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Em abril, a inflação calculada pelo INE atingiu os 7,2%, o valor mais alto em 29 anos, depois de já ter avançado 5,3% em março
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Em abril, a inflação calculada pelo INE atingiu os 7,2%, o valor mais alto em 29 anos, depois de já ter avançado 5,3% em março

Rui Oliveira/Observador

Em abril, a inflação calculada pelo INE atingiu os 7,2%, o valor mais alto em 29 anos, depois de já ter avançado 5,3% em março

Rui Oliveira/Observador

Preços sobem a diferentes velocidades. Restaurantes e hotéis em Lisboa encareceram o dobro do Alentejo e Algarve

Dados do INE mostram que em Lisboa a inflação na restauração e hotelaria chegou aos 12,51% em abril, o dobro do que nas regiões mais a sul. Só comprar roupa é que ficou mais barato no país.

Se costuma comer fora ou ficar hospedado num hotel provavelmente terá notado que a inflação também aí já é notória. Em termos médios (e com base numa amostra recolhida pelo INE), os preços na hotelaria e na restauração ficaram 9,93% mais caros em abril deste ano em comparação com o mesmo período do ano passado. Quer isto dizer que uma refeição ou uma pernoita que ficava a 20 euros em abril de 2021 encareceu quase dois euros um ano depois, na média nacional. Mas esse acréscimo esteve longe de ser uniforme em todo o país: para a mesma refeição ou o mesmo alojamento, em Lisboa e Vale do Tejo passou a pagar mais 2,5 euros, enquanto no Alentejo a subida foi de 1,24 euros e no Algarve de 1,36 euros.

Em abril, a inflação calculada pelo INE atingiu os 7,2%, o valor mais alto em 29 anos, depois de já ter avançado 5,3% em março. A guerra na Ucrânia tem um papel nesta escalada, exacerbando o aumento dos custos da energia, das matérias-primas e dos alimentos, mas os preços já estavam a aumentar desde o ano passado também por via da pandemia, promotora de disrupções nas cadeias de abastecimento.

A escalada de abril foi transversal à maioria dos setores (a exceção foi o vestuário e o calçado, por causa do efeito das promoções). E a todas regiões. Foi no Norte que a inflação mais subiu em termos homólogos: avançou 7,56%, acima da área metropolitana de Lisboa (7,23%), do Centro (7,15%), do Algarve (7,06%), do Alentejo (6,67%) e da região autónoma da Madeira (6,14%). Tirando os Açores (onde a inflação ficou pelos 4,06%), à partida não se notam nestes números diferenças muito significativas.

Mas é quando se olha para algumas categorias de produtos que se veem discrepâncias regionais assinaláveis: é o caso da restauração e da hotelaria, onde essas diferenças podem chegar praticamente ao dobro quando se compara Lisboa e Vale do Tejo com o Alentejo ou o Algarve.

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Também há divergências na categoria dos “produtos alimentares e bebidas não alcoólicas”, onde a inflação varia de 4,91% nos Açores até 11,82% no Algarve. Já no Norte está em 11,09%, em Lisboa nos 10,38%, no Centro nos 9,63%, no Alentejo nos 8,74% e na Madeira nos 7,94%. Outro exemplo: nos “acessórios para o lar, equipamento doméstico e manutenção corrente da habitação”, a inflação varia de 0,53% nos Açores a 7,72% no Norte.

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INE recolhe 120.000 preços todos os meses

Mas como calcula o INE os valores da inflação? A partir do índice de preços no consumidor. Segundo informação disponibilizada pelo instituto, para apurar o índice nacional, 140 entrevistadores do INE recolhem cerca de 120.000 preços em 12.500 estabelecimentos de grande e pequena dimensão, distribuídos por 45 localizações em todo o país. O cabaz de bens e serviços selecionados inclui mais de 1.300 artigos (para um mesmo artigo podem ser recolhidos preços em diferentes estabelecimentos).

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Além da recolha nos locais, há também uma outra online de um “número significativo” de preços de pacotes turísticos, viagens aéreas e hotéis. E há situações em que existe simultaneamente recolha presencial e online: para “algumas grandes cadeias de artigos de mobiliário, de telemóveis, de vestuário e calçado”. No caso dos preços dos combustíveis, dos medicamentos e das rendas são usadas fontes de dados administrativos.

Mas nem todas as categorias de bens e serviços têm o mesmo peso para o cálculo do índice de preços no consumidor. Cada categoria é ponderada tendo em conta o seu peso na despesa das famílias. A estrutura dessa despesa é calculada com base no “Inquérito às Despesas das Famílias”, realizado pelo INE de cinco em cinco anos, mas também com base na recolha de dados no terreno, nas Contas Nacionais e nos Censos, entre outros.

A inflação de abril varia muito consoante as categorias. Foi no setor dos transportes que mais avançou (13,09%), assim como nos produtos alimentares e bebidas não alcoólicas (10,25%), habitação, água, eletricidade, gás e outros combustíveis (10,19%) e restauração e hotelaria (9,93%). Só no vestuário e no calçado houve um recuo (-0,72%), o que se explica pela sazonalidade das coleções.

Custos operacionais “esmagam” margens de lucro, diz restauração

Na restauração e na hotelaria, a inflação varia entre 6,20% no Alentejo e 12,51% em Lisboa e Vale do Tejo. O INE explica ao Observador que o setor tem um peso de 8,2% no total da inflação. Todos os meses, o instituto recolhe, online e presencialmente, cerca de 6.200 preços nas sete regiões do país. São considerados “todos os tipos de produtos e estabelecimentos”: por exemplo, refeições, snacks, pastelaria e bebidas, incluindo take-away e entregas ao domicílio, bem como estabelecimentos hoteleiros e alojamentos locais distribuídos pelo país, “com diferentes tipologias, representativos da despesa das famílias”.

A associação que representa o setor da restauração e do alojamento, a AHRESP, justifica a escalada de 9,93% dos preços no setor com o aumento dos custos, que estão a “esmagar” as margens operacionais das empresas. Mas não explica a divergência entre Lisboa e o resto do país.

Ao Observador, Ana Jacinto, secretária-geral da AHRESP, fala em termos genéricos, nacionais. Diz que a “pressão inflacionista” que se vive em Portugal está a “provocar uma enorme pressão” nas empresas do setor e que o “forte aumento dos custos” está mesmo a “comprometer a sustentabilidade dos negócios”.

“A esmagadora maioria das empresas da restauração, similares e do alojamento turístico já sentiu este aumento significativo nos custos operacionais, principalmente nos bens alimentares (óleos, carnes, país, entre outros) e na energia (eletricidade, gás e combustíveis)”, refere. Custos que levam a que as empresas vejam as suas margens de lucros “esmagadas”.

Ana Jacinto sublinha, por exemplo, que a classe dos produtos alimentares e bebidas não alcoólicas aumentou 10,25%, “o que impacta diretamente e de forma muito acentuada” as atividades económicas. As empresas, assegura, têm tentado “adiar” a decisão de aumentar os preços ao cliente, mas a “capacidade de absorção dos custos não é ilimitada”. Além de que muitas empresas ainda não tinham recuperado do choque da pandemia.

“Após dois anos consecutivos de crise pandémica, em que as estruturas financeiras das empresas estão totalmente fragilizadas, com as tesourarias depauperadas, as nossas micro e pequenas empresas não têm condições para manter os preços de venda face ao significativo aumento dos seus custos operacionais”, indica.

Além disso, lembra que a procura aumentou — está em níveis “muitos próximos” do pré-pandemia —, o que impulsiona a subida dos preços. “Não nos podemos esquecer que a conjuntura económica de abril de 2022 é completamente distinta da que se vivia em abril de 2021, altura em que ainda persistiam fortes restrições às nossas atividades de turismo e lazer e pouca procura, fatores que influenciam os preços praticados por restaurantes e hotéis”, acrescenta.

“Após dois anos consecutivos de crise pandémica, em que as estruturas financeiras das empresas estão totalmente fragilizadas, com as tesourarias depauperadas, as nossas micro e pequenas empresas não têm condições para manter os preços de venda face ao significativo aumento dos seus custos operacionais."
Ana Jacinto, secretária-geral da Associação da Hotelaria, Restauração e Similares de Portugal

Calçar e vestir ficou mais barato. Porquê?

A categoria do vestuário e do calçado foi a única, entre as estudadas pelo INE, que viu a taxa de inflação recuar (-0,72%, quando em 2021 tinha aumentado 2,87%). A redução foi maior no Algarve (menos 1,68%) e menor no Centro (0,35%). Já a Madeira foi a única região que viu o indicador aumentar (2,52%).

Ao Observador, César Araújo, presidente da Associação Nacional das Indústrias de Vestuário e Confeção (Anivec), não se mostra surpreendido com a redução do índice de preços no consumidor no setor, em termos nacionais. Uma das explicações que encontra é a sazonalidade: abril foi mês de promoções.

Faz parte do ciclo de vendas. Há determinados produtos que entraram em janeiro, chega-se a março e abril e já começa a haver menos tamanhos, que se querem vender. É quando se fazem promoções, para que se dê lugar a outros produtos”, observa. Esse período entre novas coleções está cada vez mais curto, indica, não só porque as estações do ano estão menos marcadas, mas também para não “cansar” o consumidor.

Representante da indústria do vestuário recusa que as lojas estejam a ver os stocks aumentarem por falta de vendas

FILIPE AMORIM/OBSERVADOR

“Há um ciclo de produto, de 12 a 16 semanas, durante o qual tem de ser vendido. Se não for, e está sempre na loja, o cliente cansa-se. Imagine que vai a uma loja e vê sempre a mesma peça. Não há atratividade para voltar à loja”, exemplifica.

César Araújo recusa que as lojas estejam a ver os stocks aumentarem por falta de vendas. Mas ao mesmo tempo admite que possa começar a ver-se um recuo da procura por estes produtos menos essenciais, à medida que os consumidores concentram os seus gastos nos bens de primeira necessidade, como a alimentação.

“Nestes momentos, não vemos tanto necessidade de adquirir produtos de vestuário com tanto problema no mundo. Há a pandemia, a crise energética, a guerra… tudo isso faz com que as pessoas tenham receio de gastar dinheiro em determinados produtos“, defende.

"Faz parte do ciclo de vendas. Há determinados produtos que entraram em janeiro, chega-se a março e abril e já começa a haver menos tamanhos, que se querem vender. É quando se fazem promoções, para que se dê lugar a outros produtos."
César Araújo, presidente da Associação Nacional das Indústrias de Vestuário e Confeção

Apesar da redução registada, a pandemia continua a ter impactos no setor, com problemas no abastecimento devido aos confinamentos da Covid-19 que se mantêm em alguns locais ou às restrições nas cadeias de abastecimento que persistem, como na China.

É também por isso que César Araújo não arrisca uma previsão sobre o comportamento da inflação de maio e nos meses seguintes. O Governo, por outro lado, tem mantido a tese de que a subida dos preços é apenas temporária e que deverá amenizar-se na segunda metade do ano, continuando confiante de que Portugal vai conseguir cumprir a inflação de 3,7% do índice de preços no consumidor prevista no Orçamento do Estado para 2022 ou 4% no IHPC (índice harmonizado). Mesmo apesar de instituições como a Comissão Europeia e o Fundo Monetário Internacional (FMI) já terem revisto as suas previsões em alta (para 4,4% e 6%, respetivamente).

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