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Pedro Lamy. "Estava muito próximo do Ayrton. Era uma pessoa que me apoiava"

Foi o primeiro português a pontuar na Fórmula 1 e soma dezenas de títulos em provas de endurance. Na semana de recomeço da F1, Pedro Lamy fala ao Observador sobre o automobilismo, o receio e Senna.

A 12 de novembro de 1995, António Guterres era primeiro-ministro há menos de dois meses, Fernando Santos era treinador do Estrela da Amadora e Jorge Jesus do Felgueiras e Miguel Oliveira, atualmente a competir no Mundial de MotoGP, ainda não tinha completado um ano de vida. Nesse dia, a Fórmula 1 organizava o último Grande Prémio da Austrália na cidade de Adelaide antes de a etapa de mudar até aos dias de hoje para Melbourne. Numa corrida atípica, 18 dos 24 pilotos abandonaram (incluindo Michael Schumacher, David Coulthard e Rubens Barrichello) e o britânico Damon Hill acabou por vencer. O outro vencedor do dia, porém, era português: Pedro Lamy, a realizar a terceira temporada na Fórmula 1, ficou em sexto lugar e tornou-se o primeiro português de sempre a pontuar num Grande Prémio da categoria rainha do automobilismo.

Passaram mais de 23 anos. Pedro Lamy deixou a Fórmula 1 no ano seguinte, em 1996, e Tiago Monteiro tornou-se o segundo piloto português a pontuar num Grande Prémio em 2005. Afastado da F1 mas nunca do desporto automóvel, Lamy continuou a somar sucessos nas provas de resistência e não só: é recordista de vitórias nas 24 horas de Nürburgring (tem cinco, tal como Marcel Tiemann e Timo Bernhard), ganhou as 24 horas de Le Mans em 2012 e é o atual campeão em título da categoria GT Am do World Endurance Championship — em conjunto com Paul Dalla Lana e Mathias Lauda, que também integram a equipa Aston Martin Vantage GTE.

Na semana em que arranca o Campeonato do Mundo de Fórmula 1 2019— onde Lewis Hamilton vai tentar revalidar o título, Sebastian Vettel vai querer voltar aos dias de glória e Max Verstappen vai continuar a intrometer-se entre a Mercedes e a Ferrari –, e antes de regressar à competição na 1000 Milhas de Sebring, Pedro Lamy falou com o Observador sobre a diferença entre a F1 e a resistência, o “receio” da família que foi desaparecendo com o tempo e ainda o dia da morte de Ayrton Senna, de quem “estava muito próximo”.

O capacete de Pedro Lamy em março de 1996, quando estava no Mundial de Fórmula ao serviço da Minardi

Getty Images

Já passaram mais de 20 anos desde que deixou a Fórmula 1. O Pedro foi o primeiro português a pontuar na modalidade — e durante quase dez anos, o único. Orgulhava-se desse feito?
Sim, orgulhava-me e orgulho-me. O sonho de qualquer piloto, principalmente um piloto que começa nos karts e depois passa pelos fórmulas, é de um dia chegar à Fórmula 1. E eu consegui alcançar esse sonho. O sonho que qualquer jovem piloto tem e que eu também tinha. Acho que sou uma das caras da Fórmula 1 em Portugal.

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Quando entrou na Fórmula 1 tinha esse objetivo de se tornar o primeiro português a pontuar?
Acho que nunca pensei dessa forma. Achava sempre que era um objetivo pessoal e, na altura em que estava nos fórmulas, comecei a acreditar que era possível atingi-lo. E consegui. E depois da Fórmula 1 continuei a correr e venci muitos campeonatos e muitas corridas. Continuo ligado e bem ligado ao desporto automóvel.

E o que é essas provas de resistência onde começou a competir no pós-Fórmula 1 que lhe deram que a Fórmula 1 não conseguiu dar?
Cada corrida é sempre encarada como uma competição. E as de resistência — e todas as outras categorias por que passei, porque não foram todas de resistência — deram-me um gosto muito pessoal e muito bom que é lutar pelas vitórias e vencer. E isso encontrei de forma muito mais forte na resistência do que na Fórmula 1. Na Fórmula 1 nunca tive uma equipa muito competitiva.

"O sonho de qualquer piloto, principalmente um piloto que começa nos karts e depois passa pelos fórmulas, é de um dia chegar à Fórmula 1. E eu consegui alcançar esse sonho".

Lamy, Dalla Lana e Lauda — que é filho de Niki Lauda, histórico piloto da Ferrari e da McLaren e atual presidente não executivo da Mercedes — estão neste momento no segundo lugar da categoria GT Am do World Endurance Championship, a dez pontos da liderança. O piloto português, que está a dias de completar 47 anos, é um habitué das principais competições de endurance e as suas preferidas são as 24 horas de Le Mans, “pelo que representam”, e as 24 horas de Nürburgring, que considera ser “uma prova fantástica”.

O circuito mundial de resistência, porém, só ocupa Pedro Lamy durante sete meses do ano. No tempo restante, o piloto português costuma participar nas 24 horas de Daytona, nos Estados Unidos, e também nas 24 horas de Fronteira em todo-o-terreno. Ainda assim, já garantiu várias vezes que dificilmente se aventurará nos ralis, já que “é como jogar futebol de 11 e jogar futebol de salão, não tem nada a ver”. Uma das figuras de proa do automobilismo português, a verdade é que esteve perto de fazer carreira no motociclismo, já que foi nas motas que começou a competir dentro de pista ainda criança. Desistiu quando o mecânico que o acompanhava teve um acidente e ficou paraplégico; durante muito tempo, como já confessou, não voltou a sentar-se numa mota.

Em 1994, ao volante de Lotus que conduziu nas duas primeiras temporadas na Fórmula 1

Getty Images

A Fórmula 1 dos dias de hoje é muito diferente da dos anos 90?
Sim, é bastante diferente. O mundo vai mudando e as coisas vão mudando e evoluindo. E a Fórmula 1, como todas as outras modalidades e todas as áreas, vai mudando. E ao longo dos tempos as coisas vão mudando e a Fórmula 1 não é exceção.

Existe a possibilidade de, a curto-médio prazo, Portugal voltar a ter um representante na Fórmula 1?
Não temos atualmente nenhum piloto que esteja próximo de voltar à Fórmula 1. Mas em poucos anos as coisas podem mudar e pode aparecer um outro piloto na Fórmula 1 — tal como já tivemos, ao longo dos tempos, várias possibilidades.

Vi uma entrevista do Pedro de 1992, ainda antes de entrar na Fórmula 1, onde revela que o seu avô lhe pagava para não correr. Essa preocupação da família foi desaparecendo com o passar dos anos ou ainda persiste?
Foi desaparecendo. Claro que, à medida que me fui tornando mais velho — e o meu avô já não está cá hoje –, as coisas foram acalmando. O desporto automóvel tem o seu risco e há sempre o receio das pessoas mais próximas de que aconteça alguma coisa. Esse receio existe sempre, é a lei natural da vida.

E o Pedro? Continua a ter receio?
Eu acho que é fundamental ter respeito pela profissão e pelo risco que se toma para estar mais atento e mais concentrado naquilo que se está a fazer. Acho que as coisas nunca mudaram nesse aspeto.

Na mesma entrevista dizia que era mais supersticioso do que qualquer outra pessoa que conhecia. Esse pormenor ainda se mantém?
Não, acho que com o passar do tempo isso também foi desaparecendo um pouco. Mas todos os desportistas são supersticiosos e eu também sou. Mas há nada em particular que faça.

"Não temos atualmente nenhum piloto que esteja próximo de voltar à Fórmula 1".

Adepto do Benfica, fã de futebol, de râguebi mas também de surf, que pratica de forma regular, Pedro Lamy está longe de se restringir ao automobilismo e ao mundo automóvel. Nas redes sociais, onde é muito ativo, partilha fotografias dos três filhos, das viagens que faz e dos pilotos que vai encontrando, como é o caso de Fernando Alonso, Lewis Hamilton e Sebastian Vettel.

Entre os pilotos com que se cruzou nas garagens da Fórmula 1 — para além dos óbvios Michael Schumacher, Alain Prost e Christian Fittipaldi –, está Jos Verstappen, holandês que é pai de Max Verstappen, piloto que é tido como uma das grandes promessas da modalidade. Em comum, de acordo com Pedro Lamy, pai e filho têm a agressividade: característica que já trouxe alguns dissabores ao jovem piloto da Red Bull mas que é também a principal qualidade apontada pelos fãs.

Um dos momentos mais marcantes da carreira de Lamy — e não pelos melhores motivos — terá sido, com toda a certeza, o dia da morte de Ayrton Senna. Naquele 1 de maio de 1994, em Imola, o piloto português também sofreu um grave acidente logo no arranque, ao embater na traseira do finlandês JJ Lehto, e assistiu ao despiste mortal de Senna partir das boxes. Lamy, que mantinha uma relação próxima com o brasileiro principalmente graças a Domingos Piedade — treinador do português e amigo de Senna –, contou já depois do acidente no Grande Prémio de San Marino que este lhe deu dicas de condução e informações sobre o motor e a mecânica dos carros. “Eu era muito jovem, ele era um ídolo para mim, é uma figura única. Eu nunca quis incomodá-lo muito. Infelizmente, tive muito pouco tempo para passar com ele”, chegou a dizer Pedro Lamy, que esteve presente no funeral de Ayrton Senna ao lado dos brasileiros Barrichello e Fittipaldi.

Senna e Lamy à conversa. O piloto português teve um acidente no arranque do Grande Prémio em que o brasileiro acabou por morrer

O Pedro correu e partilhou garagens com Jos Verstappen, pai de Max Verstappen, atual piloto da Red Bull e uma das grandes promessas da Fórmula 1. Eles são parecidos dentro de pista?
Têm algumas parecenças. Principalmente em termos de serem bastante agressivos e de terem uma atitude em pista que os outros pilotos não têm.

Competiu no Grande Prémio de San Marino de 1994, apesar de ter abandonado logo no arranque. Essa foi a corrida onde Ayrton Senna acabou por sofrer um acidente mortal. Tem recordações desse dia?
Sim, tenho algumas memórias. Todas más, claro. Perdemos um piloto como o Ayrton, que era um dos pilotos mais queridos do automobilismo. Era um piloto que me apoiava e de quem estava bastante próximo. Tenho recordações desse momento mais difícil, sim.

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