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Covid-19. Portugal é o país com mais casos da UE e sexto do mundo. Há hospitais com ocupação máxima. Peritos vão propor regresso de medidas

Especialistas defendem regresso da testagem gratuita e das máscaras e vão propor medidas ao Governo. Há hospitais com ocupação máxima.Mortes também subiram. Portugal é o único país com nova vaga.

Os especialistas que participaram nos planos de desconfinamento em Portugal estão a trabalhar numa proposta para sugerir ao Governo a recuperação de algumas das medidas de combate à Covid-19, nomeadamente o regresso à testagem gratuita e a maior sensibilização para a utilização fortemente recomendada da máscara de proteção individual, sobretudo junto dos mais vulneráveis, apurou o Observador.

Algumas dessas propostas podem ser levadas já esta quinta-feira a Conselho de Ministros, numa altura em que disparou o número de novos casos, que nos colocam como o primeiro país da UE + Reino Unido (destacado) em contágios e o sexto do mundo.

A ministra da Saúde, Marta Temido, reunirá ainda esta noite com os peritos perante. Uma reunião “para conseguirmos adaptar a nossa estratégia à evolução da situação”, admitiu a governante aos jornalistas: “Nós continuamos a acompanhar a evolução da situação epidemiológica com os peritos, com reuniões regulares, não aquelas clássicas reuniões do Infarmed, mas reuniões de trabalho regulares”.  A ministra rejeitou contudo o regresso dessas medidas para já, mas admite que poderão “fazer sentido, designadamente numa outra altura, em termos de sazonalidade”.

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Os gráficos da incidência de casos positivos à infeção do coronavírus transparecem os motivos para a preocupação dos peritos: Portugal segue em pista própria, e em rota íngreme, no panorama da União Europeia (juntando-se-lhe aqui ainda o Reino Unido) e destaca-se na liderança de contágios com um número médio de novos casos por milhão de habitantes que é quase o triplo do país em segundo lugar.

Portugal é também o sexto país do mundo com mais casos diários (média dos sete dias anteriores) por milhão de habitantes, ultrapassado pelas Ilhas Malvinas, Monserrate e Anguila (países em que a incidência dispara com poucos casos por terem populações pequenas), Taiwan e Austrália.

Os dados disponíveis na manhã desta quarta-feira indicavam que o país está perto dos 2.020 casos diários (número médio a sete dias) de infeção por SARS-CoV-2 por milhão de habitantes, enquanto o Luxemburgo, que ocupa o segundo lugar, estava com pouco mais de 680 casos na última atualização das autoridades de saúde, a 13 de maio.

Portugal é também o sexto país do mundo com mais casos diários (média dos sete dias anteriores) por milhão de habitantes, ultrapassado pelas Ilhas Malvinas, Monserrate e Anguila (países em que, é preciso sublinhar, a incidência dispara com poucos casos por terem populações pequenas), Taiwan e Austrália.

Para além dos contágios, há que ter em conta também as mortes, em que o panorama também é pouco favorável ao nosso país. Em média de óbitos em duas semanas por milhão de habitantes, Portugal também está em quarto lugar na União Europeia: com 32,3 mortes de média, fica apenas abaixo da Eslováquia (33,6), Grécia (33,8), Chipre (40,2) e Finlândia (62,1). No mundo, Portugal ocupa o 13º lugar.

A subida de casos neste mês de maio já está a ter repercussões na pressão hospitalar, sobretudo na região Norte, onde no início desta semana havia cinco hospitais com 100% de ocupação nas alas Covid-19 nas unidades de cuidados intensivos: Vila Nova de Gaia e Espinho, Tâmega e Sousa, Centro Hospitalar Universitário do Porto, Hospital de Braga e Hospital de Guimarães.

No Hospital de São João, onde se regista um surto de Covid-19 com 200 profissionais de saúde — número inédito em toda a pandemia — e com uma acorrência sem precedentes às urgências, a ocupação instalada nos cuidados intensivos para a Covid-19 já está preenchida em 90%.

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Em Lisboa e Vale do Tejo, pelo menos 80% das enfermarias estão ocupadas com doentes Covid-19 — mas em Vila Franca de Xira, por exemplo, a percentagem fica acima dos 100%, porque já se alcançou o máximo de camas reservadas para os doentes infetados com o coronavírus. A situação está mais controlada na zona Centro, mas a ocupação já ronda os 70%.

A situação ainda não é limite porque o número de camas reservadas a doentes infetados ainda pode ser aumentado — foi o que aconteceu no Porto e em Guimarães nos últimos dois dias, por exemplo. Das 75 camas que as linhas vermelhas referentes aos internamentos confiam à região Norte, só 56 estão neste momento preparadas para os infetados. Ou seja, há margem de manobra: apesar do aumento de internamentos, a maioria das pessoas hospitalizadas está a ser acompanha por outras patologias nas alas Covid-19 apenas por estar infetada — não por complicações associadas à doença —, daí a obrigatoriedade da máscara de modo generalizado ter ficado fora dos planos. Mas isso significará sempre desviar recursos novamente de outros serviços, recordou Carlos Antunes.

Com todas as medidas a serem aliviadas, e com a efetividade vacinal da primeira dose de reforço (terceira dose) a diluir-se ao longo do tempo — principalmente entre os mais vulneráveis, a quem agora se dirige a quarta dose — , ficou-se “sem nenhum truque na manga”. O alívio fomentou uma mudança de comportamento nos portugueses: a sensação de que a pandemia tinha acabado.

Portugal “sem truques na manga” para travar nova onda

Criou-se a tempestade perfeita para a chegada da sexta vaga a Portugal — e o relaxamento na utilização das máscaras não foi o único (nem o maior) problema, segundo os especialistas. O primeiro erro foi fazê-lo ao mesmo tempo que se abandonava a política de testagem massiva e o isolamento profilático dos contactos de alto risco, considera Carlos Antunes, engenheiro da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa que está a monitorizar a pandemia de Covid-19. E numa época com dois fins de semana festivos: o da Páscoa e o do 25 de Abril. Na primeira semana de maio, o aumento de casos, que era ligeiro e paulatino, tornou-se brusco.

Com todas as medidas a serem aliviadas, e com a efetividade vacinal da primeira dose de reforço (terceira dose) a diluir-se ao longo do tempo — principalmente entre os mais vulneráveis, a quem só esta semana começou a ser aplicada a quarta dose (mais de 80 anos e internados em lares) —, ficou-se “sem nenhum truque na manga”. O alívio fomentou uma mudança de comportamento nos portugueses: a sensação de que a pandemia tinha acabado.

Ora por esta altura, já a sublinhagem BA.5 na variante Ómicron tinha entrado em Portugal. Os primeiros casos foram detetados na última semana de março. Segundo o relatório mais recente da Direção-Geral da Saúde (DGS), publicado na sexta-feira, a prevalência da BA.5 era de 37,5%. Entretanto, o relatório de terça-feira do Instituto Nacional de Saúde Doutor Ricardo Jorge (INSA) já confirma que a BA.5 é dominante no país: a percentagem é agora de cerca de 64%. E deve entrar nos 70% na próxima semana.

Linhagem BA.5 da variante Ómicron já é dominante em Portugal

Isso traz um problema acrescido: é que esta sublinhagem “apresenta mutações adicionais com impacto na entrada do vírus nas células humanas”, explica a DGS — a saber, as mutações L452R e F486V na proteína S, que influenciam a ligação do vírus às células humanas —, e uma maior “capacidade de evadir a resposta imunitária”. Por isso, mesmo quem já esteve infetado com outras linhagens da Ómicron, e até está vacinado com doses de reforço, pode ser reinfetado. O universo de pessoas suscetíveis a uma nova infeção torna-se assim ainda maior.

Por enquanto, na Europa, Portugal é mesmo caso único — fora do continente, também África do Sul e Austrália estão a passar por ondas criadas pela BA.5; e os Estados Unidos dão agora sinais de uma nova onda. O fenómeno que deixa o país isolado no panorama europeu ainda não está completamente explicado, mas Túlio de Oliveira, diretor do Centro para a Resposta a Epidemias e Inovação, da África do Sul, parece ter encontrado um padrão: nos países mais atingidos pela sublinhagem BA.2, a BA.5 está a encontrar mais resistência em crescer. Como Portugal foi sobretudo atingido pela BA.1, cuja imunidade adquirida é mais fácil de fintar pela nova sublinhagem, o impacto é maior.

Os cálculos de Carlos Antunes apontam para uma taxa de duplicação entre os 5% e os 6%, o que significa que o número de casos duplica sensivelmente a cada duas semanas. A este ritmo, Portugal chegará ao fim de maio com 40 mil casos. O que vier depois dependerá do comportamento da população — e da reação das autoridades e do Governo a esta nova realidade.

A situação só terá tendência a piorar, numa altura em que as festas académicas regressam às universidades, em que o país se prepara para receber as celebrações dos Santos Populares e em que três feriados se alinham no calendário: o Dia de Portugal no dia 10 de junho, o Dia de Santo António a 13 (feriado em Lisboa) e o feriado do Corpo de Deus três dias mais tarde, em duas semanas que ficarão assim encurtadas e muitos portugueses tiraram férias.

O resultado dessa conjunção de oportunidades para aumentar ainda mais os contactos de risco é que não há, pelo menos para já, pico da sexta vaga no horizonte. Os cálculos de Carlos Antunes apontam para uma taxa de duplicação entre os 5% e os 6%, o que significa que o número de casos duplica sensivelmente a cada duas semanas. A este ritmo, Portugal chegará ao fim de maio com 40 mil casos. O que vier depois dependerá do comportamento da população — e da reação das autoridades e do Governo a esta nova realidade.

Com 40 mil casos e 40 mortes no fim do mês, junho só deve piorar a situação

Mas o aumento do número de casos, que agora coloca Portugal com a mesma incidência que se registava no início de janeiro e em meados de fevereiro (pico da 5.ª vaga), não era inevitável, considera Carlos Antunes. Bastava estar atento aos sinais, principalmente à taxa de positividade, que está agora em valores sem precedentes na pandemia: 47% de todos os testes de diagnóstico resultam positivo. Portugal é mesmo dos países que menos testes efetua por cada caso positivo detetado pelas autoridades de saúde: são 2,5, apenas acima da Alemanha (2,4) e dos Países Baixos (1,9) na União Europeia. É o 12º país do mundo com menos testes por caso positivo.

Percentagens elevadas na taxa de positividade que não espantam os peritos: é o que acontece quando a estratégia das autoridades de saúde evolui e a testagem, deixando de ser massiva, passa a incidir maioritariamente nas pessoas que desconfiam de uma infeção — ora porque desenvolvem sintomas da doença, ora porque tiveram contacto próximo com alguém infetado.

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Embora o surgimento da sexta vaga tenha começado entre os adolescentes e na população universitária, o aumento já se alastrou a todos os grupos etários. A incidência entre os cidadãos a partir dos 80 anos duplicou em apenas um mês para 1.100 casos por milhão de habitante. Até três em cada 100 acaba por morrer de Covid-19.

Mas a tendência de subida denunciava que algo não estava bem. “A tendência da positividade é um indicador fundamental e devia ser o primeiro alerta”, critica o engenheiro: “A diferença entre um leigo e um perito quando olha para um gráfico é que o segundo consegue interpretar os dados. Isto devia ser uma linha vermelha, mas faltou essa análise de indicadores de agravamento”. Agora, o ritmo de contágio está acima da capacidade instalada para detetar os novos casos. Por isso, para Carlos Antunes, a proposta que os peritos se preparam para sugerir aos decisores políticos é necessária. E urgente.

Portugal não está abaixo da linha vermelha dos 20 óbitos por milhão de habitantes instituída pelo Centro Europeu de Prevenção e Controlo das Doenças (ECDC) desde o início de dezembro de 2021 e, após a quinta vaga, a altura em que mais perto esteve dessa marca foi no fim de abril. Mas a métrica já voltou a subir e está agora nas 32,3 mortes por Covid-19 em duas semanas por milhão de habitantes. Até ao fim do mês, Portugal deve chegar às 40 mortes diárias.

É que o problema já não está contido nas faixas etárias mais jovens. Embora o surgimento da sexta vaga tenha começado entre os adolescentes e na população universitária, o aumento já se alastrou a todos os grupos etários — incluindo os mais idosos, que são também os mais vulneráveis à Covid-19 e onde a população sem proteção natural é maior. A incidência entre os cidadãos a partir dos 80 anos duplicou em apenas um mês para 1.100 casos por milhão de habitantes. E até três em cada 100 acaba por morrer de Covid-19.

O número mais recente de internamentos — a 10 de maio havia 1.207 pessoas hospitalizadas — equipara-se ao registado no início de janeiro e ultrapassa o máximo de 968 pessoas infetadas registado na vaga no verão de 2021. Isso está agora a evidenciar-se na curva dos óbitos. Portugal não está abaixo da linha vermelha dos 20 óbitos por milhão de habitantes instituída pelo Centro Europeu de Prevenção e Controlo das Doenças (ECDC) desde o início de dezembro de 2021 e, após a quinta vaga, a altura em que mais perto esteve dessa marca foi no fim de abril. Mas a métrica já voltou a subir e está agora nas 32,3 mortes por Covid-19 em duas semanas por milhão de habitantes. Até ao fim do mês, Portugal deve chegar às 40 mortes diárias.

Entretanto, os peritos esperam que a distribuição da quarta dose (segunda de reforço) sete meses depois da administração da terceira e a chegada das temperaturas quentes possam atenuar a sexta vaga.  O Observador tentou contactar a DGS e o Ministério da Saúde para saber como é que as autoridades de saúde e o Governo estão a encarar a sexta vaga, mas ainda aguarda respostas.

Artigo atualizado para esclarecer as sugestões dos peritos referentes à utilização de máscara.

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