo, é normal que exista também esta internacionalização dos projetos. Ter atores de várias nacionalidades. As pessoas vivem em países que não são os seus, viaja-se imenso. Há uma mistura de tudo a acontecer, o que faz com que seja refletido naquilo que é feito no cinema ou nas séries. Por isso, é óbvio que vai haver mais oportunidades para os atores. Acho que vai deixar de haver aquela coisa de para se fazer o papel X ser preciso ter o sotaque Y.

Em relação às temporadas em que esteve nos EUA ou em Paris a estudar e a trabalhar, o que é que lhe trouxe de relevante para a carreira como ator? Ajudou para estar adaptado a várias frentes, do teatro ao cinema, presumo.
Os sítios por onde passei fazem parte de mim, do meu ADN. É assim com todos nós. Por isso é que é tão importante viajar. Acontece uma expansão da nossa perspetiva. Em Nova Iorque formei-me como ator, pisei palcos, aprendi a fazer aquilo que hoje faço. Começou tudo ali. Paris também é importante porque dei continuidade ao que fiz em Nova Iorque. Vivi momentos muito bonitos. Los Angeles também. Nós vamos absorvendo do meio em que circulamos, por isso, estas cidades fazem parte de mim. Em relação a fazer vários formatos, em Portugal é difícil viver de um só. Os atores têm de fazer um pouco de tudo. É essa a realidade. São poucos os atores que vivem só do teatro ou do cinema. Mas eu estou mais interessado em evoluir e trabalhar. Até a fazer uma novela há muito que se pode retirar desse processo. O cinema tem outro tempo, dá-se um cuidado diferente ao pormenor, o teatro é volátil. Complementam-se. Enquanto ator, sou privilegiado porque posso circular entre estas artes.

E passar para a realização daqui a uns tempos? Ou prefere estar onde está?
Já realizei uma média-metragem em Los Angeles e foi algo que me deu muito prazer. E atuei também, que é algo que não faria de novo. Quando voltar a realizar provavelmente não irei atuar. São poucos os realizadores que conseguem fazer isso bem. O Clint Eastwood fá-lo muito bem, por exemplo. Mas não é fácil. Só que, na verdade, isso não faz parte dos meus planos a médio prazo. Neste momento, estou mais focado na minha carreira de ator. Estou a tentar dar um passo em frente na internacionalização. Fiz parte do filme Sérgio, produzido pela Netflix, foi uma participação pequena, mas mostra que é possível. Quero trabalhar cá mas ter acesso a projetos internacionais.

[o trailer de “Sérgio”, na Netflix:]

Nunca lhe passou pela cabeça ficar mesmo lá fora?
Tive muito tempo fora. Foram onze anos. A determinada altura, em Los Angeles pensei que a minha vida iria passar por lá. Mas, lá está, isto de fazer grandes planos raramente dá certo. A vida tem uma forma muito própria de se encaminhar. E aqui estou eu, em Portugal há quatro ou cinco anos e estou feliz da minha vida. Mas não sei onde estarei a seguir. Posso estar cá ou noutro sítio qualquer. A verdade é que estava com saudades de estar perto da minha família e dos meus amigos. E de ter convites para trabalhar cá. Estou super feliz de estar em Portugal, de estar em Lisboa.

Está a umas horas de entrar em cena. Deduzo que esteja tranquilo. Tem algum ritual ou é ir em frente, ponto final?
Ainda ontem conversava com o António e ele dizia-me que não se podia pensar muito. O processo aqui tem de ser diferente. É ir, avançar, começar. É mais por aí. Não existem rituais. Estou tranquilo. Vim dar a minha volta, respirar um pouco, vou ter um dia tranquilo e logo, espero, acima de tudo, divertir-me. E aos outros. Vamos ter casa cheia. Espero que seja bom para todos nós [ri-se].

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